sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

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O Sim de Maria e a Encarnação do Verbo

                            


O Sim de Maria e a Encarnação do Verbo

Celebramos, no dia 12 de dezembro, a Festa em louvor a Nossa Senhora de Guadalupe, e ouvimos na Missa a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 1,39-47).

Sejamos enriquecidos por uma parte do Sermão do Abade São Bernardo (séc. XII), meditando sobre os Mistérios da Salvação que nos veio pela Encarnação do Verbo, Jesus Cristo.

O Santo, que nascer de ti, será chamado Filho de Deus (cf. Lc 1,35), fonte de sabedoria, o Verbo do Pai nas alturas! Este Verbo, através de ti, Virgem santa, Se fará Carne, de modo que Aquele que diz: Eu no Pai e o Pai em mim (Jo 10,38), dirá também: Eu saí do Pai e vim (Jo 16,28).

No princípio, diz João, era o Verbo. Já borbulha a fonte, mas por enquanto apenas em si mesma. Depois, e o Verbo era com Deus (Jo 1,1), habitando na luz inacessível.

O Senhor dizia anteriormente: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11). Mas teu pensamento está dentro de ti, ó Deus, e não sabemos o que pensas; pois quem conheceu a mente do Senhor ou quem foi seu conselheiro? (cf. Rm 11,34).
  
Desceu, por isto, o pensamento da paz para a obra da paz: O Verbo Se fez Carne e já habita em nós (Jo 1,14). Habita totalmente pela fé em nossos corações, habita em nossa memória, habita no pensamento e chega a descer até a imaginação.

Que poderia antes o homem pensar sobre Deus, a não ser talvez fabricando um ídolo no coração? Era incompreensível e inacessível, invisível e inteiramente impensável; agora, porém, quis ser compreendido, quis ser visto, quis ser pensado.

De que modo, perguntas? Por certo, reclinado no presépio, deitado ao colo da Virgem, pregando no monte, pernoitando em Oração; ou pendente da Cruz, pálido na morte, livre entre os mortos e dominando o inferno; ou ainda ressurgindo ao terceiro dia, mostrando aos Apóstolos as marcas dos cravos, sinais da vitória, e, por último, diante deles subindo ao mais alto do céu.

O que não se poderá pensar verdadeira, piedosa e santamente disto tudo? Se penso algo destas realidades, penso em Deus e em tudo Ele é o meu Deus. Meditar assim, considero sabedoria, e tenho por prudência renovar a lembrança da suavidade que, em essência tão preciosa, a descendência sacerdotal produziu copiosamente, e que, haurindo do alto, Maria trouxe para nós em profusão.”

Pelo “sim” de Maria, nos veio do alto o Verbo para nos redimir, e por isto tão bem expressou o Abade: Aquele que “era incompreensível e inacessível, invisível e inteiramente impensável; agora, porém, quis ser compreendido, quis ser visto, quis ser pensado.”

Temos, em breves palavras, um itinerário da Encarnação do Verbo feito criança até a Sua glorificação no céu, onde Reina glorioso junto de Deus.

Silenciemo-nos e contemplemos Jesus:

“... reclinado no presépio, deitado ao colo da Virgem,
pregando no monte, pernoitando em oração;
ou pendente da Cruz, pálido na morte,
livre entre os mortos e dominando o inferno;
ou ainda ressurgindo ao terceiro dia,
mostrando aos Apóstolos as marcas dos cravos,
sinais da vitória, e, por último, diante deles subindo
ao mais alto do céu”.

Nesta contemplação, fixemos também nossos olhos em Sua Mãe que jamais fecha seus olhos à nossa realidade, como ela o fez em Guadalupe, Aparecida e tantos outros momentos e lugares.

Com Maria, renovemos o nosso sim aos desígnios e Projeto divino, para que tenhamos vida plena e feliz, como ela nos ensinou naquele dia memorável das Bodas de Caná (Jo 2,1-11).

