terça-feira, 18 de novembro de 2025

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Aprendamos com Zaqueu

                                                


Aprendamos com Zaqueu

Aprofundando a passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 19,1-10), retomemos dois parágrafos do Catecismo da Igreja Católica:

- “Muitos pecados prejudicam o próximo. Há que fazer o possível por reparar esse dano (por exemplo: restituir as coisas roubadas, restabelecer a boa reputação daquele que foi caluniado, indenizar por ferimentos). A simples justiça o exige.

Mas, além disso, o pecado fere e enfraquece o próprio pecador, assim como as suas relações com Deus e com o próximo. A absolvição tira o pecado, mas não remedeia todas as desordens causadas pelo pecado.

Aliviado do pecado, o pecador deve ainda recuperar a perfeita saúde espiritual. Ele deve, pois, fazer mais alguma coisa para reparar os seus pecados: «satisfazer» de modo apropriado ou «expiar» os seus pecados. A esta satisfação também se chama «penitência».” (1)

 

- “Em virtude da justiça comutativa, a reparação da injustiça cometida exige a restituição do bem roubado ao seu proprietário:

Jesus louvou Zaqueu pelo seu compromisso: «Se causei qualquer prejuízo a alguém, restituir-lhe-ei quatro vezes mais» (Lc 19, 8). Aqueles que, de maneira direta ou indireta, se apoderaram de um bem alheio, estão obrigados a restituí-lo, ou a dar o equivalente em natureza ou espécie, se a coisa desapareceu, assim como os frutos e vantagens que o seu dono teria legitimamente auferido.

Estão igualmente obrigados a restituir, na proporção da sua responsabilidade e do seu proveito, todos aqueles que de qualquer modo participaram no roubo ou dele se aproveitaram com conhecimento de causa; por exemplo, aqueles que o ordenaram, o ajudaram ou o ocultaram.” (2)

Aprendamos com Zaqueu a firmar nossos passos no processo contínuo de conversão, tomando consciência da nossa condição pecadora, diante da Misericórdia Divina, a nós revelada pela Palavra e Pessoa de Jesus Cristo.

Seja a acolhida da Palavra do Evangelho sempre fonte de transformação de nossa vida, acompanhada de sinceros compromissos com a fraternidade, partilha, solidariedade, justiça e paz.

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.1459

(2)Idem – parágrafo n. 2412

O Senhor nos dirige Seu olhar de amor

                                                          


O Senhor nos dirige Seu olhar de amor

Na terça-feira da 33ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas, sobre a conversão de Zaqueu, o chefe dos cobradores de impostos (Lc 19,10).

Refletimos sobre o amor de Deus, sempre pronto a nos acolher e oferecer uma nova vida, desde que nos proponhamos à conversão, com salutares compromissos, com gestos de amor e partilha.

A acolhida de Jesus por Zaqueu, em sua casa, é marcante para a nossa espiritualidade e muito nos ajuda na caminhada de fé, como discípulos missionários do Senhor.

Os autores da Sagrada Escritura, de modo geral, não economizam tinta para descrever a face do Amor de Deus que nos transforma.

Zaqueu vendo a Misericórdia, e sendo por Ela visto, na sua expressão maior, que é o próprio Jesus, é transformado e faz sagrados propósitos: “… Senhor, eu dou metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”  (Lc 19,8). 

Zaqueu não somente acolhe, mas se converte a partir da presença de Jesus. Ele é a representação de nossa miséria, nossa condição pecadora, que corre para ver a misericórdia. 

Sua baixa estatura revela nossa pequenez, insignificância, nossa condição de criaturas diante do Criador, que apesar de nossas infidelidades, nossos pecados, jamais nos abandona, pois é próprio do amor não abandonar o amado.

Quando o homem corre para encontrar Deus (e não corre de Deus), por Ele é encontrado, e sente o desejo profundo de levar outros ao mesmo encontro. Verdadeiramente, o encontro com Deus nos transforma para sermos instrumentos de transformação na vida do outro. 

