domingo, 14 de dezembro de 2025

Não duvide, apenas em Deus confie

 


Não duvide, apenas em Deus confie


Não duvide em nenhum momento que Ela está contigo.

Se chorar, ela ouvira teu choro, enxugará tuas lágrimas.

Maria, com Maria sempre poderás contar.

 

Mergulhe teu olhar no olhar de Maria,

Inexplicavelmente sentirás que só não estás.

Chore, grite, clame: ela, como Mãe, te ouvirá.

 

Apenas não duvide, sequer por um instante,

De que estás só, e que ninguém está contigo,

Se no bem, na verdade e na caridade estiveres a trilhar.

 

Não duvide que Ele já veio, vem e há de vir,

Para nossa cegueira do coração curar,

Para vislumbrar novo horizonte em cada amanhecer.

 

Que Ele virá trazer a cura de nossa surdez,

Para ouvir mais que o canto dos pássaros na janela:

O canto dos profetas e poetas a anunciar um mundo novo.

 

Não duvide que ele virá nos tirar de nossos túmulos,

Da mentira, hipocrisia, autossuficiência, egoísmo,

Para vida nova e plena nos oferecer, se n’Ele cremos.

 

Não duvide de Sua Palavra, Palavra de vida eterna

E não há outro a quem recorrermos ou seguirmos:

Somente Ele, Jesus, tem Palavras de vida eterna.

 

Não regue as sementes das dúvidas inúteis,

N’Ele confie, com joelhos fortalecidos e mãos solidárias,

Criai ânimo, jamais desista de teus sonhos.

 

Não duvide, liberte-se todas as correntes,

Dê asas à tua fidelidade, com renúncias necessárias,

A Cruz te levará bem longe do que possas pensar.


É Tempo do Advento a celebrar e a viver,

Limpemos nossos corações de todas as tralhas,

Para que n’Ele o Verbo venha e faça Sua Divina morada. Amém.

 

 

PS: Fontes – Is 35,1-6ª.10; Sl 145, Tg 5,7-10; Lc 11,2-11

Em poucas palavras...

                                                           


O julgamento final

“No entardecer de nossa vida seremos julgados pelo amor” (1)

 

(1) São João da Cruz – séc. XVI

Trindade Santa: fonte inesgotável de riquezas

                                                   


Trindade Santa: fonte inesgotável de riquezas

No dia 14 de dezembro, celebramos a memória do Presbítero São João da Cruz (séc. XVI), e a Liturgia das Horas nos apresenta uma pequena parte de um dos seus textos: “Do Cântico espiritual de São João da Cruz”.

“Embora os Santos Doutores tenham explicado muitos Mistérios e maravilhas, e pessoas devotadas a esse estado de vida os conheçam, contudo, a maior parte desses Mistérios está por ser enunciada, ou melhor, resta para ser entendida.

Por isso é preciso cavar fundo em Cristo, que Se assemelha a uma mina riquíssima, contendo em Si os maiores tesouros; nela por mais que alguém cave em profundidade, nunca encontra fim ou termo. Ao contrário, em toda cavidade aqui e ali novos veios de novas riquezas.

Por este motivo, o Apóstolo Paulo falou acerca de Cristo: N’Ele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência de Deus (Cl 2, 3).

A alma não pode ter acesso a estes tesouros, nem consegue alcançá-los se não houver antes atravessado e entrado na espessura dos trabalhos, sofrendo interna e externamente e sem ter primeiro recebido de Deus muitos benefícios intelectuais e sensíveis e sem prévio e contínuo exercício espiritual.

Tudo isto é, sem dúvida, insignificante; são meras disposições para as sublimes profundidades do conhecimento dos Mistérios de Cristo, a mais alta sabedoria a que se pode chegar nesta vida.