Com Maria, preparemos o Natal do Senhor

                                                                       

Com Maria, preparemos o Natal do Senhor

A passagem do Evangelho (Lc 1,39-47), que ouvimos na Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, no dia 12 de dezembro, faz parte do chamado “Evangelho da Infância de Jesus”. 

É uma “homologese” (gênero literário especial que não pretende ser um relato fidedigno sobre acontecimentos, mas antes uma catequese destinada a proclamar as realidades salvíficas que a fé prega sobre Jesus: que Ele é o Messias, o Filho de Deus, o Deus conosco).

Em resumo, é uma catequese sobre Jesus, e nesta passagem, encontramos três mensagens fundamentais:

- Jesus vem ao encontro da humanidade para redimi-la.

- Sua presença, fruto da ação do Espírito, provoca estremecimento incontrolável de alegria no coração dos que esperam a concretização das promessas divinas: alegria, vida, paz e felicidade.

- Vem ao encontro através da fragilidade e simplicidade dos pobres, que se constituem instrumentos de Deus para a realização da salvação e libertação da humanidade.

É necessário estremecer de alegria, porque somos portadores do Verbo que Se fez e Se faz Carne em nosso coração.

Belém é aqui e agora, que acolhe o Salvador para se tornar uma alegre notícia de vida para os empobrecidos.

A luz brilhará nas trevas para os corações que temem a Deus! Nascerá o Salvador no coração dos que amam e que anseiam pela paz e vida plena.

Acolher e anunciar a proposta de Jesus é o verdadeiro sentido do Natal que vamos celebrar. Demos mais um passo...

Reflitamos:

- Qual a Boa-Nova que anunciamos aos pobres?
- Nosso modo de viver revela que estamos nos preparando para acolher o Verbo que quer fazer morada em nosso coração?

- Quais têm sido os esforços de conversão, mudança radical de pensamentos, atitudes em nossa vida em todos os seus âmbitos?

- quando procuramos o Sacramento da Penitência, para nos reconciliarmos com Deus e com os irmãos, experimentando a alegria da misericórdia e do perdão divinos?

Vivamos este tempo que nos separa da Noite do Natal, no cultivo do  silêncio, revisão e preparação do que ainda for preciso.

Mais do que árvores de Natal, amigos secretos, pisca-pisca, ceias fartas, é preciso que nosso coração esteja totalmente limpo, aberto para a acolhida do Verbo que Se fez e Se faz carne sempre, para ficar conosco em qualquer circunstância.
É próprio de quem ama não se separar daquele que se ama. Sendo assim, Deus não Se separa de nós, porque nos ama, ainda que não O amemos o bastante.

Urge um cristianismo mais alegre e contagiante, experimentado e testemunhado na fragilidade de Maria, de Isabel e de tantos outros; portanto, devemos nos tornar, cada vez mais, veículos da mensagem de alegria e jamais veículos fúnebres do Evangelho.

Celebrando esta Festa com Maria, aprendamos fazer do Natal, a Festa de maior correspondência ao Amor divino, indizível, infinito, incompreensível.

O Natal e a alegria mais profunda

                                                      

O Natal e a alegria mais profunda

O Tempo do Advento consiste na preparação para o encontro final com o Senhor que virá gloriosamente e, ao mesmo tempo, a preparação para a Solenidade do Natal que se aproxima.

Neste sentido, não podemos nos perder no “deserto da cidade”, em atmosferas natalinas, sobretudo aquelas que visam o incremento do consumo na compra e troca de presentes, ou outras formas que não correspondem necessariamente à beleza da Festa.

Seja o Natal a graça de sentirmos a alegria mais profunda, desejada por nós e mais que querida por Deus para todos nós, sobretudo os mais empobrecidos, com os quais Ele Se identificou.

Quero sentir no Natal a alegria mais profunda, ouvindo as vozes dos profetas, e a voz do precursor João Batista que ecoa pelos séculos, unindo nossas expectativas aos que se sentem longe da pátria e da paz.

Quero sentir no Natal a alegria mais profunda, ao abrir meus ouvidos às “vozes” que me conduzam ao reencontro da esperança de um novo amanhecer, em que o amor e a verdade se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão.

Quero sentir no Natal a alegria mais profunda, despertada pela “voz que clama no deserto” reconhecendo a presença de Deus não somente na glória de um Rei que regressa por nós, vencedor de  batalhas maiores, mas também na ternura do Menino Deus, o Bom Pastor.

Quero sentir no Natal a alegria mais profunda, porque sei que Ele, o Bom Pastor, nos carrega no colo, sobretudo quando ainda não sabemos caminhar e por onde caminhar, ou quando nos sentimos fracos e feridos por tantas situações por que possamos passar ao escrever as linhas de nossa história.

Quero sentir no Natal a alegria mais profunda, fruto da capacidade e maturidade de quem reconhece os erros dos tempos passados, somado aos limites do tempo presente, com o reconhecimento das limitações próprias da humana condição, como ervas e flores que murcham, névoa do amanhecer que seca quando sente os primeiros raios do sol.

Quero sentir no Natal a alegria mais profunda, unindo nossa esperança às esperanças desiludidas por realizações parciais, ou mesmos não realizadas e frustradas, na espera de um novo céu e uma nova terra, ainda que demorados, mas com compromissos sagrados renovados.

Quero sentir no Natal a alegria mais profunda, cheia de júbilo, que sabe compreender e aceitar com serenidade quando o tempo de Deus não for o nosso tempo, assim como renovar a paciência e a serenidade no mais profundo de mim mesmo, para que se aproxime a paciência e a serenidade divinas.

Quero sentir no Natal a alegria mais profunda, daquela noite das noites que mudou o rumo da história, a Noite do Nascimento do Salvador. E com os anjos, pastores, Maria e José, dar glórias a Deus no mais alto dos céus, e tão próximo e íntimo de nós. Ele tão perto e, por vezes, d’Ele, tão longe.

Quero sentir no Natal a alegria mais profunda...

Fonte de inspiração: Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – 2011 – Vol. Advento-Natal pp. 91-92.

Advento: rever nossas atitudes

                                                      


Advento: rever nossas atitudes

“Feliz é todo aquele que não anda conforme os conselhos dos perversos; 
que não entra no caminho dos malvados,
nem junto aos zombadores vai sentar-se; 
mas encontra seu prazer na Lei de Deus,
dia e noite, sem cessar” (Sl 1,1-2)

Há uma lenda muito oportuna para que vivamos intensamente o Tempo do Advento, nos preparando para a Celebração do Natal do Senhor.

“Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.

Ele disse:
– ‘A batalha é entre os dois lobos que vivem dentro de todos nós. Um é Mau. É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, orgulho falso, superioridade e ego.

O outro é Bom. É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé’.

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:
– ‘Qual lobo vence’?
O velho índio respondeu:
– ‘Aquele que você alimenta!’”.

Advento é tempo para avaliarmos quais “lobos” alimentamos dentro de nós.

Tempo do Advento: urge abandonar toda a prática que fomente as trevas dentro de nós e ao nosso redor, como as mencionadas acima, e tantas outras que poderiam ser somadas, como que numa lista interminável. E isto se dará quando deixarmos de alimentar o “lobo mau”, que vive dentro de cada um de nós.

Tempo do Advento: urge, também, a intensificação de gestos luminosos e que promovam a comunhão, a fraternidade, a solidariedade, e, sobretudo, viver a caridade, sem desprezar as mencionadas na lenda acima. Deste modo, estaremos alimentando o “lobo bom” que também em nós habita.

A lenda nos remete a uma verdade: somos santos e pecadores. E neste sentido, o Advento é tempo favorável de mudança, de reorientação de nossos caminhos, voltando-nos para Deus de coração sincero, com súplicas e ação de graças.

