quarta-feira, 24 de abril de 2024

O desafio da evangelização na cidade

                                                         

O desafio da evangelização na cidade

 “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho
(1 Cor 9,16)

Como anunciar a Palavra de Deus numa cidade marcada por desafios, contrastes, situações que nos inquietam (fome, desemprego, violência, droga...)?

Sejamos iluminados pela passagem da Carta do Apóstolo Paulo na aos Coríntios (1 Cor 9,16-19.22-23).

Contemplamos a ação evangelizadora de Paulo, feita na liberdade, fidelidade, gratuidade e obediência incondicional.

Quando alguém, como Paulo, encontra Cristo e se torna Seu discípulo não pode ficar parado, tem que dar testemunho, incansavelmente. Por amor a Deus e aos irmãos, estar sempre pronto a tudo sacrificar, e até mesmo se sacrificar.

Paulo por excelência é aquele que a Cristo encontrou, por Ele se apaixonou e daí o imperativo da evangelização que sai de sua boca, porque antes se encontra impresso na alma, nas entranhas de seu coração – “ai de mim se eu não evangelizar” (1 Cor 9,16).

Quando o Amor de Deus é absoluto em nossa vida, o tempo é uma figura que passa, as coisas têm o seu exato sentido e tamanho.

Em nossas comunidades eclesiais, na vida da Igreja, muitos problemas deixariam de existir ou tornar-se-iam menores, se nossa paixão por Jesus fosse maior.

O amor é o bem maior, pelo qual se renuncia aos bens menores, por causas maiores que nos desafiam: uma delas é ser sinal do Reino na sombria cidade, com seus clamores que sobem aos céus, com rostos e nomes, ou mesmo num triste anonimato.

Reflitamos:

Não nos falta uma verdadeira paixão por Jesus?
- Não nos falta uma paixão mais sincera, mais inflamada, mais comprometida pela causa do Reino? 

- Como proclamamos a Boa-Nova de Jesus na cidade?
- Quais são os clamores da cidade que sobem aos céus, e que não podemos deixar de ouvir e procurar respostas para superá-los?

- O que o Apóstolo tem a nos ensinar nesta missão?

Aprendamos com o Apóstolo a fazer da vida um dom a Cristo, ao Reino, aos irmãos, para que nossos projetos pessoais sejam subordinados aos Projetos divinos.

Somente quando a nossa vontade corresponde à vontade de Deus, e não impomos a Ele a nossa vontade, poderemos rezar com autenticidade a Oração do Pai Nosso que o Senhor nos ensinou.

Por uma autêntica Identidade Cristã!

                                                   

Por uma autêntica Identidade Cristã!

Sejamos enriquecidos pela Carta escrita a “Diogneto” (século II):

“Os cristãos não se diferenciam dos outros homens nem pela pátria nem pela língua nem por um gênero de vida especial.

De fato, não moram em cidades próprias, nem usam linguagem peculiar, e a sua vida nada tem de extraordinário.

A sua doutrina não procede da imaginação fantasista de espíritos exaltados, nem se apoia em qualquer teoria simplesmente humana, como tantas outras.

Moram em cidades gregas ou bárbaras, conforme as circunstâncias de cada um; seguem os costumes da terra, quer no modo de vestir, quer nos alimentos que tomam, quer em outros usos; mas o seu modo de viver é admirável e passa aos olhos de todos por um prodígio.

Habitam em suas pátrias, mas como de passagem; têm tudo em comum como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem pátria.

Todo país estrangeiro é sua pátria e toda pátria é para eles terra estrangeira.
Casam-se como toda gente e criam seus filhos, mas não rejeitam os recém-nascidos. Têm em comum a mesa, não o leito. São de carne, porém, não vivem segundo a carne.

Moram na terra, mas sua cidade é no céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas com seu gênero de vida superam as leis. Amam a todos e por todos são perseguidos.

Condenam-nos sem os conhecerem; entregues à morte, dão a vida.
São pobres, mas enriquecem a muitos; tudo lhes falta e vivem na abundância.

São desprezados, mas no meio dos opróbrios enchem-se de glória; são caluniados, mas transparece o testemunho de sua justiça. Amaldiçoam-nos e eles abençoam. Sofrem afrontas e pagam com honras.

Praticam o bem e são castigados como malfeitores; ao serem punidos, alegram-se como se lhes dessem a vida.

Os judeus fazem-lhes guerra como a estrangeiros e os pagãos os perseguem; mas nenhum daqueles que os odeiam sabe dizer a causa do seu ódio.