Quem dera reconhecessem os homens ser totalmente impossível chegar à espessura das riquezas e da sabedoria de Deus! Importa antes entrar na espessura das labutas, suportar muitos sofrimentos, a ponto de renunciar à consolação e ao desejo dela. Com quanta razão a alma, sedenta da divina sabedoria, escolhe antes em verdade entrar na espessura da Cruz.

Por isso, São Paulo exortava os efésios a não desanimarem nas tribulações, a serem fortíssimos, enraizados e fundados na caridade, para que pudessem compreender, com todos os Santos, qual a largura, o comprimento, a altura, a profundidade, e conhecer o Amor de Cristo, que ultrapassa todo conhecimento, a fim de serem cumulados até receber toda a plenitude de Deus (Ef 3, 17-19).

Já que a porta por onde se pode entrar até esta preciosa sabedoria é a Cruz, e é porta estreita, muitos são os que cobiçam as delícias que por ela se alcançam; pouquíssimos os que desejam por ela entrar.”

Em pleno Tempo do Advento contemplemos o Mistério escondido em Cristo Jesus.

Tenhamos o mesmo propósito que esta reflexão nos provoca: Cavemos fundo em Cristo, redescubramos em cada encontro com Ele riquezas infinitas.

Assim acontece com quem fez um encontro pessoal com Ele, e não apenas com suas ideias, reduzindo Sua proposta a um elenco de boas normas de conduta.

Quem O encontrou como Pessoa e acolheu a Sua mensagem, sente o desejo de reencontrá-Lo sempre na Oração pessoal, mas de modo mais sublime e intenso na Eucaristia, que é fonte e ápice de toda a vida da Igreja.
                                       
Vivamos cada momento como o momento do encontro e reencontro com o Senhor.  

“É preciso cavar fundo em Cristo”

                                                          

“É preciso cavar fundo em Cristo”

Retomo uma pequena citação Do Cântico Espiritual do Presbítero São João da Cruz para meditação necessária neste Tempo do Advento: Tempo de Oração e vigilância.

Por isso é preciso cavar fundo em Cristo,
que Se assemelha a uma mina riquíssima, contendo
em Si os maiores tesouros; nela por mais que alguém
cave em profundidade, nunca encontrará fim ou termo. Ao contrário,
em toda cavidade aqui e ali novos e veios de novas riquezas.”

Em algumas coisas podemos chegar à exaustão. Nada mais de novo a encontrar. Algumas até com certa previsibilidade podemos afirmar que chegaremos à exaustão. Outras vão surpreendendo, mas inevitavelmente chegaremos ao mesmo ponto.

Pode ocorrer também que, pela nossa condição de imperfeição, cheguemos a alcançar o limite de nossa compreensão, bem como a do outro.

Bem diferente, porém, é Cristo. Que feliz comparação o Místico São João da Cruz fez: “Cristo uma mina riquíssima contendo em Si os maiores tesouros”.

De fato, quanto mais nos aprofundamos no conhecimento do Senhor, mais ainda por Ele nos enamoramos, em sedução que traz consigo a vida, a alegria, a realização, o sentido de todo o existir.

Evidentemente, este “cavar fundo em Cristo” implica na disponibilidade, entrega, confiança, carregar a cruz, nutrir-se por uma espiritualidade verdadeiramente Eucarística e também das graças que os demais Sacramentos possam oferecer.

Advento é tempo de avaliarmos o quanto estamos “cavando fundo em Cristo”. O quanto estamos aprofundando nossa fé n’Ele que veio, vem e virá. Como e quanto nos empenhamos em descobri-Lo e redescobri-lo a cada instante.

Santo Agostinho com palavras semelhantes disse: Deus é um Mistério tão inextinguível, que uma vez compreendido ainda falta tudo para compreendê-Lo.

A Trindade Santa é para nossa alegria, nosso gozo espiritual com ânsias de eternidade, verdadeiramente um Mistério inesgotável.

Que o Tempo do Advento seja este desejo e procura; procura e desejo. Amor por Ele e Encontro, para que O encontrando O amemos, como afirmou Santo Anselmo. 

