segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Ela ofereceu tudo o que tinha para viver

                                                                

Ela ofereceu tudo o que tinha para viver

Reflexão à luz das passagens do Evangelho (Mc 12,38-44; Lc 21,1-4), sobre a oferta da pobre viúva no templo.

Reflitamos sobre o culto verdadeiro e agradável a Deus, tão diferente dos cultos marcados pelas aparências dos rituais: a Deus não interessam grandes manifestações religiosas ou ritos externos suntuosos. 

Deus não mede nossas ações e gestos com algarismos, ao contrário, mede com o amor; avalia de acordo com os valores interiores da pessoa porque Ele vê além das aparências, vai até o coração.

O culto autêntico deve ser marcado na atitude de vida: doação, confiança e entrega total em favor do próximo, esvaziando-se de si mesmo e colocando-se plenamente nas mãos de Deus.

Esta passagem é situada em Jerusalém, nos dias que antecedem à prisão, julgamento e morte de Jesus.

Jesus faz uma crítica aos ritos vazios, desmascarando a hipocrisia, a incoerência dos cultos e ritos realizados no templo pelos doutores da lei, e nos ensina como deve ser um culto agradável a Deus. 

Os doutores da lei têm comportamentos hipócritas, uma devoção de fachada, revelando que os ritos externos que realizam, os gestos teatrais, o cumprimento das regras, ainda que religiosamente corretas, não aproximam as pessoas de Deus, e nem as conduzem à santidade por Ele querida. 

Os discípulos de Jesus deverão ter outra atitude diante de Deus e do próximo: dom total, despojamento pleno, entrega radical e sem medida. Viver a fé cristã não é uma representação teatral.

De fato, o verdadeiro crente é aquele que nada guarda para si, mas no dia a dia, no silêncio e nos gestos mais simples, sai do seu egoísmo e da sua autossuficiência, colocando toda sua existência nas mãos de Deus.

Há momentos em que tudo escurece, falta-nos apoio, nossa vida parece tremer. É nesta hora que damos o autêntico testemunho da solidez de nossa fé, e verdadeiramente, podemos dizer: “Senhor, eu creio, mas vem em auxílio de minha pouca fé, e minha fraqueza. Pai, entrego-me em Tuas mãos”.

Urge que nos coloquemos totalmente nas mãos de Deus, oferecendo a Ele toda a nossa vida, vivendo na gratuidade, e não na troca de favores, sem procurar fama e privilégios.

Precisamos nos despojar de nossos projetos pessoais e preconceitos, a fim de nos entregarmos com total confiança nas mãos de Deus, com completa doação, dando um salto em total abandono no Senhor, sem nenhuma dúvida ou hesitação. 

Assim viveremos uma fé amadurecida, na doação total inclusive nas situações mais adversas, no testemunho da pobreza evangélica, acompanhada da humildade e fecundidade, num amor sem limites e incondicional.

Tão somente assim teremos uma verdadeira motivação de nosso engajamento pastoral, em total expressão de gratuidade, sem procura de honrarias, valorização, promoção ou elogios.

Oremos:

Ó Deus, afastai de nós todos os obstáculos, e nos acompanhe para que inteiramente disponíveis nos coloquemos a serviço do Reino, na fidelidade a Jesus Cristo, com a força do Santo Espírito. Amém.

O desejo do encontro com Deus

                                                         

O desejo do encontro com Deus

Quem me viu, viu o Pai”

Iniciaremos, no próximo final de semana, o Tempo do Advento, em que nos prepararemos para celebrar o nascimento de nosso Salvador, Jesus Cristo, e com isto renovaremos nosso desejo do encontro com Deus, pois somente renovando a cada dia a graça deste encontro, é que nossa vida tem novo sabor, luminosidade.

Ele próprio, Jesus, ao Se encarnar, nos revelou o caminho desta possibilidade, pois O encontrando, amando e vendo pela fé que professamos, vemos o próprio Deus, pois disse Jesus: Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14, 9).