Contemplemos, silenciosamente, a cena maior da história: Jesus é Deus, que veio ao encontro dos homens, no entanto, ainda há quem não queira encontrá-Lo, e deixar-se por Ele encontrar, porque não ama e não se sente amado, distanciando-se, assim, da vida e da felicidade.

Somente a experiência de amar e ser amado nos possibilita subir degraus na escada do conhecimento de Deus. Se assim não acontece, é porque ainda não O encontramos.  

Quando abrimos as portas para a Salvação, a novidade se instaura em nosso coração e desejamos ardentemente comunicá-la, e escrevemos belas páginas de nossa história.

A experiência de Zaqueu pode ser a nossa experiência cotidiana, dependendo de cada um de nós.

A transformação acontece porque somos acolhidos pelo amor de Deus; e uma vez acolhidos e amados, transformados, somos revivificados e na comunidade reintegrados, para que nos tornemos partícipes da História da Salvação que, insistentemente, quer conosco escrever. 

A História da Salvação é única e acolhe nossa realidade de pecado: em Deus o pecado cede lugar para a graça, a morte para a vida, a escuridão para a luz, o ódio para o amor, o rancor para o perdão, a carência do essencial para a abundância daquilo que é de fato vital. 

Afinal, Ele veio para que tenhamos vida plena, consumando no seu ápice, o céu, a eternidade, a plenitude de seu Amor.

É próprio do amor de Deus não exterminar, não excluir, a fim de que todos sejam salvos.

Infinita é a superioridade da lógica de Deus em comparação com a lógica dos homens. A lógica do amor de Deus, passando pelo AT e NT, é sempre aquela que nos garante a verdadeira sabedoria e felicidade, e ninguém e nem nada nos poderá tirar desta lógica.

Nada poderá nos desviar do Caminho, porque n’Ele encontra-se a plena Verdade que nos garante a Vida abundante.

O rosto de Deus onipotente manifesta-se na grandiosidade de Sua tolerância e misericórdia, na Sua prontidão em conceder o perdão, no amor para com todas as criaturas, porque todas receberam o sopro da vida.

Falar de Seu rosto misericordioso não é romantismo inútil, estéril, discurso evasivo, ao contrário, crendo neste Deus bíblico, somos questionados na nossa capacidade de acolher o diferente, o pecador e a ele dirigir nosso perdão…  

Esperando a Sua segunda vinda, é tempo favorável para o relacionamento e aprofundamento da nossa amizade com este Deus Amor que nos é revelado na Sagrada Escritura.

Acomodação, desistência, abandono do Mandamento do amor que nos dá vida nova, jamais! 

O Senhor, aguardamos vigilantes, amando, e  somente assim sentiremos Sua presença, plenamente mergulhado no Seu coração, no Seu Amor…

Finalmente, o encontro de Jesus com Zaqueu nos possibilita a reflexão sobre três olhares:

- O próprio olhar de Zaqueu, o olhar do pecador;

- O olhar dos olhares, o olhar de Jesus, o olhar d’Aquele que acolhe e ama, porque ama transforma;

- O olhar da multidão que recrimina e não compreende a intensidade e profundidade do amor de Deus pela humanidade, sobretudo a humanidade pecadora, que por Seu amor, amor extremado na Cruz a redimiu. Sim, por amor e por um amor filial, incondicional, fomos redimidos. Este é o nosso caminho: mais que o Deus de amor contemplar, Seu amor viver.

Que nossos olhares sejam como o olhar de Zaqueu, reconhecendo nossa condição pecadora, e fazendo a experiência da acolhida, amor e perdão divinos, por Deus enxergados, corações transformados. Somente assim os outros olhares também poderão se renovar… 

É próprio do amor de Deus curar nossa cegueira. E curados, podemos ajudar a curar a cegueira do próximo. Curados de toda cegueira pelo Amor divino, podemos nos ver e nos relacionar como irmãos e irmãs.

“O amor do Senhor é uma chama devoradora, que se te pega te envolve todo, ainda antes que tu te percebas”, diz o teólogo Hans Urs Von Baltazar.

Reflitamos:


-  Como amamos o pecador e o possibilitamos a se libertar de seu pecado?

-  Qual a intensidade de perdão que somos capazes de viver?

-  Como vivemos a lógica do amor que tem sua alta expressão na vivência do perdão?

-  Como amar o pecador e odiar o pecado?

Somente o Amor de Deus transforma o mundo e o coração dos homens! É próprio do amor transformar o coração do amado!

Rezando com os Salmos - 100 (101)

 


Trilhemos o caminho do bem e da justiça

 “–1 Eu quero cantar o amor e a justiça,
cantar os meus hinos a Vós, ó Senhor!
–2 Desejo trilhar o caminho do bem,
mas quando vireis até mim, ó Senhor?

– Viverei na pureza do meu coração,
no meio de toda a minha família.
–3 Diante dos olhos eu nunca terei
qualquer coisa má, injustiça ou pecado.

– Detesto o crime de quem vos renega;
que não me atraia de modo nenhum!
–4 Bem longe de mim, corações depravados,
nem nome eu conheço de quem é malvado.

–5 Farei que se cale diante de mim
quem é falso e às ocultas difama seu próximo;
– o coração orgulhoso, o olhar arrogante
não vou suportar e não quero nem ver.

–6 Aos fiéis desta terra eu volto meus olhos;
que eles estejam bem perto de mim!
– Aquele que vive fazendo o bem
será meu ministro, será meu amigo.

–7 Na minha morada não pode habitar
o homem perverso e aquele que engana;
– aquele que mente e que faz injustiça
perante meus olhos não pode ficar.

–8 Em cada manhã haverei de acabar
com todos os ímpios que vivem na terra;
– farei suprimir da cidade de Deus
a todos aqueles que fazem o mal.”

O Salmo 100(101) nos apresenta os propósitos de um rei justo:

Programa de um rei fiel a Deus, inspirado na meditação da Lei e na sabedoria de Israel: amar a o bem, fugir da iniquidade, rodear-se de gente reta e sincera, proteger os justos e exterminar os malfeitores.” (1)

Como discípulos missionários do Senhor tenhamos estes santos propósitos impelidos pelo Mandamento que o Senhor nos deu, atentos às Suas Palavras – “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15).



(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – p. 811

Rever caminhos, firmar os passos

                                                             


Rever caminhos, firmar os passos

Finalizando mais um ano Litúrgico, reflitamos sobre a vinda futura do Senhor, Sua segunda vinda gloriosa.

Deste modo, sejamos iluminados pela passagem da Segunda Carta do Apóstolo Paulo aos Tessalonicenses (2 Ts 3,7-12), que nos fala da vida futura e definitiva, a ser esperada sem preguiça e comodismo.

A comunidade não pode cruzar os braços, tão pouco “viver nas nuvens”, assim como não pode perder tempo com futilidades, e nada de útil fazer.

É forte a mensagem dirigida à comunidade: não há lugar para parasitas que vivam à custa dos demais, o que se caracterizaria em consumidores.

Há uma exortação à responsabilização de todos, porque o Reino de Deus começa aqui e agora e a todos compromete; portanto, jamais compreendido como uma evasão do mundo: 

“...Jesus de Nazaré não traz uma plenitude totalmente pronta. Não em uma intervenção mágica que desresponsabiliza o homem. É verdade que chegou a plenitude prometida, mas espera ser completada. É um dom, mas simultaneamente uma conquista”. (1)

À espera do Senhor que vem, façamos, portanto, uma revisão e avaliação do ano vivido, sobretudo de nossos sagrados compromissos com o Reino, e renovemos nossa predisposição e forças para iniciarmos mais um ano, em maior e melhor correspondência aos desígnios divinos, a fim de que não apenas digamos, mas vivamos o que rezamos todos os dias: – Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu.


(1) – Missal Dominical – pp.1295-1296.

Aperfeiçoamento espiritual constante

                                                

                                  Aperfeiçoamento espiritual constante

Na passagem da Carta aos Colossenses (Cl 1,9b-11), o apóstolo Paulo exorta a comunidade de Colossas e a nós, em todo o tempo, a fim de que tenhamos um aperfeiçoamento espiritual constante, vivamos uma vida agradável a Deus:

“Que chegueis a conhecer plenamente a vontade de Deus, com toda a sabedoria e com o discernimento da luz do Espírito. Pois deveis levar uma vida digna do Senhor, para lhe serdes agradáveis em tudo. Deveis produzir frutos em toda a boa obra e crescer no conhecimento de Deus, animados de muita força, pelo poder de Sua glória, de muita paciência e constância, com alegria.” (1)

O Apóstolo Paulo faz exortações imprescindíveis para a vida cristã: 

- o conhecimento pleno da vontade de Deus;

- viver uma vida digna do Senhor para ser agradáveis a Ele em tudo;

- produzir frutos em toda a boa obra;

- crescer no conhecimento de Deus. 

Completando a reflexão, assim lemos no Missal Cotidiano:

"A comunidade cristã procura em todas as coisas o que faz caminhar com Deus. Descobrir antes de tudo um encontro com Deus... contemplá-Lo também na face do irmão e restituir um rosto humano ao homem desfigurado. Sim o conhecimento é para o amor. Sem amor, de que vale o conhecimento de Deus. De que vale dar o próprio corpo às chamas?"(1)

Ressoem as palavras do Senhor, que ouvimos na passagem do Evangelho de Mateus: 

“Assim brilhe a Vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16)

Oremos:

Senhor Deus, ajudai-nos a conhecer plenamente a Vossa vontade, com toda a sabedoria e discernimento da luz do Espírito, e uma vez conhecida, com Vosso Espírito, a vivamos concretamente, dia a dia.

Ajudai-nos a levar uma vida digna, na fidelidade aos Vossos divinos mandamentos, para que, em tudo, sejamos agradáveis a Vós, irradiando a Vossa Luz a quantos precisarem, e sermos sal da terra e fermento na massa, a serviço do Vosso Reino.

Concedei-nos a graça de produzir frutos em toda boa obra, de modo especial os frutos do Espírito: caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, lealdade, mansidão, continência (Gl 5,2).

Iluminai nossa mente e as entranhas mais profundas de nosso coração, para que ao Vos conhecermos, cada vez mais Vos amemos, até que um dia possamos contemplá-lo face a face, na glória da eternidade. 

“Ensinai-me a Vos procurar e mostrai-Vos quando Vos procuro; pois não posso prourar-Vos  se não me ensinais nem encontrar-Vos se não Vos mostrais. Que desejando eu Vos procure, procurando Vos deseje, amando Vos encontre,  e encontrando Vos ame”.  (2)

Dai-nos, Senhor Deus, a graça de crescermos no conhecimento de Vós, bem como no conhecimento pleno de Vossa vontade, para que a realizando, vivamos uma vida digna e que Vos agrade, sobrepondo sempre a Vossa à nossa, e tão somente assim produziremos frutos em toda a boa obra. 

Ajudai-nos a levar muitos a Vos dar glória ao virem as obras que fazemos, resplandecendo a Vossa luz no mundo, e sendo sal da terra, vivendo assim a graça do batismo que recebemos, na fidelidade às Palavras de Vosso Filho, em comunhão com o Espírito Santo. Amém. 


1) Comentário do Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 1231 

     ) Santo Anselmo – séc. XII

  

  PS: Apropriado para reflexão da passagem da Carta de Paulo aos Colossenses (Cl, 1,9-14), proclamada na quinta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum.



Quando acolhemos o Senhor, tudo se transforma!

                                                      

Quando acolhemos o Senhor, tudo se transforma!

Reflitamos sobre a conversão de Zaqueu (Lc 19,1-10), chefe de cobradores de impostos, à luz do Sermão de São João Crisóstomo (séc. VI).

“’Entrou Jesus em Jericó e atravessava a cidade. Um homem chamado Zaqueu, chefe dos publicanos e rico, procurava ver quem era Jesus’.

Veja-o correr, ardendo em desejos de Deus, e subir a uma árvore e olhar ao seu redor procurando ver a Jesus para conhecer a fonte de vida. Ao ver Jesus, Zaqueu saciou a curiosidade de seus olhos, mas sentiu o seu coração incendiar-se de um desejo muito mais intenso.

Observa o desejo deste homem. ‘Procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele, correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali’.

Zaqueu, baixo em estatura, mas grande em ponderação do espírito, procurava ver Jesus; procurava ver ao Deus que distribui entre os homens os dons celestiais.  Não tinha a dulcíssima alegria de conhecer a Deus, mas desejava ver o Profeta do amor. Enfermo, desejava ver a saúde; faminto, buscava o Pão do Céu; sedento, suspirava pelo manancial de água. Desejava ver Aquele que concede aos sacerdotes uma vida nova e tinha despertado Lázaro do sono da morte.

Zaqueu viu o Senhor, e a chama de seu amor aumentava continuamente; Cristo tocou o seu coração, e ele se converteu em outro homem: de publicano, em homem cheio de zelo; de infiel, em fiel. Quem ama tanto ao pai e à mãe, quem jamais amou a mulher e aos filhos como Zaqueu amou ao Senhor, conforme testemunham os fatos?

Por amor de Cristo, repartiu os seus bens aos pobres, e devolveu quatro vezes mais para aqueles de quem tinha se aproveitado. Que boa disposição no discípulo, que discrição e poder o de Deus, que induziu para a ação somente por ter visto Jesus! Todavia, Zaqueu ainda não tinha falado – somente tinha sido visto por quem tanto o desejava -, e já a potência da fé elevava ao alto aquele coração cheio de desejo.

Zaqueu, desce depressa, apressa-te a entrar na tua casa, porque ali tenho que me abrigar, porque me recolho onde existe fé: vou onde existe o amor. Já sei o que tu vais fazer: sei que darás teus bens aos pobres e, sobretudo, irás restituir quatro vezes mais  àqueles de quem te aproveitaste. Eu entro de boa vontade na casa deste tipo de homens’.

Zaqueu desceu em seguida, foi para a sua casa e hospedou a Jesus. Cheio de alegria e de pé, disse: ‘Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se me aproveitei de alguém, lhe restituirei quatro vezes mais’.

Ó confissão sincera, que brota de um coração verdadeiro cheio de fé, resplandecente de justiça! Tal justiça se digne conceder a nós o Deus do universo, pela graça e a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.”

Aprendamos com Zaqueu a fazer nossa confissão sincera, que brote de um coração verdadeiro de fé.

Com ele, também aprendamos a buscar, como enfermos que somos pelo pecado, a saúde que Ele pode nos conceder; famintos que somos, o Pão Celestial e o Sangue Diviníssimo, que nos sacia e nos revigora; sedentos que somos de justiça e de vida plena e feliz, saciar n’Ele a Divina Fonte de amor, vida, alegria, paz e eternidade, a fonte inesgotável de Água Viva, que nos sacia e nos dá vida nova pelo Espírito.

Como Zaqueu, não desistamos jamais de correr ao encontro do Amado, Jesus. Não percamos a oportunidade ao vê-Lo passar tantas vezes em nossa vida. Em cada Eucaristia que celebramos, é sempre tempo de graça e conversão para nós. Tudo isto acontece quando da Mesa da Palavra e da Eucaristia participamos e, transformados n’Aquele que recebemos, o Mistério celebrado na vida prolongamos.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora  Vozes - 2013 - pp. 749/750

“Germes da semente divina”

                                                              


“Germes da semente divina”

Na Festa da Dedicação das Basílicas dos Apóstolos São Pedro e de São Paulo, memória facultativa do dia 18 de novembro, a Liturgia das Horas nos enriquece com o Sermão do Papa São Leão Magno (séc. V) “germes da divina semente” das quais brotam testemunhas e milhares de Santos mártires.

“É preciosa aos olhos do Senhor a morte de Seus Santos (Sl 115,15), e nenhuma crueldade pode destruir a religião fundada no Mistério da Cruz de Cristo. 

A Igreja não diminui pelas perseguições; pelo contrário, cresce. O campo do Senhor se reveste de messes sempre mais ricas, porque os grãos, que caem um a um, nascem multiplicados. 