Se assim o fizermos, naquela noite maviosa, poderemos sentir a verdadeira alegria do Natal do Senhor acontecendo em todos os âmbitos, dando o sentido genuíno do Natal, por vezes esvaziado pela mentalidade consumista, do lucro, de vendas e mesas fartas, e corações vazios.

O Tempo de Advento é para reflexão profunda, e esta lenda nos ajuda neste mergulho, para que naquela noite também façamos o mergulho no mar de ternura e amor a nós possibilitado pela Encarnação do Verbo naquela frágil e meiga Criança: Jesus Cristo, o Deus Menino, ao mesmo tempo, verdadeiramente homem, verdadeiramente Deus.

Coragem e sabedoria

                                                   


Coragem e sabedoria

"Naquele dia, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o Espírito do Senhor...” (Is 11, 1-10)

A proximidade das festas natalinas e do início de um novo ano trazem a oportunidade e a necessidade de fazermos uma avaliação corajosa dos caminhos que trilhamos, acolhendo a Sabedoria do Espírito para planejarmos nossas atividades, na continuidade do caminho que jamais se dá por concluído.

Assim se constitui a vida: uma rede de relações entrelaçadas e complexas que precisam ser compreendidas. Nenhuma ação porta teor de nulidade e indiferença. Toda ação ou a sua não realização tem consequências na vida, no quotidiano da existência.

Precisamos coragem para rever quais foram nossos compromissos com a paz tão ameaçada.

Não basta coragem para rever, é preciso abertura à Sabedoria que o Espírito do Senhor nos comunica e os seus dons, para que possamos trilhar novos caminhos, testemunhando a nossa fé para que possa florir na grande primavera que nos levará ao encontro da verdadeira felicidade.

Sabedoria acolhida, ousadia renovada, caminhos novos buscar, redes em águas mais profundas lançadas, e como consequência, a vida em beleza edificada, e a felicidade tão sonhada, alcançada.

Muito mais do que comemorar o Natal é preciso celebrá-Lo, participando e acolhendo a Palavra proclamada em cada Santa Missa, e assim, nutridos do Pão da Eucaristia, sintamos o verdadeiro Natal acontecendo: Cristo presente na vida e na pessoa de cada irmão e irmã que pede um pouco de carinho, atenção, amor, ternura e paz.

Coragem para rever, avaliar e novos caminhos, se preciso for, tomar:

- Qual foi o nosso empenho em defender a sacralidade da vida, desde a sua concepção até o declínio natural, e o cuidado com a natureza tão explorada, destruída, por culpa de uma mentalidade consumista e indiferente, que nos pede sempre conversão?

- Com que intensidade vivemos a fé que professamos, no aprofundamento da Doutrina e na prática dos Mandamentos da Lei Divina?

- Como vencemos os pecados capitais que nos afastam desta fidelidade e felicidade querida por Deus?

- O que precisa ser eliminado de nossas famílias para que ela seja, de fato, um santuário da vida, edificado sobre a rocha fundamental da Palavra e da Eucaristia que Jesus nos oferece?

- Quais compromissos batismais, dentro e fora da Igreja, devem ser revigorados, para que nossa fé não perca a essência divina: ser sal, fermento e luz no mundo, colaborando na construção do Reino de Deus, não nos omitindo da participação política e os compromissos sociais?

Que Deus, enfim, renove a coragem e derrame Seu Espírito de Sabedoria, para que, com alegria, amor, doação e dedicação, nos empenhemos cada vez mais na Evangelização, para que esta floresça e frutifique, apontando um novo amanhecer.

Coragem, Sabedoria e Paz nasçam e renasçam em cada instante. Isto é o Natal do Senhor acontecendo silenciosamente em nosso coração, no Advento fecundado para acolhida da Semente do Verbo de Deus que quer realizar em cada um de nós maravilhas.

"Naquele dia, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o Espírito do Senhor...” (Is 11, 1-10). 

