sábado, 22 de novembro de 2025

O enigma da dor e da morte

                                                            

O enigma da dor e da morte

“Creio na Ressurreição da carne, na vida eterna”

Reflitamos sobre o Mistério da morte, à luz da Constituição Pastoral “Gaudium et spes” sobre a Igreja no mundo de hoje (n.18-22), do Concílio Vaticano II (séc. XX).

A morte, o enigma da condição humana, chega ao seu ápice:
“Em face da morte, o enigma da condição humana atinge o seu ponto máximo. O homem não apenas é atormentado com a dor e o progressivo declínio do corpo, mas com muito maior força pelo temor da destruição perpétua. Pelo acertado instinto de seu coração, afasta com horror e rejeita a ideia da total ruína e da morte definitiva de sua pessoa”.

Nada pode garantir a perenidade da vida de uma pessoa, nem mesmo a técnica:
"A semente de eternidade que traz em si, irredutível à pura matéria, insurge-se contra a morte. Todas as conquistas da técnica, por mais úteis que sejam, não conseguem acalmar a angústia humana, pois o prolongamento biológico da vida não pode satisfazer o desejo inelutavelmente presente em seu coração de viver sempre”.

Fomos criados para um fim feliz, no entanto, o pecado e a morte irromperam por nossa culpa:
“Já que diante da morte toda imaginação fracassa, a Igreja, instruída pela Revelação, afirma ter sido o homem criado por Deus para uma finalidade feliz, para além dos limites da miséria terrena. E não só, mas a fé cristã ensina que a morte corporal, que lhe seria poupada se não houvesse pecado, será vencida quando o homem recuperar a salvação, perdida por culpa sua, pelo onipotente e compadecido Salvador”.

Pela da Morte e Ressurreição de Jesus, fomos libertos da morte e introduzidos na plena comunhão divina:
“Com efeito, Deus chamou e continua a chamar o homem a aderir com sua natureza integral à perpétua comunhão na incorruptível vida divina. Cristo conseguiu esta vitória, libertando o homem da morte por meio de Sua morte e ressurgindo para a vida”.

Pela fé, abre-se a possibilidade da contemplação da vida futura, na qual podemos alcançar:
“Para quem reflete, a fé baseada em sólidos argumentos oferece uma resposta a sua ansiedade sobre a sorte futura”.

A fé na Ressurreição e a Comunhão dos Santos (que estão na glória eterna) que professamos:
“Ao mesmo tempo dá a possibilidade de comunicar-se com os caros irmãos já arrebatados pela morte em Cristo, despertando a esperança de possuírem eles, desde agora, a verdadeira vida junto de Deus”.

Os cristãos e todos de boa vontade, têm que lutar contra o mal, tribulações e aceitar a morte no Mistério Pascal, não tendo ela a palavra última:
“Certamente incumbe ao cristão o dever urgente de lutar contra o mal através de muitas tribulações e de aceitar a morte; mas unido ao mistério pascal, configurado à morte de Cristo, firme na esperança, chegará à ressurreição.

Tudo isto vale para os cristãos e também para todos os homens de boa vontade em cujos corações a graça age invisivelmente”.

A ação do Espírito Santo nos une ao Mistério Pascal de Jesus, na realização de nossa vocação divina:
“Tendo, pois, Cristo morrido por todos, e sendo uma só a vocação última do homem, isto é, a divina, devemos afirmar que o Espírito Santo oferece a todos a possibilidade, de modo só conhecido por Deus, de se associarem ao Mistério Pascal”.

Em Cristo, ilumina-se o enigma da dor e da morte:
“De tal valia e tão grande é o mistério do homem, que se esclarece pela Revelação cristã aos fiéis. Por conseguinte, por Cristo e em Cristo, ilumina-se o enigma da dor e da morte que, fora de Seu Evangelho, nos esmaga”.

