segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

A Evangelização: lançar as redes em águas mais profundas

 


A Evangelização: lançar as redes em águas mais profundas
 
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6)
 
Um Planejamento Pastoral deve ser fruto do trabalho conjunto de muitas mãos, mentes e corações, que possibilita a continuidade da ação evangelizadora.
 
Um valioso instrumento que ajuda a lançar as redes em águas mais profundas (Lc 5,1-11), pois a evangelização prima pela superação da superficialidade e ativismo inconsequente; provoca-nos para respostas comunitárias, sem ações individualizadas, mas inseridas na Pastoral de Conjunto.
 
Precisamos buscar respostas evangélicas para os grandes desafios que enfrentamos na realidade urbana e pós-moderna:
 
- A realidade urbana: desafios e respostas;
- A evangelização da família;
- O resgate da pessoa humana no exercício de sua cidadania;
- O aprimoramento das atitudes de acolhida e fortalecimento dos vínculos de comunhão fraterna;
- O desafio da evangelização da juventude;
- Um projeto missionário que expresse a dimensão missionária de toda a Igreja;
- Presença evangelizadora nas escolas e universidades;
- A necessidade de uma linguagem comum para os Sacramentos;
- Formação bíblica e espiritualidade do agente de pastoral;
- Maior cuidado com os momentos litúrgicos, para que sejam momentos fortes de oração;
- Evangelizar através dos Meios de comunicação social contando com a sóbria utilização dos recursos da inteligência artificial;
- Fortalecimento das pastorais sociais na promoção da dignidade da vida e o cuidado da Casa Comum.
 
Deste modo, é necessário que as vocações cristãs leigas, alimentadas pela Palavra e Eucaristia, atuem em sintonia com padres, Bispo, religiosos e religiosas, em diversas estruturas, organismos e pastorais.
 
Urge que no espírito sinodal, comunhão e participação, e na evangélica opção preferencial pelos pobres, participemos da construção de uma sociedade justa, fraterna e mais solidária, a caminho do Reino definitivo.
 
Tenhamos sempre em mente que o Protagonista da evangelização é o Espírito Santo, de modo que a diversidade de carismas, dons e ministérios devem ser compartilhados, garantia de êxito na evangelização (1 Cor 12-30), na fidelidade a Jesus, o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14,6), e tão somente assim evangelizaremos e avançaremos para as águas mais profundas.

Em poucas palavras...

                                             


“O homem que descia é Adão...”

“O homem que descia é Adão, Jerusalém é o paraíso, Jericó, o mundo; os ladrões são os poderes inimigos, o sacerdote é a lei, o levita são os profetas, o samaritano é Cristo; as feridas são a desobediência; o jumento, o corpo de Cristo; a hospedaria que acolhe a todos os que querem entrar é a Igreja; os dois denários são o Pai e o Filho; o dono da hospedagem é o pastor da Igreja a quem é confiada a cura; o fato de que o samaritano promete voltar lembra a segunda vinda do Salvador” (1)

 

 

(1) Orígenes, Hom. In Lc. 34) – séc III - sobre a passagem Lc 10,25-37

O Reino de Deus germina silenciosamente (XIDTCB)

                                                   

O Reino de Deus germina silenciosamente

No 11º Domingo do Tempo Comum (Ano B), a Liturgia da Palavra nos convida a renovar a alegria de trabalhar pelo Reino de Deus, fiéis à Aliança que Ele faz conosco, da qual jamais se esquece.

A passagem da primeira Leitura (Ez 17,22-24) retrata o tempo do exílio, e o Profeta procura manter acesa a chama da esperança do povo pela fidelidade de Deus e Sua Aliança. É preciso afastar todo medo e pessimismo.

O Profeta tem a árdua missão de destruir as falsas esperanças, denunciar as infidelidades, levando o povo a confiar plenamente em Javé, pois somente com Ele construirá uma nova história.

Aparentemente nosso trabalho parece ser insignificante, desprezível, mas não o é aos olhos de Deus que tem sempre um Projeto de Vida para a humanidade.

Deus chama quem bem quer para a construção deste Projeto, o que não necessariamente corresponde à lógica dos homens. Tudo pode cair, tudo pode falhar, mas somente Deus não falha. Deus ama Seu povo e quer salvá-lo.