É o que vemos afirmada nesta citação do Lecionário Comentado:

Quem nos revelou, de modo inequívoco, o sentido misterioso dos encontros entre Deus e cada homem, foi o Filho de Deus, quando Se fez homem como nós e viveu no meio de nós; basta que o homem comece a procurar a Deus e já fica a um passo do encontro com Ele. Deus não está no fim da procura humana, mas sim no início.

O homem é livre no seu ato de fé e de partida à procura de Deus; mas a sua aventura não é solitária, porque o próprio Deus o procura e o ama” (1)

Deste modo, entremos de corpo e alma nesta aventura do encontro com Deus; demos o primeiro passo e já O estaremos encontrando. 

Vivamos a mais bela experiência de sermos por Deus encontrados, amados e envolvidos pelas delícias de Sua misericórdia e ternura, e assim, celebraremos um Natal cristão.

Oremos:

“Despertai, Senhor, nos Vossos fiéis a vontade firme de se prepararem pela prática das boas obras, para irem ao encontro de Cristo, de modo que, chamados um dia à Sua direita, mereçam alcançar o Reino dos Céus. Amém”.


(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa -  2009 - pp. 41-42

“Quem nos separará do amor de Cristo?”

                                                            

“Quem nos separará do amor de Cristo?”

No dia 24 de novembro, celebramos a memória do Presbítero Santo André Dug-Lac e seus companheiros mártires, e o Ofício das Leituras nos apresenta a Carta de Paulo Le Bao-Tinh aos alunos do Seminário de Ke-Vinh, de 1843, sobre a participação dos mártires na vitória de Cristo Rei.

“Eu, Paulo, preso pelo nome de Cristo, quero levar ao vosso conhecimento as minhas tribulações cotidianas que me assaltam de todos os lados, para que, inflamados pelo amor de Deus, possais louvá-lo, porque a sua misericórdia é eterna (Sl 117,1).

O meu cárcere é verdadeiramente uma imagem do fogo eterno. Aos cruéis suplícios de todo gênero, como grilhões, algemas e ferros, juntam-se ódio, vingança, calúnias, palavrões, acusações, maldades, falsos testemunhos, maldições e, finalmente, angústia e tristeza.

Mas Deus, que outrora libertou os três jovens da fornalha acesa, sempre me assiste e libertou-me dessas tribulações, que se tornaram suaves, porque a sua misericórdia é eterna!

Graças a Deus, no meio desses tormentos que continuam a apavorar os outros, sinto-me alegre e contente, pois não me julgo só, mas com Cristo. Nosso Mestre suporta todo o peso da Cruz, deixando-me apenas uma pequena e ínfima parte: não é só testemunha do meu combate, mas combatente, vencedor e consumador de toda luta. Assim, sobre Sua cabeça é que foi colocada a coroa da vitória, de cujo triunfo participam também os Seus membros.

Como, porém, Senhor, suportar tal espetáculo, ao ver diariamente os imperadores, os mandarins e seus soldados blasfemarem vosso santo nome, quando estais acima dos querubins e serafins? (cf. Sl 79,3). Eis que a Vossa Cruz é calcada pelos pagãos! Onde está a Vossa glória? Ao ver tudo isso, me inflamo por vós, preferindo morrer com os membros amputados, em testemunho do Vosso amor!

Mostrai, Senhor, o Vosso poder, salvando-me e protegendo-me. Que a força se manifeste na minha fraqueza e seja glorificada ante os gentios, pois, se eu vacilar no caminho, Vossos inimigos, cheios de orgulho, poderão levantar as cabeças.

Caríssimos irmãos, ao ouvirdes tudo isto, dai alegremente graças imortais a Deus, do qual procedem todos os bens. Bendizei comigo o Senhor, porque a Sua misericórdia é eterna! Minha alma engrandeça o Senhor e meu espírito exulte de alegria em Deus, meu Salvador; porque olhou para a humildade de Seu servo (cf. Lc 1,46-48), todas as gerações me proclamarão bendito, porque a Sua misericórdia é eterna!

Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes, povos todos, festejai-O (Sl 116,1), porque Deus escolheu o que é fraco no mundo para confundir os fortes, e o que é vil e desprezível (1Cor 1,27-28), para confundir os nobres. Pelos meus lábios e inteligência, Deus confunde os filósofos, os discípulos dos sábios deste mundo, porque a Sua misericórdia é eterna!

Tudo isto vos escrevo, para unirdes à minha a vossa fé. No meio desta tempestade lanço a âncora, a viva esperança que trago no coração, até ao trono de Deus.

Caríssimos irmãos, correi de tal modo que possais alcançar a coroa: revesti-vos com a couraça da fé (1Ts 5,8), tomai as armas de Cristo, à direita e à esquerda, segundo os ensinamentos de São Paulo, meu patrono. É melhor para vós entrar na posse da vida comum só olho ou privados de algum membro (cf. Mt 5,29), do que serdes lançados fora com todos eles.

Vinde em meu auxílio com vossas preces, para que possa combater, segundo a lei, o bom combate, e combater até o fim, encerrando gloriosamente a minha carreira. Se já não nos podemos ver nesta vida, tal felicidade nos está reservada para o futuro, quando, junto ao trono do Cordeiro imaculado, exultantes com a alegria da vitória, cantaremos em uníssono eternamente os seus louvores. Assim seja.”

Anunciaram o Evangelho no extremo oriente da Ásia, nas regiões do Vietnã de hoje, o Evangelho já vinha sendo anunciado desde o século XVI. Contudo, de 1625 a 1886, excetuados breves períodos de paz, os governantes dessas regiões tudo fizeram para despertar o ódio contra a religião cristã e os discípulos de Cristo.

Canonizados pelo Papa São João Paulo II, no dia 19 de junho de 1988, foram inscritos 117 deles no rol dos santos mártires. Entre eles, 11 missionários dominicanos espanhóis, 10 franceses e 96 mártires vietnamitas.

Note-se que quanto mais foram perseguidos, maior se tornava o fervor cristão, tendo como resultado um elevadíssimo número de mártires: 8 bispos, 50 sacerdotes e 59 leigos, de diversas idades e condições sociais, na maioria pais e mães de família e, alguns, catequistas, seminaristas e militares.

Sejamos revigorados pelo testemunho destes mártires no bom combate da fé, no testemunho da esperança e na esforçada caridade a ser vivida.

Experimentemos também nós a força e a vitória, crendo no Senhor Jesus, que conosco está e caminha, e nada de fato nos separe d’Ele, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo (cf Rm 8,35-39).

domingo, 23 de novembro de 2025

Presbítero: servo do amor e do perdão

                                                     

Presbítero: servo do amor e do perdão

“Vós sois os Ministros da Eucaristia, os dispensadores da misericórdia divina no Sacramento da Penitência, os consoladores das almas, os guias de todos os fiéis nas tempestuosas dificuldades da vida”

Renovai, Senhor, Vos pedimos,
A chama no coração de cada Presbítero,
Para que, como ministros Vossos,
Garantam ao Povo confiado
O Pão da Palavra e da Eucaristia:

Palavra para iluminar o caminho,
Pão da Eucaristia para fortalecer o caminhar,
A cruz   cotidiana com fidelidade carregar,
Na construção do Vosso Reino,
Com alegria e coragem, participar, e
Com a Luz do Vosso Espírito, confiar.

Iluminai, Senhor, Vos suplicamos,
Para que tenham o coração semelhante ao Vosso
Coração de Bom Pastor, e sejam zelosos
Dispensadores da misericórdia divina
Celebrando e vivendo o Sacramento da Penitência,
Com palavras certas em horas difíceis e desoladoras,

Para que consoladores das almas sejam,
Guiando os fiéis nas tempestuosas dificuldades da vida,
Apontando para Vós, que tão apenas
Palavra Eterna sois e sempre z possuís,
E assim a ninguém mais recorra
Mas tão somente a Vós. Amém.



Fonte: João Paulo II Pastores Dabo Vobis 4

Com Jesus, reinar, amar e servir

 


Com Jesus, reinar, amar e servir 

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, o Ungido de Deus. Ele que é o Cristo, Rei e Senhor de todo o Universo. 