Cremos em Jesus Cristo, que morreu e por Deus foi Ressuscitado e está sentado à direita de Deus. Juiz é Senhor da História, Rei do Universo, e por Seu Espírito, podemos clamar a Deus como Pai:
“Cristo Ressuscitou, por sua morte destruiu a morte e deu-nos a vida para que, filhos no Filho, clamemos no Espírito: Abá, Pai!”.

Crer no Mistério da Fé, na Ressurreição de Jesus, dá um novo sentido para a existência humana e seu fim último, a vida eterna, passando necessariamente pela morte.

A fé na Ressurreição do Senhor abre sempre novas perspectivas para quem crê n’Ele, em premente atitude de resistência a dor e a morte, num encantamento pela vida, com sagrados compromissos com a Boa-Nova do Reino, para que tenhamos vida plena desde já, e, um dia, eternamente na glória dos céus.

Concluo professando a fé, à luz do Símbolo Niceno-constantinopolitano:

“Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo...”

PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 20,27-40)

“Creio na Ressurreição da Carne”

“Creio na Ressurreição da Carne”

A morte morrerá em Vossa morte, 
assim cremos, Senhor.
Vós, o Verbo de Deus, que tudo vivifica,
Que assumistes a carne, 
restituístes à carne o seu próprio bem:
 a vida e vida plena e eterna.

Vós que estabelecestes com ela uma comunhão indizível,
e a tornastes fonte de vida.
Vós que repelistes a morte de todos nós
que estávamos sujeitos à corrupção e destruição eterna.

Vós, Senhor, com Vossa Morte, 
tivestes força Para eliminá-la eternamente.
E crendo e vivendo em Vós,
Viveremos eternamente junto de Vós.
Amém. 
Aleluia! 

PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 20,27-40)

“Creio na Ressurreição da carne, na vida eterna...”


 

“Creio na Ressurreição da carne, na vida eterna...”

Reflexão da passagem do Evangelho de São João (Jo 12,20-33), proclamado no quinto Domingo da Quaresma, à luz do Sermão escrito por São João Crisóstomo (séc. IV).

“O que significa: Se o grão de trigo não cai na terra e não morre?  Ele fala da crucificação. Para que não se perturbassem ao ver que Ele condenava a morte, justamente quando os gentios se aproximavam d’Ele, lhes diz: ‘É precisamente isto que os fará vir a mim; isto é o que estenderá o anúncio’.

Em seguida, como não conseguia persuadi-los totalmente com as Suas palavras, os estimula colocando-lhes diante da experiência e lhes diz: ‘O mesmo acontece com o trigo, que quando morre aí é que frutifica; Se nas sementes acontece isso, muito mais acontecerá em mim’.

Porém, os discípulos não entenderam Suas palavras. E o evangelista repete com frequência este dado, para escusá-los, visto que se dispersarão. Também Paulo fez alusão ao grão de trigo quando falou da ressurreição.

Que desculpa terão os que não creem na ressurreição? Porque cada dia podemos vê-la nas sementes, nas plantas e nas gerações humanas. Primeiro é necessário que a semente se corrompa, para que a partir disso ocorra a brotação.

Falando de forma geral, quando é Deus quem realiza algo, não se necessitam explicações. Como Ele nos criou do nada? Isto eu digo aos cristãos que professam crer nas Escrituras. Porém, acrescentarei algo mais do raciocínio humano.

Alguns homens são maus; outros são bons. Dos que são maus, muitos chegaram à idade avançada com prosperidade, enquanto que aos bons lhes aconteceu tudo ao contrário. Então quando, em que momento cada um receberá o que merece? Tu insistes dizendo: ‘Sim!, porém os corpos não ressuscitam’.

Estes não ouvem a Paulo que diz: ‘E necessário que o corruptível se revista de imortalidade. Ele não fala da alma, pois a alma não é corruptível; e a ressurreição é própria de quem morreu; e é o corpo que morreu.