A escada secreta da contemplação divina

                                                                     

A escada secreta da contemplação divina

Se todas as luzes do mundo se apagassem, se todas as nossas seguranças desaparecessem, se todas as nossas forças nada mais pudessem, seria ainda o momento propício para que nos abandonássemos em Deus. Nada poderia nos dispensar do enfrentamento da “Noite Escura”. Cito apenas o início do poema de São João da Cruz para dela falar:

“Em uma noite escura
De amor em vivas ânsias inflamada,
Oh! Ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Estando já minha casa sossegada.

Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh! Ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Estando já minha casa sossegada...”

O cristão, ainda que com medo, vai ao encontro desta noite, pois sabe que é através desta noite escura que brilhará a luz de Deus. Atenho-me a esta frase: “pela secreta escada, disfarçada...” A escada secreta, de que nos fala o poema, é símbolo da Cruz que deve ser carregada cotidianamente – “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga”. 

Escada que haveremos de subir (entenda-se escada como a cruz que devemos com confiança carregar). A mesma escada já mencionada no Antigo Testamento, quando retrata o sonho de Jacó. A escada que liga o céu e a terra (Gn 28,12), e pela qual todos devemos subir se quisermos entrar na glória e contemplar as delícias do paraíso, e que com o tempo passou a ser identificada como a escada mística do Amor Divino, segundo São Bernardo e Santo Tomás de Aquino: a alma saindo de si mesma e subindo até Deus, pois o amor é semelhante ao fogo: “Sempre sobe para as alturas, com apetite de engolfar-se no centro de sua esfera”.

Apresento, portanto, os dez degraus desta escada.

Primeiro degrau: A alma fica enferma salutarmente – “Conjuro-vos, filhas de Jerusalém, que se encontrardes o meu Amado, lhe digais que estou enferma de amor” (Ct 5,8). Uma enfermidade que não é para morrer, mas para glorificar a Deus, porque deste modo se desfalece para o pecado e para tudo aquilo que não agrada a Deus. Em nada encontra gosto, apoio ou consolo; em nada pode afirmar-se, a não ser em Deus.

Segundo degrau: A busca de Deus sem cessar – “Buscando-O de noite em seu leito, não O achou” “Levantar-me-ei e buscarei Aquele a quem ama a minha alma” (Ct 3,1-2), e ainda o Sl 104,4 – “Buscai sempre a face de Deus, e, buscando-O em todas as coisas, em nenhuma reparai, até achá-Lo”. Tudo que se  pensa, fala, come, cuida... tudo que se faça é em relação ao Amado. Numa palavra, a alma vive intensamente ânsias de amor.

Terceiro degrau: A alma age e recebe o calor para não desfalecer  há um incêndio de amor que vai ardendo na alma, de modo que ela se sente abrasada: a alma tem grandes pesares e penas por causa do pouco que faz pelo Amado. Sente que por mais que faça ainda é pouco e acompanhado da imperfeição.

Quarto degrau: Disposição para sofrer sem se fatigar em favor de seu Amado. Santo Agostinho afirmou que havendo amor, todas as coisas grandes, graves e pesadas se tornam nada – “Põe-me como um selo sobre teu coração, como um selo sobre teu braço; porque o amor é forte como a morte, e o zelo do amor é tenaz como o inferno” (Ct 8,6). A alma abrasada de amor tão sincero anda sempre em busca de seu Deus e com o desejo de padecer por Ele. A alma assim não se tem nem descansa coisa alguma até que encontre o Amado.

Quinto degrau: A alma deseja e cobiça a Deus impacientemente – a alma está sempre pensando em encontrar o Amado. Quando não vê seu desejo concretizado, desfalece em sua ânsia –“Suspira e desfalece minha alma, desejando os átrios do Senhor”. A alma que ama ou vê o Amado ou morre. A alma se nutre de amor, pois conforme a fome é a fartura.

