quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Dai-nos, Senhor, prudência e simplicidade de coração

                                                         

Dai-nos, Senhor, prudência e simplicidade de coração 

Sejamos enriquecidos pela Homilia da divina fonte da Tradição da Igreja: a Homilia do Bispo e doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. IV).
 
“Enquanto somos ovelhas, vencemos e ficamos por cima, seja qual for o número dos lobos que nos rodeiam. Se, ao contrário, formos lobos, seremos vencidos; não teremos a ajuda do pastor. Pois este apascenta ovelhas, não lobos; abandonar-te-á e te deixará, porque não lhe dás ocasião de mostrar seu poder. 

O que o Senhor quer dizer é isto: Não fiqueis perturbados quando, ao vos enviar para o meio dos lobos, Eu vos ordeno ser como ovelhas e pombas. Eu vos poderia proporcionar o contrário: enviar-vos sem mal algum em vista, sem vos sujeitar ao lobo qual ovelha, porém, tornar-vos mais terríveis do que leões. 

Convém que seja assim. Isto vos fará mais refulgentes e proclamará meu poder. Dizia o mesmo a Paulo: Basta-te minha graça, pois a força se realiza na fraqueza (2Cor 12,9).
 
Fui Eu mesmo que estabeleci isto para vós. Ao dizer, pois: Eu vos envio como ovelhas (Lc 10,3), subentende: Não desanimeis por este motivo; Eu sei, certamente, Eu sei que assim sereis invencíveis. 

Em seguida, para que não viessem a pensar que poderiam conseguir algo por si mesmos, sem demonstrar que tudo vem da graça, e, assim, não julgassem ser coroados sem méritos, diz: Sede prudentes como serpentes e simples como pombas (Mt 10,16). 

Que vantagem terá nossa prudência entre tantos perigos? dizem eles. Como poderemos ter prudência, sacudidos por tantas ondas? Por maior que seja a prudência que uma ovelha possua, no meio de lobos, e de tão grande número de lobos, que poderá fazer? 

Seja qual for a simplicidade de uma pomba, que lhe adiantará, diante de tantos gaviões ameaçadores? Para aqueles que não entendem, nada certamente. Para vós, porém, será de muito proveito.

Mas vejamos a prudência que aqui se exige: a da serpente. Esta expõe tudo, até mesmo se lhe cortam o corpo, não se defende, contanto que proteja a cabeça. Assim também tu, diz Ele, à exceção da fé, entrega tudo: dinheiro, corpo, até mesmo a vida. 

A fé é a cabeça e a raiz; salva esta, tudo o mais que perderes, recuperarás depois ao dobro. Por isso, não ordenou ser só simples, nem só prudente; mas uniu as duas coisas, a fim de serem verdadeiramente uma força. Ordenou a prudência da serpente para não receberes golpes mortais; e a simplicidade da pomba, para não te vingares dos que te fazem o mal nem afastares por vingança os perseguidores. Sem ela, de nada vale a prudência. 

E não pense alguém ser impossível cumprir este preceito. Mais do que todos, conhece Ele a natureza das coisas; sabe que a ferocidade não se aplaca com a ferocidade, mas com a brandura.” 

Sejamos fortalecidos para maior correspondência na realização do Projeto do Senhor, na construção do Seu Reino, para que de fato Ele reine em nossos corações e em todo o universo. 

Se formos ovelhas do rebanho do Senhor, com Ele, venceremos todas as dificuldades, ameaças, provações, pois experimentaremos e testemunharemos o poder de Deus que age em nossa vida; de outro lado, não basta estar no rebanho, pois a falta de fidelidade e coerência de fé nos fará lobos, e então seremos vencidos. 

Enviados como cordeiros em meio aos lobos, é a ocasião em que o Senhor manifesta a Sua graça em nossa fraqueza. Não há porque desanimar, com Ele, somos invencíveis, como o próprio Paulo afirmou, mais que vencedores (Rm 8, 37). 

Urge que sejamos prudentes como as serpentes (não permitir o golpe mortal) e simples como as pombas (não fomentar a lógica da violência), a fim de que a ferocidade seja vencida com a brandura. 
 
Mantenhamos viva e intacta a fé, contra toda dificuldade e esperança.

Perseveremos no caminho da caridade, do amor, do perdão, que são marcas distintivas dos discípulos missionários do Senhor. 