Ele que é o Messias-Rei enviado pelo Pai para inaugurar o reinado de Deus, Reino Eterno e Universal: Reino da verdade, vida, santidade, graça, justiça, amor e paz, com a Igreja rezamos.

Um Reino na contramão do mundo, da lógica dos grandes da terra; tão diferente de tudo que se possa pensar, porque:

- Suas armas foram o amor e misericórdia, a força desarmada do amor;

- Sua autoridade foi serviço simples e humilde;

- Seu trono foi a cruz, na qual Ele derramou Seu sangue redentor, em benefício de todos, santos e pecadores;

- Sua coroa, uma coroa de espinhos, precedida de agonia, flagelo, cuspidas, humilhação, maceração;

- Seu cetro é a toalha para lavar os pés: sinal de serviço;

- Seus soldados foram pessoas humildes e desarmadas, enviadas ao mundo para anunciar o amor e a paz;

- Seus súditos são todos aqueles que aceitam colocar as suas vidas ao serviço de Deus e dos irmãos;  

- Seu Divino Alimento, para avançarmos na missão confiada, é Seu próprio Corpo e Sangue, na Eucaristia celebrados, recebidos, alimentados, nutridos e revigorados.

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, o Ungido de Deus. Ele que é o Cristo, Rei e Senhor de todo o Universo. 

Oremos:

Somos Vossos servos, Senhor, que pela graça do batismo, ordenados ou não, consagrados ou não, cristãos leigos e leigas, na comunhão desejável, como Igreja Sinodal, caminhamos juntos, na espera da Vossa Vinda Gloriosa, Vós que viestes, vindes e vireis sempre. Assim cremos. Amém.



Fonte inspiradora: www.dehonianos.org - Reflexão Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

Jesus, o Senhor e o centro de nossa vida (Cristo Rei - Ano C)

                                                              

Jesus, o Senhor e o centro de nossa vida

Ao celebrar a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (ano C), a Liturgia nos convida a refletir sobre o modo diferente de Sua realeza.

A realeza de Jesus se expressa numa vida marcada pelo amor vivido, no serviço, na doação de Sua vida e no perdão, concedido a quem se põe numa atitude sincera de arrependimento e conversão.

Com a Festa de Cristo Rei, celebramos a festa da soberania de Cristo sobre a comunidade que n’Ele professa a fé, em total e incondicional adesão, tornando-se, como Ele, servidora do Reino, para  com Ele também reinar.

Na primeira Leitura, ouvimos uma passagem do Livro de Samuel, que nos apresenta Davi, como o rei de Israel, e um tempo marcado pela felicidade, abundância e paz (2 Sm 5,1-3).

Tempos depois, o Povo de Deus viveria situações totalmente adversas, e, com isto, o anúncio profético da vinda de seu descendente, que devolveria a este a alegria, a vida e a paz: o próprio Jesus.

Na segunda Leitura, ouvimos a passagem da Carta de Paulo aos Colossenses (Cl 1, 12-20), que nos apresenta a soberania de Jesus Cristo sobre toda a criação, sendo Ele a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criatura (herdeiro principal), e também a fonte de vida plena para toda a humanidade, porque n’Ele, por Ele e para Ele, todas as coisas foram criadas.

Com isto, podemos afirmar que Jesus deve ter a centralidade em nossa vida, e n’Ele crer, implica numa nova conduta, novos pensamentos e sentimentos, porque a Ele totalmente configurados.

Na proclamação do Evangelho, ouvimos a passagem de Lucas (Lc 23, 35-43), com a realização da promessa que fora feita desde os tempos dos Profetas: Jesus é o Messias, o Rei, o enviado por Deus que vai transformar a realidade do povo, inaugurando o Reino de Deus, não edificado sobre a força, a violência, na lógica do extermínio, tão pouco na imposição, mas tem como pilares o amor, o perdão e o dom da vida.

A narrativa de Lucas nos apresenta Jesus crucificado entre dois malfeitores, e, diante de Si, um povo silencioso, perplexo, e sobre Sua Cruz a inscrição:

“Este é o rei dos judeus”: “Ele não está sentado num trono, mas pregado numa Cruz; não aparece rodeado de súditos fiéis que o incensam e adulam, mas dos chefes dos judeus que o insultam e dos soldados que O escarnecem. Ele não exerce autoridade de vida ou de morte sobre milhões de homens, mas está pregado numa Cruz, indefeso, condenado a uma morte infamante... Não há aqui qualquer sinal que identifique Jesus com poder, com autoridade, com realeza terrena” (1).