Sexto degrau: A alma corre para Deus com grande ligeireza, e muitas vezes consegue n’Ele tocar  Não desfalece, corre pela esperança, porque o amor deu forças à alma; a fez voar com muita rapidez – “Os santos que esperam em Deus adquirirão sempre novas forças, terão asas como as da águia” (Is 40,31). Esta ligeireza deve-se ao fato de que a caridade nela está dilatada e a purificação quase pronta.

Sétimo degrau: A alma se tornou ousada com veemência. Alcança de Deus tudo quanto apraz pedir, bem como disse Davi  “Deleita-te no Senhor e dar-te-á Ele as petições do teu coração” (Sl 36,4) e ainda “Beije-me com um beijo de Sua boca” (Ct 1,1). É Deus quem confere esta ousadia e confiança, mas necessário é que a alma mantenha a humildade, para que não caia dos degraus já alcançados. O amor que sente pelo Amado não lhe confere a menor possibilidade de suplicar erroneamente.

Oitavo degrau: Apoderar-se do Amado e unir-se a Ele – A alma segura não larga o seu Amado –“Achei o que ama a minha alma, agarrei-me a Ele e não o largarei mais” (Ct 3,4). Não se permanece neste degrau exceto por breves tempos; tudo isto só será pleno na glória futura.

Nono degrau: A alma arde suavemente  é o degrau dos perfeitos que ardem no amor de Deus com muita suavidade. Ardor cheio de doçura e deleite, produzido pelo Espírito Santo, devido a sua união com Deus. Arder interiormente em suavíssimo amor como aconteceu aos Apóstolos em Pentecostes (cf. São Gregório).

Décimo degrau: A alma assimila-se totalmente a Deus em virtude da clara visão que ela possui - São poucos os que aqui chegam. Purificados pelo amor não passam pelo purgatório – “Bem aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). E São João assim exprimiu – “Sabemos que seremos semelhantes a Ele” (1Jo 3,2). A alma não terá a mesma capacidade de Deus, mas será a imagem de Deus por participação até que chegue o grande dia que o Senhor disse –“Naquele dia já não me perguntareis coisa alguma” (Jo 16,23). Por ora, haverá sempre algo escondido para a alma, na proporção do que lhe falta para chegar à total assimilação com a Divina Essência – Deus.

Resumindo:

01 - A alma fica enferma salutarmente;
02 - A busca de Deus sem cessar;
03 - A alma age e recebe o calor para não desfalecer;
04 - A disposição para sofrer sem se fatigar em favor de seu Amado;
05 - A alma deseja e cobiça a Deus impacientemente;
06 - A alma corre para Deus com grande ligeireza e muitas vezes consegue n'Ele tocar;
07 - A alma se tornou ousada com veemência;
08 - Apoderar-se do Amado e unir-se a Ele;
09 - A alma arde suavemente;
10 - A alma assimila-se totalmente a Deus em virtude da clara visão que ela possui.

Conhecedores da escada, subamos, sem jamais desistir. Enfrentemos nossas noites escuras. Carreguemos nossa cruz...


PS: A apresentação acima tem como fonte a Introdução de Pe. Felipe Sainz de Baranda, Prepósito Geral da Ordem os Carmelitas Descalços, na Ed. Do Pe. Simeão da Sagrada Família: “Juan de La Cruz, Obras Completas” para a obra de São João da Cruz – “Noite Escura”. In São João da Cruz – Doutor da Igreja – Obras Completas – Ed. Vozes, Petrópolis – RJ.

Peregrinar na esperança, crescer no amor fraterno

                                                   


Peregrinar na esperança, crescer no amor fraterno
 
Na passagem da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 12,9-12), temos um "pequeno decálogo" que nos ilumina no testemunho de nossa fé e adesão ao Senhor, sobretudo para nós, Seus discípulos missionários:
 
“O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros com terna afeição, prevenindo-vos com atenções recíprocas. Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, alegres por causa da esperança, fortes nas tribulações, perseverantes na oração”.
 
