segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Silêncio orante diante do Trono

 


Silêncio orante diante do Trono

“Através d’Ele (Jesus Cristo morto na Cruz) é dado aos crentes a força na fraqueza, a glória na humilhação, a vida na morte”. (1)

Fixei por um tempo meus olhos nos Teus,

Vítima de olhares de insanas crueldades.

Como podemos crucificar quem nos viu

Com olhar de ternura, de misericórdia?

 

Olhos fixos em Teus lábios quase inertes,

Relembrando Tuas palavras como fogo,

Labaredas divinas que aquecem nossos medos,

De tantas situações por que possamos passar.

 

Contemplei Teus ouvidos, sempre prontos a ouvir

Nossos gritos, súplicas e, por vezes, injustos lamentos.

No trono, ainda ouves palavras imerecidas,

E o canto da morte Te envolve, mas não será o último.

 

Tua face marcada pela dor, agonia, flagelo...

Para nos devolver a imagem maculada pelo pecado;

Traços desfigurantes para nos devolver o que perdêramos:

Os traços impressos pelo Pai na obra da criação divina.

 

Tuas mãos, por cravos atrozmente cravadas,

Mãos tantas vezes estendidas aos pecadores, imerecidamente,

Após Sua Gloriosa Ressurreição por nós, continuarão,

A nos tocar, chamar e a nos enviar em divina missão.

 

Teus pés, também pelos cravos fixos no Trono da Cruz,

Recordam a cena memorável em que lavaste nossos pés,

Em lição de amor, humildade, doação e serviço.

Que nossos pés jamais se cansem do divino caminho.

 

Por fim, olhos fixos na indizível Fornalha Ardente

Do Teu trespassado Sagrado Coração, água e sangue jorrados.

Igreja Nascente, Alimento de Eternidade abundante,

Tornas-Te Comida e Bebida no Mistério da Eucaristia. Amém.

 

 

(1)    Papa São Leão Magno (séc V):

Fonte de inspiração: Lc 23,35-43

 

Além do que eu vi...

                                                                   

Além do que eu vi...

“O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos,
para que também tenhais comunhão conosco; e
a nossa comunhão é com o Pai, e com Seu Filho Jesus Cristo”
(1Jo 1,3).

Eu vi a onda veemente cumprir seu curso e recuar para outro avanço, num contínuo e incessante movimento, como que nos dizendo assim devemos agir quando dificuldades enfrentarmos, mas que o recuo não seja por medo, omissão e covardia, mas como momento do refazer-se...

Eu vi a onda encontrar o seu limite intransponível nas pedras que se interpunham, mas as contornavam, como que num abraço ao qual não puderam ceder, e assim aprendemos o mesmo fazer com as realidades aparentemente intransponíveis...

Eu vi aquele filho, sentado na indigência e mendicância, se levantar e retornar à casa do pai, como um servo, mas o amor do pai o acolheu como um filho sempre amado e esperado, não somente na parábola do Mestre, em nosso coração gravada, mas na realidade tristemente constatável.

Eu me vi de repente com os Evangelhos nas mãos, e continuei minha reflexão, detendo-me nas páginas que nos fazem voar como águia; voos divinais, como que sobre as asas do Espírito, ao encontro do Deus Eterno de Amor, num deleite de alma indescritível, sentido quando a Palavra arde em nosso coração e refrigera nossa alma, ainda que paradoxal pareça.

Eu vi através da narração indescritível do Evangelista, aqueles dois correndo ao encontro do túmulo, e a chegada do primeiro, o discípulo que Jesus amava. Vi que depois de Pedro, ele entrou viu que o Corpo do Amado lá não se encontrava, mas Ressuscitado estava.

Vi aquele discípulo que Jesus amava, acreditar e nunca mais calar e ao mundo anunciou esta Boa Notícia, que ecoa por milênios e chegou até nós, porque além de amá-Lo, pôs-se a correr do seu encontro, viu, acreditou, anunciou e testemunhou com a própria vida, nas alturas com Ele hoje se encontra.