É exatamente na Cruz que Jesus manifesta plenamente a Sua realeza. A Cruz é o Seu trono. Reinar com o Senhor implica também que os discípulos tenham a coragem de tomar a sua cruz cotidiana, com as renúncias necessárias, para segui-Lo com disponibilidade, fidelidade.

Reinar com Jesus é experimentar a força desarmada do amor, e tão somente assim se torna digna e frutuosa a celebração da Solenidade de Cristo, Rei e Senhor do Universo.

Finalizando, é preciso repensar nossa existência como discípulos missionários do Senhor.

Reflitamos:

- Como testemunhamos Jesus, um rei despojado de tudo e pregado numa Cruz?
vivemos um discipulado despido de pretensões de honras, glórias, títulos, aplausos, reconhecimento, ibope, glamour?

Uma vez que proclamamos Jesus como nosso Rei e Senhor, reinemos com Ele, no amor, no perdão e na entrega da vida, em sincera e frutuosa doação em favor da vida plena e feliz para todos.

Reinemos com Jesus, fazendo d’Ele e de Sua Palavra o centro de nossa vida.


A missão cristã no mundo

                                                   

A missão cristã no mundo

No que consiste a missão do cristão no mundo, segundo J. Mouroux:

"O cristão não se caracteriza pela fuga; é, ao contrário, alguém comprometido como pessoa no incremento, no bom êxito, na salvação do mundo.

Sabe que o universo inteiro tem um só princípio de consistência, de movimento, de fim: Cristo; porque por meio d’Ele todas as coisas foram feitas e n’Ele todas subsistem (Cl 1,16-18).

Cristo é, deste modo, Aquele que congrega, trabalhando no íntimo das almas e das coisas para tudo santificar, tudo unir, tudo consagrar para a glória de Deus.

O cristão se engaja voluntariamente neste gigantesco empreendimento, no seu lugar, no seu tempo, com seus recursos.

Não trabalha sozinho: colabora… Trabalha com coragem, porque a luta é dura; com fé, porque a tarefa é misteriosa e sem proporção com as forças humanas; trabalha para fazer crescer o universo e despontar a nova criação através da luta caótica e dolorosa, cheia de esperança e de preocupações, luta que não é, porém, a de uma agonia e sim a de um parto". (1)

O Cristão é um peregrino nesta terra. Não é “cidadão” do mundo, porque exilado, marcha para a verdadeira Pátria.

Cidadãos dos céus sem jamais nos omitirmos na construção de realidades humanas mais justas, fraternas e solidárias. Assim entendiam os primeiros cristãos e assim o é: “O que a alma é no corpo devem ser os cristãos no mundo“ (Carta a Diogneto 6).

Ainda no Comentário do Missal Dominical, vemos que em certo sentido depois de Cristo tudo está feito, nada mais esperamos substancialmente novo, no entanto, não deixa de ser verdade que resta tudo por fazer.

Mas, absolutamente nada deve ser feito sem Ele. Tudo deve ser feito com Ele, por Ele e para Ele. A Ele toda honra, glória, louvor e poder por toda a eternidade. Amém!


PS: Missal Dominical - Editora Paulus - p. 1076

Oração dos Cristãos Leigos e Leigas

                                                      


Oração dos Cristãos Leigos e Leigas

Senhor Jesus Cristo, Vivo e Ressuscitado, Vós nos apresentastes,  o Sermão da Montanha, como um Projeto de vida plena e feliz a ser vivido na planície, com renúncias necessárias, em total adesão e fidelidade, carregando nossa cruz de cada dia, na prática das bem-aventuranças.

Senhor, que sejamos pobres em espírito, abertos e confiantes na onipotência da Misericórdia do Vosso Pai, para que, como templos do Espírito Santo, irradiemos luminosidade onde vivemos, e como sal da terra, cuidemos do planeta em que habitamos, nossa casa comum.

