sábado, 6 de dezembro de 2025

Esperança, caridade e paciência

                                                       

Esperança, caridade e paciência

"Entretanto Tu, Senhor, és Deus compassivo e misericordioso,
rico em paciência, amor leal e justiça;”

Acolhamos um trecho do Tratado sobre o bem da paciência, do Bispo e mártir São Cipriano, (Séc. III), preparando-nos para o Natal do Senhor.

É este o preceito salvífico de nosso Senhor e Mestre: Quem perseverar até o fim, será salvo (Mt 10,22). E ainda: Se permanecerdes na minha Palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8,31-32).

É preciso ter paciência e perseverar, irmãos caríssimos, para que, tendo sido introduzidos na esperança da verdade e da liberdade, possamos chegar à verdade e à liberdade. O fato de sermos cristãos exige que tenhamos fé e esperança, mas a paciência é necessária para que elas possam dar seus frutos.

Nós não buscamos a glória presente, mas a futura, como também ensina o Apóstolo Paulo: Já fomos salvos, mas na esperança. Ora, o objeto da esperança não é aquilo que se vê; como pode alguém esperar o que já vê? Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança (Rm 8,24-25).

A esperança e a paciência são necessárias para levarmos a bom termo o que começamos a ser e para conseguirmos aquilo que, tendo-nos sido apresentado por Deus, esperamos e acreditamos.

Noutro lugar, o mesmo Apóstolo ensina os justos, os que praticam o bem e os que acumulam para si tesouros no céu, na esperança da felicidade eterna, a serem também pacientes, dizendo:

Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, principalmente aos irmãos na fé. Não desanimemos de fazer o bem, pois no tempo devido haveremos de colher, sem desânimo (Gl 6,10.9).

Ele recomenda a todos que não deixem de fazer o bem por falta de paciência; que ninguém, vencido ou desanimado pelas tentações, desista no meio do caminho do mérito e da glória, e venha a perder as boas obras já feitas, por não ter levado até o fim o que começou.

Finalmente, o Apóstolo, ao falar da caridade, une a ela a tolerância e a paciência. A caridade, diz ele, é paciente, é benigna; não é invejosa, não se ensoberbece, não se encoleriza, não suspeita mal; tudo ama, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1Cor 13,4-5). Ensina-nos, portanto, que só a caridade pode permanecer, porque é capaz de tudo suportar.

E noutra passagem diz: Suportai-vos uns aos outros com amor; aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz (Ef 4,2b-3).

Provou deste modo que só é possível conservar a união e a paz quando os irmãos se suportam mutuamente e guardam, mediante a paciência, o vínculo da concórdia”.

Tempo do Advento é para nós o tempo de fecundar o nosso coração, um tempo favorável da espera e transformação de nossa vida, preparando a chegada do Senhor, e assim, com o coração inflamado do Amor de Deus, vivamos os vínculos da concórdia, com maior paciência para enfrentar as adversidades e as contrariedades que eventualmente possam acontecer.

É tempo de nos fortalecermos na prática das virtudes divinas, fazendo progressos na virtude da paciência.

Ela é a virtude do ser humano que consiste na disposição de suportar a adversidade de forma voluntária, enquanto se está à espera de algo, e, como cristãos, estamos na espera do que não vemos.

Caridade acima de tudo, na espera do Senhor que vem, nos fará mais pacientes com o outro e conosco, porque assim é Deus, como rezou o Salmista: Entretanto Tu, Senhor, és Deus compassivo e misericordioso, rico em paciência, amor leal e justiça.” (Sl 86).

Preparemos com todo zelo e empenho o Natal do Senhor e mantenhamos a paciência nas adversidades próprias da condição humana.

“A tríplice confissão apaga a tríplice negação...”

                                                    


“A tríplice confissão apaga a tríplice negação...”

“A força do amor vence o temor da morte”

À luz dos Tratados sobre o Evangelho de São João, do Bispo Santo Agostinho (Séc. V), reflitamos sobre a força do amor que vence o temor da morte.

“O Senhor interroga sobre o que já sabia, não só uma vez, mas duas e três vezes: se Pedro o ama. De todas as vezes, ouve uma só resposta, que Pedro o ama. E, em todas elas, confia a Pedro o pastoreio de suas ovelhas.

A tríplice confissão apaga a tríplice negação, para que a língua não sirva menos ao amor do que ao temor; e não pareça que a iminência da morte o obrigou a falar mais do que a presença da vida. Seja serviço de amor apascentar o rebanho do Senhor, como foi prova de temor negar o pastor.

