quinta-feira, 29 de agosto de 2024

À LUZ DO MESTRE (Capítulo III)

Capítulo III
À LUZ DO MESTRE

Santidade à luz do Sermão das Bem-Aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23) – o “bilhete de identidade do cristão”. (n.63).

Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida. (n. 63).

«Feliz» ou «bem-aventurado», sinônimos de «santo», porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade (n.64).

As Bem-aventuranças estão na contracorrente (n. 65).

Somente poderemos viver se o Espírito Santo nos permear com toda a Sua força e nos libertar da fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho (n. 65).

- «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» - Ser pobre no coração: isto é santidade -  (n. 67-70)

- «Felizes os mansos, porque possuirão a terra» - reagir com humilde mansidão: isto é santidade -  (n.71-74).

- «Felizes os que choram, porque serão consolados» - Saber chorar com os outros: isto é santidade – (n. 75-76).

- «Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados» - Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade – (n. 77-79).

- «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» - Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade – (n.80-82).

- «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus» - Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade (n.83-86).

- «Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» - Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade (n. 87-89).

«Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu» - Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade – (n.90-94).

A grande regra de comportamento está no Evangelho de Mateus (Mt 25,31-46):

Ser santo não significa revirar os olhos num suposto êxtase. Dizia São João Paulo II que, “se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar”. (n. 96).

A santidade não se pode ser compreendida nem vivida sem as exigências da passagem de Mateus -  porque a misericórdia é o “coração pulsante do Evangelho’ (n. 97).

As ideologias que mutilam o coração do Evangelho:

- transformar o cristianismo numa espécie de ONG, privando-o de espiritualidade irradiante que a exemplo de São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, Santa Teresa de Calcutá e muitos outros.

- o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros, considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, imanentista, comunista, populista; ou então o relativizam como se houvesse outras coisas mais importantes, como se interessasse apenas uma determinada ética ou um arrazoado que eles defendem.

A defesa da vida em todos os sentidos:

“A defesa do inocente nascituro, por exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa, independentemente do seu desenvolvimento. Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte” (n. 101).

Não há santidade ignorando a injustiça:

“Não podemos propor-nos um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgadamente e reduzem a sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo que outros se limitam a olhar de fora enquanto a sua vida passa e termina miseravelmente” (n.101).

O culto que mais agrada a Deus:

A oração é preciosa, se alimenta uma doação diária de amor. O nosso culto agrada a Deus, quando levamos lá os propósitos de viver com generosidade e quando deixamos que o dom lá recebido se manifeste na dedicação aos irmãos” (n. 104).

“O melhor modo para discernir se o nosso caminho de oração é autêntico será ver em que medida a nossa vida se vai transformando à luz da misericórdia... embora a misericórdia não exclua a justiça e a verdade, ‘antes de tudo, temos de dizer que a misericórdia é a plenitude da justiça e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus’. A misericórdia ‘é a chave do Céu’” (n. 105).
  
Santo Tomás de Aquino: mais do que os atos de culto, são as obras de misericórdia para com o próximo: “não praticamos o culto a Deus com sacrifícios e com ofertas exteriores para proveito d’Ele, mas para benefício nosso e do próximo: de fato Ele não precisa dos nossos sacrifícios, mas quer que os ofereçamos para nossa devoção e para utilidade do próximo. Por isso, a misericórdia, pela qual socorremos as carências alheias, ao favorecer mais diretamente a utilidade do próximo, é o sacrifício que mais lhe agrada"  (n. 106).

Santa Teresa de Calcutá: “sim, tenho muitas fraquezas humanas, muitas misérias humanas. (...) Mas Ele abaixa-Se e serve-Se de nós, de ti e de mim, para sermos o seu amor e a sua compaixão no mundo, apesar dos nossos pecados, apesar das nossas misérias e defeitos. Ele depende de nós para amar o mundo e demonstrar-lhe o muito que o ama. Se nos ocuparmos demasiado de nós mesmos, não teremos tempo para os outros” (n. 107).

O engano do consumismo hedonista:

“O consumismo hedonista pode-nos enganar, porque, na obsessão de divertir-nos, acabamos por estar excessivamente concentrados em nós mesmos, nos nossos direitos e na exacerbação de ter tempo livre para gozar a vida. Será difícil que nos comprometamos e dediquemos energias a dar uma mão a quem está mal, se não cultivarmos uma certa austeridade, se não lutarmos contra esta febre que a sociedade de consumo nos impõe para nos vender coisas, acabando por nos transformar em pobres insatisfeitos que tudo querem ter e provar. O próprio consumo de informação superficial e as formas de comunicação rápida e virtual podem ser um fator de estonteamento que ocupa todo o nosso tempo e nos afasta da carne sofredora dos irmãos. No meio deste turbilhão atual, volta a ressoar o Evangelho para nos oferecer uma vida diferente, mais saudável e mais feliz” (n. 108).
  
O testemunho dos santos e ler com frequência e rezar com eles; e as Bem-Aventuranças e o julgamento final nos farão felizes:
  
“A força do testemunho dos santos consiste em viver as bem-aventuranças e a regra de comportamento do juízo final. São poucas palavras, simples, mas práticas e válidas para todos, porque o cristianismo está feito principalmente para ser praticado e, se é também objeto de reflexão, isso só tem valor quando nos ajuda a viver o Evangelho na vida diária” (n.109),


PS: A Exortação Apostólica “Gaudete et exsultate” – sobre a chamada à Santidade no mundo atual, escrita pelo Papa Francisco (2018), nos orienta para que vivamos a alegria da santidade.

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