Vi antes o mesmo discípulo reclinar no lado de Jesus, também descrito pelo Evangelista, como que acolhendo do Divino Mestre lições diretamente emanadas das entranhas do Sagrado Coração e estas mesmas posteriormente comunicadas.

Vi, também, na descrição da Paixão de Jesus, ele ali ao lado de Maria, com olhos fixos no Amado, assumindo-a como Mãe, e n’Ele nossa humanidade recebendo a maternidade de Maria, Mãe da Igreja e nossa, que nos acompanha desde o sim dado naquele dia ao Anjo na Anunciação do Senhor.

Vi que, mesmo dilacerado de dor, o amor falou mais alto em Seu coração, e ainda nos garantiu a presença e a docilidade de Maria, que nos acompanha em nosso bom combate da fé cotidiano.

Fechei o Sagrado Evangelho e vi um novo caminho a trilhar; revigorado, refeito, e com sagrados compromissos renovados para a luz do Senhor irradiar, ainda que os tempos difíceis sejam, porque é preciso dar razão de nossa esperança, porque fé n’Ele temos, com Ele, inflamados pelo Seu amor, um mundo novo construir.

As dificuldades que vivemos, alguns podem até enxergar com maior acuidade, mas empenhar-se pelo mundo novo, sem luto, dor, pranto e morte, somente quem tem a fé aliada com a esperança que anda de mãos dadas com a caridade.

Acreditar na impotência e insignificância de uma semente do grão de mostarda, iluminar com a palavra e a ação o mundo, como fermento na massa e sal da terra, é, sobretudo, próprio de quem recebe a graça do Batismo e de ser discípulo do Senhor. Amém. Aleluia! Aleluia!

Contemplemos a Cruz de Nosso Senhor

                                                              

 

      Contemplemos a Cruz de Nosso Senhor 

 
Sejamos enriquecidos pela Conferência de Santo Tomás de Aquino, em que nos apresenta a Cruz de Nosso Senhor, na qual não nos falta nenhum exemplo de virtude.
 
“Que necessidade havia para que o Filho de Deus sofresse por nós? Uma necessidade grande e, por assim dizer, dupla:
 
Para ser remédio contra o pecado e para exemplo do que devemos praticar.
 
Foi em primeiro lugar um remédio, porque na Paixão de Cristo encontramos remédio contra todos os males que nos sobrevêm por causa de nossos pecados. Mas não é menor a utilidade em relação ao exemplo.
 
Na verdade, a Paixão de Cristo é suficiente para orientar nossa vida inteira. Quem quiser viver na perfeição, nada mais tem a fazer do que desprezar aquilo que Cristo desprezou na Cruz, e desejar o que Ele desejou. Na Cruz, pois, não falta nenhum exemplo de virtude. Se procuras um exemplo de caridade:
 
Ninguém tem amor maior do que Aquele que dá Sua vida pelos amigos (Jo 15,13). Assim fez Cristo na Cruz. E se Ele deu Sua vida por nós, não devemos considerar penoso qualquer mal que tenhamos de sofrer por causa d’Ele.
 
Se procuras um exemplo de paciência, encontras na Cruz o mais excelente! Podemos reconhecer uma grande paciência em duas circunstâncias: Quando alguém suporta com serenidade grandes sofrimentos, ou quando pode evitar os sofrimentos e não os evita.
 
Ora, Cristo suportou na Cruz grandes sofrimentos, e com grande serenidade, porque atormentado, não ameaçava (1Pd 2,23); foi levado como ovelha ao matadouro e não abriu a boca (cf. Is 53,7; At 8,32). É grande, portanto, a paciência de Cristo na Cruz.
 
Corramos com paciência ao combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé. Em vista da alegria que lhe foi proposta, suportou a Cruz; não Se importando com a infâmia ( Hb 12,1-2).
 
Se procuras um exemplo de humildade, contempla o Crucificado: Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer.
 
Se procuras um exemplo de obediência, segue Aquele que Se fez obediente ao Pai até a morte:
 
Como pela desobediência de um só homem, isto é, de Adão, a humanidade toda foi estabelecida numa condição de pecado, assim também pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça (cf. Rm 5,19).
 