Que saibamos viver os sins e os nãos, com sabedoria e firmeza, quando formos chamados a dar razão de nossa esperança, no fecundo testemunho da fé, acompanhado de gestos concretos de partilha, comunhão, solidariedade, como sinais do Vosso Reino.

Que saibamos dizer não à cultura do descartável; à globalização da indiferença; à violência de mil rostos; à idolatria do poder e do dinheiro; à busca do sucesso, fama e glória a qualquer preço; ao autoritarismo; à omissão de sagrados compromissos com a dignidade e sacralidade da vida.

Mas, que saibamos dizer sim à beleza da vida; à alegria da evangelização, missão que nos confiastes de ser sal da terra, luz do mundo e fermento na massa; à vida de comunidade; à comunhão com os ministérios ordenados, numa fecunda espiritualidade de comunhão ao Vosso Evangelho; à graça dos Sacramentos; ao amor fraterno; à vocação universal de santidade.

Senhor, nós Vos adoramos e glorificamos, Vós que viveis e reinais com o Pai na mais bela e plena comunhão com o Espírito, por nos  acolher como filhos e filhas pelo batismo, e pedimos que nos acompanheis com Vossa graça, para que Vos seguindo, com o nosso agir, a  verdade, a justiça, o amor e a solidariedade floresçam e se espalhem em nosso mundo

Fazei que compreendamos melhor que a nossa missão é o sair de si, em doação generosa, dando sabor de Deus à vida, dissolvendo silenciosamente em favor da vida plena e feliz e cheia de luz, com um coração sábio para gerar luz, sabedoria, como Vós fizestes, na fidelidade ao Vosso Evangelho, Luz para todos os povos.

Senhor, afastai de nós todo o medo, firmai nossos passos, solidificai nossa fé, esperança e caridade, num vínculo a ser vivido até a glória eterna, unindo-nos aos que nos precederam, e que já se encontram no repouso eterno, contemplando Vossa face luminosa. E por fim, que tenhamos Vossa Mãe como companheira e figura da Igreja. Amém.


A montanha e a planície de cada dia

Uma manhã fria, em que os raios do sol timidamente se escondem, como que desafiando a descida do Sol Nascente do alto da Montanha.

Era de manhã, ou tarde, pouco importa, o que importa é que acabara de apresentar aos discípulos o mais belo programa de vida: “O Sermão da Montanha”, as “Bem-Aventuranças”.

Suas Palavras naquele dia, como em todos os outros, para sempre gravadas na alma dos Seus e chegando até nós, comunicando calor, luminosidade que o mundo não pode dar.

Contemplo-O descendo a Montanha, com sorriso nos lábios, olhar de ternura para todos que a Ele se voltam: uma Palavra de perdão, compreensão, esperança, dos lábios saem.

Contemplo o sair dos Seus lábios palavras duras denunciando toda hipocrisia, maldade, indiferença, ambição, marginalização, exclusão que roubam a beleza da vida da humanidade.

Contemplo-O passando entre os pobres, que as mãos para Ele dirigem, rastejando no chão, com a mais doce confiança e espera de uma cura, força renovada, desejada libertação.

Como que ouço Seus passos, deixando pegadas para serem seguidas para sempre por quem quiser ser Seu discípulo, para ser d’Ele luz do mundo, sal da terra, vivendo a primazia do amor.

Contemplo Seu Coração, como que ouvindo as batidas de misericórdia e compaixão, o mesmo coração que foi transpassado, na mais sublime expressão de amor que ama até o fim.

Contemplo o Seu Coração pela lança transpassado, jorrando Água e Sangue, para vida nova nos comunicar (Batismo) e Alimento de eternidade nos conceder (Eucaristia).

Naquela tarde de nossa salvação, os lábios sem vida, os olhos cerrados, mas antes a humanidade a Mãe confiado, na pessoa do discípulo que tanto amava.

Naquela tarde, mãos e pés pregados, coração trespassado, precedidos de dor, choro, agonia a morte, enfrentados sem covardia, em fidelidade incondicional ao Pai por amor de nós.

Agora não mais na Cruz, contemplamos e cremos que Ele está glorioso, Ressuscitado, à direita do Pai sentado, tendo o Espírito a nós enviado, para Sua divina missão ser continuada.

É sempre tempo de subir à montanha, ouvir o que nos diz o Senhor; depois descer e, nutridos pelo Pão de cada dia, a fé, a esperança e o amor viver.

Não tenhamos medo, firmemos nossos passos, solidifiquemos nossa fé, esperança e caridade, num vínculo a ser vivido até a glória eterna, unindo-nos aos que nos precederam. Amém.

PS: Apropriado para a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,17.20-26; Mt 5,1-12) 

Não abandonemos o primeiro amor (Cristãos Leigos)

                                                             

Não abandonemos o primeiro amor
 
“Todavia, há uma coisa que eu reprovo,
abandonaste o teu primeiro amor” (Ap 2,4).
 
Cristãos leigos e leigas, consagrados ou, até mesmo, com o Sacramento da Ordem, não estamos imunes do esfriamento do primeiro amor.
 
Oportuno retomar a Carta dirigida por João à Igreja de Éfeso (Ap 1,1-4;2-1-5a), com a advertência feita a esta Igreja, depois de reconhecer seus diversos aspectos relevantes e positivos: – "Todavia, há uma coisa que eu reprovo, abandonaste o teu primeiro amor” (Ap 2,4).
 
João lembra o retrocesso da comunidade e o convite à conversão e à volta da prática inicial:
 
“Também nas nossas Igrejas, na nossa atividade de cristãos, pode aparecer por vezes o cansaço, a fadiga, a revolta, mas como nos sugere a Palavra, não devemos abandonar ‘a caridade primitiva’ (Ap 2,4).
 
A procura da fé não deve ser ofuscada por questões contingentes, por particularismos, por atitudes mesquinhas: se é difícil chegar à fé, é ainda mais fácil perdê-la.
 
Para isso precisamos da Palavra de Deus, a qual nos acompanhará na meditação 'noite e dia’ ao longo do caminho de uma procura contínua que, alimentada pela linfa da Palavra divina, será sólida ‘como árvore plantada à beira das águas’ (Sl.1,1-4.6)” (1).
 
No testemunho de nossa fé, no seguimento de Jesus, como discípulos missionários, todos somos passíveis do cansaço, da fadiga e, até mesmo, da revolta frente a acontecimentos diversos.
 
Por vezes, pode aparecer o desencanto, as contrariedades, as provações, acompanhadas até por perseguições, não obstante, será sempre ocasião para que não abandonemos “o primeiro amor”, aqueles primeiros momentos, em que sentimos fortemente o chamado do Senhor, o Seu olhar de amor, quando nos chamou pelo nome.
 
Urge cuidar sempre, para que esta chama jamais se apague, de modo que, inflamada, sejamos evangelizadores zelosos, amorosos e ardorosos.
 
Oremos:
 
Senhor Deus, não permitais que nos afastemos de Vós, e tão pouco abandonemos “o primeiro amor”.
 
Inflamai nosso coração de amor, para que irradiemos a Vossa divina luz nas situações mais obscuras, iluminados pela Vossa Palavra e nutridos pela Santíssima Eucaristia. 
 
Seja nosso coração indiviso na fidelidade ao Vosso Filho que nos chamou, e conosco caminha, com a presença e ação do Vosso Espírito. Amém.
 
 
 
(1)    Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – 2011 – Vol. II – pp.814-815
 


Cristãos leigos e leigas perseverantes no amor

                                                       

          Cristãos leigos e leigas perseverantes no amor
 
Reflitamos sobre a graça da missão realizada pelos cristãos leigos e leigas na obra da evangelização à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 14,25-33).
 
Para que tenhamos na Igreja, alegres e convictas testemunhas do Ressuscitado, são necessárias renúncias até de si mesmo, acompanhados de separação, radicalidade e realismo.
 
Tudo isto se faz na vivência dos desapegos de toda a ordem, na radicalidade própria do amor que sabe elencar o que é prioritário, num realismo inadiável, de modo que, sem renúncias, jamais haverá fidelidade no seguimento ao Senhor.
 
