sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Creiamos no Deus do impossível!

                                                          


Creiamos no Deus do impossível!

Com a Liturgia do dia 19 de dezembro refletimos sobre a presença de Deus, que promete e cumpre.

Reunidos em Seu nome, Ele sempre Se faz presente, porque é Deus conosco!

Leituras bíblicas: Juízes (Jz -25), que narra o nascimento de Sansão; e Lucas (Lc 1,5-25), que fala do nascimento de João Batista.

Ambas as leituras nos apresentam nascimentos a partir de mães estéreis. Além de tudo, Isabel, mãe de João, e seu pai Zacarias, tinham idade avançada.

Dois nascimentos, dois tempos tão diferentes, mas o mesmo Deus: Verdadeiramente, Deus é o Deus do impossível, como também assim Se revelará a Maria, ao conceber Seu Filho pela ação do Espírito Santo.

Não só a partir destes acontecimentos, como de outros tantos que a Bíblia e a História da Humanidade nos revelam a ação de Deus, o Deus do impossível.

O Tempo do Advento nos convida a contemplar a Face de Deus, que Se revela como Amor a quem pesava a esterilidade, a humilhação.

Deus também Se revela como lembrança constante dos pobres, quando Se manifesta a Zacarias, que quer dizer “Deus Se lembrou”. Ele Se revela como plenitude ao agraciar Isabel com a maternidade, como seu nome indica.

O Deus que cremos: Deus Amor! Deus do Impossível! Deus que dá plenitude à vida humana! Deus que Se lembra de todos nós, de modo especial daqueles a quem tanto ama: Os pobres de todos os tempos…

Advento é tempo de nos prepararmos para a acolhida do Deus que vem ao nosso encontro. Jesus vem e nos revela a Face de Deus, testemunhada em Sua ternura, bondade, paciência, compaixão, solidariedade, perdão, Encarnação/Vida, Morte/Vida. Eterna Ressurreição!

Quão precioso é para nós crer no Deus do impossível!

Reflitamos:

Quais são os sinais que nos levar a exultar de alegria pelo Natal do Senhor?

- De que modo esperamos ansiosamente a Noite em que as trevas cederão lugar à luz, a tristeza à alegria, a angústia à esperança, a fome à saciedade, a violência à paz, à maldade ao bem, a mentira à verdade, as diferenças às superações e aproximações, as brigas às reconciliações, os rancores à acolhida e perdão?

Quantas coisas haverão de ceder quando o Verbo Se Encarnar em cada coração humano, privilegiada manjedoura do Menino Deus, cujo nascimento em breve celebraremos!

Concluamos com este canto:

“Quero mergulhar nas profundezas do
Espírito de Deus e descobrir Suas riquezas em meu coração.
É tão lindo, tão simples. 
Brisa leve, tão suave doce Espírito Santo de Deus. 
Tão suave, brisa leve, doce Espírito Santo de Deus”.

Tempo do Advento: silenciar e contemplar a ação de Deus

                                                                 

Tempo do Advento: silenciar e contemplar a ação de Deus

Ouvimos, no dia 19 de dezembro, a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 1,5-25), em que nos é apresentado o nascimento de João Batista, anunciado pelo Anjo Gabriel.

Vejamos o que nos diz o Cardeal J. Suenens, para que intensifiquemos a preparação para o Natal do Senhor: 

“Felizes os que sabem auscultar em profundidade, porque ouvirão a Deus! A nós parece incrível que Deus nos fale, entretanto Ele o faz ininterruptamente. 

Por que então não lhe ouvimos a voz? Simplesmente porque não estamos à escuta. A frequência de suas ondas é captada por quem pede e ouve em silêncio”. (1)

Os personagens que aparecem na passagem têm nomes, e estes revelam uma missão, como é o caso de João Batista (Deus é doador da graça), anunciado pelo Anjo Gabriel.

O Anjo Gabriel (a força e o poder de Deus)  faz duas comunicações: o nascimento extraordinário de João Batista, filho de um casal que prepara a anunciação de outro nascimento, o nascimento divino: Jesus  (Lc 1,26-38).