Vejamos o  “pequeno decálogo:
 
1.           Viver um amor sincero;
2.           Detestar o mal, apegando-se ao bem;
3.       Viver o amor fraterno, que nos une aos outros com terna afeição;
4.           Cuidar dos relacionamentos com atenções recíprocas;
5.           Ser zeloso e diligente;
6.           Ser fervoroso de espírito;
7.           Servir sempre ao Senhor;
8.           Ser alegre por causa da esperança;
9.           Forte nas tribulações;
10.        Perseverante na oração.
 
Fundamental que, em todo o tempo, nossas comunidades se empenhem em viver relações mais fraternas, contando com a presença e ação do Espírito, para pôr em prática este “pequeno decálogo”, dando razão de nossa esperança, numa fé íntegra e esforçada caridade.
 
Oremos:
 
Vinde, Espírito Santo, sobre a Igreja, com o amor entranhado de um irmão mais velho, para que nossa alma ao receber a Vossa luz, seja elevada acima da inteligência humana, e veremos o que antes ignorávamos.
 
Vinde, Espírito Santo,  como raios de luz para iluminar também os que se encontram nas trevas, e assim como ao nascer do sol, recebam nos olhos a Sua luz,  enxergando claramente coisas que até então não viam.
 
Vinde, Espírito Santo, sobre a Igreja, para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar nossa alma e a de todos que nos foram confiados.  Amém!  (1)
 
(1) Inspirado nos escritos do Bispo de Jerusalém, São Cirilo (séc. IV)

É próprio do amor de Deus...

                                                                 

É próprio do amor de Deus...

Mais do que falar do amor de Deus, é preciso vivê-lo intensamente, escrevendo memoráveis páginas de resposta ao Seu amor.

Mergulhemos no mar da misericórdia de Deus e a felicidade pura, verdadeira, encontraremos, pois é próprio do amor de Deus:

- Amar até mesmo os inimigos; amor sem limites, barreiras, méritos, conceitos;

- Falar no mais profundo de nós, dando a nós o melhor d’Ele, para que sejamos melhores a cada dia;

- Doer até as entranhas do coração em intensa compaixão, agindo em nós ainda que não o percebamos ou não nos predisponhamos, pois Seu amor é persistente;

- Fazer-se presente quando menos imaginamos, e quando mais precisamos;

- Abrir-se ao novo, e de forma diferente, encaminhando luz a quem precisa, mas não dispensa nossas renúncias para nos oferecer algo infinitamente maior e melhor;

- Vir em nosso socorro em necessários discernimentos;

- Suportar a rejeição, para que sejamos mais bem aceitos, porque regenerados, ainda que não merecedores, nos ama ainda que não saibamos ou não percebamos, ou até mesmo O ignoremos;

- Expressar-se com faces de misericórdia, em atitudes de perdão que possibilitam sempre um novo recomeço, deixando marcas para sempre lembradas.

É próprio do amor de Deus...

Em poucas palavras...

 


Deus quer a nossa felicidade

"Não há evangelização que não leve a uma libertação. O alegre anúncio do Cristo libertador só é digno de fé se seus mensageiros sabem vivenciá-lo e ser testemunhas de alegria...

Deus quer a felicidade dos homens, seu bom êxito. Os cristãos devem saber que a boa nova da salvação é uma mensagem de alegria e libertação.” (1)

 

(1)               Missal Dominical – Editora Paulus – 1995 – p. 18

Alegremo-nos, o Senhor está para chegar! (IIIDTAA)

Alegremo-nos, o Senhor está para chegar!

“Alegrai-vos sempre no Senhor, de novo vos digo,
alegrai-vos: O Senhor está perto” (1)

A Liturgia do 3º Domingo do Advento (ano A) é um convite à alegria pela proximidade do Senhor que está para chegar, cujo nascimento no Natal haveremos de celebrar.

Estamos, portanto, no Domingo da Alegria, que a Igreja chama de Domingo “Gaudete”.