Se procuras um exemplo de desprezo pelas coisas da terra, segue Aquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores, no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência ( cf. Cl 2,3), e que na Cruz está despojado de Suas vestes, escarnecido, cuspido, espancado, coroado de espinhos e, por fim, tendo vinagre e fel como bebida para matar a sede.
 
Não te preocupes com as vestes e riquezas, porque repartiram entre si as minhas vestes (Jo 19,24); nem com honras, porque fui ultrajado e flagelado; nem com a dignidade, porque tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em minha cabeça (cf. Mc 15,17); nem com os prazeres, porque em minha sede ofereceram-me vinagre (Sl 68,22)”.
A contemplação da Cruz e do Crucificado por si mesma nada adianta, pois esta procura precisa configurar nossa vida, com a revisão de nossas atitudes e pensamentos, transformando a nossa vida.

Crendo n’Aquele que nos amou e na Cruz morreu, precisamos ter os mesmos  sentimentos, completando em nossa carne o que falta à Sua Paixão por amor à Sua Igreja (cf. Fl 2,5; Cl 1,24), e dizer como Paulo -  “Para mim viver é Cristo” (cf. Fl 1,21).
 
Coloquemo-nos diante da Cruz e do Crucificado, renovemos sagrados compromissos com os crucificados da história, pelos quais Ele deu, livremente, por amor, Sua Vida para que todos tenhamos vida.
 
Para Santo Tomás, na Cruz, contemplando o Crucificado, não nos falta nenhum exemplo de virtude. Dentre as quais ele destaca: Caridade, paciência, humildade, obediência e o desprezo pelas coisas da terra, sinônimo de absoluto despojamento.
 
O que de melhor possamos desejar e procurar, encontraremos na Cruz e no Crucificado: Amor, ternura, bondade, perdão, carinho, solidariedade, mansidão, acolhida; sabedoria com traços e aparência de loucura, Onipotência na aparência da fragilidade; bondade suprema para além de toda maldade extrema!
 
Procuremos as virtudes na Cruz, a cada dia, para que vivamos maior fidelidade ao Senhor, com renúncias necessárias, carregando nossa cruz, sem lamentos e reclamações inúteis.
 
Eis o caminho que tanto procuramos: A Cruz. Inevitavelmente a Cruz; Cruz redentora, Cruz salvadora, pois, do Crucificado ao mundo foram abertas as entranhas de misericórdia, de felicidade, de eternidade...
 
Quem por Ele procurar, será encontrado, quem por Ele chamar não será decepcionado: Batei e vos será aberto, pedi e vos será concedido. 
 
Contemplando a cruz, encontramos o que tanto procuramos, ou no mínimo o que tanto deveríamos desejar e viver.
 
Há procuras insólitas e extenuantes; procuras que consistem em perdas sem retornos. Santo Tomás nos aponta verdadeiras e salutares procuras.
 
E, às vezes, como procuramos mal, quer pelo seu conteúdo, quer pelo seu lugar.
 
Eis o caminho que tanto procuramos: A Cruz. Inevitavelmente a Cruz.
Cruz redentora, Cruz salvadora, pois, do Crucificado ao mundo foram abertas as entranhas de misericórdia, de felicidade, de eternidade...
 
Quem por Ele procurar, será encontrado, quem por Ele chamar não será decepcionado: "Batei e vos será aberto, pedi e vos será concedido" (cf. Mt 7,7-8).
 
Coloquemo-nos em atitude de verdadeira e santa procura, carregando nossa cruz de cada dia, com as renúncias que se fizerem necessárias.
 
 
 
PS: Reflexão oportuna para o dia 28 de janeiro quando se celebra a Memória de Santo Tomás de Aquino (Presbítero e Doutor da Igreja) e a Festa da Exaltação da Santa Cruz no dia 14 de setembro.


Apropriado para refletirmos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 23,35-43)

Ela ofereceu tudo o que tinha para viver

                                                                

Ela ofereceu tudo o que tinha para viver

 “Eles ofertaram muito do muito que tinham; ela deu tudo o que possuía. Tinha muito, pois tinha Deus no seu coração. É mais possuir Deus na alma do que ouro na arca. Quem deu mais do que essa pobre viúva que não reservou nada para si?” (Santo Agostinho)


Reflexão à luz das passagens do Evangelho (Mc 12,38-44; Lc 21,1-4), sobre a oferta da pobre viúva no templo.

Reflitamos sobre o culto verdadeiro e agradável a Deus, tão diferente dos cultos marcados pelas aparências dos rituais: a Deus não interessam grandes manifestações religiosas ou ritos externos suntuosos. 

Deus não mede nossas ações e gestos com algarismos, ao contrário, mede com o amor; avalia de acordo com os valores interiores da pessoa porque Ele vê além das aparências, vai até o coração.

O culto autêntico deve ser marcado na atitude de vida: doação, confiança e entrega total em favor do próximo, esvaziando-se de si mesmo e colocando-se plenamente nas mãos de Deus.

Esta passagem é situada em Jerusalém, nos dias que antecedem à prisão, julgamento e morte de Jesus.

Jesus faz uma crítica aos ritos vazios, desmascarando a hipocrisia, a incoerência dos cultos e ritos realizados no templo pelos doutores da lei, e nos ensina como deve ser um culto agradável a Deus. 

Os doutores da lei têm comportamentos hipócritas, uma devoção de fachada, revelando que os ritos externos que realizam, os gestos teatrais, o cumprimento das regras, ainda que religiosamente corretas, não aproximam as pessoas de Deus, e nem as conduzem à santidade por Ele querida. 

Os discípulos de Jesus deverão ter outra atitude diante de Deus e do próximo: dom total, despojamento pleno, entrega radical e sem medida. Viver a fé cristã não é uma representação teatral.

De fato, o verdadeiro crente é aquele que nada guarda para si, mas no dia a dia, no silêncio e nos gestos mais simples, sai do seu egoísmo e da sua autossuficiência, colocando toda sua existência nas mãos de Deus.

Há momentos em que tudo escurece, falta-nos apoio, nossa vida parece tremer. É nesta hora que damos o autêntico testemunho da solidez de nossa fé, e verdadeiramente, podemos dizer: “Senhor, eu creio, mas vem em auxílio de minha pouca fé, e minha fraqueza. Pai, entrego-me em Tuas mãos”.

Urge que nos coloquemos totalmente nas mãos de Deus, oferecendo a Ele toda a nossa vida, vivendo na gratuidade, e não na troca de favores, sem procurar fama e privilégios.

Precisamos nos despojar de nossos projetos pessoais e preconceitos, a fim de nos entregarmos com total confiança nas mãos de Deus, com completa doação, dando um salto em total abandono no Senhor, sem nenhuma dúvida ou hesitação. 

Assim viveremos uma fé amadurecida, na doação total inclusive nas situações mais adversas, no testemunho da pobreza evangélica, acompanhada da humildade e fecundidade, num amor sem limites e incondicional.

Tão somente assim teremos uma verdadeira motivação de nosso engajamento pastoral, em total expressão de gratuidade, sem procura de honrarias, valorização, promoção ou elogios.

Oremos:

Ó Deus, afastai de nós todos os obstáculos, e nos acompanhe para que inteiramente disponíveis nos coloquemos a serviço do Reino, na fidelidade a Jesus Cristo, com a força do Santo Espírito. Amém.

Com Jesus, reinar, amar e servir (Cristo Rei)

 


Com Jesus, reinar, amar e servir 

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, o Ungido de Deus. Ele que é o Cristo, Rei e Senhor de todo o Universo. 

Ele que é o Messias-Rei enviado pelo Pai para inaugurar o reinado de Deus, Reino Eterno e Universal: Reino da verdade, vida, santidade, graça, justiça, amor e paz, com a Igreja rezamos.

Um Reino na contramão do mundo, da lógica dos grandes da terra; tão diferente de tudo que se possa pensar, porque:

- Suas armas foram o amor e misericórdia, a força desarmada do amor;

- Sua autoridade foi serviço simples e humilde;

- Seu trono foi a cruz, na qual Ele derramou Seu sangue redentor, em benefício de todos, santos e pecadores;

- Sua coroa, uma coroa de espinhos, precedida de agonia, flagelo, cuspidas, humilhação, maceração;

- Seu cetro é a toalha para lavar os pés: sinal de serviço;

- Seus soldados foram pessoas humildes e desarmadas, enviadas ao mundo para anunciar o amor e a paz;

- Seus súditos são todos aqueles que aceitam colocar as suas vidas ao serviço de Deus e dos irmãos;  

- Seu Divino Alimento, para avançarmos na missão confiada, é Seu próprio Corpo e Sangue, na Eucaristia celebrados, recebidos, alimentados, nutridos e revigorados.

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, o Ungido de Deus. Ele que é o Cristo, Rei e Senhor de todo o Universo. 

Oremos:

Somos Vossos servos, Senhor, que pela graça do batismo, ordenados ou não, consagrados ou não, cristãos leigos e leigas, na comunhão desejável, como Igreja Sinodal, caminhamos juntos, na espera da Vossa Vinda Gloriosa, Vós que viestes, vindes e vireis sempre. Assim cremos. Amém.



Fonte inspiradora: www.dehonianos.org - Reflexão Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

Santidade e Templo

                                                                      

Santidade e Templo 

Reflexão sobre a purificação do templo pelo Senhor e  a indissociável relação entre santidade e templo. 

Santidade precisa ser vivida, como assim desejou e nos exortou o Senhor: “Sejam perfeitos como é perfeito seu Pai, que está nos céus” (Mt 5,48). 

Santidade que se destina a todas as pessoas, como tão bem expressou a “Lumen Gentium”“Todos, pois, na Igreja, quer pertençam à hierarquia ou sejam por ela conduzidos, são chamados à santidade, conforme a palavra do Apóstolo: ‘A vontade de Deus é que sejam santos’ (1Ts 4,3, Ef 1,4). 

A santidade da Igreja se manifesta de direito e de fato nos muitos variados frutos da graça, que o Espírito faz brotar nos fiéis, quando tendem para a perfeição do amor em suas vidas” (n.39). 

Na purificação do templo (Jo 2,13-25), Jesus Se apresentou como o Templo de Deus, que é o Seu próprio corpo, e todo aquele que n’Ele for batizado, viver e crer, faz parte deste Templo, pois Ele quis fazer de cada pessoa uma morada Sua, em quem podemos encontrá-Lo (Mt 25, 31-46). 

A santidade implica em sentir-se pertencente a este Templo, colocando toda a existência a serviço por amor ao próximo, como expressão máxima da adoração e amor a Deus sobre todas as coisas, com toda a alma, força, coração e entendimento. 

Amando a Deus, cumpriremos o primeiro Mandamento na ordem do preceito, e, amando ao próximo, estaremos cumprindo o primeiro na ordem da execução, como nos falou o Bispo Santo Agostinho. 

Neste sentido, encontramos inspiração nos testemunhos de tantos Santos e Santas, que viveram a santidade, alimentando-se no Templo do Senhor, mas prolongando a sua espiritualidade Eucarística na vivência da Palavra proclamada, no serviço ao outro. 

Santidade também implica em não fecharmos nossos olhos e ouvidos para o mundo no qual estamos inseridos, na completa realidade social, de modo que uma fé autêntica não se omite diante das questões sociais. 

Urge participar dos diversos espaços de expressão de cidadania, a fim de que aqueles que detêm o poder coloquem em prática a política na sua máxima expressão e grandeza: a promoção do bem comum. 

A santidade é fragilizada, manchada, quando não nos comprometemos para que a política cuide de cada cidadão, respeitando e promovendo a sua dignidade, da concepção ao seu declínio natural. 

Quando a santidade anda de mãos dadas com a sacralidade do Templo, vemos no outro um templo sagrado, e tornamos nossa fé ativa, nossa caridade esforçada e mais firme, sólida e frutuosa a nossa esperança (cf. 1 Ts 1, 3). 

Membros da Igreja, pedras vivas e escolhidas que somos, temos que ser no mundo sinal de santidade, pautando nossa vida pelos valores da verdade, justiça, liberdade, fraternidade e impelidos pelas virtudes divinas, sendo a mais importante, a virtude divina do amor, porque é eterna (cf. 1Cor 13, 8). 

Urge, no empenho constante no crescimento da santidade, cuidando do Templo e dos templos, que os Agentes das diversas Pastorais, Movimentos e Serviços, com a luz do Santo Espírito, façam a revisão do caminho trilhado na evangelização; avaliem com serenidade, à luz da Palavra de Deus e da Exortação do Papa “Evangelii Gaudium”, os objetivos, métodos e estratégias, para que sejamos uma Igreja que não fica confortavelmente dentro das paredes do Templo, mas, como Igreja em saída, vá ao encontro dos templos que clamam por uma Palavra de amor, vida, alegria e paz. 

Amando a Deus e ao próximo, vivamos a santidade em estreita e inseparável relação com o Templo e os templos.

O tempo

                                                             

O tempo
“Tudo tem seu tempo.
 Há um momento oportuno
para cada coisa debaixo do céu” (Ecl 3,1)

Tempo bom e ruim.
Tempo desocupado ou sobrecarregado.
Tempo que se foi, o agora, o vindouro.

Tempo no pretérito, presente e futuro.
Tempo mudado ou a mudar.
Tempo bem empregado ou desperdiçado.

Tempo de esterilidade ou fecundidade da alma.
Tempo de semear e outro para colher.
Tempo propício ou não favorável.

Tempo de marés favoráveis ou adversas.
Tempo para atravessar o deserto árido do melhor a se alcançar.
Tempo para não submergir na travessia do mar da obscuridade.

Tempo do silêncio fecundo e aprendizado.
Tempo do recolhimento necessário e de reaprender o indispensável.
Tempo do isolamento, quando necessário.

Há tempo que o vento parece apagar a chama das velas acesas dos sonhos.
Há tempo que o mesmo vento parece soprar contrariamente ao destino desejado.
Há o tempo da sensibilidade à flor da pele, outro da insana insensibilidade.

Há o tempo em que somos desafiados ao testemunho da fé, ainda que nas contrariedades.
Há tempo em que os ventos, suavemente soprados, vêm reacender a chama da esperança.
Há tempo em que os ventos que assopram fazem crepitar a chama do amor.

Tempo da vigilância e espera do Senhor que vem: Advento – “Vem, Senhor Jesus!”.
Tempo de graça, favorável para conversão e reconciliação: Quaresma.
Tempo do transbordamento da alegria da Ressurreição: Páscoa do Senhor. Aleluia!

Vive e caminha conosco, quem tanto amamos

                                               


         Vive e caminha conosco, quem tanto amamos
 
Voltávamos, trocando passos lentos com a solidão,
Cabisbaixos, abraçados com a dor da decepção.
Em quem depositávamos toda a nossa esperança,
No corpo cravado na cruz, pelas dolorosas chagas,
com Ele, para sempre mortas, nada mais a esperar.
 
Restava-nos esperar dias e noites - eternas noites escuras,
Ainda que o sol nascesse, não mais luzes teríamos,
No caminho pedras, obstáculos, fragilidade eternizada,
Tampouco o brilho da lua tornaria encantada a noite,
Nem com o brilho de todas as estrelas multiplicadas.
 
Mas Alguém conosco se pôs a caminho,
Suportando a lentidão de nossa mente,
Para compreender a novidade da Ressurreição.
Suas divinas palavras, arderam em nosso coração,
Nossos olhos descerraram no partir do Pão.
 
Solícito, atendeu ao nosso insistente convite:
“Fica conosco, pois já é tarde e o dia está declinando’!”(1)
Súplica que ora também fazemos, confiantes,
Peregrinos da esperança para viver a graça da missão:
Amar, crer, e n’Ele sempre esperar.
 
Amar, como distintivo de discípulos Seus em todo tempo.
Amar como Ele ama: amor de cruz, que ama até o fim,
Até a última gota de sangue, com gestos de  serviço e doação.
Compromissos batismais com a Boa Nova do Reino,
Como Igreja, juntos caminhando, sempre a caminho. 
 
Crer n’Ele, o Caminho, Verdade e Vida, (2)
Crer n’Ele, o Caminho que nos leva ao Pai;
Crer n’Ele, a Verdade que ilumina os povos;
Crer n’Ele, a Vida que renova o mundo.
Ele, princípio e fim de nossa vida: Alfa e Ômega. (3)
 
Esperar n’Ele e com Ele, com plena confiança,
Porque o amor de Deus foi derramado, pelo Espírito,
Em nossos corações, e a esperança não decepciona.
Memoráveis palavras do Apóstolo ressoem (4)
Para sempre ao longo do árduo caminho. Amém.
 
  
(1)             Lc 24,29
(2)             Jo 14,6
(3)             Ap 22,13
(4)             
Rm 5,5

Acolhamos a Palavra do Senhor, com humildade e afeição íntima

                                                   


Acolhamos a Palavra do Senhor, com humildade e afeição íntima

Sejamos enriquecidos com um texto do Livro da Imitação de Cristo (séc XV):

“Ouve, filho, minhas palavras suavíssimas, que superam toda a ciência dos filósofos e sábios deste mundo. Minhas palavras são espírito e vida (cf. Jo 6,63), não ponderáveis por humanas inteligências. 

Não devem ser puxadas para a vã complacência, mas escutadas em silêncio, acolhidas com total humildade e afeição íntima. 

Eu disse: Feliz a quem instruis, Senhor, e lhe ensinas tua lei para que o alivies nos dias maus (Sl 93,12-13) e para que não se sinta abandonado na terra. 

Eu, diz o Senhor, ensinei no início aos profetas e até hoje não cesso de falar a todos. Porém muitos, à minha voz, são surdos e endurecidos. 

Muitos se comprazem em atender ao mundo mais que a Deus; com maior facilidade seguem os apetites de sua carne do que a vontade de Deus. 

O mundo promete coisas temporárias e pequeninas e é servido com imensas cobiças. Eu prometo bens sublimes e eternos e se entorpecem os corações dos mortais. 

Quem me serve e obedece com tanto empenho em todas as coisas, quanto se serve ao mundo e aos seus senhores?

Cora de vergonha, servo preguiçoso e descontente, porque aqueles estão mais prontos para se perderem do que tu para viveres.

Mais se alegram aqueles com a vaidade do que tu com a verdade. 

E, no entanto, por vezes se frustra sua esperança, ao passo que jamais falha a alguém minha promessa, nem sai de mãos vazias quem em mim confia. 

O que prometi, darei; o que falei, cumprirei. 

Sou eu o remunerador dos bons e inabalável acolhedor de todos os fiéis. 

Escreve minhas palavras em teu coração e rumina-as com cuidado; serão muito necessárias no tempo da tentação.

O que não entendes ao ler, entenderás quando te visitar. 

Costumo visitar de dois modos meus eleitos: pela tentação e pela consolação. 

E lhes leio diariamente duas lições: uma, arguindo seus vícios; outra, exortando a progredir na virtude. 

Quem tem minhas palavras e delas faz pouco caso, terá quem o julgue no último dia (cf. Jo 12,48).”

Intensifiquemos e aprofundemos a oração, com a Sagrada Escritura, e seja a Leitura Orante (leitura, meditação, oração e contemplação) um modo privilegiado para que nossa oração nos ajude a viver mais configurados a Jesus Cristo (Fl 2,1-11).

Que a Palavra de Deus seja para nós, como foi para todos os profetas, como assim o foi para Jeremias:

“Quando encontrei tuas palavras, alimentei-me; elas se tornaram para mim uma delícia e a alegria do coração, o modo como invocar eu nome sobre mim, Senhor Deus dos exércitos” (Jr 15,16).

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