Quem apascenta as ovelhas de Cristo, como se fossem suas, não ama a Cristo mas a si mesmo.

Contra esses, que também o Apóstolo censura dizendo que procuram os próprios interesses e não os de Cristo, estas palavras que o Senhor repete insistentemente são uma séria advertência.

Então que quer dizer: Tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21,17) senão: Se me amas, não penses em te apascentar a ti mesmo, mas as minhas ovelhas; apascenta-as, considerando minhas, não tuas; procura nelas minha glória, não a tua; meus interesses, não os teus; não sejas daqueles que nos tempos de perigo só amam a si mesmos e tudo o que deriva deste princípio, que é a raiz de todo mal.
 
Os que apascentam as ovelhas de Cristo, não amem a si mesmos; não as apascentem como sendo próprias, mas como pertencentes a Cristo.

O defeito que mais devem evitar os que apascentam as ovelhas de Cristo consiste em procurar os próprios interesses e não os de Jesus Cristo, destinando ao proveito próprio aqueles por quem Cristo derramou o seu sangue.

O amor de Cristo deve crescer até atingir tal grau de ardor espiritual naquele que apascenta as suas ovelhas, que supere até mesmo o natural medo da morte, que nos leva a não querer morrer, ainda que queiramos viver com Cristo.

Contudo, por maior que seja o temor da morte, deve vencê-lo a força do amor com que se ama Aquele que, sendo nossa vida, quis sofrer até a morte por nós.

Na verdade, se não houvesse ou fosse insignificante o mal da morte, não seria tão grande a glória dos mártires. Mas, se o Bom Pastor, que deu a vida por suas ovelhas, suscitou tantos mártires entre as suas ovelhas, quanto mais não devem lutar pela verdade até à morte, e até o sangue, contra o pecado, aqueles que receberam o encargo de apascentá-las, isto é, de instruí-las e dirigi-las?

Por este motivo, diante do exemplo da paixão de Cristo, e ao pensar em tantas ovelhas que já o imitaram, quem não compreende que os pastores devem ser os primeiros a imitar o Pastor? Na verdade, os mesmos pastores são também ovelhas do único rebanho, governado pelo único Pastor. De todos nós ele fez suas ovelhas, por todos nós padeceu; para padecer por todos nós, ele mesmo se fez ovelha”. (1)
 
“A tríplice confissão apaga a tríplice negação”, assim aconteceu com Pedro. Também nós precisamos permanentemente declarar nosso amor pelo Senhor, superando possível “negação”, com nossas infidelidades e pecados.

Urge rever nossos caminhos, palavras, pensamentos e atitudes, a fim de que sejamos autênticas testemunhas do Cristo Ressuscitado.

Renovemos em nós a força do amor que vence o temor da morte, bem como a nossa fé no Senhor, que conosco caminha, ainda que não percebamos.

A exemplo de Pedro, renovemos em nós a chama do primeiro amor, para vencermos as dificuldades e tentações do cotidiano, em plena fidelidade ao Senhor, como rezamos na oração que Ele mesmo nos ensinou:

“Pai Nosso, que estais nos céus... Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.”

 

(1) Liturgia das Horas (Volume Advento Natal – pp. 1032-1033)  ao celebrar a Memória de São Nicolau, no dia 06 de dezembro. Bispo de Mira, na Lícia (hoje Turquia). Morreu em meados do século IV e, sobretudo a partir  do século X, é venerado em toda a Igreja

PS: Vivamos o Tempo do Advento, neste propósito de rever nossos caminhos, palavras, pensamentos e atitudes, para que na vigilância e na oração, estejamos melhor preparados para celebrar a vinda do Salvador, na tão esperada Noite de Natal. 

Suavidade e beleza do Tempo do Advento (IIDTAA)

                                                              

Suavidade e beleza do Tempo do Advento

Concedei-nos, ó Deus, viver o Tempo do Advento como uma  parábola do tempo presente, em que esperamos com alegria e humildade a hora do grande encontro com Jesus, distribuindo todos os bens com infinita generosidade e de maneira imprevisível, e que voltará em Sua segunda vinda gloriosa, quando menos esperarmos.

Fortalecei-nos, ó Deus, para que vivamos este tempo de gozo espiritual, em que caminhamos olhando para a frente, com o coração pleno de fé, esperança e caridade.