De fato, para Deus nada é impossível, e o Seu poder tem começo exatamente onde a fraqueza humana revela seus limites de possibilidades. Cremos no Deus do impossível!

“Todo o Amor suscitado pelo Espírito de Deus permanece para sempre e não há ventre estéril que o Espírito não possa tornar fecundo, porque ‘a Deus nada é impossível’” (Lc 1,37).

Bem afirmou o Cardeal que é preciso estar sempre vigilantes e em total sintonia com a voz de Deus que nos fala ao coração, e nos quer inseridos em Seu plano de Salvação.

Importa ouvir e acolher os Projetos de Deus, sem jamais atrapalhar, ou até mesmo atrapalhar quem deseja a este Projeto de Amor corresponder.

A felicidade que possamos alcançar é diretamente proporcional a capacidade de sintonia e escuta da voz de Deus que fala diretamente conosco, ou por intermédio de Seus bons “Anjos”, com quem convivemos, que são as pessoas de boa vontade que procuram viver em perfeita e plena sintonia com o querer de Deus, como fizeram Zacarias (o Senhor Se lembrou), Isabel (O meu Espírito jurou – Deus é plenitude), Maria (a amada de Deus), José (homem justo e piedoso), o próprio Jesus, o Emanuel, o Messias, Nosso Salvador, e todos aqueles que, pela fé, se colocaram em mesma atitude.

Como o próprio Apóstolo Paulo que ouviu a voz do Senhor lhe dizer em resposta à sua súplica, diante das dificuldades enfrentadas: 

“Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder”; e aos Coríntios, ele assim se expressou: “Prefiro gabar-me das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim, pois quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12, 9-10).

Seja para nós o Tempo do Advento, tempo de graça para maior atenção à Palavra Divina e, a partir de sua escuta e vivência.

Reconheçamos nossa fragilidade humana, e experimentemos a ação da onipotência do Amor Divino, que veio, vem e virá sempre ao nosso encontro, Jesus.

Ó precioso Mistério da Encarnação do Verbo

                                                               

Ó precioso Mistério da Encarnação do Verbo

"A Encarnação do Verbo, primeira etapa da Páscoa"

Em Tempo do Advento, preparando-nos para celebrar o Nascimento do Salvador, sejamos enriquecidos pelo Tratado contra as heresias, do Bispo Santo Irineu (Séc. II), que nos enriquece sobre o Mistério da Encarnação de Deus em nossa história.

“A glória do homem é Deus; mas quem se beneficia das obras de Deus e de toda a Sua sabedoria e poder é o homem.

Semelhante ao médico que demonstra sua competência no doente, assim Deus Se manifesta nos homens. Eis por que o Apóstolo Paulo diz: Deus encerrou todos os homens na desobediência, a fim de exercer misericórdia para com todos (Rm 11,32). Referia-se ao homem que, por ter desobedecido a Deus, perdeu a imortalidade, mas depois obteve misericórdia, recebendo a adoção por intermédio do Filho de Deus.

Se o homem acolhe, sem orgulho nem presunção, a verdadeira glória que procede das criaturas e do criador, isto é, de Deus todo-poderoso que dá a tudo a existência, e se permanece em Seu amor, na obediência e na ação de graças, receberá d’Ele uma glória ainda maior, progredindo sempre mais, até se tornar semelhante Àquele que morreu por ele.

Com efeito, Cristo Se revestiu de uma carne semelhante à do pecado (Rm 8,3) para condenar o pecado e, depois de o condenar, expulsá-lo da carne.

Tudo isso para incentivar o homem a tornar-se semelhante a ele, destinando-o a ser imitador de Deus, colocando-o sob a obediência paterna, a fim de que visse a Deus e tivesse acesso ao Pai. O Verbo de Deus habitou no homem e Se fez Filho do homem, para acostumar o homem a compreender a Deus e Deus a habitar no homem, segundo a vontade do Pai.