A Palavra nos convida a não nos inquietarmos com nada: “Alegrai-vos, pois a libertação está para chegar”.

Na primeira Leitura, ouvimos a passagem do Profeta Isaías (Is 35, 1-6a.10), em que este tem o desejo de despertar a esperança e a confiança nos exilados.

Está próxima a chegada de Deus, que conduzirá o povo para a Terra da liberdade, da vida plena e feliz.

Trata-se de um hino em que se convida à autêntica alegria, deixando de lado todo desânimo, pois a ação de Deus consiste em gerar vida em abundância.

O Povo de Deus vive um segundo êxodo, ainda mais grandioso que o primeiro. É preciso que olhe o mundo com os olhos da esperança, jamais com os óculos do desespero, para não sucumbir diante das forças da morte que não prevalecem para sempre.

Nisto consiste o verdadeiro Advento: a contemplação da intervenção divina; e ser, no mundo, como o profeta Isaías uma testemunha da alegria, da confiança em Deus e da esperança que n’Ele não decepciona.

De fato, ser Profeta é remar contra a maré, vendo o mundo com os olhos de Deus. É preciso, no mundo, ontem, hoje e sempre, homens e mulheres que deem este testemunho.

Na passagem da segunda Leitura (Tg 5,7-10), Tiago exorta a comunidade a não desistir da espera do Senhor que vem, cultivando a paciência e a confiança.

Tiago é um sábio judeu-cristão que repensa, de maneira muito original, as máximas da sabedoria judaica, vividas plenamente nas Palavras e ação do Senhor.

Preocupa o autor o abuso da sobreposição da fé às obras, bem como o abuso dos ricos sobre os pobres.

Exorta à perseverança, à união e a não perda dos valores cristãos, apresentando para isto, a proposta de uma autêntica vida cristã.

Acentua nesta passagem a esperança que deve iluminar o coração de todos na comunidade, pois a libertação está para chegar, mas a confiança no Senhor não nos permite o cruzar dos braços.

Esta esperança, acompanhada da paciência e confiança, é que dá coragem na luta, no bom combate da fé, em sua perfeita tradução em obras.

Esperar com confiança, mas sem revolta. Empenhar-se prontamente para o Projeto Libertador de Deus, que significa para nós a verdadeira preparação para o Natal.

Na passagem do Evangelho (Mt 11,2-11), refletimos sobre a ação de Jesus que veio para comunicar vida, alegria e luz. Um Reino de justiça e de paz com Ele se inaugura. 

A passagem pode ser dividida em duas partes: na primeira, Jesus responde a pergunta de João Batista, confirmando que Jesus é Ele mesmo, o Messias esperado.

Na segunda, temos a descrição, pelo próprio Jesus, de Sua Pessoa, mensagem e missão.

A mensagem central é que Deus vem sempre ao nosso encontro, jamais nos abandona e sempre continuará a vir, oferecendo-nos a Salvação.

Com Ele tudo se transforma: os desesperados encontram a esperança; os surdos recuperam a possibilidade de escutar a Sua Palavra em comunicação autêntica; os cegos voltam a enxergar um novo horizonte; os coxos e paralíticos reencontram a liberdade, o dinamismo para a vida e, finalmente, os pobres, correspondendo ao Amor de Deus, vivem a partilha e a solidariedade. O mundo marcado pela mentira e fingimento dará lugar ao mundo novo marcado pela verdade, sinceridade.

Com Jesus, na acolhida de Sua Pessoa e Sua Palavra, tudo se renova. Nisto consistirá para nós o Natal genuinamente cristão.

É esta a mensagem que a Liturgia do Domingo “Gaudete” nos apresenta: alegria verdadeira somente com Deus, e em Deus, pode ser encontrada; e esta tão somente é alcançada no exato momento que reconhecemos nossa fragilidade e nos abrimos à manifestação do poder de Deus e de Sua presença, que comunica graça e perdão.