Supliquemos ao Senhor para que Ele nos dê, por Seu Espírito, a prudência e a simplicidade necessárias, para que continuemos a missão a nós confiada. 

Oremos:
 
Senhor nosso Deus,
Que sois o refúgio na tribulação,
Força na fraqueza e conforto no sofrimento,
Concedei-nos a prudência e sabedoria necessárias,
Para que, como membros do Vosso rebanho,
Com coragem, combatendo o bom combate da fé,
Um dia, a glória da eternidade mereçamos receber,
E a Vossa glória celestial para sempre contemplar.
Amém. 

Vigiar e Orar

                                                                


Vigiar e Orar

Tempo de vigiar e orar, tempo de a fé viver,
para solidificar a esperança na vivência de uma
autêntica caridade para com o próximo.

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 21,20-28).

Trata-se de um convite que o Senhor nos faz para que preparemos Sua vinda gloriosa, tornando, assim, nossa vida mais luminosa e alegre; portanto, uma mensagem de alegria, confiança, esperança e compromisso na acolhida do Filho do Homem, Jesus, que faz acontecer o Projeto de um mundo novo.

Retrata os últimos dias da vida terrena de Jesus e a iminente destruição de Jerusalém (anos 70 D.C.), como de fato aconteceu.

Jesus anuncia uma Palavra de ânimo, “é preciso levantar a cabeça porque a libertação está próxima” (Lc 21,28). 

A comunidade não pode se amedrontar, mas deve abrir o coração à esperança, em atitude de vigilância e confiança.

A salvação não pode ser esperada de braços cruzados. Ela nos é oferecida como dom: Jesus vem, mas é preciso reconhecê-Lo nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e buscam a libertação.

É preciso deixar que Ele transforme nossa mente e o coração para que Ele apareça em nossos gestos e palavras, em toda a nossa vida.

Celebramos a esperança de um mundo novo que há de vir e que depende de nosso testemunho: o Reino vem e acontece como realidade escatológica, ou seja, não será uma realidade plena neste tempo em que vivemos. Será plenitude somente depois que Cristo destruir definitivamente o mal que nos rouba a liberdade e ainda nos faz escravos.

Trabalhamos e nos empenhamos pelo Reino, que é já e ainda não, pois ainda que muitas coisas tenhamos feito e o mundo tornado melhor, ainda não será o “tudo melhor” que Deus tem reservado para nós. 

O Reino de Deus é uma realidade inesgotável, imensurável e indescritível, e o vemos em sinais.

Por ora, é preciso vigiar e orar, numa esperança que nos leve a viver uma caridade ativa tornando fecunda a nossa fé, ajudando o próximo a se reerguer de novo.

“A esperança não decepciona”

                                                             

“A esperança não decepciona”

Num mundo marcado por desorientações generalizadas, intolerância religiosa, angústias cotidianas, pandemias, diante de pequenos e grandes problemas ou desafios; o sentido da precariedade e da provisoriedade; da liquidez do tempo e da própria vida (modernidade líquida, segundo Zigmunt Bauman), e tantos outros fatos, que poderiam ser mencionados, como falar da esperança, ou mais ainda, como manter viva a esperança?

Nas páginas da Sagrada Escritura, encontramos o anúncio de um Deus que salva e liberta Seu povo, mantendo viva a Sua esperança, como vemos na passagem do Evangelho de Lucas (Lc 21,20-28).

É exatamente nos momentos difíceis, em que a perturbação e a angústia parecem querer nos apoderar, mantendo-nos prisioneiros de suas cadeias, é que temos que manter a coragem, firmados na esperança de que a libertação está próxima:

Quando estas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, pois a libertação de vocês está próxima”, nos disse Jesus, nosso Senhor” (Lc 21,28).

Manter viva a esperança contra toda a esperança, como nos falou o Apóstolo Paulo aos romanos (Rm 4,18), referindo-se a Abraão: “Esperando contra toda esperança, ele acreditou. E assim ele se tornou pai de muitas nações, como lhe fora dito”.

Portanto, não se trata de uma esperança ingênua e inconsequente, mas uma esperança que se apoia na constância e na perseverança, com seu fundamento em Cristo:

“Portanto, tendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Por meio d’Ele, através da fé, tivemos acesso a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Mas não apenas isso. Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança produz a experiência comprovada, a experiência comprovada produz a esperança. E a esperança não decepciona, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,1-5).