Por esse motivo, o sinal de nossa salvação, o Emanuel nascido da Virgem (cf. Is 7,11.14), foi dado pelo próprio Senhor; pois seria Ele quem salvaria os homens, já que não poderiam salvar-Se por Si mesmos. Por isso São Paulo proclama a fraqueza do homem, dizendo:

 ‘Estou ciente de que o bem não habita em mim’ (Rm 7,18), indicando que o bem de nossa salvação não vem de nós, mas de Deus. E ainda: ‘Infeliz que sou! Quem me libertará deste corpo de morte?’ (Rm 7,24). E logo mostra quem o liberta: ‘A graça de nosso Senhor Jesus Cristo’ (cf. Rm 7,25).

Também Isaías diz: Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas:

“Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é Ele que vem para nos salvar’ (cf. Is 35,3-4). Na verdade, nossa salvação não poderia vir de nós mesmos, mas unicamente do socorro de Deus”.

Que ao nos encontrarmos para a Celebração do Nascimento do Menino Jesus, sejamos envolvidos por esta graça que Ele nos alcançou ao assumir nossa condição humana, exatamente igual a nós, exceto no pecado, para a nossa Redenção.

Veio no ventre de Maria, o Filho de Deus, que Se encarnou para fazer a vontade do Pai: libertar a Humanidade do pecado e da morte, como nos fala o autor da Epístola aos Hebreus – “Eis-me aqui: Eu vim para fazer a Tua vontade”, de modo que a oferenda do Corpo de Jesus, feita uma vez para sempre, desde que entrou no mundo, consumou-se no Altar da Cruz, em que Ele ofereceu livremente a Sua vida pela Salvação de toda a Criação.

A Morte não se apoderou d’Ele, não teve a última palavra, uma vez que depois de Ressuscitado, foi exaltado à direita de Deus, onde intercede por todos nós continuamente.

Concluindo, afirmamos que a Encarnação de Deus é, portanto, a primeira etapa da Sua Páscoa e também da nossa Páscoa.

A Encarnação de Deus, a Encarnação da Misericórdia divina, abriu o caminho que nos conduz, com Ele próprio, à glória da Ressurreição.

Como vemos, é preciso sempre refletir o Mistério do Natal com os matizes Pascais, sem o que esvaziaríamos o Mistério do Natal do Senhor.

Mergulhemos com coragem nos Mistérios profundos de Deus! (IVDTAA)

                                               

Mergulhemos com coragem nos Mistérios profundos de Deus!

A Liturgia do 4º Domingo do Advento (Ano A) nos exorta para que intensifiquemos a preparação desta Festa do Natal do Senhor, com conversão, renovação e fortalecimento de nossa fidelidade ao Senhor.

A Liturgia da Palavra nos convida à purificação de indesejáveis alianças com falsos deuses que não nos alcançam a verdadeira alegria, somente assim teremos a possibilidade de um Natal bem celebrado. 

É imperativo a eliminação destas alianças, pois a verdadeira alegria só pode vir da Fonte das fontes, a Fonte da plena alegria, Cristo Jesus. Não percamos tempo em renovar nossa aliança de amor e fidelidade com Deus. Ele toma a iniciativa e espera nossa resposta.

Na passagem do Evangelho (Mt 1,18-24),  Deus gera Seu Filho, pelo orvalho do Espírito, no ventre de Maria. Uma vez gerado, acolhido, concebido, em vida doada no amor extremo de Cruz, e exaltado  por Sua gloriosa Ressurreição, nos reconciliará com Deus, fazendo-nos novas criaturas.       

Assim  é o Amor de Deus: gera a Fonte de amor - Jesus. Recria cada um de nós no Amor do Filho, por isto somos, d’Ele, amadas e preciosas criaturas... Em nós, faz morada pelo Espírito... 

Haverá Mistério mais belo e profundo a ser contemplado na Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus? 

Como é belo o Natal quando não esvaziamos o seu conteúdo Pascal; quando não o reduzimos a um fato do passado, a imóveis imagens num presépio!