Somos feitos por Deus para a alegria. Que jamais a percamos, cultivando a paciência necessária, e o nosso olhar de fé seja sempre renovado.

A Liturgia do Advento, os momentos pessoais, familiares e comunitários de Oração e uma boa confissão devem nos transformar.

Reflitamos:

Ø Como estamos preparando o Natal do Senhor?
Ø Como andam nossa alegria, confiança e esperança no Senhor?

Ø Qual é o fundamento de nossa alegria?
Ø Em que consiste a verdadeira alegria que Deus quer nos oferecer?

Ø Num mundo marcado pela depressão, tristeza, dor e morte, como ser sinal de vida e de alegria?
Ø A alegria tem sido uma marca de nossas comunidades?


A Festa do Natal do Senhor se aproxima, muito mais que comemorada, é preciso que seja celebrada e, assim, a alegria e a esperança invadirão nosso coração. No coração dos que creem irromperá a alegria e a luz do Natal.

Não deixemos lugar algum para o desânimo, desesperança. Descruzemos os braços e abramos o coração.

Maranathá! Vem Senhor Jesus!

(1) Antífona de entrada da Missa do 3º Domingo do Advento. 

Vai nascer a flor... (IIIDTAA)

                                                                   

Vai nascer a flor...

Da esperança, na planície árida dos desesperados.
Da confiança, na planície inconstante dos inseguros.
Da alegria, na planície obscurecida dos entristecidos.
Da ação, na planície inibidora de sagrados compromissos.

Vai nascer a flor...

Da pureza, no cume da montanha, no coração dos inocentes.
Da verdade, no cume da montanha dos que não se curvam à mentira.
Da liberdade, no cume da montanha dos que a nada se escravizam.
Da sinceridade, no cume da montanha, dos que são transparentes.

Vai nascer a flor... 

Da acolhida, no vale dos que são rejeitados.
Da ternura, no vale dos que suplicam atenção.
Da valorização, no vale dos que são pisoteados.
Da dignidade sagrada, no vale dos que são violados.

Vai nascer a flor... 

Da fé, no abismo profundo do coração dos que não esmorecem.
Da esperança, no abismo profundo do coração dos que não vacilam.
Da caridade, no abismo profundo do coração dos que cultivam o amor.
Das virtudes divinas, que fazem florir o mais belo jardim.

Vai nascer a flor... 

De mil nomes possíveis, no canteiro imenso do mundo,
Porque assim faz Deus com Suas sementes imensuráveis,
Se acolhidas e regadas com Oração, e por vezes com lágrimas,
Na morte das sementes, vidas novas renascidas – Ressuscitadas.

Vai nascer a flor... 

Que perdemos provisoriamente lá no belo Paraíso,
Mas que pela fidelidade à Palavra vivida,
Com o arado da Cruz, o mundo preparado,
Novo céu, nova terra floridos: esperados, realizados.

Vai nascer a flor... 

No coração dos que não fixaram âncoras no passado,
Mas que se puseram a caminho com o Senhor:
Ora atravessando o deserto com seus desafios,
Ora a turbulenta água do mar da existência.

Vai nascer a flor...

No coração dos poetas e dos Profetas
Que sonham e descrevem um mundo diferente, renovado...
Que olham para o futuro com os olhos de Deus, o mais belo olhar.
Que veem, além do horizonte do sol poente, um novo amanhecer.

Vai nascer a flor...

No coração dos que não perdem a confiança na humanidade,
Que se abrem ao Mistério do Amor revelado pela Santíssima Trindade,
Que nutrem e germinam, no tempo presente, flores de eternidade. Amém.

Vai nascer a flor...



PS: Oportuno para refletirmos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,1-13) - onde-se lê "planície árida", podemos ler o "deserto" e aprofundar o tema do Jubileu da Esperança - 2025. Também para que vivamos um fecundo Tempo do Advento, tempo de esperança, mudança e alegria pela vinda do Verbo que fez e fará morada entre nós.

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