Mas por que não admites a ressurreição da carne? Será, por acaso, impossível pra Deus? Afirmá-lo seria recorrer o extremo da necessidade. Mas não convém? Por que não convém que este elemento corruptível, que padeceu os sofrimentos e a morte, participe das coroas?

Se não conviesse, nos princípios nem sequer teria sido criado o corpo. Nem Cristo teria assumido nossa carne. Porém, Ele de fato a assumiu e ressuscitou, ouve como ele mesmo o afirma: Coloca aqui teus dedos e vede que os espíritos não têm carne nem ossos.

Por que ressuscitou a Lázaro desta forma, se era melhor ressuscitar sem corpo? Por que colocou a ressurreição no número dos milagres e dos benefícios? Por que para a ressuscitada lhe proporcionou alimentos?

Em consequência, caríssimos, que os hereges não vos enganem. Existe a ressurreição, existe o juízo. Os negam todos os que não querem dar conta de suas obras. É necessário que a ressurreição seja como foi a de Cristo. Ele é primícia e o primogênito dentre os mortos.” (1)

A fé na Ressurreição é o mistério central da nossa fé, que nos move em todos os momentos, sobretudo nos momentos adversos, e o cume deles, a morte.

Crer no Mistério da Fé, na Ressurreição de Jesus, dá um novo sentido para a existência humana e seu fim último, a vida eterna, passando necessariamente pela morte.

Crer na Ressurreição do Senhor, como rezamos ao professar a fé, abre sempre novas perspectivas para quem crê n’Ele, em premente atitude de resistência a dor e a morte, num encantamento pela vida, com sagrados compromissos com a Boa-Nova do Reino, para que tenhamos vida plena desde já, e, um dia, eternamente na glória dos céus.

Crendo na Ressurreição, empenhemo-nos para que um dia também possamos nos céus, com aqueles que nos antecederam, nos encontrarmos, na plenitude do Amor Trinitário com todos os anjos e santos. Amém.

Renovemos em nós a graça batismal, e, assim, vivamos o tempo presente com inadiáveis e santos compromissos com a vida e sua sacralidade, e professemos nossa fé, à luz do Símbolo Niceno-Constantinopolitano:

“Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo...”

 

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp.321-322




PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 20,27-40)

“Creio na Ressurreição da carne, creio na vida eterna...”

“Creio na Ressurreição da carne, creio na vida eterna...”

Ressurreição da carne e vida eterna são os dois últimos artigos de nossa fé, que professamos ao rezar o Credo.

Apresento três pequenos textos da Igreja, para nossa reflexão sobre esta verdade que nos motiva o bom combate da fé, intrépidos e fortalecidos pela força da Oração, nutridos pelo Pão da Palavra e da Eucaristia.

O primeiro é um belíssimo testemunho dos mártires, no contexto de perseguição e martírio que sofreram tantos e tantas, com sangue derramado, vidas ceifadas, mas sempre com a esperança da eternidade. Assumiram o martírio e o viveram não por desgosto, mas pela verdadeira paixão pela vida:

Assim se dirigiram os carrascos aos mártires cristãos, no terceiro século, e de modo especial a Piônio:

"Tu és digno de continuar a viver... é tão doce viver e a luz é tão linda"

Mas ele respondeu:

− “Sim, sei que é bonito viver, mas nós desejamos a verdadeira luz; eu sei que a terra é linda é obra de Deus. Se nós renunciamos a ela não é por desgosto, nem por desprezo, mas porque conhecemos bens melhores”.

O segundo texto, do Bispo São Cirilo de Jerusalém, é sobre a fé na Ressurreição, que não priva o crente de seu empenho moral na história, assim como o compromisso social no tempo presente, mas o impele:

 “A esperança da ressurreição é a raiz de toda boa ação; a espera da retribuição fortalece a alma para o cumprimento do bem. Todo operário está pronto a suportar a fadiga se prevê a recompensa [...]. Cada alma que crê na ressurreição tem cuidado de si mesma, que não crê na ressurreição abandona-se à ruína.