Contemplemos duas figuras exemplares do Evangelho: Maria e José. Por trás da aparente singeleza da narrativa do sim de ambos, evidencia-se a dramaticidade vivida, a angústia, o temor... 

Não marcados pela ausência divina, ao contrário, uma proximidade que arranca de seus corações expressão de total confiança, um salto no escuro exigido pela fé para o reencontro com o esplendor da luz e da verdade. Entregam-se plenamente nas mãos de Deus, acolhem Seus desígnios que ultrapassam os limites humanos.

Maria e José nos levam a refletir quantas vezes titubeamos, tememos, oscilamos... A tibieza nos acompanha e manchamos o verdadeiro sentido do Natal, esvaziando-o de autêntico conteúdo, quando marcado pelo consumismo, ceias que nada expressam, presentes que não são acompanhados de verdadeiro amor e carinho; cartões grafados sem a tinta imprescindível do Espírito; a tinta do amor.

Maria e José, ainda que não compreendam os Mistérios e desígnios de Deus, confiam e não se contrapõem ao mesmo, exemplarmente mergulham na obscuridade do Mistério de Deus. E este é o grande convite de Deus para nós neste Natal: aceitar participar do Seu Plano de Salvação, não por nossos méritos, mas por Sua misericórdia.

A Salvação de Deus para nós é possível, mas não dispensa nossa liberdade de resposta e participação. 

Na escola de Maria e José aprendemos, a Deus, entregar todo nosso ser, nossa corporeidade, mente, espírito, tempo, fragilidade e nossa força na acolhida no mais profundo de nós, no presépio, mais ainda, na manjedoura de nosso coração Aquele que veio, vem e virá!

Eis o que nos levará a uma autêntica devoção à Nossa Senhora e ao seu justo e corajoso esposo José, aquele que tão bem soube cuidar da Fonte da Vida!

Que o Advento seja Tempo favorável de nos rejuvenescermos no amor de Deus, e assim no Natal saborearmos a alegria de nos doarmos aos irmãos, como tão bem fizeram Maria e José.

Deus vem ao nosso encontro... Abracemos com alegria esta proposta de Salvação. 

Fecharmo-nos a Deus, eclipsando-O de nossas vidas e negarmos Cristo, fará desaparecer o sentido e o valor da vida. A esperança dará lugar ao desespero, bem como a alegria sucumbirá dando lugar à depressão; afundaremos no lodaçal do pecado, da escuridão, do desamor, do rancor, da injustiça, da solidão... Desintegração pessoal, humano-afetiva, espacial e cósmica que trará funestas consequências, instaurando o caos indesejável, afastando-nos do sonho e desejo de Deus: o Reino, o reencontro do paraíso em passos firmes e certos para a plenitude do Seu amor – céu...

Diante do presépio nos coloquemos e uma vez extasiados pela singeleza do mesmo, renovemos nossa fidelidade a Deus, revigoremo-nos no Banquete da Eucaristia; deixemo-nos iluminar pela Luz Divina que a Palavra resplandece.

Com Maria e José, aprendamos que a promessa da vinda do Salvador não foi uma promessa inócua, jamais realizada; aprendamos com eles que Deus promete, Deus cumpre, pois é próprio do amor de Deus cumprir Suas promessas. 

Com eles, busquemos a Salvação que se destina a todos, não por imposição, mas acolhida com amor e liberdade, maturidade e fidelidade. Depende do quanto, a ela, nos abrimos na acolhida do Verbo que em nós mais uma vez quer fazer morada...

Ainda é tempo de preparar um lugar digno para a presença do Deus Menino, lá no mais profundo de nós, do que nós de nós mesmos. Afinal, é próprio do amor de Deus querer habitar no coração daqueles que Ele ama!