Despertai-nos, ó Deus, para que vivendo este tempo, abramos a Vós nosso coração, acompanhado de orações de súplica confiante e ação de graças por todos os bens que nos concedeis, e dentre eles, o maior de todos os bens, o Bem Divino, que é o Vosso Filho, em comunhão com o Santo Espírito.

Ajudai-nos, ó Deus, para que vivamos com ardor a missão de discípulos missionários do Vosso Filho, assistidos pela docilidade do Santo Espírito, o Vosso projeto para nós, confiantes em Vossa Palavra viva e eficaz, empenhados na prática do bem, orantes e vigilantes em todo o tempo.

Abri, ó Deus, nossos olhos e nosso coração, para que sintamos e vivamos a beleza e suavidade do Tempo do Advento, para  bem celebrarmos as vindas primeira e segunda do Vosso Filho, vivendo intensamente a vinda intermediária, experimentando Vossa força, proteção e imprescindível presença, para que sejamos partícipes de um novo tempo e promotores da fraternidade e amizade social, caminho da paz plena e universal. Amém.

 

Fonte inspiradora: Missal Quotidiano, Dominical e Ferial, Editora Paulus, Lisboa, 2010 – pp.100/102 

A beleza do Tempo do Advento (IIDTAA)

                                                           



A beleza do Tempo do Advento (ano A)

Antes de apresentarmos a mensagem que a Liturgia da Palavra nos oferece, podemos assim entender o Tempo do Advento:

“Hoje nós não esperamos a vinda do Messias – que já apareceu em Belém há mais de dois mil anos – mas a Sua manifestação ao mundo. É nesta perspectiva que adquire sentido o Tempo que dedicamos à preparação do Natal, Tempo que mais do que ‘Advento’, deveria ser chamado ‘Preparação para o Advento’” (1).

Agora vejamos o que nos propõe a Liturgia:

- No primeiro Domingo (ano A) retrata a vinda escatológica de Jesus (a Sua segunda vinda gloriosa, que professamos e aguardamos na vigilância). Somos chamados a “atitude da vigilância”. Todos os textos proclamados evocam a manifestação do Senhor no fim dos tempos e a urgência da preparação para este final da história da humanidade na terra.

- No segundo Domingo (e também no terceiro) retrata a Sua vinda na História. A atitude que se ressalta é a “conversão”, a partir da voz de João Batista, que exorta a preparar os caminhos do Messias esperado.

- No terceiro Domingo, temos a identificação de Jesus testemunhado pelas Suas obras. De fato era Ele que haveria de vir. A marca deste Domingo é a “alegria”, pela Sua primeira vinda e a espera paciente e confiante de Sua segunda vinda.

- No quarto Domingo nos fala do “anúncio“ a José, sobre o nascimento do Filho de Maria como Salvador e Deus conosco.

Em relação à Palavra proclamada nestes Domingos:

- Na primeira leitura, percorremos um itinerário de consciência progressiva do caráter salvífico da vinda d’Aquele que foi prometido e que será reconhecido, no quarto Domingo, na Pessoa de Jesus de Nazaré.

- Na segunda Leitura, temos um convite a nos deixar conduzir pela vigilância, paciência e fidelidade às Escrituras, reconhecendo em Jesus, o Filho de Deus, e vivendo a obediência da fé.

Neste sentido, somos convidados à vigilância e à conversão, esperando com alegria e perseverança a chegada de Deus, na encarnação do Verbo, com a destruição da injustiça e da impiedade, trazendo a salvação para todos os que n’Ele crerem.

Concluindo, podemos afirmar que o Tempo do Advento é uma frutuosa introdução no Mistério do Ano Litúrgico e a celebração da tríplice vinda de Jesus: “As poucas semanas que precedem a Festa do Natal constituem uma importante iniciação ao Mistério insondável da Encarnação, que desde então é o âmbito em que vivemos na fé e na esperança” (2).

Sobre esta tríplice vinda, fiquemos com as palavras de São Bernardo (séc. XII), em sua Homilia para o Advento:

“Na primeira vinda, o Senhor veio em carne e debilidade, nesta segunda, em espírito e poder; e na última, em glória e majestade. Esta vinda intermediária é como que uma senda por que se passa da primeira para a última: na primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa vida; nesta, é o nosso descanso e o nosso consolo” (3).


(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - p.35
(2) Missal Quotidiano Dominical e Ferial – Editora Paulus – Lisboa – 2011 pp. 27-28
(3) idem p.28 - (in São Bernardo, Homilia sobre o Advento, 5,1-2, Opera omnia, edição cisterciense, 4, 1966, 188-190).

Será Natal para quem viver o Perdão! (IIDTAA)

                                                                   


Será Natal para quem viver o Perdão! 

“Eu confessar?” “Pra que se vou pecar de novo”; “Confessar com padre? Eu não! Confesso diretamente com Deus”; “Eu não tenho pecado, vou confessar o quê?”...

Estas expressões e outras semelhantes ouvimos muitas vezes, portanto, urge que aprofundemos sobre este assunto tão vital para uma vida cristã mais ativa, piedosa, consciente e frutuosa, conhecendo a Doutrina e a fundamentação bíblica do Sacramento da Penitência, que o Papa Francisco tanto insistiu em  sua Carta Apostólica “Misericordia et misera”.

A Igreja recorda-nos precisamente neste período a necessidade irrevogável da Confissão Sacramental, para que possamos viver a Ressurreição de Cristo não só na Liturgia, mas também transcorrer de nossos dias.

O tempo do Advento é um Tempo oportuno para procurarmos um Sacerdote, a fim de receber um dos sete Sacramentos da Igreja, o Sacramento da Penitência. Bem entendido e vivido, este Sacramento nos introduz no Mistério do Amor de Deus, renova-nos, para que melhor imagem d’Ele sejamos: “sede santos como Deus é santo”.

Retomo as palavras de São Josemaria Escrivá, que aconselhava com critério simples e prático que as nossas confissões fossem concisas, concretas, claras e completas., com o objetivo de ajudar a quantos possa, e que cheguem melhor preparados para o Sacramento da Misericórdia Divina:

Confissão concisa, sem muitas palavras: apenas as necessárias para dizermos com humildade o que fizemos ou omitimos, sem nos estendermos desnecessariamente, sem adornos. A abundância de palavras denota às vezes o desejo, inconsciente ou não, de fugir da sinceridade direta e plena; para evitá-lo, temos que fazer bem o exame de consciência.

Confissão concreta, sem divagações, sem generalidades. O penitente “indicará oportunamente a sua situação e o tempo que decorreu desde a sua última confissão, bem como as dificuldades que teve para levar uma vida cristã”, declarando os seus pecados e o conjunto de circunstâncias que tenham caracterizado as suas faltas a fim de que o confessor possa julgar, absolver e curar.

Confissão clara, para sermos bem entendidos, declarando a natureza precisa das faltas e manifestando a nossa própria miséria com a necessária modéstia e delicadeza.

Confissão completa, íntegra, sem deixar de dizer nada por falsa vergonha, para “não ficar mal” diante do confessor.”

É sempre tempo favorável de nossa salvação, de não desperdiçarmos a graça de Deus, como bem falou o Apóstolo Paulo na Carta aos Coríntios. “Sendo assim exercemos a função de embaixadores em nome de Cristo, e é por meio de nós que o próprio Deus vos exorta. Em nome de Cristo, suplicamos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20).

Ele vem ao nosso encontro (IIDTAA)

 

                                   

Ele vem ao nosso encontro


Advento, ouvi que Ele veio, vem e virá.
Também me disseram que Ele vem a cada instante
Portanto, na vigilância e oração fiquemos,
Porque, glorioso, haverá de voltar.
Maranathá, Ele veio, Ele vem, Ele virá.
 
Advento, ouvi que Ele veio, vem e virá.
Há dois mil anos, revestido da fragilidade da meiga criança:
A Palavra se fez Carne e habitou entre nós (cf. Jo 1,14)
E a vida plena e abundante para todos comunicar (cf. Jo 10,10),
Por meio do Mistério de Sua Paixão e Morte e Ressurreição.
 
Advento, ouvi que Ele veio, vem e virá:
Veio e caminhou entre nós e Se fez um de nós,
Igual a nós, exceto no pecado, e nos ensinou
As mais belas lições de amor, partilha, comunhão,
Solidariedade, esperança, fraternidade e perdão.
 
Advento, ouvi que Ele veio, vem e virá,
Sobre as nuvens e pisando no chão de nossa história,
Enxugará todas as lágrimas que verteram desde sempre,
E não haverá mais lágrimas para chorar,
Porque Ele novas todas as coisas fará (cf. Ap 21,5).
 
Advento, ouvi que Ele veio, vem e virá,
Para o luto que ceifa vidas, com ou sem pandemia,
Porque Ele , Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6),
Com Sua vinda e Vida, a morte para sempre vencerá
E a morte da morte, se poderá com os anjos cantar.
 