Em quantos rebentos estes dois excelentes germes da divina semente brotaram são testemunhas os milhares de Santos mártires que, rivais das vitórias apostólicas, envolveram com uma multidão coberta de púrpura nossa Urbe e a coroaram com um diadema de glória, cravejado de muitas pedras preciosas. 

Temos de alegrar-nos sumamente, caríssimos, com a comemoração de todos os Santos por esta proteção, preparada por Deus, para exemplo e confirmação da fé. Mas, em vista da excelência destes Patronos, é justo que os glorifiquemos com ainda maior exultação, porque a graça de Deus, dentre todos os membros da Igreja, os elevou ao cume. Por isso, no corpo, cuja cabeça é Cristo, constituem como que os dois olhos. 

Não devemos pensar que os seus méritos e virtudes acima de toda a expressão sejam diferentes de algum modo ou tenham algo de peculiar, pois a eleição divina os tornou pares, o trabalho assemelhou-os e o fim da vida os igualou. 

Por experiência pessoal e pela afirmação de nossos antepassados, cremos e confiamos que, nas lutas da vida, temos sempre a intercessão destes especiais Padroeiros para obter a misericórdia de Deus; e por mais abatidos que estejamos pelos próprios pecados, somos reerguidos pelos méritos apostólicos.”

Pedro e Paulo, como bem afirma o Papa, tiveram eleição divina, se fizeram pares, assemelhados no trabalho e também igualados no final da vida. Bem sabemos que morreram, um na cruz e o outro pela espada, respectivamente.

A Tradição da Igreja nos ensina, como neste Sermão, a valiosa ajuda e proteção daqueles que nos antecederam na eternidade feliz, porque suas vidas consistiram em servir, por amor e com amor, a Deus em favor do Seu Povo a eles confiados.

Além disto, podemos tê-los como exemplos a serem imitados enquanto peregrinamos longe do Senhor, enquanto estamos inseridos no combate da fé, ainda não merecedores da coroa da justiça, da coroa da glória.

Imitando-os em suas virtudes, na fidelidade ao Senhor, será mais credível nossa fé, bem como daremos razão de nossa esperança na prática da caridade, numa frutuosa vigilância ativa.

Em poucas palavras...

                                      



“Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36)

Um programa de vida para quem desejar ser verdadeiramente discípulo missionários de Jesus, pois é rico de alegria e paz:

“O imperativo de Jesus é dirigido a quantos ouvem a sua voz (cf. Lc 6, 27). Portanto, para ser capazes de misericórdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus.

Isso significa recuperar o valor do silêncio, para meditar a Palavra que nos é dirigida. Deste modo, é possível contemplar a misericórdia de Deus e assumi-la como próprio estilo de vida.” (1)

 

 

 

(1) Papa Francisco - Misericordiae Vultus - Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia – 8/12/2015-20/112016

Vire a página... (1)

                                  


Vire a página...

“Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus,
Jesus entrou, pôs-Se no meio deles e disse:
"A Paz esteja convosco!" (Jo 20,19)

Vire a página! Viremos a página!
É Páscoa, nada mais será como antes.

O Ressuscitado Se manifesta na vida da comunidade,
Ontem, hoje e sempre, enquanto aguardamos Sua vinda...

Manifesta-Se ora caminhando com os discípulos,
Palavra anunciando, coração fazendo arder,

Não desvinculando Sua manifestação do partir o pão,
Em que possibilita os olhos se abrirem e O reconhecerem;

Ora Se manifesta rompendo as portas fechadas,
Ontem por medo dos judeus, hoje por algozes.

Também Se manifesta no escurecer do primeiro dia,
Porque, com Ele, tudo se recria – é Domingo, Dia do Senhor.

E, quando Sua manifestação acontece, Ele fica no centro,
Porque este é o Seu lugar, o lugar do Vitorioso, do Glorioso.

Ora manifesta-Se comunicando o dom da paz – “shalom”,
Que consiste em tudo que for necessário para termos vida plena.

Ele nos comunica o sopro do Espírito que nos acompanha,
Para com êxito a Sua missão continuar, vida nova inaugurar.

Creiamos sem mesmo ver e tocar, não sejamos incrédulos!
Bem-aventurados os que creem sem nunca terem visto, disse o Senhor.

Estejamos com Ele, unidos na hora das Chagas dolorosas,
Para exultar com Ele também, curados por Suas Chagas gloriosas.

Vire a página! Viremos a página!
É Páscoa, nada mais será como antes.

Retomemos a vivacidade e o dinamismo das primeiras comunidades
E nos empenhemos para construir relações de comunhão, de fraternidade.

É d’Ele que vem a força de que tanto precisamos,
Do vigor e vitalidade de Sua Palavra e do Pão da Eucaristia.

É vivendo em comunidade, na Fidelidade ao Pai de Amor Criador,
Que, como comunidade do Ressuscitado, temos a Vida Nova do Espírito.

Que nossos domingos não sejam apenas um dia de descanso,
Mas dia privilegiado do encontro com a Divina Fonte de Amor.

Que sintamos a fome de Deus saciada no Banquete da Eucaristia,
Para que não recuemos no combate pela vida, sem covardia.

Quando das Mesas Sagradas participamos com piedade,
Superamos todo medo, pecado, hesitação, incredulidade.

Quando das Mesas Sagradas participamos ativamente,
Não há espaço para infidelidades, lentidões, mediocridades...

Alegremo-nos, somos partícipes do Cenáculo da Comunhão,
No qual Ele Se torna presença de amor e alegria.

Alegremo-nos, somos partícipes do Cenáculo Provisório
Que aponta para o Banquete da Eternidade: a plena comunhão.

Com Ele supera-se todo cansaço, barreiras, limitação,
Porque é Vida Nova que emana de Sua Ressurreição.

Vire a página! Viremos a página!
É Páscoa, nada mais será como antes.

É tempo de firmar os passos, de pôr-se a caminho,
Fortalecendo os joelhos enfraquecidos, com ousadia na missão.

É tempo de enxugarmos mutuamente nossas lágrimas,
Em gestos solidários, para que Ele a última Palavra tenha.

É tempo de para águas mais profundas avançarmos,
Compreendendo a complexa realidade na qual estamos imersos.

É Tempo de abrirmo-nos ao sopro e à manifestação do Santo Espírito,
Para que descubramos caminhos novos na Evangelização.

É tempo de olharmos para o horizonte pela Páscoa alargado;
De renovarmos no coração a divina virtude da esperança;

De crescermos na virtude maior da caridade, amor em ação,
Para que tenhamos fé autêntica, viva, firme em consolidação.

É tempo de sermos Igreja da comunhão afetiva e efetiva,
Laços fraternos consumados em gestos de amor e partilha.

Com os limites próprios da humana convivência,
Vivendo a misericórdia, compreensão e o perdão.

É tempo de não nos acomodarmos com a iniquidade e a maldade,
Sendo no mundo sinal de justiça, ternura e bondade.

É tempo de nos despojarmos do fermento da mentira,
De sermos enriquecidos pelo fermento da sinceridade e verdade.

Vire a página! Viremos a página!
É Páscoa, nada mais será como antes.

Cada um de nós tem páginas a virar,
Novas páginas no Livro da vida escrever,

Até que chegue o esperado dia
De um novo céu e nova terra aparecer...

Será sempre Páscoa, terá um novo amanhecer
Quando páginas soubermos virar...

E Novas soubermos escrever,
Aprendizes dos erros cometidos

Para erros contumazes não cometer,
Alegria transbordante haverá de ser...

Viver consiste em se ter coragem
De virar a página.

A maior página na história que se virou:
Quando Ele passou pela morte, Ressuscitou!

Somos pascais, somos do Ressuscitado!
Saibamos virar nossas páginas:

Da escuridão para a luz,
Da tristeza para a alegria,

Do pranto para o consolo,
Do medo para a coragem,

Do desencanto para o encanto,
Do cortejo fúnebre para o cortejo da vida,

Da morte do nada mais sonhar,
Para mesmo no sol do meio-dia sonhar,

Da morte do ódio e sua corrosão,
Para o amor, numa nova relação.

Fazer, enfim, a passagem das passagens:
Da inexorável morte para a Ressurreição.

Viremos a página... 

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