Rezando com os Salmos - Sl 106 (107)

 


Agradeçamos a Deus por Sua infinita bondade e amor

“ –1 Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque eterna é a Sua misericórdia!

2 Que o digam os libertos do Senhor,
que da mão dos opressores os salvou
 –3 e de todas as nações os reuniu,
do Oriente, Ocidente, Norte e Sul.

4 Uns vagavam, no deserto, extraviados,
sem acharem o caminho da cidade.
5 Sofriam fome e também sofriam sede,
e sua vida ia aos poucos definhando.

6 Mas gritaram ao Senhor na aflição,
e ele os libertou daquela angústia.
 –7 Pelo caminho bem seguro os conduziu
para chegarem à cidade onde morar.

8 Agradeçam ao Senhor o Seu amor
e as suas maravilhas entre os homens!
 –9 Deu de beber aos que sofriam tanta sede
e os famintos saciou com muitos bens!

10 Alguns jaziam em meio a trevas pavorosas,
prisioneiros da miséria e das correntes,
11 por se terem revoltado contra Deus
e desprezado os conselhos do Altíssimo.
 –12 Ele quebrou seus corações com o sofrimento;
eles tombaram, e ninguém veio ajudá-los!

13 Mas gritaram ao Senhor na aflição,
e Ele os libertou daquela angústia.
 –14 E os retirou daquelas trevas pavorosas,
despedaçou suas correntes, seus grilhões.

15 Agradeçam ao Senhor por Seu amor
e por suas maravilhas entre os homens!
 –16 Porque Ele arrombou portas de bronze
e quebrou trancas de ferro das prisões! 

 –17 Uns deliravam no caminho do pecado,
sofrendo a consequência de seus crimes;
 –18 todo alimento era por eles rejeitado,
e da morte junto às portas se encontravam.

  –19 Mas gritaram ao Senhor na aflição,
e ele os libertou daquela angústia.
 –20 Enviou sua palavra e os curou,
e arrancou as suas vidas do sepulcro.

 –21 Agradeçam ao Senhor o Seu amor
e as suas maravilhas entre os homens!
 –22 Ofereçam sacrifícios de louvor,
e proclamem na alegria Suas obras!

 –23 Os que sulcam o alto-mar com seus navios,
para ir comerciar nas grandes águas,
 –24 testemunharam os prodígios do Senhor
e as Suas maravilhas no alto-mar.

 –25 Ele ordenou, e levantou-se o furacão,
arremessando grandes ondas para o alto;
 –26 aos céus subiam e desciam aos abismos,
seus corações desfaleciam de pavor.

 –27 Cambaleavam e caíam como bêbados,
e toda a sua perícia deu em nada.
 –28 Mas gritaram ao Senhor na aflição,
e Ele os libertou daquela angústia.

 –29 Transformou a tempestade em bonança,
e as ondas do oceano se calaram.
30 Alegraram-se ao ver o mar tranquilo,
e ao porto desejado os conduziu.

 –31 Agradeçam ao Senhor o seu amor
e as Suas maravilhas entre os homens!
 –32 Na assembleia do Seu povo o engrandeçam
e o louvem no conselho de anciãos!

 –33 Ele mudou águas correntes em deserto,
e fontes de água borbulhante em terra seca;
 –34 transformou as terras férteis em salinas,
pela malícia dos que nelas habitavam. 

35 Converteu em grandes lagos os desertos
e a terra árida em fontes abundantes;
36 e ali fez habitarem os famintos,
que fundaram sua cidade onde morar.

37 Plantaram vinhas, semearam os seus campos,
que deram frutos e colheitas abundantes.
 –38 Abençoou-os e cresceram grandemente,
e não deixou diminuir o seu rebanho.

39 Mas depois ficaram poucos e abatidos,
oprimidos por desgraças e aflições;
40 porém Aquele que confunde os poderosos
e os fez errar por um deserto sem saída,
 –41 retirou da indigência os Seus pobres,
e qual rebanho aumentou suas famílias.