Advento, ouvi que Ele veio, vem e virá.
Aquele desejamos encontrar e incansáveis procuramos,
Que tão somente amando O encontramos,
Para que uma vez encontrado,
Para sempre O amemos. (1)  
 
Advento: creio que Ele veio, vem e virá:
“Agora e em todos os tempos, Ele vem ao nosso encontro,
presente em cada pessoa humana,
para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade,
Enquanto esperamos a feliz realização de Seu reino. Amém. (2)
 
(1)    Conferir Santo Anselmo (séc. XII)
(2)    Prefácio do Advento

Em poucas palavras... (IIDTAA)

                                             


Advento: vamos ao encontro da Verdade, Jesus

“João Batista ajuda-nos a ultrapassar as nossas incertezas. Ele é um crente verdadeiro: debate-se entre muitas perplexidades, coloca interrogações, mas não renega o Messias porque não corresponde aos seus critérios, põe de lado as suas seguranças e confia no Senhor.

Só quem, como ele, procura a verdade com ardor é que está preparado para se encontrar com Cristo, que é a ‘Verdade’”.   (1)

 

(1) Leccionário Comentado – Advento-Natal - Editora Paulus -  Lisboa – Paulus – pág. 154-155


Uma voz clama no deserto (IIDTAA)

 


Uma voz clama no deserto

O Comentário sobre o Profeta Isaías, escrito pelo bispo Eusébio de Cesareia, nos convida a refletir sobre a missão de João Batista, uma voz que clama no deserto, bem como a nossa missão como discípulos missionários do Senhor. 

Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, aplainai a estrada de nosso Deus’ (Is 40,3). O profeta afirma claramente que não será em Jerusalém, mas no deserto que se realizará esta profecia, isto é, a manifestação da glória do Senhor e o anúncio da salvação de Deus para toda a humanidade. 

Na verdade, tudo isto se realizou literalmente na história, quando João Batista anunciou no deserto do Jordão a vinda salvífica de Deus e ali se revelou a salvação de Deus. De fato, Cristo manifestou-Se a todos em Sua glória quando, depois de Seu batismo, os céus se abriram e o Espírito Santo, descendo em forma de pomba, pousou sobre Ele; e a voz do Pai se fez ouvir, dando testemunho do Filho: Este é o meu Filho amado, escutai-O (Mt 17,5). 

Estas coisas foram ditas porque Deus deveria vir ao deserto, desde sempre fechado e inacessível. Com efeito, todas as nações pagãs estavam privadas do conhecimento de Deus, e os homens justos e os profetas de Deus nunca haviam penetrado neles. 

Por este motivo, a voz ordena que se prepare um caminho para a Palavra de Deus e se aplainem os terrenos escarpados e ásperos, a fim de que o nosso Deus possa entrar quando vier. Preparai o caminho do Senhor (Mc 1,3): é esta a pregação evangélica que traz um novo consolo e deseja ardentemente que o anúncio da salvação de Deus chegue a todos os homens. 

Sobe a um alto monte, tu, que trazes a boa-nova a Sião. Levanta com força a voz, tu, que trazes a boa-nova a Jerusalém (Is 40,9). Depois que se mencionou a voz que clama no deserto, convêm perfeitamente estas palavras, que se referem aos evangelistas e anunciam a vinda de Deus entre os homens. De fato, a alusão aos evangelistas devia logicamente seguir a profecia sobre João Batista. 

Que Sião é esta, senão a que antes se chamava Jerusalém? Era realmente um monte, como declara esta palavra da Escritura: O monte Sião que escolhestes para morada (Sl 73,2). E o Apóstolo: Vós vos aproximastes do monte de Sião (Hb 12,22). Não será uma alusão ao grupo dos apóstolos, escolhido entre o antigo povo da circuncisão? 

Tal é, pois, Sião ou Jerusalém, que recebeu a Salvação de Deus, e que foi edificada sobre o monte de Deus, isto é, sobre o Verbo, seu Filho único. A ela, que subiu ao alto monte, é que Deus ordena anunciar a palavra da salvação. Mas quem anuncia a boa-nova, senão o coro dos evangelistas? E o que significa anunciar a boa-nova? É proclamar a todos os homens, e em primeiro lugar às cidades de Judá, a vinda de Cristo à terra.”

Tempo do Advento, tempo favorável de recolhimento e revisão de nossa fidelidade e testemunho no seguimento do Senhor, como discípulos missionários Seus.