É preciso corresponder à vontade amorosa de Deus com nossa humilde disponibilidade e acolhida dos Seus apelos e desafios.

Na passagem da segunda Leitura (2Cor 5,6-10), o Apóstolo Paulo anuncia que somos  peregrinos no tempo,  vocacionados para a eternidade, à vida definitiva. 

Não podemos nos curvar diante da cultura do provisório, do que é fácil e efêmero, mas caminhar com passos firmes para a eternidade, procurar o que é duradouro e nos assegure a vida definitiva.

Pela vida e palavras dos Apóstolos vemos que não é fácil seguir e servir o Senhor. A grandeza da missão comporta riscos, mas tem compensações sem medida.

Na passagem do Evangelho de São Marcos (Mc 4,26-34) encontramos duas Parábolas de Jesus sobre o Reino de Deus.

A Parábola é uma forma de linguagem que Jesus Se utiliza, acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora e pedagógica, para semear a Palavra no coração e na mente dos Seus ouvintes. Fala coisas tão belas e profundas a partir de coisas simples do cotidiano.

Elas criam controvérsias, diálogo, questionamentos, num primeiro momento, depois se tornam provocadoras para novas atitudes e compromissos, mexendo com seus ouvintes.

Finalmente levam o ouvinte a tirar as consequências para a vida, pois ajuda a pensar e rever as atitudes, a própria vida, o compromisso com Jesus e o Reino.

“A primeira Parábola (da semente) afirma que o Reino de Deus é algo que uma vez semeado no coração da pessoa, germina e cresce por si só: tem uma força intrínseca (vv. 26-29). A segunda (do grão de mostarda) diz que o Reino de Deus é pequeno e aparentemente insignificante, mas crescerá até se tornar muito grande (vv. 30-32).” (1)

A grande mensagem destas duas Parábolas é que o Reino de Deus é uma iniciativa divina, e para que ele aconteça a comunidade precisa manter a serenidade, a confiança e a paciência. Importa lançar a Semente da Palavra do Reino no coração da humanidade.

A Parábola da semente tem sua mensagem própria: a nós cabe lançar a semente. Assim acontece o Reino, inaugurado e realizado na atitude da necessária paciência evangélica.

Deus não falha e no Seu tempo dará os frutos esperados, de modo que podemos afirmar categoricamente que o tempo d'Ele não é o nosso.

A Parábola da semente de mostarda, que se torna uma grande árvore, revela quão grande e belo é o Reino, que se inicia com pequenos gestos, daquilo que é aparentemente insignificante e desprezível.

Nos fatos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e no transcorrer normal de cada dia, na insignificância e limites dos meios de que dispomos na evangelização, esconde-se o dinamismo divino que atua na história oferecendo e possibilitando à humanidade caminhos novos de vida plena e salvação.

“Jesus não é um homem de sucesso, de ibope. Ele lança uma sementinha, nada mais. E de repente, a sementinha brota. O que parecia nada, torna-se fecundo, árvore frondosa” (2)

Digamos sempre: “Como é bom trabalhar na construção do Reino como Igreja que somos!”

Tenhamos a paciência evangélica para continuarmos com alegria, como Igreja, lançando sementes no coração da humanidade, para que possam florir na alegre presença do Reino que já está em nosso meio com a Pessoa e a Palavra de Jesus, que vemos e acolhemos em cada Eucaristia, quando a Palavra é proclamada, acolhida e vivida, e o Pão é comungado e o cotidiano Eucaristizado!

Urge que Palavra de Deus caia em nosso coração, germine, floresça e frutifique, na confiança, esperança, humildade e paciência, como a mais bela expressão de uma frutuosa relação de amor com Deus. 


Oremos:

Venha, Senhor, o Vosso Reino, rezamos.
Venha, Senhor, o Vosso Reino, anunciamos.
Venha, Senhor, o Vosso Reino, testemunhamos.

(1) Lecionário Comentado - Volume Tempo Comum I - Editora Paulus - pág.518

(2) Liturgia Dominical - Mistério de Cristo formação dos fiéis (anos ABC) - pág.290


“Cala-te, sai deste homem!”

                                                     

“Cala-te, sai deste homem!”

