domingo, 17 de setembro de 2023

Amar no amor, amar na esperança..(XXIVDTCC)

Amar no amor, amar na esperança...

A título de enriquecimento, ofereço parte de uma  reflexão sobre a passagem do Evangelho (Lc 15, 1-32)

“... Por que então uma ovelha vale noventa e nove ovelhas e, sobretudo, porque passa a valer mais exatamente aquela que tinha escapado que era a que valia menos? Não é um pouco forte tudo isto e até escandaloso?

A resposta mais bonita e mais convincente a esta interrogação não a encontrei nos comentários exegéticos do Evangelho, mas no poeta-teólogo Charles Péguy. 

Perdendo-se – diz – a ovelha, como também o filho menor, fez estremecer o coração mesmo de Deus; Deus teve medo de perdê-la para sempre, de ser obrigado a condená-la e ficar sem ela pela eternidade; tremeu por causa disso (tinha-se verificado o risco ao qual Deus Se havia exposto o dia em que criou o homem livre e, ainda mais, Se afeiçoou perdidamente a esta criatura).

Este medo fez desabrochar a esperança no coração de Deus e a esperança, verificada, provocou a alegria e a festa: ‘O fato é que uma penitência do homem é a coroação de uma esperança de Deus.

A espera desta penitência fez eclodir a esperança no coração de Deus, fez surgir um sentimento novo, fez germinar um sentimento novo, dir-se-ia desconhecido, no coração do mesmo Deus, de um Deus eternamente novo. E esta mesma penitência foi para Ele, n’Ele, a coroação de uma esperança. Porque todos os outros, Deus os ama no amor. Mas aquela ovelha Jesus a amou também na esperança’”.  (1)

Amar como Deus nos ama é, portanto, amar no amor a uns e amar na esperança a outros, mas sempre o mesmo Amor que Deus tem por todos nós.

Assim se ama na família: a alguns se ama no amor, pois não dão tantas preocupações; a outros se ama na espera de uma mudança de atitude, de um retorno, da libertação de uma possível dependência. Amar na esperança de uma conversão necessária.

Assim se ama na comunidade em que vivemosa fé professamos: alguns amamos no amor, e a outros amamos na esperança de que reencontrem o caminho da fé luminosa, esperança por vezes perdida e caridade pouco inflamada.

Amar na esperança não nos imobiliza, ao contrário, desafia nossa prática pastoral em buscar caminhos e saídas para o retorno daqueles que precisam de maior cuidado, maior atenção. A prática pastoral é sempre desafiada à solicitude com estes, procurando ser uma "Igreja em saída" como nos fala o Papa Francisco.

Não basta amar no amor os que dentro dela estão, mas num amor ativo, como é próprio do Amor Deus, amar na esperança, entrando na alegria do Banquete de Deus que se alegra com a conversão de um pecador apenas, como tão fortemente insiste Jesus nas Parábolas da misericórdia (Lc 15,1-32).

Jamais desistamos de amar como Deus nos ama: amar no amor, amar na esperança, sem perder para sempre aqueles que Deus criou tão apenas por Amor, afeiçoando-Se perdidamente por Sua criação, feita à Sua imagem e semelhança: cada um de nós.

Deste modo, jamais desistamos de amar na esperança de que o outro possa se converter, porque também Deus nos ama no Amor e nos ama na esperança de que sejamos melhores.



(1) Raniero Cantalamessa – O Verbo se faz carne – Editora Ave Maria – 2013- pp. 728-729.

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