42 Que os justos vejam isto e rejubilem,
e os maus fechem de vez a sua boca!
 –43 Quem é sábio, que observe essas coisas
e compreenda a bondade do Senhor!”

Com o Salmo 106(107) elevamos ação de graças a Deus pela libertação que ele realiza em todo o tempo, porque infinito é Seu amor e sua bondade:

“Agradecimento ao Deus libertador, que salva dos mais diversos perigos, fazendo-nos experimentar sua presença viva em nossa vida e história.” (1)

Esta ação de Deus nós a vemos na retratada na passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos:

“Deus enviou sua palavra aos israelitas e lhes anunciou a boa-nova da paz, por meio de Jesus Cristo” (cf. At 10,36).

Glorifiquemos a Deus e elevemos ação de graças a Ele pelas maravilhas que realiza em favor do Seu Povo, e por sua permanente presença e ação em Sua Igreja.

 

(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – p. 820

Natal: gratidão e louvor a Deus

                                                 

Natal: gratidão e louvor a Deus

Aproxima-se o momento de celebrarmos o Natal do Senhor, e não apenas comemorar, porque a comemoração não esgotará jamais a beleza da Festa do Natal, correndo mesmo o perigo de até esvaziar o seu sentido autêntico.

Natal é tempo favorável para agradecer e louvar a Deus, que nos deu, por amor, o Seu Filho Unigênito, não O retendo para Si.

Ana e Maria, na liturgia do dia 22 de dezembro (1 Sm 1,24-28; Lc 1, 46-56), são as mais belas expressões de agradecimento e louvor a Deus.

Ambas louvam a Deus com expressões semelhante, pelas maravilhas que Deus nelas realizou. Ana apresentou a Deus a sua esterilidade; Maria, por sua vez, a sua pobreza e a sua humildade:

“Hoje Maria e Ana entregam-nos uma mensagem de alegria e de esperança. Seja qual for a condição em que nos encontremos, mesmo a mais desesperada, podemos experimentar a força do ‘braço do Todo-poderoso’; basta que nos abandonemos com confiança a Ele, reconhecendo a nossa pobreza, a nossa miséria, e o Seu amor” (1).

São duas criaturas que têm o senso de Deus, de Sua misericórdia e de Sua grandeza, e encontram-se na alegria porque vivem a vida como dom de Deus.

Os agradecimentos que brotam de suas bocas e coração não são apenas um ímpeto de puríssima adoração, mas uma exata avaliação das coisas.

Cultivam a virtude teologal da caridade em sua expressão mais estritamente teológica: a primeira acompanha o agradecimento com um dom; ela que tinha suplicado tanto a Deus para ter um filho; recebeu-o como um dom de Deus: “Por isso também eu o dou em troca ao Senhor”, e para sempre” (1 Sm 1,24-28).

Maria, por sua vez, compreendeu que “o Senhor não ama quem merece, mas sim quem precisa do Seu amor; não quer bem a alguém porque é bom, mas é Ele que o torna bom amando-o. Maria deu-se conta da gratuidade de Deus e por isso tinha as disposições requeridas para ser enriquecida por Ele” (2).

Deste modo, Maria também fez a mesma experiência, ou até mais profunda, porque acompanhou seu Filho em todos os momentos, até o fim, suportando o ápice da dor, ao ver a agonia de seu Filho no Mistério de Sua Paixão e Morte, aos pés da Cruz, na qual Ele foi crucificado, e acolhendo-O em seus braços, na mais indizível dor que possa ser mencionada.

Outra mulher deu grande testemunho de agradecimento e louvor a Deus: Santa clara. Ao sentir que estava para morrer, dirigiu a Deus sua última prece, e a ouviram murmurar: “Senhor, agradeço-te por me teres criado”. Não foi o grito do desespero, mas o grito de uma alma que sabe o valor da gratidão em total confiança e entrega nas mãos de Deus.