PS: IV Domingo do Advento -(ano A) -  Liturgia da Palavra: Is 7,10-14; Sl 23; Rm 1,1-7; Mt 1,18-24 

Maria e José: confiança plena em Deus (IVDTAA)

                                                              

Maria e José: confiança plena em Deus

No quarto Domingo do Advento (ano A), ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 1,18-24), que nos fala do Mistério da Encarnação de Jesus, “Deus conosco”, que vem ao encontro da humanidade, com uma proposta de salvação para todos.

No entanto, é preciso acolher a salvação de coração e braços abertos deixando-se transformar por sua proposta.

Dediquemos especial atenção à participação de Maria e José neste Mistério do amor de Deus, ao Se encarnar entre nós, fazendo-Se um de nós, semelhante em tudo, exceto no pecado.

Contemplemos Maria:
“Maria calava, sofria e punha nas mãos de Deus a sua honra e as angústias por que José iria passar por sua causa; e Deus, que tinha revelado já a Isabel o mistério da concepção de Jesus, poderia igualmente vir a revelá-lo a José. De tudo isto fica para nós o exemplo de Maria e de José: não admitir suspeitas temerárias e confiar sempre em Deus”. (1)

Contemplemos São José, refletindo sobre o que nos dizem três santos da Igreja (São Bernardo, Santo Agostinho, e São João Crisóstomo, respectivamente):

“ São José  foi tomado dum assombro sagrado perante a novidade de tão grande milagre, perante a proximidade de tão grande mistério, que a quis deixar ocultamente… José tinha-se, por indigno…’”. (2)

- “A José não só se lhe deve o nome de pai, mas este é-lhe devido mais do que a qualquer outro. Como era pai? Tanto mais profundamente pai, quanto mais casta foi a sua paternidade… O Senhor não nasceu do germe de José. Mas à piedade e amor de José nasceu um filho da Virgem Maria, que era Filho de Deus”. (3)

- “Não penses que, por ser a concepção de Cristo obra do Espírito Santo, tu (José) és alheio ao serviço desta divina economia; porque, se é certo que não tens nenhuma parte na geração e a Virgem permanece intacta, não obstante, tudo o que pertence ao ofício de pai, sem atentar contra a dignidade da virgindade, tudo te entrego a ti, o pôr o nome ao filho. (…) Tu lhe farás as vezes de pai, por isso, começando pela imposição do nome, Eu te uno intimamente com Aquele que vai nascer”. (4)

Percebemos que nada foi tão simples e claro para Maria e José. E no diálogo e silêncio orante, souberam se abrir ao Mistério da ação divina, como mais expressivos modelos de confiança e abertura ao Plano da Salvação que Deus tinha para nós.

Vivendo este Tempo do Advento, temos a graça de rever nossa abertura aos planos e projetos que Deus tem para cada um de nós, e o quanto nos abrimos, em total confiança, para dele participar, como fizeram Maria e José.

Assim vivendo, nos preparamos melhor para celebrar o inaudito acontecimento da História: a Encarnação do Verbo, o Menino Deus, que vem ao nosso encontro para conosco caminhar, e não reduziremos o Natal à comemoração de um fato passado, mas um acontecimento que se dá todos os dias e nos renova para trilharmos caminhos de justiça, paz, vida, amor e luz.




Natal: Seja feita a Vossa vontade, Senhor! (IVDTAA)

                                                                   

Natal: Seja feita a Vossa vontade, Senhor!

Com a Liturgia do 4º Domingo do Advento (ano A), contemplamos e professamos a fé em Jesus Cristo, o Deus conosco que veio nos trazer a Salvação.

Na passagem da primeira Leitura (Is 7,10-14), a mensagem fundamental é que Deus nunca abandona o Seu povo e está sempre presente.

Com o Profeta, aprendemos que não se pode confiar em alianças efêmeras, passageiras, temporais (nações potentes, exércitos estrangeiros...). A confiança e a esperança devem ser tão apenas em Deus, do contrário, pode se incorrer em maior sofrimento e opressão.

É preciso que, como Povo de Deus, saibamos ler os sinais de Deus, para não confiarmos em falsas seguranças e ilusórias esperanças. Somente Deus, Sua presença e Palavra, devemos ter como nossa “rocha segura”.

Na passagem da segunda Leitura (Rm 1, 1-7), vemos que o verdadeiro encontro com Jesus, assim como aconteceu com o Apóstolo Paulo, culmina com o anúncio e testemunho d’Ele, de Sua Pessoa, Palavra e Projeto de Vida e Salvação.

Paulo se apresenta como o servo de Jesus Cristo (descendente de Davi), Apóstolo por chamamento e eleito para anunciar o Evangelho a todos os povos. Nisto consiste sua missão, que levou até o fim, culminando com o martírio e derramamento de sangue.

Com ele, aprendemos que a missão evangelizadora deve ser realizada com amor e espírito de serviço, com palavras e gestos concretos.

Na passagem do Evangelho (Mt 1,18-24), temos um texto catequético, em que nos é apresentado Jesus, o Deus conosco, que, ao Se encarnar, traz à humanidade um Projeto de vida e salvação, e para tanto, Deus quis contar com a colaboração humana (Maria e José).

Temos a descrição cuidadosa da mensagem do Anjo, e da revelação de quem é Jesus:

- Ele vem de Deus, com origem divina, pois Maria está grávida por obra do Espírito Santo;

- Sua missão é a Salvação de toda a humanidade, como indica o Seu nome;

- Ele é o Messias de Deus, da descendência de Davi, como por séculos fora anunciado (aqui o papel preponderante de José, com a paternidade adotiva).

Vivamos o Tempo do Advento como a graça do encontro com Jesus e a acolhida de Sua Pessoa, Palavra e Projeto, que transforma a nossa vida.

Vivamos o verdadeiro Natal, não um natal do consumismo, dos presentes trocados, das refeições mais enriquecidas.

Mais que comemorar o Natal, celebremos o Natal do Senhor, aprendendo com Maria e José, que acolheram o Verbo e permitiram que Ele crescesse em tamanho, sabedoria e graça diante de Deus.

Que o sim de Maria e de José leve-nos a refletir sobre os “sins” que Deus espera de todos nós para que o Seu Projeto de amor, vida, luz e paz, chegue a todas as pessoas.

O verdadeiro Natal ocorrerá em nossa vida quando formos totalmente sim para Deus e Sua vontade, e se preciso for, revendo nossos caminhos e projetos pessoais, colocando os Seus desígnios e vontade acima de nossas próprias vontades e caprichos.

Natal é a Luz de Deus que vem iluminar nossos caminhos obscuros, sobretudo quando vemos noticiários cotidianos em que a mentira, a maldade, o roubo, o desmando, a corrupção parecem prevalecer sobre as atitudes e pessoas de boa vontade. 

Contemplemos o Mistério da Encarnação do Verbo (IVDTAA)

                                                          

Contemplemos o Mistério da Encarnação do Verbo

Aprofundando o quarto Domingo do Advento (ano A), sejamos enriquecidos pelo Sermão do Venerável e Doutor da Igreja, São Beda (séc. VIII), em que nos fala do grande e insondável Mistério da Encarnação do Verbo no ventre de Maria:

“Em poucas palavras, porém cheias de realismo, o evangelista São Mateus descreve o nascimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo pelo qual o Filho de Deus, eterno antes do tempo, apareceu no tempo como Filho do Homem.

Conduzindo o evangelista à sucessão genealógica, partindo de Abraão até chegar a José, o esposo de Maria, e enumerar – conforme o modo costumeiro de narrar às gerações humanas – a totalidade seja dos genitores como dos gerados, e dispondo-se a falar do nascimento de Cristo, ressaltou a enorme diferença que existe entre Ele e os demais nascimentos: os outros nascimentos ocorrem através da união normal do homem e da mulher, enquanto que Ele, por ser o Filho de Deus, veio ao mundo através de uma virgem. E era conveniente sob todos os aspectos que Deus, ao decidir tornar-Se homem para salvar os homens, não nascesse senão de uma virgem, pois era impensável que uma virgem não gerasse a nenhum outro, senão a um que, sendo Deus, ela O gerasse como Filho.

Eis que, disse o profeta, a Virgem conceberá, e dará à luz um filhoe lhe porá o nome de Emanuel (que significa ‘Deus conosco’). O nome que o profeta dá ao Salvador, ‘Deus conosco’, indica a dupla natureza de Sua única Pessoa.

Na verdade, Aquele que é Deus nascido do Pai antes de todos os séculos, é o mesmo que, na plenitude dos tempos tornou-se, no seio materno, no Emanuel, isto é, em ‘Deus conosco’, porque Se dignou assumir a fragilidade de nossa natureza na unidade de Sua Pessoa, quando a Palavra se fez carne e habitou entre nós, quando de modo admirável começou a ser o que nós somos, sem deixar de ser o que era, assumindo de tal forma nossa natureza que não ficasse obrigado a deixar de ser o que Ele era.

Maria deu à luz, pois, a Seu Filho primogênito, isto é, ao Filho de Sua própria carne. Deu à luz Àquele que, antes da criação, nasceu Deus de Deus, e na humanidade, na qual foi criado, superava superabundantemente a toda criatura. E Ele lhe pôs, diz, o nome de Jesus.

Jesus é nome do filho que nasceu da Virgem; nome que significa – conforme a explicação angélica – que Ele salvaria o Seu povo de seus pecados. E Aquele que salva dos pecados salvará da mesma forma das corruptelas da alma e do corpo, que são sequelas do pecado.

A palavra ‘Cristo’ designa a dignidade sacerdotal ou régia. Na lei, tanto os sacerdotes como os reis eram chamados ‘cristos’ pela crisma, isto é, pela unção com o óleo sagrado: eram um sinal de alguém que, ao manifestar-se no mundo como verdadeiro Rei e Pontífice, foi ungido com o óleo de júbilo entre todos os seus companheiros.

Devido a esta unção ou crisma, é chamado Cristo; aos que participam desta unção, ou seja, desta graça espiritual, são chamados de ‘cristãos’. Que Ele, por ser nosso Salvador, nos salve de nossos pecados; enquanto Pontífice nos reconcilie com Deus Pai; na Sua qualidade de Rei; digne-se conceder-nos o Reino eterno de Seu Pai, Jesus nosso Senhor, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina e é Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.” (1)

O Sermão nos convida a contemplar e refletir sobre o grande e insondável Mistério da Encarnação do Verbo no ventre de Maria, mas também nos convida a refletir sobre a graça que recebemos de nos tornarmos “cristãos”.

Como cristãos que somos, seguidores de Jesus Cristo, somos ungidos, marcados, assinalados para a mais bela missão: a continuidade da missão de Jesus Cristo, cujo nascimento a poucos dias celebraremos.

Seja o Natal a Festa do Amor (o Espírito Santo), que veio ao encontro da humanidade por meio do Amado (Jesus Cristo), comunicador do pleno e infinito amor do Pai (o amante).

Natal é a Festa em que nos deixamos envolver, ou mergulhamos intensa e profundamente no amor de Deus, para deste amor sermos sinal e comunicadores.

Oremos:
Ó Deus de Amor e ternura, que por meio do Vosso Filho, nosso Salvador, sejamos salvos de nossos pecados, remidos pelo graça e ação do Santo Espírito.
Ó Deus de misericórdia e bondade, que por meio do Vosso Filho, nosso divino Pontífice, nos reconcilie convosco, e assim, vivamos relações mais humanas e fraternas.

Ó Deus onipotente e onipresente, que por meio do Vosso Filho Rei e Senhor de todos os povos; seja-nos concedida a graça da vinda do Vosso Reino, que é eterno e universal: Reino da verdade e da vida, Reino da santidade e da graça, Reino de justiça, do amor e da paz. Amém.

(1)         Lecionário Comentado – Editora Vozes – 2013 0 pp.32-33   

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