 

“De um só homem é lançada a legião e envida a dois mil porcos,
o que nos permite ver que é precioso o que se salva e de pouco valor o que se perde.”


Sejamos enriquecidos pelo Comentário de São Jerônimo, Bispo da Igreja (séc. V), sobre a passagem do Evangelho de São Marcos (Mc 5,1-20) proclamada na quarta segunda-feira do Tempo Comum (ano B)

“E Jesus ameaçou: Cala-te e sai deste homem. A verdade não necessita de testemunho da mentira. Não vim para ser reconhecido pelo teu testemunho, mas para precipitar-te de minha criatura.

Não é belo o louvor na boca do pecador. Não necessito do testemunho daquele ao qual quero atormentar. Cala-te. Teu silêncio seja o meu louvor. Não quero que a tua voz me louve, mas os teus tormentos: tua pena é meu louvor.

Não me é agradável que me louves, mas que se retire. Cala-te e sai deste homem. Como se dissesse: sai de minha casa, o que fazes em minha morada? Eu desejo entrar: Cala-te e sai deste homem.

Deste homem, ou seja, deste animal racional. Sai deste homem: abandona esta morada preparada para mim. O Senhor deseja a sua casa: sai deste homem, deste animal racional.

Sai deste homem, disse também em outro lugar a uma legião de demônios para que saíssem de um homem e entrassem nos porcos.

Vede quão preciosa é a alma humana. Isto contradiz àqueles que creem que nós e os animais temos uma mesma alma e trazemos um mesmo espírito.

De um só homem é lançada a legião e envida a dois mil porcos, o que nos permite ver que é precioso o que se salva e de pouco valor o que se perde.

Sai deste homem e vai-te para os porcos, vai-te para os animais, vai-te para onde queiras, vai-te aos abismos. Abandona ao homem, ou seja, abandona uma propriedade particularmente minha.

Sai deste homem: não quero que tu possuas ao homem; para mim é uma injúria que habites no homem, sendo eu o que habita nele.

Eu assumi o corpo humano, eu habito no homem. Essa carne que possuis é parte de minha carne, portanto, sai deste homem.

E o espírito imundo, agitando-o violentamente... Com estes sinais mostrou sua dor, agitando-o violentamente.

Aquele demônio, ao sair, como não podia causar dano à alma, o fez ao corpo, e, como não podia fazer-se compreender por outro meio, manifesta com sinais corporais que saiu.

E o espírito imundo, agitando-o violentamente... Porque ali estava o espírito impuro que foge do espírito puro. E dando um grito, saiu dele. Com o clamor da voz e a agitação do corpo manifestou que saía.” (1)

Contemplemos a ação libertadora de Jesus, ontem, hoje e sempre em Sua Igreja.

Quão preciosos somos aos olhos de Deus, e nada pode roubar nossa liberdade, tão pouco violar a sacralidade de nossa existência.

Acolhamos com fé a Palavra do Senhor, que nos liberta de toda possessão, e faz luminosos nossos caminhos.

Experimentemos, cotidianamente, a força da Palavra de Deus, e dela nos saciemos incessantemente, renovando nossas forças no bom combate da fé.

 

(1)Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pág. 379-380

Em poucas palavras...

                                              


Jamais a desventura de não aceitar o Senhor

“... há muitos modos de dizer ‘não a Deus’, e todos se voltam contra nós: recusar a luz é ficar na escuridão, recusar o calor é permanecer no frio, recusar o alegre anúncio é tristeza.

Contudo, luz, calor, alegre anúncio irão para os outros que os acolherão. Cristo é a ‘Salvação’: não aceitá-Lo é desventura.” (1)

 

 

(1)             Comentário do Missal  Cotidiano, sobre a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12,1-12)  

Editora Paulus – pág. 846

O Semeador, Sua Palavra e o nosso coração

                                                           

O Semeador, Sua Palavra e o nosso coração 

Reflexão à luz da passagem do Evangelho (Mt 13,1-23; Mc 4,1-9; Lc 8,4-15), sobre a centralidade da Palavra de Deus em nossa vida.  

As parábolas de Jesus mexem com os ouvintes, arma controvérsia; utiliza-Se deste método pedagógico de reflexão para nos ajudar no encontro da verdade que nos desestabiliza, nos chama à conversão: 

"Não se trata de anunciar uma Palavra anestesiante, mas desinstaladora, que chama à conversão, que torna acessível o encontro com Ele, através do qual floresce uma humanidade nova" (Verbum Domini - 93).  

A Parábola, embora de construção simples, somente pode ser compreendida na sua essência pelos pobres, pelos simples, pelos aflitos, aqueles a quem Jesus revelou o amor preferencial de Deus. Elas exortam, animam, ensinam, fortalecem, comprometem, abrem novos caminhos, iluminam horizontes, firmam os passos...  

Que tipo de terra é o coração de cada um na acolhida da Palavra, que o Semeador, o próprio Jesus, nele semeia? 

De modo sintético, vejamos o que nos diz a parábola do Semeador: 

Coração duro – beira do caminho – superficial, egoísta, insensível, orgulhoso, não há lugar para a Palavra de Deus. 

Coração inconstante – entusiasmo momentâneo, sem enraizamento, cristianismo de meias-tintas, não suporta contrariedades e dificuldades. 

Coração materialista - dividido entre as preocupações e riquezas; coração acomodado e instalado; não tem coração, por Deus seduzido, mas dividido, o que é impossível. 

Coração fértil – coração aberto à graça para frutos abundantes produzir; aberto à novidade e propostas do Reino que Jesus inaugurou com Sua Encarnação.  

Com os nossos olhos iluminados pela Palavra de Deus, temos um olhar de futuro para a humanidade com os óculos da esperança, e não um olhar para o holocausto, para a destruição, para o nada... 

A Palavra de Deus tem que iluminar nosso olhar – nem caos, nem êxtase... Esperança de mãos dadas e entrelaçadas com a caridade é sinal da verdadeira fé. 

Acolher a Palavra de Deus nos compromete no cuidado de Sua criação em todos os níveis, âmbitos e aspectos. Cuidar da vida da pessoa, de sua existência e do planeta, nossa Casa Comum, pois é impossível cuidar de um destruindo o outro.

Deixemo-nos conduzir pela Palavra de Deus, princípio ético para todo o nosso existir, que ilumina nossos pensamentos, palavras e ações e nos questiona em nossas omissões.  

Reflitamos:

- De que modo acolho a Palavra do Senhor?
- Como a tenho não apenas acolhido, celebrado, meditado, partilhado, anunciado, mas vivido?

- Quatro atitudes distintas diante da Palavra: indiferença, recusa, desprezo e acolhimento. Como tem sido comigo?
- Como o amor à Palavra de Deus tem me ajudado a viver segundo o Espírito que faz novas todas as coisas, cria uma nova humanidade, um mundo novo? 

- De que modo cuidamos da criação que o Senhor nos confiou? 

Como a chuva que cai e não volta para os céus sem antes regar e fecundar a terra, a Palavra que cai em nosso coração deve voltar para ao Pai acompanhada de sua eficácia, com gestos multiplicados de amor e solidariedade para com o outro e para com Deus.
De fato, a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4,12). 

O crepitar da chama em nossos corações

 


O crepitar da chama em nossos corações

Livrai-nos, Senhor, da tentação das propostas de um messianismo fácil e triunfalista, pois não foi assim que Vos apresentastes como o Verdadeiro Messias.

Renovai em nós o amor, zelo e ardor da missão evangelizadora, com coragem para as renúncias e melhor segui-Lo e servi-Lo na pessoa de nosso próximo, carregando, com ousadia e fidelidade, nossa cruz de cada dia.

Ajudai-nos a viver a graça da fé em Vós, que vivestes plena fidelidade ao Pai na comunhão com o Santo Espírito, até o fim na missão redentora da humanidade, fazendo crepitar a chama do amor em nossos corações.

Concedei-nos a sabedoria para cultivar e manter viva a esperança da chegada do Vosso Reino, já presente entre nós, lançando as sementes fecundadoras de novos tempos, recriando o paraíso, não como uma vil saudade, mas compromisso inadiável sempre.

Inflamai-nos com o fogo do Santo Espírito, para que vivamos a caridade como a plenitude da Lei, como vivestes e nos ensinastes a viver (cf. Rm 13,10), enriquecidos pelos sete dons, e assim, produzirmos os sagrados frutos do Espírito (Gl 5,22). Amém.

 

PS: Passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12,35-37)


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