Seja para nós a Festa do Natal uma oportunidade de agradecimento e louvor a Deus pelas maravilhas que Ele nos concede, e pelo mais precioso presente a nós oferecido: o Menino Jesus.

Seja o Natal:

- a acolhida da graça de Deus, que é derramada sobre os humildes, e não acolhida pelos soberbos; sobre os humildes, mas desperdiçadas pelos orgulhosos; sobre os famintos, e lamentavelmente ignorada pelos saciados;

- a graça de nos colocarmos de joelhos diante do Menino Deus, pois “o homem em adoração encontra-se em seu verdadeiro lugar, dá o sentido da proporção e da medida, afirma que nada é e que Deus é tudo. E é pura verdade e justiça. A Sua misericórdia sobre aqueles o temem” (3);

- a graça de retribuirmos a Deus, com a oferta de nossa vida a Ele, acompanhada de gestos de partilha, comunhão e solidariedade para com nosso próximo.

Agradeçamos a Deus e o louvemos, pois o Natal é a Festa do Nascimento do Menino Deus; a Festa do renascimento da esperança em nossos corações, em que a Luz de Deus brilhará mais forte iluminando nossos caminhos.


(1)         Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – p.212-213
(2)        Idem p. 212
(3)        Missal cotidiano – Editora Paulus – p.94

Quando o Natal chegar…

                                                   

Quando o Natal chegar…

Quando o Natal chegar, não será apenas mais um Natal,
Será o Natal do Senhor!

Algo de novo surgirá em nosso coração e em nossa vida se contemplarmos o Mistério do Natal com um tríplice olhar.

Contemplar, primeiramente,  o Menino Jesus na manjedoura: Apontando para a beleza e sacralidade da vida, do princípio ao seu declínio natural.

Contemplá-Lo pregando a Boa Nova:

A partir de Sua barca chamando e fazendo-nos pescadores de outros mares, e resgatando a humanidade para a vida. Finalmente contemplá-Lo na Cruz: Como mistério de uma vida vivida intensamente no amor, e doada por amor, pela salvação de toda a humanidade: amor que ama até o fim.

Deste modo, quando o Natal chegar...
Mais que árvores de natal montadas, nós teremos que estar enxertados na árvore da vida, alimentando-nos da seiva do amor que emana do Verbo que Se fez Carne.

Mais que presépios preparados, montados, é o coração humano que deverá estar devidamente preparado, como privilegiada manjedoura para a colhida do Verbo, presente em cada criança, em cada pessoa humana...

Mais que luzes piscando, estará mais do que nunca, acesa em nosso coração a Luz que Ele é e veio trazer à humanidade, e mais que isto, nos fazer sinal desta luz, como várias vezes cantamos:

“... Minha luz é Jesus, e Jesus me conduz pelos caminhos da paz...”

Mais que  amigos secretos seremos amigos para todos os momentos: bons e ruins, alegres e tristes, nas angústias e esperanças, nas vitórias e derrotas... Pois, a acolhida d'Aquele que nos chamou de amigos, nos possibilitará a criação de laços sinceros e verdadeiros de amizade, que se nutrem e se reforçam em cada Eucaristia celebrada.

Não haverá mesas fartas apenas um dia, mas todos terão pão em suas mesas em todos os dias, para que todo dia seja verdadeiro Natal.

Não haverá saudações mecânicas e formalmente repetidas, mas carregadas de conteúdo, acenando para a chegada Daquele que vem para reorientar nossos passos, acolhendo Aquele pelo qual tudo se renova, tudo se redime, tudo se reconcilia. Deus fará nascer no coração de quem faz a guerra, a paz de um Menino.

Armas serão transformadas em instrumentos que fabricam o pão; bilhões de dólares não mais se aplicarão na produção das armas que matam, mas na edificação de lares, escolas, espaços de convivência, crescimento, amadurecimento, favorecendo a promoção da dignidade de cada pessoa e da pessoa inteira. Nossos joelhos fortalecidos, mãos estendidas, mente predisposta a ser moldada pela Palavra; coração aberto para a Semente do Verbo.