Quem crê que o corpo permanece para a ressurreição cuida desta veste da alma e não a suja com a fornicação. Quem, ao invés, não crê na ressurreição abandona-se à impureza, abusando do próprio corpo como de algo que não lhe pertence.

A fé na ressurreição dos mortos é, portanto, um grande ensinamento e advertência da Igreja Católica, grande e necessário, negado por muitos, embora provado pela verdade. Os gregos o combatem e os hereges o derrubam: a contradição tem várias faces, enquanto a verdade só tem uma”. 

O terceiro é do Bispo Santo Agostinho, que um pouco mais tarde também deixou uma contemplação que nos possibilita ver o céu à luz dos olhos da fé:

“Tem, irmãos, tem o jardim do Senhor não apenas rosas dos mártires, tem também lírios das virgens, heras dos casados, violetas das viúvas. Absolutamente ninguém, irmãos, seja quem for, desespere de sua vocação; por todos morreu Cristo…” .

Renovemos em nós a graça batismal, e, assim, vivamos o tempo presente com inadiáveis e santos compromissos com a vida e sua sacralidade.

Crendo na Ressurreição, empenhemo-nos para que um dia também possamos nos céus, com aqueles que nos antecederam, nos encontrarmos, na plenitude do Amor Trinitário com todos os Anjos e Santos. Amém.


PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 20,27-40)

Somar com quem o bem sabe multiplicar (Cristo Rei)

                                                


Somar com quem o bem sabe multiplicar

Uma fé pascal faz do
fim um eterno recomeço...

Coroamos solenemente Cristo Rei e Senhor da História,
Aquele que possui o Reino eterno e universal,
Ele que é a testemunha fiel, primogênito dos mortos,
O soberano de todos os príncipes, alfa e ômega.

A Ele toda honra, glória, poder e louvor, elevemos,
Compromissos renovados, atitudes sinceras multiplicadas,
Sem o que nossa coroação abominável seria,
Como todo culto sem a prática do direito e da justiça.

Coroar o Senhor é olhar para o fim da história,
Sem desespero e sem sombras de medo para o presente,
Vivendo intensamente com confiança, alegria e sabedoria,
Em vigilância permanente até que Ele venha gloriosamente.

É a Ele oferecer-se de modo total e decididamente,
Pois é Ele nosso ponto de referência numa adesão incondicional.
A Ele entregamos nossas limitações, fraquezas, sofrimentos,
Alegrias, conquistas, avanços, sonhos, santas procuras.

É fazer bom uso do tempo presente que é tão fugaz,
Tão finito, que não nos permite perdas irrecuperáveis;
Viver intensamente cada segundo sob o Seu olhar,
Numa relação de amor, vocacionada, a eternizar.

Assim há que se olhar para o fim e destino da História,
Certos de que o fim é iminente e inexorável,
Por isto requer sempre uma renascida postura,
Cada gesto, cada instante um eterno recomeço.

Por isto é preciso aumentar o cortejo da vida,
Somar com aqueles que não se perdem e se consomem
Em discursos verborrágicos, sem germe da novidade,
Porque acompanhados de palavreados esvaziados.

Somar com os que não se prestam a se tornarem
Profetas do mau agouro, da desesperança, da agonia,
Do medo que nada constrói, porque prescinde
Da autêntica fé e confiança n’Aquele que conosco caminha.

Somar com os que não deixam morrer em si a confiança
De que um novo mundo é mais do que possível, desejável;
Não deixam morrer e matar dentro de si a profética alegria,
De quem pauta sua vida sem jamais prescindir da sabedoria.

Somar com os que não plantam sementes da maldade,
Mas que em cada Mesa da Palavra e da Eucarística
Com participação ativa, frutuosa e piedosa como há de ser
Conscientes da sagrada missão que renovam em Oração.

Somar com os que não dão ouvidos aos cantos enganadores
Das “sereias” de cada tempo, com suas terríveis seduções,
Que nos afastam da verdadeira felicidade desejada,
Que somente encontra quem a Deus ama e serve com alegria.

Somar com tantas pessoas de boa vontade,
Que até mesmo fé diferente professam,
Mas que têm um denominador comum:
Amantes do Deus da Vida e da vida o são.

Somar com quem não se curva ao relativismo
Das verdades que duram não mais que alguns instantes.
Somar com aqueles que, por serem da verdade,
A Voz da Verdade escutam: o Rei Eterno, Jesus.

Somar é preciso
Com quem somar?
Quero somar contigo
Que ora lê e comigo crê...

Que sem omissão não cruza os braços,
Que as mãos generosamente abre,
Porque antes o coração se abriu,
Dando a Deus e ao próximo o melhor de si.

É com estes que quero somar:
Com quem dá de sua pobreza com amor,
Tornando, portanto, para Deus riqueza,
Como tão bem nos ensinou a viúva do Evangelho

Somar com quem dá sua pobreza com e por amor:
Sua juventude, capacidade, vigor, tempo,
Testemunho de fé, capital precioso,
Que podemos investir em favor do próximo.

Há aqueles com quem se há de somar.
Você é uma destas pessoas...
Com quem mais haveremos de somar
Para melhor a Deus e ao próximo amar?

Em poucas palavras... (Cristo Rei)

 


«Sacerdote, profeta e rei»

“Jesus Cristo é Aquele que o Pai ungiu com o Espírito Santo e constituiu «sacerdote, profeta e rei». Todo o povo de Deus participa destas três funções de Cristo, com as responsabilidades de missão e de serviço que delas resultam (Papa São João Paulo II).” (1)

 

(1)               Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 783

Sejamos configurados ao Senhor (Cristo Rei)

                                                       


Sejamos configurados ao Senhor

Ao celebrar a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, retomemos as palavras do Apóstolo Paulo.

Ele faz um apelo simples e forte no texto da Carta aos Filipenses: “Tende entre vós mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus”  (Fl 2,5).

Para participar do reinado do Senhor, ou seja, para ser um cristão autêntico, somente percorrendo um caminho concreto, avançando no mesmo sentido indicado pelo Mestre, identificando-se com Ele, tornando-se uma imagem Sua, para as pessoas que encontramos.

É preciso que sejamos totalmente configurados ao Senhor, de modo que nossos pensamentos e sentimentos se tornem orientados e iluminados pelos mesmos d’Ele. Pensamentos e sentimentos, de fato, não na teoria e intenções apenas.

Tão somente assim viveremos atitudes mais profundas que revelarão a fé que professamos, e que o Cristo que cremos é uma Pessoa que um dia encontramos e marcou para sempre todo o nosso ser e nosso viver.

Reinar com Jesus é ter d’Ele mesmos ‘sentimentos’, mas segundo a antropologia de Paulo, não são as ‘emoções’ que as diferentes circunstâncias provocam em nós, são, antes, os ‘motivos’, as ‘convicções’ do mais íntimo da pessoa que a levam a agir num sentido específico.

O ‘sentimento’ bíblico envolve toda a pessoa: mente e coração; mãos e pés, e a disposição permanente para com um comportamento específico, acompanhado de uma permanente conversão dos sentimentos e dos pensamentos.

Reinar com Jesus, é conhecê-Lo verdadeiramente, a partir do interior: o Seu agir; as Suas preocupações; o Seu critério na avaliação das pessoas e das circunstâncias; as Suas opções de vida, a Sua relação pessoal com o Pai; a Sua disposição para com os outros.

Reinar com o Senhor é conhecer Seus sentimentos, e isto se dá na leitura atenta do Evangelho (Leitura Orante), na Oração confiante, na celebração sincera dos Sacramentos, na vida da comunidade cristã, na partilha da fé em grupo, porque não se vive a fé isoladamente.

Ter d’Ele mesmos pensamentos e sentimentos suscita em nós um intenso desejo de viver em comunhão com o outro, no perdão dado e recebido, na comunhão fraterna, na alegria do encontro e da solidariedade.

A fé n’Ele professada se faz cultura, ou seja, determina todo o nosso existir, nosso modo de ser e agir.

O Apóstolo nos apresenta sentimentos que Jesus viveu em profundidade, e nos exorta o mesmo fazer: a fortaleza perante a prova; a compaixão perante as necessidades alheias; a humildade; a obediência à vontade do Pai (cf. Fl 5, 6-8).

Tudo isto bem vivido se torna como que ‘motores’ da vida de Cristo, que O conduziram aos acontecimentos salvíficos, passando pela crudelíssima Morte, precedida pelo sofrimento, paixão, dor, lágrimas,  para alcançar a gloriosa Ressurreição.

Jesus reina glorioso à direita do Pai (Ap 5, 1-10), na plenitude da alegria celestial, Aquele que na terra também verteu lágrimas de compaixão e solidariedade para com o mundo, como na passagem do Evangelho (Lc 19, 41-44), diante do fechamento e não acolhida em Jerusalém.

Reinar com Jesus é ser cristão; discípulo missionário d’Ele, fazendo progressos espirituais na vivência da fortaleza da fé, na compaixão que dá sentido à esperança, na humildade e na obediência a Deus, como expressão de um amor que nos inflama e nos impele, sem jamais esquecer o primeiro amor (Ap 1,1-4;2,1-5a).

Concluindo, que a Solenidade, liturgicamente celebrada em nossas Igrejas e Altares, seja acompanhada de fatos, gestos solidários, transformação de nosso ser, para gerar e formar Cristo em nós e nos outros.

Que o mundo veja nos cristãos e na comunidade a presença de Jesus Cristo, e digam como diziam ao ver os cristãos no princípio do cristianismo: “vejam como se amam” (Tertuliano).


PS: Livre adaptação do Lecionário Comentado - Editora Paulus - pp.436-437.  

“Cristo reina dando-Se a Si mesmo” (Cristo Rei)

                                                           

“Cristo reina dando-Se a Si mesmo”

“Em verdade Eu te digo, ainda hoje estarás comigo
no Paraíso” (Lc 23,43)

Celebrando a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (ano C), a Liturgia nos propõe a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 23,35-43), com a narração da crucifixão de Jesus.

Na Cruz, temos o encontro mais comovedor do malfeitor com Jesus, que se torna, por sua vez, o último modelo de convertido ao Senhor.

O “hoje” da Salvação de Jesus é sempre uma graça que se apresenta para todos nós, para toda a humanidade, no entanto é preciso vivenciar um itinerário: aproximação de Jesus, a confissão do pecado, o pedido de perdão e de salvação, a absolvição da culpa e o perdão (Lc 23,40-43).

Podemos vivenciar este itinerário na graça do Sacramento da Penitência, sinal visível do amor de Deus por Sua misericórdia que nos acolhe como pecadores, e concedendo-nos o perdão pelo Presbítero, somos reconciliados com Ele e com nosso próximo.

Também temos nesta passagem que, para reinar com Jesus, é preciso fazer de nossa vida uma doação plena de si mesmo:

 “Cristo reina dando-se a Si mesmo, perdendo a Sua vida para que o mundo possa viver. Ele inverte a lógica do possuir e propõe a mentalidade da doação generosa de Si” .(1)

O discípulo missionário do Senhor é alguém que encontrou Jesus Cristo, e com isto, passou a ter um novo sentido em sua vida, com o alargamento dos horizontes, com o sagrado compromisso com o Reino de Deus.

Oportunas as palavras da Conferência de Aparecida (2007):

“Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-Lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” .(2)

Celebrando o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas, elevemos orações, a fim de que experimentando a misericórdia de Deus, por meio de Jesus Cristo, renovem a alegria de serem discípulos missionários do Reino, sendo sal da terra, fermento na massa e luz do mundo.