Tempo de preparar o caminho do Senhor, de preparar nossos corações para bem celebrarmos o Seu Nascimento, Mistério profundo e inesgotável de nossa fé.

Como Igreja Sinodal que somos, tempo de proclamar a todas as pessoas que Ele veio, vem e virá, gloriosamente, e por isto devemos permanecer vigilantes e orantes, empenhados na prática da justiça, fortalecendo vínculos de comunhão e fraternidade, fazendo progressos contínuos na prática da caridade.

Que ao chegar a noite do Natal, nosso coração esteja devidamente preparado para celebrar Sua chegada a cada instante em nossa vida, não mais na manjedoura de Belém, como fato do passado, tão apenas recordado.

Como cristãos, não apenas comemoramos o Natal, nós celebramos, e isto implica em sincero esforço de conversão, contando sempre com a misericórdia e graça divinas, e tão somente a luz de Deus iluminará a noite tão esperada e todas as noites escuras de nossa vida.

Poços de Água Cristalina (IIDTAA)

                                                            

Poços de Água Cristalina

A Liturgia do 2º Domingo do Advento nos apresenta a emblemática e profética pessoa de João Batista.

João, o grande precursor do Messias, soube escutar a expectativa do povo que vivia num deserto simbólico, ou seja, num lugar e contexto árido, privado da fonte de vida.

Como pessoas que creem, sentimos a sede e a fome do mundo, procuramos apreender o “deserto” no qual o homem moderno vive ou apenas sobrevive:

Um deserto feito, nas sociedades ocidentais, de palavras e coisas vazias, superficiais, de imagens sem espessura nem substância. Nessa aridez o cristão deve descobrir poços novos e cada vez mais profundos de água.” (1)

Falar em deserto é pensar no lugar da privação, das dificuldades, da sede, da solidão, da provação...

Falar em deserto, relacionando à fé, remete-nos imediatamente à possibilidade da sede, que é terreno fértil para cavar novos poços de água viva na aridez do deserto da cidade.

A sede, aqui, como metáfora de uma carência profunda da condição humana, coração da humanidade caminha sempre inquieto, tomado por uma sede que jamais se sacia.

De alguma forma, somos todos caminhantes, fazendo de cada ponto de chegada um novo ponto de partida. Assim canta o poeta “O mesmo trem que chega é o trem da partida...”.

E, no caminho da existência de cada pessoa são presentes pedras, espinhos, riscos e novas possibilidades.

Os riscos presentes são os das portas fechadas, dos muros e das cercas, do preconceito e da discriminação, das leis feitas pelos ricos e para os ricos, o desemprego e subemprego, o trabalho escravo ou degradante, a rua, os lixões, a prostituição, o abandono, e dito de forma global, a exclusão social. É a sede de vida, de amor e de paz de quem está a caminho!

No meio do caminho é possível e necessária a abertura de poços, onde a água viva nutre novas potencialidades de vida, para que seja mais bela, mais plena, mais de acordo com o querer de Deus.

Como cristãos, precisamos escavar espaços de futuro, com perspectivas de justiça e de paz, sob a crosta dura do egoísmo e da violência que ceifa vidas até de jovens e inocentes, um mundo com cenas de barbárie, resignação e conformismo com consequências indesejáveis.

Nas encruzilhadas dos caminhos também se criam pontos de encontro, as redes de solidariedade, o fortalecimento e articulação das lutas locais e campanhas globais que pensam e se comprometem com um mundo sustentável, livre do esgotamento, destruição, aniquilamento.

No caminho não se pode perder a utopia. Se pessoas que creem, a não perda da fé, para fundamentar toda esperança, na prática da caridade, no compromisso cotidiano com o Reino, por amor e fidelidade ao Senhor.

No caminho, dentro da própria cidade, poços de água cristalina perfurar, para que construamos uma cidade mais humana, fraterna, de vida digna para todos.

No caminho, dentro da própria cidade, à luz da fé, beber da Divina Fonte de Água Viva que é o próprio Cristo Jesus, para rios de águas cristalinas jorrar. Então, será o grande passo para bem celebrar o Natal do Senhor.


(1) Leccionário Comentado Tempo do Advento e Natal - p.96 e livre interpretação de “O não lugar como novo lugar” (Pe. Alfredo Gonçalves).  