Que em cada coração se reacenda a alegria de ser discípulo missionário, e como Igreja na América Latina, estaremos mais do que nunca, empenhados na grande Missão Continental por um “Continente da Esperança e do Amor!”

Quando o Natal chegar... Como estaremos?

Natal e minha pobreza lexical!

                                                           

Natal e minha pobreza lexical!

O que escrever sobre o Natal?
Minha pobreza lexical, meu repertório...
Minhas palavras são miseráveis diante da riqueza infinita,
no mundo, irrompida com o Natal do Senhor.

Como falar deste Mistério imensurável e indescritível?
As palavras que conheço não conseguem este Mistério descrever.
Muito já se disse, será que ainda não há algo para ser dito?
Não direi mais que algumas palavras...
Natal, a Festa do Nascimento d’Aquele no qual a divindade Se fez próxima, visível, tocável.

Natal, a Festa da contemplação do humano,
Que nos comunicou a divindade.
Natal, a festa da contemplação do divino
Que assumiu nossa humanidade.

Encontro de duas naturezas, em que o Amor e a Verdade se abraçaram, como rezou o Salmista (Sl 85). Com Seu nascimento, a Luz resplandeceu em meio às trevas. As trevas com aparência de eternidade cederam ao esplendor da luz eterna.  

Natal e minha pobreza lexical!
Que Santo Ambrósio me empreste suas palavras para falar do Natal:

“Ele (Jesus), portanto, foi pequeno, foi criança, para que possais vós, ser perfeitos adultos; Ele foi envolvido em faixas, para que sejais, vós, libertados das garras da morte; Ele, na manjedoura, para vos por sobre o altar; Ele, na terra, para que estejais vós entre as estrelas; não havia lugar para Ele na sala comum, para que tenhais vós várias moradas na casa do Pai”.

Com ânsia de contemplar Mistério infinito, me aproprio das palavras do Papa São Leão Magno:

“Hoje, amados, filhos, nasceu o nosso Salvador.
Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que
nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte,
enche-nos de alegria com a promessa de eternidade…

Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida…

Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição…

Pelo Sacramento do Batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão grande Hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de
 tua salvação é o Sangue de Cristo”.


Finalmente, o Papa Bento XVI, nos diz que quando o Natal é verdadeiro tudo muda!

Há algo em mim a mudar, e em cada criatura, e assim mundo novo haverá!

Celebremos o Natal como a Festa do Amor!
Da Luz, da Alegria, que invadiu nosso coração,
Em absoluto respeito a nossa liberdade,
Para que em nossa mente e coração,
Sementes do Verbo fossem plantadas.

Há de se cuidar, há de se regar:
Flores e frutos abundantes jamais hão de faltar!

Feliz Natal, apesar de minha pobreza lexical!
Festa do amor com dimensão horizontal e vertical!
Amor que se traduz em relacionamentos mais sinceros com o Divino e com o próximo.

Feliz Natal!
A luz resplandeceu sobre a terra!

Feliz Natal!
O Amor que nos amou até o fim em nosso meio está!

Feliz Natal!
O Verbo Se encarnou em nosso meio, Sua tenda armou entre nós!
Para sempre a solidão cedeu lugar ao Deus da proximidade, tocabilidade, intimidade, comunhão!

Feliz Natal!
Vejo uma luz brilhar em teus olhos, porque nossa fé foi purificada, acrisolada; porque a esperança ganhou novo fundamento com a Encarnação do Verbo.

A caridade revigorou de novo, fermento trazido pelo Deus Menino.

Glória a Deus no mais alto dos céus!
Céus e terra, anjos e santos, homens e mulheres, jovens e crianças cantai este Hino:
“Noite Feliz...” 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG