quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Jubileu Sacerdotal - Obrigado, Senhor!

Jubileu Sacerdotal - Obrigado, Senhor!

Em 2013, vivendo e celebrando o Ano Jubilar Sacerdotal, fui convidado pelo Pe. Paulo Leandro (Representante dos Presbíteros de Guarulhos), para falar um pouco da alegria de servir e celebrar diariamente, por 25 anos, a Sagrada Eucaristia, respondendo algumas perguntas:

- Pe Otacilio, como foi celebrar sua primeira Missa em 1988 e celebrar 25 anos depois?

Quando celebrei a primeira Missa, senti muita emoção e me perguntava em silêncio enquanto celebrava: “Mas, eu celebrando, como pode?” “Eu consagrando?” “Esta partícula é agora o Corpo e Sangue do Senhor, pelas palavras que profiro, pelas mãos que imponho?” Não me parecia possível, não parecia ser verdade, tinha a impressão que somente os outros Padres celebravam, de fato.

Assim se multiplicavam os pensamentos. Estava lá e ao mesmo tempo não. Algo quase indescritível, verdadeiramente enlevado pelo Mistério da Eucaristia.

Vinte e cinco anos passados, não tenho mais aquele sentimento. Acredito piamente na Palavra que anuncio nas Homilias, tanto quanto no Pão Eucarístico que consagro e distribuo ao povo na fila da comunhão.

É verdadeiramente a Palavra de Deus anunciada, e que me empenho em viver; é verdadeiramente Comida e Bebida que nutre minha fé, renova minha esperança e mantém acesa a chama da caridade em meu coração e nos corações daqueles que da Ceia participam.

Entretanto, procuro celebrar cada Missa como se fosse a primeira da minha vida, com emoção e unção, com zelo e respeito, como é esperado. Não celebro mecanicamente, como obrigação, mas mergulhando e vivendo intensamente o Mistério celebrado, sem mérito algum de minha parte.

- Quais eram os sonhos do neo-sacerdote Otacilio e quais são hoje?

Sonhava com uma Igreja viva, de comunhão de vida e de amor, participativa, ministerial e, sobretudo, solidária com os empobrecidos. Continuo sonhando e me empenhando, para que a Igreja seja um valioso instrumento na construção do Reino de Deus. A Paixão pelo Reino me motiva em renovados compromissos que o Ministério Presbiteral nos propõe.

Com o tempo damos solidez aos sonhos, como metas a serem alcançadas, sem acomodações, rotinas, cansaços, perda do entusiasmo, do encanto, da paixão incondicional pelo Senhor, reavivando no coração a chama do primeiro amor, como exortou Paulo a Timóteo Por esse motivo, eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. (2 Tm 1,6);

- Quais eram os seus medos e quais são hoje?
                
Ontem e hoje o medo de não corresponder ao que Deus espera de mim, por isto mais do que fazer discurso do medo, da culpa e do castigo, aprofundo a minha relação com Deus, que se revela misericordioso, presente, bom, clemente, compassivo. Quando em Deus confiamos, quando sua presença e força experimentamos, o medo cede lugar para sentimentos mais nobres e divinos.

- Como avalia suas Homilias depois de 25 anos de pregação?

A vida nos ensina muitas coisas, vamos aprendendo com nossos erros e acertos, sem a pretensão de santidade já alcançada, mas a ser buscada em contínua atitude de vigilância e oração.

Toda homilia é um bom-bocado de pão que sacia a fome daqueles que nos ouvem. Por isto não nos é dado o direito de oferecer uma homilia qualquer, sem conteúdo, sem sabor, sem unção, sem luminosidade etc.

Acredito ter hoje uma pregação mais sólida, mais substancial, fruto da oração, de leituras, de aprofundamentos, do crescimento espiritual que todos precisam buscar, da maturidade espiritual que esperamos alcançar, sem jamais nos acomodarmos.

Sem dúvida, minhas homilias hoje são mais densas que as primeiras, e, certamente, mais longas, dialogais, reflexivas, levando sempre à mensagem da Igreja, à fé no Ressuscitado e ao compromisso com Ele e com todos que nos são confiados, como sinais do Bom Pastor que somos.

- Diante de uma sociedade, capitalista, hedonista e individualista, que diria a um jovem sobre o ser Padre?

Que primeiro procure ouvir o chamado de Deus, e ouvindo não fuja ao chamado. Tenha coragem de dizer sim, porque vale a pena. Não encontramos a felicidade quando fechamos os ouvidos e o coração ao chamado e à vontade divina.

Que antes de tudo, este jovem seja cristão, de fato, pois somente assim poderá viver a vocação a que foi chamado com alegria no coração, não obstante às dificuldades e renúncias necessárias. Não acredito em felicidade desvinculada da Cruz, pois foi por meio dela que nos veio a vida nova do Ressuscitado, a plenitude dos dons e a eternidade.

E, afirmo, sem sombra de dúvidas, sem hesitações quaisquer: vale a pena ser Padre. É bom ser padre, e nos sentirmos realizados fazendo o que Deus espera de nós. Vocação acertada, vida feliz, indubitavelmente.



PS: Publicado no jornal Folha Diocesana – Guarulhos – Edição nº199.  

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