Urge que tenhamos cada vez mais uma Igreja decididamente missionária, e esta página do Evangelho, uma catequese missionária encorajadora, em que reconhecemos a Realeza de Jesus no Trono da Cruz, nos faz discípulos missionários d’Aquele que Reina dando a vida em favor de todos nós.

Portanto, se quisermos reinar com Jesus, façamos de nossa vida uma sincera e fecunda doação de si mesmo, trilhando o caminho da Cruz, que nos credencia para a contemplação, um dia, da glória da eternidade, a plenitude de amor e luz: o Céu.


(1)         Lecionário Comentado – Tempo Comum – Vol. II – Editora Paulus – 2011 – p.863.
(2)        Conclusões da Conferência de Aparecida e do Caribe – 2007 – n.229

Venha Teu Reino, Senhor! (Cristo Rei)

                                                 


Venha Teu Reino, Senhor!

Ao Celebrarmos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, sejamos enriquecidos pelo  Opúsculo sobre a Oração, escrito pelo Presbítero Orígenes (Séc. III).

“O Reino de Deus, conforme as Palavras de nosso Senhor e Salvador, não vem visivelmente, nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo ali; mas o Reino de Deus está dentro de nós (cf. Lc 17,21), pois a Palavra está muito próxima de nossa boca e em nosso coração (cf. Rm 10,8).

Donde se segue, sem dúvida nenhuma, que quem reza pedindo a vinda do Reino de Deus pede – justamente por já ter em si um início deste Reino – que ele desponte, dê frutos e chegue à perfeição. Pois Deus reina em todo o santo e quem é santo obedece às Leis espirituais de Deus, que nele habita como em cidade bem administrada. Nele está presente o Pai e, junto com o Pai, reina Cristo na Pessoa perfeita, segundo as Palavras: ‘Viremos a ele e nele faremos nossa morada’ (Jo 14,23).

Então o Reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo Apóstolo: sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará o Reino a Deus e Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos (cf. 1Cor 15,24.28).

Por isto, rezemos sem cessar, com aquele amor que pelo Verbo se faz divino; e digamos a nosso Pai que está nos céus: ‘Santificado seja Teu nome, venha o Teu reino’ (Mt 6,9-10).

É de se notar também a respeito do Reino de Deus: da mesma forma que não há participação da justiça com a iniquidade nem sociedade da luz com as trevas nem pacto de Cristo com Belial (cf. 2Cor 6,14-15), assim o Reino de Deus não pode subsistir junto com o reino do pecado. Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum reine o pecado em nosso corpo mortal (Rm 6,12), mas mortifiquemos nossos membros que estão na terra (cf. Cl 3,5) e produzamos fruto no Espírito.

Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, e reine só Ele, junto com Seu Cristo; e que em nós Se assente à destra de Sua virtude espiritual, objeto de nosso desejo.

Assente-Se até que Seus inimigos todos que existem em nós sejam reduzidos a escabelo de Seus pés (Sl 109,1), lançados fora todo principado, potestade e virtude. Tudo isto pode acontecer a cada um de nós e ser destruída a última inimiga, a morte (1Cor 15,26).

E Cristo diga também dentro de nós: ‘Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, tua vitória?’ (1Cor 15,55; cf. Os 13,14). Já agora, portanto, o corruptível em nós se revista de santidade e de incorruptibilidade, destruída a morte, vista a imortalidade paterna (cf. 1Cor 15,54), para que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo Nascimento e da Ressurreição”.

Aprofundemos a Oração que o Senhor nos ensinou, sobretudo, quando dizemos: “venha a nós o Vosso Reino, Senhor”.

Lembremo-nos do que nos disse o Presbítero:

“Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual,
e reine só Ele, junto com seu Cristo;
e que em nós se assente à destra de sua virtude espiritual,
objeto de nosso desejo”.

Tudo isto acontece, quando cremos e vivemos este Prefácio da Missa da Solenidade de Cristo Rei:

“Com óleo de exultação, consagrastes Sacerdote Eterno e Rei do universo Vosso Filho único, Jesus Cristo, Senhor nosso. Ele, oferecendo-Se na Cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção da humanidade.

Submetendo ao Seu poder toda criatura, entregará à Vossa infinita majestade um Reino eterno e universal: Reino da verdade e da vida, Reino da santidade e da graça, Reino da justiça, do amor e da paz...”.

Seja nossa vida marcada pelo compromisso com o Reino de Deus, para que a Trindade Santa habite e passei em nós, como em paraíso espiritual.

Cristo, Rei do Universo! (Cristo Rei)

                                                                       

Cristo, Rei do Universo!

Ao celebrar a Solenidade de Cristo, Rei e Senhor do Universo, refletimos sobre o que é ser rei.

Para muitos, ser rei é ser alguém que governa dominando, tiranizando, pela força se impondo, com proveitos incontáveis como luxo, fama, prazer, bens, terras, riquezas materiais, domínios...

Deste modo, participar do Reinado de Jesus, reinar com Ele que é um Rei diferente.

Um reinado que não se impõe pela força, nem pela tirania, nem pelo despotismo, tampouco pelo acúmulo de riquezas, posses, terras...

O Reinado de Jesus não se impõe pela  opressão e  destruição de outro povo, pela insana sede de poder, nem pelo sangue de vítimas inocentes…

Um Reino que cresce a cada dia porque edificado no amor, e por amor, através daquele que veio, vem e virá:

“Pois é preciso que Ele reine até que todos os Seus inimigos estejam debaixo de Seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. E, quando todas as coisas estiverem submetidas a Ele, então o próprio Filho Se submeterá Àquele que lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos” (1 Cor 15, 25-26).

Somos, pelo Batismo, partícipes deste reinado, tornamo-nos reis, sacerdotes, profetas e pastores.

Somos discípulos missionários do Rei Pastor, Rei Soberano/Absoluto, Rei Juiz de todos os povos, pois é Ele quem nos julgará se somos dignos da participação do banquete eterno, alegria sem fim, ou se seremos os malditos condenados ao fogo do inferno, queimados pelo mesmo amor que em vida repelimos, ignoramos, nos fechamos.

Céu ou inferno, eterna alegria ou eterno desespero depende de nossas escolhas, de nossos gestos solidários em favor dos mais pequeninos.

Céu ou inferno será o prolongamento de nossa opção no tempo presente.
Seremos julgados não pela quantidade de orações, cultos, Missas, procissões…

A entrada no céu não se dá pela quantidade de nossa prática religiosa, mas… é evidente que, quanto mais rezamos, quanto mais celebramos, quanto mais a Bíblia conhecemos, maior deve ser nosso compromisso com a Vida, com nossos irmãos e irmãs.

A prática religiosa torna-se, portanto indispensável para nos fortalecer, enriquecer, iluminar nos assegurando a abertura das portas dos céus, o mergulho na eternidade/plenitude do amor de Deus.

Deus com certeza nos cobrará a ressonância de nossas orações, rezas, Missas, Celebrações, pois é impensável o divórcio entre a fé e a vida.

A vida que celebramos e a celebração que vivemos andam de mãos dadas, mais ainda, se encontram em frutuoso abraço, multiplicando sinais de partilha, amor, comunhão…

Reinar com Jesus é empenhar-se com todo ardor pela construção de uma realidade marcada por princípios indispensáveis.

Reinar com Jesus é traduzir a Oração do Senhor em realidade em nossa vida:

“Venha a nós, Senhor, o Vosso Reino…”

Como rezamos no Prefácio da Missa de Cristo Rei do Universo:
“Reino eterno e universal: Reino de verdade e vida, Reino de santidade e graça, Reino da Justiça, do amor e da paz”.

Reinar com Jesus é fazermos o máximo
que pudermos, por amor e com amor, para que
“Deus seja tudo em todos” (cf. 1 Cor 15,23-28)

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG