sábado, 24 de agosto de 2024

A sabedoria dos simples e a força dos pequenos

                                                        

A sabedoria dos simples e a força dos pequenos

Na Festa de São Bartolomeu, dia 24 de agosto, somos enriquecidos pela Palavra  proclamada: Ap 21,9b-14 e Jo 1,45-51.

Reflitamos a Homilia do Bispo São João Crisóstomo (séc. IV), sobre a Primeira Carta aos Coríntios, que muito nos enriquece na espiritualidade a ser cultivada, purificada, amadurecida, a fim que trilhemos nos passos de Jesus.

“Por meio de homens ignorantes a Cruz persuadiu, e mais, persuadiu a terra inteira. Não falava de coisas sem importância, mas de Deus, da verdadeira religião, do modo de viver o Evangelho e do futuro juízo. De incultos e ignorantes fez amigos da sabedoria. Vê como a loucura de Deus é mais sábia que os homens e a fraqueza, mais forte.

De que modo mais forte? Cobriu toda a terra, cativou a todos por Seu poder. Sucedeu exatamente o contrário do que pretendiam aqueles que tentavam apagar o nome do Crucificado. Este nome floresceu e cresceu enormemente.

Mas Seus inimigos pereceram em ruína total. Sendo vivos, lutando contra o morto, nada conseguiram. Por isso, quando o grego me chama de morto, mostra-se totalmente insensato, pois eu, que a seus olhos passo por ignorante, me revelo mais sábio que os sábios.

Ele, tratando-me de fraco, dá provas de ser o mais fraco. Tudo o que, pela graça de Deus, souberam realizar aqueles publicanos e pescadores, os filósofos, os reis, numa palavra, todo o mundo perscrutando inúmeras coisas, nem mesmo puderam imaginar.

Pensando nisto, Paulo dizia: O que é fraqueza de Deus é mais forte que todos os homens (1Cor 1,25). Com isso se prova a pregação divina.

Quando é que se pensou: doze homens, sem instrução, morando em lagos, rios e desertos, que se lançam a tão grande empresa? Quando se pensou que pessoas que talvez nunca houvessem pisado em uma cidade e, em sua praça pública, atacassem o mundo inteiro?

Quem sobre eles escreveu, mostrou claramente que eles eram medrosos e pusilânimes, sem querer negar ou esconder os defeitos deles. Ora, este é o maior argumento em favor de sua veracidade. Que diz então a respeito deles? Que, preso o Cristo depois de tantos milagres feitos, uns fugiram, o principal deles O negou.

Donde lhes veio que, durante a vida de Cristo, não resistiram à fúria dos judeus, mas, uma vez Ele morto e sepultado – visto que, como dizeis, Cristo não ressuscitou, nem lhes falou, nem os encorajou – entraram em luta contra o mundo inteiro?

Não teriam dito, ao contrário: 'Que é isto? não pôde salvar-Se, vai proteger-nos  agora? Ainda vivo, não socorreu a Si mesmo, e morto, nos estenderá a mão? Vivo, não sujeitou povo algum, e nós iremos convencer o mundo inteiro, só com dizer Seu nome? Como não será insensato não só fazer, mas até pensar tal coisa?'. Por este motivo é evidente que, se não O tivessem visto ressuscitado e recebido assim a grande prova de Seu poder, jamais se teriam lançado em tamanha aventura.”

Como vemos, os discípulos, entre eles Natanael, identificado com Bartolomeu, homens simples, incultos, entre outras limitações, conseguiram irradiar a força do Evangelho.

Este  êxito ocorreu e ocorre ainda hoje e continuará a ocorrer é porque existe algo que a razão humana não consegue explicar, que as ciências não conseguem  sistematizar e conceituar. 

Algo que ultrapassa quaisquer lógicas que possamos pensar, pois se trata de  uma verdade que nos remove, impulsiona, seduz, compromete, anima, orienta: a Ressurreição de Jesus. 

Cremos na Ressurreição, na força que dela emana em nossa missão, e assim, cremos que somos e podemos mais do que possamos ser e pensar, na força do Ressuscitado, como falou o apóstolo Paulo – “Tudo posso n'Aquele que me fortalece!” (Fl 4,13).

Cremos e aspiramos as coisas do alto onde Deus está.
Cremos que se com Ele morremos, com Ele ressuscitamos, nos eternizamos.

Cremos que em nós foi, um dia, pelo Batismo, lançada a semente da imortalidade, de modo que somos templos do Espírito. Morte experimentada, não como epílogo, rompimento sem horizonte, mas passagem, nascimento para o que de mais precioso desejamos: a Face Divina contemplar...

Cremos na Vida do Ressuscitado, e seduzidos por Ele, com o coração de amor inflamado, caridade testemunhada, fé e esperança irmanadas numa ciranda provisória que se perpetuará na eternidade.

Cremos que tão somente assim, nenhuma dificuldade será o bastante forte para aniquilar a força e apagar a  chama do fogo do Espírito do Ressuscitado em nosso coração, onde Ele quis habitar, para nos divinizar. 

Creio Senhor, mas aumentai minha fé.


PS: Apropriado para o dia 05 de janeiro, antes da Epifania, em que se proclama a passagem do Evangelho de João (Jo1,43-51).

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG