segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

“Tendes, pois, sal em vós mesmos”

                                                             

“Tendes, pois, sal em vós mesmos”

Disse Jesus: “Pois todos hão ser salgados pelo fogo. Coisa boa é o sal. Mas se o sal se tornar insosso, com que lhe restituireis o tempero? Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.”  (Mc 9, 49-50).

Na Lumen Gentium (n.38), encontramos um comentário enriquecedor:

“O ‘sal’ que preserva o mundo da corrupção são os cristãos que sabem ‘difundir o espírito de que são animados os pobres, os mansos e os construtores da paz, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados”.

Esta máxima de Jesus sobre o sal convida os discípulos a procurar a prudência e a sabedoria, para fazerem opções decididas, mantendo-se fiéis no discipulado, em perfeita coerência de vida entre o Evangelho que anunciam e o quotidiano vivido.

Assim vivendo, demonstrarão que a vida tem sabor, se for vivida através de opções conscientes, mesmo que exijam esforços, renúncias, sacrifícios, em total desprendimento e coragem para o discipulado.

Oremos:

Senhor Jesus, com Vosso Espírito enviado sobre a Igreja, queremos permanecer firmes no discipulado, tendo sal em nós mesmos, vivendo com prudência e sabedoria, em perfeita coerência entre o Vosso Evangelho que pregamos e o testemunho que damos, participando da construção do Reino de Deus, por palavras e obras. Amém.

A vigilância ativa e os compromissos emergentes da fé

                                                


A vigilância ativa e os compromissos emergentes da fé

Reflexão à luz da passagem da Segunda Carta de São Pedro (2Pd 3,12-15a.17-18; Sl 89, 2-4.10.14-16; Mc 12,13-17), sobre o compromisso social e religiosa, e sua relação profunda e inseparável na expressão de uma fé viva, sólida, ancorada pela esperança de um mundo novo que culmina na eternidade, sempre impulsionados por pequenos e grandes gestos de amor.

Com a Igreja, aprendemos que a vida cristã coerente deve ser vivida na vigilância ativa, ou seja, a espera de um novo céu e nova terra, a espera do Senhor que veio, vem e virá pela segunda vez.

Esta vigilância se dá com esforços multiplicados, acompanhados de uma conduta irrepreensível, sem jamais paralisar ou retroceder no crescimento da amizade e intimidade com o Senhor Jesus Cristo.

Deste modo,  Jesus ao dizer “Dai a César o que de César e a Deus o que é de Deus” nos permite afirmar que reconhecer e aceitar o poder político não equivale a desconhecer e rejeitar a Deus. O poder político é lícito para o exercício dos assuntos públicos, mas somente a Deus devemos adorar em espírito e verdade, em doação e na entrega plena e total de nossa vida.

Está implícita a dupla fidelidade que o cristão deve viver em sua dimensão pessoal, no seu existir e agir: a dimensão religiosa e a dimensão temporal.

Jamais se deve separar totalmente a ação política da ação religiosa, como muito bem nos diz a Igreja em diversos Documentos, e de modo muito especial a “Gaudium et Spes” (Vaticano II - nºs 73-77 – Cap. IV). 

Em resumo, neste capitulo, fala da consciência da missão da Igreja na comunidade Política.

Também em outro documento, o Papa São Paulo VI afirmou: - “A política é uma maneira exigente de viver o compromisso cristão ao serviço dos outros” (Octogesima Adveniens, 46).

Finalizando, seguir Jesus, assumir a missão que Ele nos confia, implica em esperar com confiança "novos céus e nova terra onde habitará a justiça" sem permanecer alheio às alegrias e às esperanças daqueles que estão ao nosso lado, sobretudo os mais pobres.

A esperança dos bens futuros, numa vigilância ativa, alimentada pela força salutar da Eucaristia, é a grande força para superar toda forma de contrariedade e adversidades.

Somente assim não vacilaremos na fé, nem esmoreceremos na esperança e não esfriaremos na caridade, de modo que seremos resistentes na tentação, pacientes na tribulação e agradecidos a Deus nos mais preciosos sinais de prosperidade.

PS: Lecionário Comentado – Tempo Comum - Vol. I – Editora Paulus - Lisboa - pp. 428-432.

“Não existem duas esperanças"

                                                     

“Não existem duas esperanças”

Oportuno para a reflexão das passagens do Evangelho de Mateus e Marcos (Mt 22,15-21; Mc 12,13-17), sobre a questão feita pelos fariseus e herodianos a Jesus, se é lícito pagar imposto a César, encontramos esta afirmação:

Não existem duas esperanças: uma terrena e outra celeste; a esperança é uma só: diz respeito à realidade futura, mas através do empenho cristão, a antecipa na realidade terrestre”

De fato, estamos no mundo com uma responsabilidade de participação irrenunciável, para torná-lo mais humano, justo e fraterno.

E se a fé cristã professada, maior ainda o compromisso, pois deve ser vivida integralmente e não permite omissão ou evasão nesta participação.

A fé cristã confere à religião um papel fundamental no mundo, tornando sem fundamento qualquer atitude de desconsideração, como se ela não tivesse nenhuma contribuição positiva a oferecer.

Com o Concílio Vaticano II, como Igreja, somos chamados a rever as reticências ou ausências do cristão no seu real compromisso com o mundo, procurando sua superação a fim de que sejamos sal da terra e luz do mundo.

A fé cristã, acenando para a esperança na eternidade, não se exime da concretização no tempo presente, inserida na realidade terrestre, concreta. 

Esta fé se vive com os olhos nos céus, mas com os pés tocando à realidade do cotidiano, não criando uma dicotomia entre o mundo dos homens e mulheres e o mundo de Deus.

De modo que todo poder político deve exercer a sua vocação primeira, a promoção do bem comum, e se assim o for, de fato, estaremos dando “a Deus o que é Deus e a César o que é de César”, entregaremos a Deus um povo com vida plena, digna e feliz.
O céu não se espera na passividade, mas na medida em que vivemos a graça do Batismo, e nos tornamos discípulos missionários do Senhor, verdadeiramente comprometidos com o Reino de Deus, que ultrapassa qualquer forma de realidade que se possa conceber.

Nenhuma realidade é bastante suficiente para esgotar a riqueza do Reino que Jesus veio inaugurar, por isto, rezamos no Pai Nosso, a oração que Ele nos ensinou:

“Venha a nós o Vosso Reino, Senhor, seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu” (cf.  Mt 6,10).

PS: Missal Dominical – Editora Paulus, 1995 – pp. 834.

“O sábado foi feito para o homem...” (IXDTCB)

                                                          

 “O sábado foi feito para o homem...”

A Liturgia do 9º Domingo do Tempo Comum (Ano B) nos convida a refletir sobre o Dia do Senhor (sábado para os judeus, domingo para os cristãos), que devemos guardar a fim de fazer memória da ação criadora e redentora de Deus com Seu Povo que somos.

A passagem da primeira Leitura (Dt 5,12-15) nos recorda o preceito do terceiro Mandamento, de guardar o sábado para santificá-lo, sugerindo que seja um dia que exprime a unidade do Povo que celebra a ação libertadora de Deus, sem qualquer tipo de desigualdades.

Temos a enunciação do Mandamento, uma explicação didática de como devemos praticá-lo e uma fundamentação teológica para essa mesma prática.

O referido Mandamento funciona como um símbolo dos deveres para com Javé (Dt 5,6.15) e para com o próximo (Dt 5,14.21).

Somos convidados a regressar aos fundamentos da celebração do Dia do Senhor, tomando a sério o valor do verbo “santificar”.

Santificar o Dia do Senhor implica em adorá-lo, acima de tudo e de todos, mas também implica em viver relações mais justas e fraternas com o próximo, para não incorrermos em nova escravidão.

Voltando aos fundamentos da celebração do Dia do Senhor, viveremos o sábado (ou Domingo), como memorial da libertação do Pecado na Páscoa de Cristo, que atualiza a obra libertadora de Deus da escravidão do Egito.

A celebração do Dia do Senhor tem uma grande dimensão social, sendo dia de descanso para todos, garantindo esse direito, sobretudo aos pobres que se veem assim protegidos pela Lei divina, como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica:

“O agir de Deus é o modelo do agir humano. Se Deus ‘descansou’ no sétimo dia, o homem deve também ‘descansar’ e deixar que os outros, sobretudo os pobres, ‘tomem fôlego’. O sábado faz cessar os trabalhos quotidianos e concede uma folga. É um dia de protesto contra as servidões do trabalho e o culto do dinheiro” (n. 2172).

O Papa Bento XVI nos ajuda a compreender a importância do Domingo para os cristãos:

“Precisamos do pão da vida para enfrentar as fadigas e o cansaço da viagem. O Domingo, Dia do Senhor, é a ocasião propícia para haurir a força d'Ele, que é o Senhor da vida.

Por conseguinte, o preceito festivo não é um dever imposto pelo exterior, um peso sobre os nossos ombros. Ao contrário, participar na Celebração dominical, alimentar-se do Pão eucarístico e experimentar a comunhão dos irmãos e irmãs em Cristo é uma necessidade para o cristão, é uma alegria, e assim pode encontrar a energia necessária para o caminho que devemos percorrer todas as semanas.

Um caminho, aliás, não arbitrário: a via que Deus nos indica na sua Palavra vai na direção inscrita na própria essência do homem, a Palavra de Deus e a razão caminham juntas. Seguir a Palavra de Deus e caminhar com Cristo significa para o homem realizar-se a si mesmo; perdê-la equivale a perder-se a si próprio” (1)

Na passagem da segunda leitura (2 Cor 4,6-11), encontramos o modelo de evangelizador que devemos ser, a partir do exemplo de ardor apostólico de São Paulo.

Com ele, aprendemos que o evangelizador é portador de um tesouro precioso e a obra evangelizadora é obra do poder de Deus.

Deste modo, o Apóstolo, por sua vida, foi um prolongamento da vida de Cristo, apesar das fragilidades próprias, de modo que podemos afirmar: a mensagem evangélica não fica comprometida mesmo com nossas fragilidades.

A grande mensagem da passagem está nas frases de abertura e de conclusão, que servem de moldura a esta descrição autobiográfica de Paulo: ele não se anuncia a si mesmo (v. 5), mas anuncia “a glória de Deus, que se reflete no rosto de Cristo” (v. 6), e que Deus, autor da luz na criação do mundo, fez brilhar como luz no seu coração:

"O objetivo de Paulo é demonstrar que Cristo está vivo no seu ministério apostólico, mesmo a partir da fragilidade que se manifesta na forma como é perseguido e entregue à morte em nome de Cristo (v. 11).” (2)

Como vemos, o Apóstolo Paulo é um modelo de servidor do Evangelho para todos os que, na Igreja, se posicionam ao serviço humilde do Povo de Deus:

“Dele aprendemos que a grande característica do apostolado, mais que as ações pastorais inovadoras ou não, é a relação com Cristo, a ponto de trazer na própria vida as marcas dessa união, seja nas tribulações que se sofre por causa de Cristo e do Evangelho, seja porque se incarna na própria vida aquilo que se ensina”. (3)

Com Paulo, aprendemos que “...a  vida do evangelizador deve conformar-se cada vez mais à vida de Cristo a ponto de se tornar um espelho de Cristo, um livro aberto do Evangelho, onde se pode ler os sinais da vida oferecida de Jesus. Só uma grande intimidade com Jesus Cristo, como a que teve Paulo, poderá dar-nos a possibilidade de sermos pessoas identificadas com o Evangelho que anunciamos”. (4)

A passagem do Evangelho (Mc 2,23–3,6) retoma a temática do terceiro preceito do Decálogo, nos episódios em que os discípulos colhem espigas para comer e um homem com uma mão atrofiada curado - ambos os episódios em dia de sábado.

O texto evangélico conclui a primeira seção do Evangelho de Marcos, que descreve a fase inicial do Ministério de Jesus (cf. Mc 1,14-3,6).

A mensagem central: quando se faz uma interpretação demasiado rigorista dos preceitos da Lei, esta deixa de cumprir a sua missão de estar ao serviço do homem em cada tempo.

Jesus nos convida, por isso, a posicionar-nos ao serviço dos necessitados, tendo em conta que o Dia do Senhor foi feito para o homem, não para fazer do homem um escravo.

Jesus Se confronta com os fariseus sobre o respeito pelo dia de sábado em dois episódios (Mc 2,23-28; 3,1-6), sendo que, neste último, pela primeira vez, os seus opositores se reuniam com os herodianos para encontrar uma maneira de condenar Jesus à morte (3,6), funcionando esta decisão como conclusão de todos os confrontos.

O Evangelista Marcos nos convida a centrar nas palavras de Jesus que ajudam a interpretar a sua liberdade diante da instituição do sábado judaico:

O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado” (Mc 2,27-28); “Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?” (Mc 3,4):

“Diante do poder de Jesus e das necessidades humanas, as coisas sagradas não têm um valor próprio (nem o pão do santuário, no caso de David, nem o sábado, no caso dos discípulos de Jesus ou do homem com a mão atrofiada), mas existem para o bem da humanidade (os pães da proposição para alimentar David e os seus homens, o sábado para o homem e para Jesus); na interpretação de Jesus, é fundamental que, o que é sagrado, esteja ao serviço do homem...

Jesus escolheu fazer o bem e colocar-Se ao serviço das necessidades humanas, satisfazendo-as, mesmo se isso lhe acarreta a decisão do conluio das autoridades políticas e religiosas contra Ele, para O condenarem à morte (5)

Não se trata, portanto, da interpretação libertina ou relativista do sábado, mas de fazer dele o dia da relação com Deus, que vem em auxílio de quem está em necessidade.

As interpretações rigoristas da Lei – como são as dos fariseus no nosso texto – cegam e não deixam ver as necessidades humanas que, na perspectiva de Jesus, são o verdadeiro critério para manter uma atitude livre diante da Lei, sendo assim o cristão prolonga a existência da vida de Cristo, e no Dia Maior, o Domingo, a Ele consagrado, não pode perder de vista os que foram os Seus prediletos, com gestos de amor, solidariedade e partilha.

Por fim, concluímos que todas as instituições, sejam elas religiosas ou civis, devem estar ao serviço da vida humana, para que possam realizar a missão para a qual nasceram, do contrário, perderão a razão de existir.


PS: Citações extraídas de www.Dehonianos.org/portal

Em poucas palavras... (IXDTCB)

 


A infalível providência divina

“Ó Deus, cuja providência jamais falha, nós vos suplicamos humildemente: afastai de nós o que é nocivo, e concedei-nos tudo o que for útil. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e conosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.” (1)

 

(1) Oração da Coleta da Missa do 9º Domingo do Tempo Comum

O primado da misericórdia e da consciência (IXDTCB)

O primado da misericórdia e da consciência

No 9º domingo do Tempo Comum (Ano B) ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 2,23-3,6), em que nos é apresentado dois episódios na vida de Jesus: em dia de sábado seus discípulos colhem espiga para comer, e cura um homem que tinha a mão seca.

Sejamos enriquecidos por este Comentário do Missal Dominical:

“Nas mãos dos doutores da Lei e dos escribas, o sábado se transformara numa série de minuciosa e pesada de prescrições e proibições, a ponto de se tornar sinal de nova escravidão, a de um culto formalista e exterior.

Mas Jesus vem corrigir todas essas inúteis e opressoras prescrições. Ele não Se coloca contra o sábado eliminando-o ou transtornando o seu sentido, Observa o sábado, mas vai diretamente ao essencial, afirmando duas ideias:

o primado da misericórdia sobre as exigências culturais e as prescrições relativas ao repouso sabático (cura o homem da mão paralítica):

o primado da consciência sobre a regra, do homem sobre a Lei (o sábado é feito para o homem e não o homem para o sábado).” (1)

Jesus fica tomado de ira e tristeza pela dureza de coração daqueles que não se alegram com o bem realizado.

Para Ele, o mais importante é que o bem seja feito em todo o tempo, o mal jamais. Sua prática ressalta o valor sagrado da vida humana que está acima de toda prescrição legalista e fria que não gera vida, empobrecendo, assim, o sentido da Lei e sua prática.

Fundamental que, como Igreja, aprendamos com Jesus o primado da misericórdia e da consciência, para nos colocarmos sempre a serviço da vida plena e definitiva.

  
(1) Missal Dominical – Editora Paulus – 1995 – pp.918-919

"Deus nos ama e nós cremos no amor"

“Deus nos ama e nós cremos no amor”

Para aprofundamento da Liturgia do 10º Domingo do Tempo Comum, transcrevo uma reflexão do Frei Raniero Cantalamessa, que reconstrói este processo do amor de Deus por nós em quatro etapas:

- A primeira etapa: somos transportados para antes do tempo e da história, na mesma eternidade de Deus – “Deus é amor” (1 Jo 4,8):

“É amor em si mesmo, antes de a criatura tomar consciência disso. Aparentemente nós estamos ausentes desta primeira etapa: Deus só tem que amar a Si mesmo. Sabemos, porém, que Deus, embora sendo único, não é solitário também nesta primeira fase que precede a criação.

Tem consigo, com efeito, Seu Filho, Sua imagem perfeita que ama e por quem é amado com um amor tão forte que chega a constituir uma terceira Pessoa, o Espírito Santo. Há, portanto, já, o amor de Deus, mas um amor não criado, trinitário, inacessível...

Estávamos já contidos e contemplados em Seu coração como criaturas ainda ocultas no seio e no pensamento de quem as gerou, e se espera que venham à luz”.

- A segunda etapa: é a criação, a revelação do amor oculto:

“É um gesto fundamental do amor de Deus pelas criaturas, aquele que lhe confere o ser e as faz existir... A criação é um ato de amor... este amor de Deus encontra em Seus Profetas Seus cantores insuperáveis. Deus deu a alguns homens (como Isaías, Jeremias, Oseias) um coração grande, cheio de capacidades, sensível a todo espécie de amor, para que revelassem aos homens algo de Seu insondável amor. Os Profetas fizeram o máximo...”.

- A terceira etapa: abrange as anteriores e esta etapa se chama Jesus Cristo:

“Jesus é amor de Deus feito carne; Ele é a manifestação tangível do amor do Pai – Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o Seu Filho único, para que vivamos por Ele (1 Jo 4,9)...

Em Jesus, o amor de Deus se adequou à nossa condição humana, que tem necessidade de ver, de sentir, de tocar, de dialogar... O amor de Jesus pelos homens é forte, viril, terno, constante, até a prova suprema da vida.

Porque ninguém tem amor maior do quem dá a vida pela pessoa amada (cf. Jo 5,13). E Ele deu a vida! Amor cheio de delicadeza e de calor humano: como ama as mulheres, com que delicadeza se abaixa sobre sua humilhação, sem, todavia, condescender minimamente ao mal!

Como ama os discípulos; como ama as crianças, os doentes, os pobres, os intocáveis da época... Amado, Ele muda, faz renascer, liberta (a Samaritana. Madalena). Diante do túmulo de Lázaro, disseram d’Ele: ‘Vede como Ele o amava’”.

A quarta etapa: é aquela que se estende até os dias de hoje e que se chama Espírito Santo:

“O amor de Deus que se manifestou em Cristo Jesus permanece entre os homens e vivifica a Igreja através do Espírito Santo.

O que é afinal o Espírito Santo? É o amor recíproco entre Pai e Filho que, depois da Ressurreição, se difundiu sobre os crentes, como perfume que jorra do vaso de alabastro quebrado e enche a casa: o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5); nisso é que conhecemos que estamos n’Ele e Ele em nós, por Ele nos ter dado o Seu Espírito (1 Jo 4,13)...

Não se trata de um amor subjetivo, isto é, de um sentimento fugaz; é algo de soberanamente objetivo e concreto. Chega a ser até uma pessoa. No Novo testamento é apresentado como O Consolador, que dá paz, força, coragem, alívio. É ‘Espírito de amor’. É chamado também ‘coração novo’, o ‘coração de carne’, porque Sua presença nos torna não só amados, mas também capazes de amar (amar de modo novo a Deus e aos irmãos). Ele é agora Aquele que realiza a impossível fidelidade do homem; tendo-O presente, com efeito, o crente pode observar os Mandamentos, pode ‘corresponder’ ao amor de Deus, o que não era possível antes de Cristo”.

De fato, assim falou o Evangelista São João: “Deus amou tanto o mundo, que deu Seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que n’Ele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

O amor de Deus é o centro de toda a Sagrada Escritura, revelado numa sucessão de gestos, de manifestações, que chamamos de “História da Salvação”.

Frei Raniero Cantalamessa finaliza nos falando da dificuldade que temos de crer no amor, considerando numerosas traições e decepções: “quem foi traído ou ferido uma vez, tem medo de amar e de ser amado, porque sabe quanto é dolorido ser enganado...”

No entanto, o cristão deve se libertar deste medo, pois esta é a sua vocação: amar, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações no batismo, e é preciso descobri-lo dentro de nós mesmos, na Igreja e ao mundo testemunhá-lo: 

“É o momento decisivo na História da Salvação, Aquele em que um homem, ou antes, uma comunidade movida pelo Espírito Santo, diz, como fazemos nós agora: ‘Deus nos ama e nós cremos no amor’”.

Oremos:

“Deus bom e fiel, que jamais Vos cansais de chamar os errantes a uma verdadeira conversão e no Vosso Filho levantado na Cruz nos curais das mordeduras do Maligno, concedei-nos a riqueza da Vossa Graça, para que, renovados no Espírito, possamos corresponder ao Vosso amor eterno e infinito”. (2)


(1)  O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria - 2013 
(2) Lecionário Comentado – Volume Quaresma-Páscoa Ed. Paulus – 2011 Lisboa – p. 184

PS: Reflexão apropriada para a 13ª Sexta-feira do Tempo Comum

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