Deste modo, cremos que somente por meio d’Ele a nossa esperança se torna atuação da libertação e a nossa vida se torna vida em liberdade (libertação de nós mesmos para a abertura necessária ao próximo e suas necessidades).

É possível falar e manter viva a esperança, porque sabemos em quem confiamos, e tudo podemos n’Aquele que nos fortalece (Fl 4,13).

Cremos que Deus é o nosso refúgio na tribulação, assim como é a nossa força em nossa fraqueza, e nos conforta no sofrimento, concedendo-nos o perdão de nossas culpas, reencontramos a alegria na experiência viva e contínua de Sua misericórdia, que nos renova, redime e nos recoloca no caminho, sem que nos curvemos diante das dificuldades e aparentes derrotas.

Crer na vida nova do Ressuscitado, é fazer da vida constantes passagens, até que façamos a mais importante de todas: a passagem definitiva da morte para a vida eterna.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

“Nunc Dimittis”

                                                          


“Nunc Dimittis”

A Igreja reza à noite, todos os dias, a Oração das Completas, e nela está contido o “Nunc Dimittis” - "agora deixe partir",  rezado por Simeão, homem justo e piedoso, quando da apresentação do Senhor no Templo (Lc 2,29-32).

Cristo, Luz das nações e glória de Seu povo, é um cântico evangélico que pode também ser rezado por quantos puderem nas orações da noite, ao terminar um dia de intensas atividades, preocupações e eventual cansaço, para um bom descanso e um novo dia bem iniciado:

“Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

“–29 Deixai, agora, Vosso servo ir em paz,
conforme prometestes, ó Senhor.

30 Pois meus olhos viram Vossa salvação
31 que preparastes ante a face das nações:

32 uma Luz que brilhará para os gentios
e para a glória de Israel, o Vosso povo.”

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. 
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

A Palavra do Senhor é luz em nosso caminho

                                                                      

A Palavra do Senhor é luz em nosso caminho

Reflexão à luz da passagem da Carta de São Pedro (1Pd 5,5b-7):

“Revesti-vos todos de humildade no relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. Rebaixai-vos, pois, humildemente, sob a poderosa mão de Deus, para que, na hora oportuna, Ele vos exalte. Lançai sobre Ele toda a vossa preocupação, pois é Ele quem cuida de vós”.

À luz das palavras do Apóstolo, como discípulos missionários do Senhor, é urgente solidificar os pilares da evangelização (Palavra, Pão da Eucaristia, Caridade e Ação Missionária), rever e renovar a alegria da missão.

Assim, retomemos os verbos: “revesti-vos”, “rebaixai-vos” e “lançai sobre Ele”, numa breve reflexão.

Urge que sejamos todos revestidos de humildade no relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos e dá a Sua graça aos humildes.

Maria também nos falou sobre esta verdade, como podemos ver no canto do Magnificat, que ela cantou quando de sua visita a Isabel (cf. Lc 1,46-55).

Da mesma forma, é necessário que nos rebaixemos humildemente, sob a poderosa mão de Deus, para que no tempo oportuno ele nos exalte.

Em vários momentos, junto aos Seus discípulos, Jesus falou da humildade necessária, do colocar-se a serviço dos pequenos, fazendo-se o último de todos e a serviço de todos.

Ressaltou atitudes de humildade, confiança e abertura à misericórdia de Deus, colocando-Se totalmente em Suas mãos.

No discipulado vivido, não são poucas as preocupações, inquietações, provações, adversidades. 

Nestes momentos, ressoem as palavras do Apóstolo – lançai sobre Ele toda a vossa preocupação, pois é Ele quem cuida de vós.”

Assim é nosso discipulado, como uma longa travessia no mar revoltoso, em que somos interpelados a vencer todo o medo, confiantes na presença da Trindade, que nos envolve com Seu amor e proteção, experimentando em nossas fraquezas e limitações, a onipotência da misericórdia e força divinas.

Sigamos em frente, como alegres e corajosos discípulos missionários do Senhor, revestidos de amor mútuo, crescendo na solidariedade e fortalecendo os vínculos de comunhão e fraternidade.