Em poucas palavras... (IIDTAA)

 


“São João Batista é o precursor imediato do Senhor”

“São João Batista é o precursor imediato do Senhor (At 13,24), enviado para Lhe preparar o caminho (Mt 3,3). «Profeta do Altíssimo» (Lc 1, 76), supera todos os profetas (Lc 7,26), é o último deles (Mt 11,13) inaugura o Evangelho (At 1,22; Lc 16,16); saúda a vinda de Cristo desde o seio da sua Mãe (Lc 1,41) e põe a sua alegria em ser «o amigo do esposo» (Jo 3, 29) que ele designa como «Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29). Precedendo Jesus «com o espírito e o poder de Elias» (Lc 1, 17), dá testemunho d'Ele pela sua pregação, pelo seu batismo de conversão e, finalmente, pelo seu martírio (217).” (1)

 

(1)              Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 523

Devotos dos Santos, adoradores do Senhor! (IIDTAA)

                                                                       

Devotos dos Santos, adoradores do Senhor!

Na devoção aos Santos, muitos a eles recorrem para pedir uma graça, uma cura ou um auxílio em determinada situação.

Outros, provavelmente em menor número, expressam sua devoção aos Santos procurando aprender com eles como viver maior fidelidade, amizade, intimidade com o Senhor para melhor segui-Lo.

Outros saboreiam seus testemunhos, escritos, admiram sua coragem, sua entrega e o quanto fizeram a Igreja crescer, e com ela o anúncio da Boa Nova, no testemunho do Ressuscitado.

Também pode ser vivida a devoção aos Santos para contar com sua ajuda e intercessão, para o bom combate da fé no tempo presente, dando conteúdo à Comunhão dos Santos que professamos ao rezar o Credo.

Mas e São João Batista? 
O porquê da devoção para com ele?

Antes uma constatação:

* “... a devoção a São João Batista constitui uma exceção, porque não são referidos milagres feitos por ele, nem na vida, nem depois de morto. E, no entanto, o seu culto espalhou-se imediata e surpreendentemente, tanto que já era universal a partir do século IV. Em todos os lugares onde se falava dos episódios da sua vida dirá surgiram santuários: só na área vizinha junto ao Mar Morto onde ele pregou foram erguidos quatro. Hoje é praticamente impossível encontrar uma igreja paroquial ou uma capela que não tenha uma imagem ou um quadro que o recorda”.

E duas possíveis explicações:

“São duas as razões que explicam a admiração dos cristãos por este Santo: antes de mais, o elogio que Jesus fez dele, e depois a veneração dos monges que, desde os primeiros séculos, o consideraram seu modelo de vida ascética”.

A devoção a ele, portanto, consiste em acolher suas palavras que foram pronunciadas no deserto e atravessando séculos e milênio, não entra em nossos ouvidos, mas muito mais, penetra e ressoa em nossa alma, em nosso coração.

Na passagem do Evangelho (Lc 7,24-30) Jesus faz a João Batista três elogios:

João não era volúvel, como as canas dos pântanos que crescem ao longo do Jordão;

Não era corrupto pensando em seus interesses, nada acumulando e nada gastando com divertimentos, vestes elegantes e refinadas (vestia pele de couro e comia leite e mel no deserto);

Era um Profeta, mais até que Profeta. Ninguém do Antigo Testamento teve missão semelhante a sua: preparar o povo para a acolhida do Messias e entregá-lo ao Novo Moisés, o próprio Jesus, que haveria de introduzir este mesmo povo na verdadeira terra prometida que é o Reino de Deus.

Sua austeridade de vida se contrapôs e se contrapõe ainda hoje a uma sociedade consumista que cria falsas necessidades e numa publicidade muito hábil e com nuances sofisticadas induz a todos nós ao consumo cada vez mais, fazendo-nos crer que o supérfluo, o dispensável é vital e necessário, sem o que não seremos felizes.

Austeridade de vida, que nos convida a rever o sentido genuíno do Natal, muitas vezes maculado pelas propagandas, festas,   e outras coisas mais, sobretudo a não acolhida do Absolutamente Essencial em nossa vida: Jesus.

Sua vida no silêncio também questiona o barulho ensurdecedor da cidade, o não diálogo, a incomunicabilidade, o fechamento em grandes que são feitas em pretensa proteção.

O silêncio orante de João deve reinar mais em nossa vida, em nossas famílias, não como fuga, mas como criação do espaço para a Palavra de Deus melhor ouvir, para com mais ardor vivê-La.

João também nos ensina sobre a necessária “sensibilidade espiritual aos apelos de Deus”. Quantos são os apelos, as atividades que nos devoram até mesmo sem perceber? Quanto ativismo que nos esvazia e nos distancia do outro, de nós mesmos, e o pior de todos os distanciamentos, o de Deus?