A fé cristã será, portanto, movida pela virtude da esperança enraizada no chão da caridade que é o próprio coração do homem e da mulher.
 
Somente assim, cristãos leigos e leigas serão discípulos missionários do Reino, sem medo, mas com muita alegria, procurando ter do Senhor Jesus os mesmos sentimentos, em total e incondicional fidelidade, com a presença e ação do Espírito Santo (Fl 2,5).
 
Cumpra-se, portanto, a Palavra Divina, para que na fidelidade ao Senhor progridamos: “Aqueles que perseverarem no amor ficarão junto de Deus, porque a graça e a misericórdia são para Seus eleitos”, já nos dizia o autor do Livro da Sabedoria (Sb 3,9).
 
Como Igreja sinodal, ponhamo-nos todos a caminho, firmados nos pilares da Palavra, Pão da Eucaristia, Caridade e Missão, vivendo a graça do batismo recebido, com o coração ardente e os pés a caminho.
 

"Vocação e Missão dos Cristãos Leigos numa Paróquia Missionária"


"Vocação e Missão dos Cristãos Leigos numa Paróquia Missionária"

Anos passados, aconteceu em Itaici – Indaiatuba – SP, a 36ª Assembleia das Igrejas Particulares do Regional Sul I, com o tema "Vocação e Missão dos Cristãos Leigos numa Paróquia Missionária".

À luz de importantes Documentos, desde Lumen Gentium (Vaticano II) até  o Estudo 107 da CNBB, foram apresentadas pistas, com a troca de experiências sobre a missão evangelizadora das Igrejas Diocesanas, Paroquiais e Comunitárias, aprofundando a vocação e a missão do cristão leigo na Igreja e no mundo.

Dom Júlio Endi Akamine, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, fez uma reflexão de abertura sobre o tema usando a imagem de um rio: 

É preciso fazer uma viagem por este rio desde a sua nascente (Lumen Gentium) e Apostolicum Actuositantem, a torrente (Christifidelis Laici); o riacho (Conferência de Aparecida); os rios (Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015), Documento  Comunidade de Comunidades Doc. 100, Missão e Ministério dos Cristãos Leigos e Leigas (Estudo 107) e Evangelii Gaudium do Papa Francisco.

Destacou-se o valor e a eficácia dos CPPs (Conselhos Paroquiais de Pastoral), dos Conselhos Diocesanos e Nacional de Leigos, a urgência de criar estruturas que favoreçam uma consciência missionária da transmissão da fé, a conversão pastoral, maior fidelidade a Jesus, criação de espaços para uma presença feminina mais eficaz e incisiva na Igreja. 

Nos trabalhos em grupos e plenária, foram destacados os seguintes pontos que já são vividos em nossas paróquias/Diocese: grupos de rua, movimentos com capelinhas de padroeiros de paróquias ou comunidades, Oração do Santo Rosário nas casas, atuação dos leigos junto ao poder público, nos grandes centros comerciais, como os “Shoppings”, uma possível presença da Igreja com a locação de uma sala para instalação de uma Capela, entre outros.

Foi também aprofundando sobre o lugar do leigo dentro da Igreja, o protagonismo do leigo versus o protagonismo do clero, que não deve existir, cabendo ao Espírito Santo, que sustenta e revigora todas as estruturas eclesiais, o verdadeiro protagonismo.

Ao final da Assembleia, o bispo Dom Júlio Endi Akamine completou a reflexão sobre a missão da Igreja dentro e fora dela, valendo-se do método explicativo do pulsar do coração, que ao se contrair (sistole), libera sangue para suprir as necessidades do corpo e ao se abrir (diástole)  absorve o sangue para prepará-lo e depois liberá-lo (sistole-diástole).


PS: Os apontamentos apresentados são do Agente de Pastoral José Alexandre Pedrosa Bastos, da Paróquia Santuário Nossa Senhora do Bonsucesso - Diocese de Guarulhos-SP -  um dos três cristãos leigos de nossa Diocese que participou da Assembleia. em 2014 

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