domingo, 4 de fevereiro de 2024

A suavidade da sincera caridade (VDTCA)

A suavidade da sincera caridade

Ao celebrar o 5º Domingo do Tempo Comum (ano A), que nos oferece a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,13-16), acolhamos o Sermão escrito por São Cesário de Arles (séc. V).

“O bem-aventurado patriarca José, movido pela suavidade de uma sincera caridade, tratou de repelir, com a graça de Deus, de seu coração, o veneno da inveja, da qual sabia estar infeccionado o coração de seus irmãos.

Portanto, ao povo cristão não lhe é lícito estar cioso, não lhe está permitido invejar, apoiando-se na humildade eleva-se ao cume da virtude.

Escuta o bem-aventurado Apóstolo João em sua Carta: Aquele que odeia ao seu irmão é um homicida; e novamente: Quem diz que está na luz e abomina ao seu irmão ainda está nas trevas, caminha nas trevas, e não sabe aonde via, porque as trevas cegaram os seus olhos.

Aquele que abomina, diz, ao seu irmão, caminha nas trevas e não sabe aonde vai; pois sem perceber desce ao inferno e, como cego que é, precipita-se na pena, apartando-se da luz de Cristo que nos admoesta e nos diz: Eu sou a luz do mundo, e aquele que crê em mim não caminha nas trevas, mas terá luz da vida.

De fato, como vai possuir a paz do Senhor ou a caridade o que, dominado pelos ciúmes, é incapaz de permanecer na paz e segurança?

Quanto a nós, irmãos, fujamos, com a graça de Deus, da peçonha dos ciúmes e da inveja, e levemos a suavidade da caridade para nossas relações não só com os bons, mas também com os maus; assim Cristo não nos reprovará pelo pecado da inveja, antes nos felicitará e nos convidará ao prêmio dizendo-nos: Vinde, benditos, herdai o Reino.

Tenhamos nas mãos a Sagrada Escritura, e no espírito o pensamento do Senhor; que jamais cesse a oração contínua, e persevere sempre a operação salvadora, de maneira que, quantas vezes o inimigo se aproxime para tentar-nos, nos encontre sempre ocupados nas boas obras.

Examine, pois, cada qual a sua própria consciência, e se descobrir-se afetado pelo veneno da inveja frente à prosperidade de seu irmão, arranque de seu peito os espinhos e abrolhos, para que nele a semente do Senhor, como em campo fértil, produza um fruto multiplicado e a divina e espiritual colheita se traduza em messe fertilíssima.

Que cada um pense nas delícias do paraíso e anseie o Reino celestial, no qual Cristo somente admite aos que têm um só coração e uma só alma. Pensemos, irmãos, que ‘filhos de Deus’ somente podem ser chamados aos que trabalham pela paz, conforme o que está escrito: 
Nisto conhecerão que sois meus discípulos: em que vos ameis uns aos outros.

Que o piedoso Senhor vos conduza sob a proteção e pelo caminho das boas obras a este amor. A Ele a honra e a glória juntamente com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Como discípulos missionários do Senhor, devemos aspirar alcançar o cume da virtude, movidos pela sincera caridade, repelindo de nossa mente e coração todo sentimento de inveja ou ciúmes.

Isto é possível quando a vigilância permanente é acompanhada da oração, tendo nas mãos e no coração a Sagrada Escritura, empenhados em realizar as boas obras que somos chamados a multiplicar todos os dias, na realização da vontade de Deus, assim na terra como no céu.

Deste modo, arrancaremos de nosso peito os espinhos e abrolhos, para que, como falou São Cesário, “nele a semente do Senhor, como em campo fértil, produza um fruto multiplicado e a divina e espiritual colheita se traduza em messe fertilíssima”.

Oremos:

Ó Deus que alcancemos o cume da virtude, movidos pela suavidade da sincera caridade, assistidos por Vós e iluminados e libertos por Vossa Santa Palavra, expulsemos de dentro de nós todo sentimento de ciúme e inveja, e deles livres, sejamos sal e luz, instrumentos de boas obras, levando muitos a Vos glorificar pelos séculos dos séculos. Amém.

(1) Lecionário Patrístico Dominical – 2013 - Editora Vozes – pp.131-132

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