“Fica conosco, Senhor, suplicamos...”

                                               


“Fica conosco, Senhor, suplicamos...”
 
Na Liturgia das Horas, encontramos esta oração nas Vésperas, que nos remete ao Evangelho de Lucas (Lc 24, 13-35), que podemos repetir em cada entardecer, certos de que a noite cai lentamente, cede lugar ao anoitecer; como o sol poente cederá lugar à lua, em suas fases naturais:
 
“Ficai conosco, Senhor Jesus, porque a tarde cai e, sendo nosso companheiro na estrada, aquecei-nos os corações e reanimai nossa esperança, para Vos reconhecermos com os irmãos nas Escrituras e no partir do Pão. Vós, que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo”. (1)
 

Oremos:
 
Fica conosco, Senhor, e ao participarmos da Tua Mesa,  e na partilha do Pão da Eucaristia, reconheçamos Tua real presença, como os discípulos que Te reconheceram ao partir o Pão, e os olhos foram abertos.
 
Fica conosco, Senhor, e jamais nosso coração seja endurecido e tardio para entender o Mistério de Tua Paixão, Morte e Ressurreição; e que a Tua Palavra nos ilumine e faça arder nosso coração.

 
Fica conosco, Senhor, sobretudo para que solidifiquemos nossa amizade e intimidade contigo, de modo especialíssimo ao participarmos da Ceia da Eucaristia.

 
Fica conosco, Senhor, em todos os momentos, favoráveis ou adversos, obscuros ou luminosos, opacos ou radiantes de luz, alegres ou tristes, angustiados ou cheios de esperança.

 
Fica conosco, Senhor, fortaleça nossa fé, reanima nossa esperança e inflama nossos corações, na mais pura e desejável caridade para com o nosso próximo.

 
Fica conosco, Senhor, pois és nosso “companheiro na estrada”, companheiro de viagem, sobretudo quando passarmos por vales tenebrosos e montanhas de dificuldades.

 
Fica conosco, Senhor, na travessia de desertos áridos da existência, a fim de que vençamos as tentações (ter, poder e ser), porque, contigo, mais que vencedores o somos.

 
Fica conosco, Senhor, a Ti nos dirigimos confiantes, pois Tu vives e Reinas com o Teu Pai, na comunhão com o Espírito Santo, na mais perfeita comunhão de amor.  Amém. 

 

(1)   Oração das Vésperas- Liturgia das Horas (cf Lc 24,13-35)

Vigiar e orar em todo o tempo (IDTAA)

 


Vigiar e orar em todo o tempo

"Eis que venho em breve, trazendo comigo a minha recompensa, para retribuir a cada um segundo as suas obras." (Ap 22,12)

Num amanhecer, entardecer ou anoitecer,
Não sabemos a hora que Ele voltará:
Ele que veio, vem e virá – Maranathá!
 
Em poucos dias, iniciaremos o Tempo do Advento,
Marcado pela leveza e suavidade dos fatos
Que nos revelam a incansável ação divina.
 
Preparemos a celebração do Natal do Senhor.
Mais que presépios, luzes a piscar,
É no coração que a Sua Luz deve brilhar.
 
E Ele virá de modo inesperado,
Importa a vigilância necessária:
Tempo fecundo de preparação.
 
“Preparai o Caminho do Senhor”,
Ressoará para sempre a voz do Profeta,
Nas ruas e praças de nossa cidade.
 
Será a celebração do Natal do Deus Menino,
Que veio, vem e virá, na fragilidade de sempre,
Para caminhar conosco e iluminar nosso destino.
 
Soarão alegremente, nas capelas e igrejas, os sinos.
Suores de lutas e empenhos a serem derramados,
Deus Se revelará na face de uma criança: frágil Menino. Amém.

“Ai da alma em que não habita Cristo!”

                                                             

“Ai da alma em que não habita Cristo!”

Com a Homilia do Bispo São Macário (séc. IV) refletimos sobre que tipo de  “Habitação de Cristo” somos, e de que modo nos colocamos a serviço em Sua vinha, como discípulos missionários Seus.

“Deus outrora, irritado contra os judeus entregou Jerusalém como espetáculo aos gentios; e foram dominados por aqueles que os odiavam; não havia mais festas nem oblações. De igual modo, irado contra a alma por ser transgredido o Mandamento, entregou-a aos inimigos que a seduziram e a deformaram. Se uma casa não for habitada pelo dono, ficará sepultada na escuridão, desonrada, desprezada, repleta de toda espécie de imundícia.

Também a alma, sem a presença de Deus, que nela jubilava com Seus anjos, cobre-se com as trevas do pecado, de sentimentos vergonhosos e de completa infâmia. Ai da estrada por onde ninguém passa nem se ouve voz de homem! Será morada de animais.

Ai da alma, se nela não passeia Deus, afugentando com Sua voz as feras espirituais da maldade. Ai da casa não habitada por seu dono! Ai da terra sem o lavrador que a cultiva! Ai do navio, se lhe falta o piloto; sacudido pelas ondas e tempestades do mar, soçobrará! 

Ai da alma que não tiver em si o verdadeiro piloto, o Cristo! Porque lançada na escuridão de mar impiedoso e sacudida pelas ondas das paixões, jogada pelos maus espíritos como em tempestade de inverno, encontrará afinal a morte.

Ai da alma se lhe faltar Cristo, cultivando-a com diligência, para que possa germinar os bons frutos do Espírito! Deserta, coberta de espinhos e de abrolhos terminará por se encontrar, em vez de frutos, a queimada. 

Ai da alma, se seu Senhor, o Cristo nela não habitar! Abandonada, encher-se-á com o mau cheiro das paixões, virará moradia dos vícios. O agricultor, indo lavrar a terra, deve pegar os instrumentos e vestir a roupa apropriada para o trabalho; assim também Cristo, o Rei Celeste e verdadeiro agricultor, ao vir à humanidade, deserta pelo vício, assumiu um corpo e carregou como instrumento, a Cruz.

Lavrou a alma desamparada, arrancou-lhe os espinhos e abrolhos dos maus espíritos, extirpou a cizânia do pecado e lançou ao fogo toda erva e suas culpas. Tendo-a assim lavrado com o lenho da Cruz, nela plantou maravilhoso jardim do Espírito, que produz toda espécie de frutos deliciosos e agradáveis a Deus e ao Senhor”. (1)

Os “ais” acima nos interpelam:

Ai de mim se não assumir com alegria a Missão como servo e administrador da vinha do Senhor!

Ai de mim se deixar o coração tomado pelos abrolhos, ervas indesejáveis, que nos sufocam a alegria que Ele sempre quer nos oferecer...

Ai de mim se não me predispuser, permitindo no coração o Arado Divino, lavrando-o para que as Sementes Divinas possam nele serem lançadas, e os frutos por Deus esperados, abundantemente produzidos...

Ai de mim se não me deixar conduzir por Cristo, pela Sua Divina Palavra!

Ai de mim se não tiver d’Ele, mesmos pensamentos e sentimentos... Minha vida reduzir-se-á a tristezas, prantos, dores, choros, lamentos...

Mas, não!

Feliz a alma em que Cristo habita!

Oremos:

Peço-Vos, Senhor: Vem!Fazei em mim Vossa morada.
Que seja eu, embora indigno, hospedeiro do mais Belo Hóspede!

Peço-Vos, Senhor: Vem! Fazei em nós Vossa amável presença.
Que sejamos nós, embora pecadores, receptáculos de Vossa graça!
Amém!

(1) - cf. Liturgia das Horas -  Tempo Comum - Volume IV - p.521.

Tempo de vigilância e perseverança na fé

                                                               

Tempo de vigilância e perseverança na fé

                         “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!7” (Lc 21,19)

Na proximidade do final do Ano Litúrgico, a Liturgia da Quarta-feira da 34ª Semana do Tempo Comum, convida-nos a refletir sobre o sentido da História da Salvação e para onde Deus nos conduz: um mundo marcado pela felicidade plena e vida definitiva, no entanto, precedida do testemunho da fé, enfrentando as provações que se fizerem presentes.

É preciso renascer em nós a esperança, para que dela brote a coragem para o enfrentamento das dificuldades, provações próprias na construção do Reino de Deus, como vemos na passagem do Evangelho proclamada (Lc 21,12-19).

Assim foi com a História do Povo de Deus como vemos na passagem do Livro do Profeta Malaquias (Ml 4,1-2).

Trata-se do período pós-exílio, uma realidade marcada pelo desânimo, apatia e falta de confiança. O Profeta Malaquias (“o meu mensageiro”) convoca o Povo de Deus à conversão e à reforma da vida cultual, pois vivendo a fidelidade aos Mandamentos da Lei Divina reencontrará a vida e a felicidade. 

Seu anúncio sobre o Dia do Senhor é uma mensagem de confiança e esperança. Virá o Sol da Justiça. Este Sol é o próprio Jesus que brilha no mundo e insere a humanidade na dinâmica de um mundo novo, que consiste na dinâmica do Reino.

Numa situação difícil vivida pelo povo, é preciso viver a espera vigilante e ativa, reconhecendo a presença de Deus que intervém e comunica Sua força e poder. É preciso fortalecer a esperança, vencendo todo medo que paralisa.

Retomando a passagem do Evangelho, que retrata a aproximação do final da caminhada de Jesus para Jerusalém.

É no Templo de Jerusalém que realiza o Seu último discurso público acerca do cumprimento da Sua vida e da História inteira.

Na fidelidade ao Senhor, a Igreja, na realização de sua missão, também poderá sofrer dificuldades e perseguições, mas precisa manter-se confiante e perseverante.

Podemos falar em três tempos:

 O tempo da presença de Jesus e Sua missão, seguido da destruição do Templo alguns anos mais tarde;

 O tempo da missão da Igreja; 

– O tempo da vinda do Filho do Homem.

Enquanto aguardamos a segunda vinda do Senhor, Ele nos alerta para que não nos deixemos enganar por falsos pregadores (21,8); haverá catástrofes, terremotos, fome, epidemias (21,10-11), mas ainda não será o fim do mundo; assim como as perseguições serão inevitáveis para os que n’Ele crerem (21,12).

Por causa do Nome do Senhor Jesus, Seus discípulos serão levados aos tribunais e às “sinagogas”, na presença de reis e lançados nas prisões. Mas contarão sempre com a força de Deus para enfrentar os adversários e as dificuldades.

“Quem segue a Cristo poderá encontrar dificuldades, mesmo no seio da própria família; aderir a Jesus, de fato, muitas vezes comporta uma ruptura com as próprias tradições, e conflitos com o ambiente de onde se provém, a ponto de incorrer na denúncia dos próprios familiares (21,16-17). (1)

Nesta vigilância ativa e no testemunho dado é que a comunidade vivificará a fé, reencontrará a intimidade com Jesus, superará todo medo e alcançará a vida eterna plena e feliz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (21,19).

Urge a coragem e resistência para fidelidade no seguimento de Jesus Cristo no carregar da cruz cotidiana, a fim de que Ele reine verdadeiramente em nossa vida.

Considerando que “Toda a Igreja é missionária, em virtude da mesma caridade com que Deus enviou Seu Filho para a Salvação de todos os homens. E única é sua missão, a de se fazer próxima de todos os homens e todos os povos, para se tornar sinal universal e instrumento eficaz da paz de Cristo (RdC 8)” (3), ao término de mais um Ano Litúrgico, é tempo de avaliarmos e projetarmos uma nova caminhada.

Reflitamos:

 Qual foi o testemunho de fé que demos ao longo desta caminhada litúrgica?
 Tenho permanecido firme na fé, ou tenho vacilado em alguns momentos?

 Diante das dificuldades que marcam a vida de cada um e da história, qual confiança tenho em Deus para enfrentá-las?
 Qual esperança cultivo no coração?

 Como estou preparando a segunda vinda do Senhor?
 Quais os reais compromissos com o Reino que multiplico como expressão de uma vigilância ativa?

 Como tenho consumido o tempo na espera do Senhor que vem?

Oremos renovando nosso compromisso diante de Deus para que permaneçamos firmes na fé, e um dia alcancemos a vida eterna: 

“Ó Deus, princípio e fim de todas as coisas,
Que reunis a Humanidade no Templo vivo do Vosso Filho,
Fazei que através dos acontecimentos,
Alegres e tristes deste mundo,
Mantenhamos firme a esperança do Vosso Reino,
Com a certeza de que, na paciência,
possuiremos a vida. Amém.”  (4)

    
(1) (2) – Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - p. 807. 
(3) – Missal Dominical - Editora Paulus - p. 1296.
(4) – Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - p. 809.

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