Ainda que o leitor não tenha devoção a nenhum Santo, ou ainda que a devoção careça de purificação, para ser conforme a Igreja tão sabiamente nos ensina, aprendamos com eles a conhecer Jesus e Sua proposta, aderindo incondicionalmente a Ele, e assim viveremos uma fé mais pura, verdadeira e frutuosa, como tem sido insistido no Ano da Fé que vivemos, e em todo o tempo.

Voltar-se para Deus é a grande lição que podemos aprender com João Batista, entre outras...

Não percamos a hora de misericórdia do Salvador (IIDTAA)

                                                                      


Não percamos a hora de misericórdia do Salvador

Acolhamos um trecho do Sermão do Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. V), sobre a conversão necessária, de modo especial, neste Tempo do Advento, na preparação da celebração do Natal do Senhor.

“Que cada um receba com prudência as advertências do preceptor (João Batista), se não quer perder a hora de misericórdia do Salvador, misericórdia que concede no contexto atual, em que ao gênero humano se oferece o perdão.

Precisamente ao homem se presenteia o perdão para que se converta e não exista a quem condenar. Isso mesmo Deus decidirá quando chegar o fim do mundo; mas de momento nos encontramos no tempo da fé.

Se no fim do mundo encontrará ou não aqui alguns de nós, eu o ignoro; possivelmente não encontre a nenhum. O certo é que o tempo de cada um de nós está próximo, porque somos mortais. Andamos no meio de perigos. Assustam-nos mais as quedas do que se fôssemos de vidro.

E existe algo mais frágil do que um vaso de cristal? Mas, contudo, conserva-se e dura séculos. E mesmo que se possa temer a queda de um vaso de cristal, não existe medo de que a velhice ou a febre o afete.

Somos, portanto, mais frágeis do que o cristal, porque devido, sem dúvida, a nossa própria fragilidade, cada dia nos espreita o temor dos números e constantes acidentes inerentes à condição humana; e ainda que estes temores não cheguem a se concretizar, o tempo corre: e o homem que pode evitar um golpe, poderá também evitar a morte? E se consegue escapar dos perigos exteriores, conseguirá evitar também os que vêm de dentro?

Algumas vezes são os vírus que se multiplicam no interior do homem, outras é a enfermidade que se abate subitamente sobre nós; e mesmo que o homem consiga ver-se livre dessas taras, a velhice acabará finalmente por chegar a ele, sem moratória possível.” (1)

De fato, não queremos perder a hora de misericórdia do Salvador, que vem sempre ao encontro da humanidade, oferecendo a possibilidade de experimentar as carícias da misericórdia divina, como tão bem expressou o Papa Francisco em sua Carta Apostólica: 

“As nossas comunidades abram-se para alcançar a todas as pessoas que vivem no seu território, para que chegue a todas as carícias de Deus através do testemunho dos crentes” (Carta Apostólica “Misericordia et misera” - n. 21).

Não percamos a hora de misericórdia do Salvador...
E quando não a perdemos?

Quando vivemos o Advento como tempo de conversão, de preparação do caminho do Senhor, ouvindo e se deixando questionar pela voz profética de João Batista, não mais no deserto, mas em nosso recolhimento na intimidade com o Senhor.

Quando participamos de grupos de reflexão, novenas, aprofundando a espiritualidade do Natal, preparando o coração, para que seja a verdadeira e querida manjedoura para o nascimento do Salvador.

Quando nos empenhamos na participação da construção de uma sociedade justa e fraterna, sobretudo quando vemos decisões que nos entristecem no cenário político, dificultando a transparência administrativa dos recursos que são absurdamente desviados, tornando a vida do povo cada vez mais penosa, totalmente contrária aos planos sagrados.

Quando não permitimos que a nossa fé se fragilize diante das dificuldades, provações por que possamos passar.

Quando reavivamos a esperança, de Eucaristia em Eucaristia, de que a mesa do cotidiano de todas as pessoas serão mais fartas, e nunca haverá de faltar pão, e assim banida a fome do mundo será; não somente a fome do pão material, mas a fome de tudo quanto seja essencial para uma vida plena e feliz.

Quando não permitimos que o Fogo do Espírito, o Fogo abrasador do Senhor seja apagado em nosso coração, pois inflamados por Ele, seremos sinais e instrumentos do amor divino, construindo relações mais fraternas, ternas e eternas.

Quando...

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes 2014 - p.28

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