Numa palavra: os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo.
A alma está em todos os membros do corpo; e os cristãos em todas as cidades do mundo.

A alma habita no corpo, mas não provém do corpo; os cristãos estão no mundo, mas não são do mundo.

A alma invisível é guardada num corpo visível; todos veem os cristãos, pois habitam no mundo, contudo, sua piedade é invisível. A carne, sem ser provocada, odeia e combate a alma, só porque lhe impede o gozo dos prazeres; o mundo, sem ter razão para isso, odeia os cristãos precisamente porque se opõem a seus prazeres.

A alma ama o corpo e seus membros, mas o corpo odeia a alma; também os cristãos amam os que os odeiam.

Na verdade, a alma está encerrada no corpo, mas é ela que contém o corpo; os cristãos encontram-se detidos no mundo como numa prisão, mas são eles que abraçam o mundo.

A alma imortal habita numa tenda mortal; os cristãos vivem como peregrinos em moradas corruptíveis, esperando a incorruptibilidade dos céus.

A alma aperfeiçoa-se com a mortificação na comida e na bebida; os cristãos, constantemente mortificados, veem seu número crescer dia a dia.

Deus os colocou em posição tão elevada que lhes é impossível desertar.”

A reflexão desta Carta nos recorda qual é a nossa missão, a nossa Identidade, a razão de nosso ser, para que vivamos melhor nosso Batismo, e do mundo, a luz sejamos, da terra o sal, da massa o fermento.

“Os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo” 

Nossa resposta à Carta:

A melhor resposta a esta Carta, também a nós dirigida:
A revisão de nossa conduta, atitudes, comportamentos,
Fidelidade a princípios na coerência entre a fé e a vida,
Fazendo das virtudes, do amor e esperança, fundamentos.

A melhor resposta é viver o caminho de santidade:
Compromisso com a causa do Reino, valor absoluto!
Criando, na misericórdia, laços de sadia fraternidade,
Lutar, para que não haja mais dor, lamento, morte e luto.

A melhor resposta é rever a nossa Identidade:
Ser, de fato, luz, lançando raios de ternura.
Ser, de fato, da terra, sal, que dá gosto de eternidade.
Ser, mais que de fato, fermento da Verdade mais pura:
Jesus Cristo!


PS: Liturgia das Horas Vol. II - pp. 757 e 758.

Em poucas palavras...

 


Pequeninos e disponíveis para o Reino

“Jesus não teme aqueles que dispõem secretamente de Seu nome para exorcizar; só podem fazê-lo, crendo em Seu poder salvífico.

Na ação apostólica, é preciso saber aceitar que também outros trabalhem em nome de Cristo. Para isso, cada um deve fazer-se pequenino, sem pretensões, com plena disponibilidade.” (1)

 

(1)Missal Quotidiano – Editora Paulus – 1995 – pág. 1324 – passagem do Evangelho – Lc 9,46-50

Os Milagres são pura expressão do Amor de Deus

Os Milagres são pura expressão do Amor de Deus

Reflitamos sobre um tema de importância singular, e por vezes complexo, que se não bem compreendido pode levar às dispersões, controvérsias estéreis: os milagres.

Milagres existem e são sinais que ultrapassam a explicação racional, pois a fé escapa às categorias da razão, do pensamento científico, e não devem ser usados como espetáculos midiáticos que rendem altos pontos de ibope.

A Igreja, como é de se esperar, tem muita prudência em afirmar que um determinado fato é um milagre ou não. Entretanto, quando ocorrem, de fato, a Igreja os atribui à expressão máxima da misericórdia de Deus.

Seja ressaltado que mais importante do que provar ou negar milagres é nos abrirmos constantemente à graça divina, que faz acontecer no silêncio de muitas histórias tantos milagres que não são noticiados.

E, assim, reconhecermos o grande milagre inadiável a ser vivido, que nos alcançará muito mais do que uma graça aqui ou acolá, trata-se do milagre do amor.

Viver amando como Jesus amou é o grande milagre, para que possamos construir novos tempos, novas relações, enfim, um mundo novo que não podemos mais adiar.

O milagre, portanto, deve ser entendido como prerrogativa divina. Eles acontecem porque temos fé, e não o contrário, ainda que muitos o queiram, logo não precisamos dos milagres para termos fé.

Uma fé viva e corajosa nos fará contemplativos e ativos, acolhendo as inumeráveis graças divinas. Não correremos atrás dos milagres, porque estaremos seguindo serenamente o Caminho que é Jesus Cristo, Verdade que nos liberta e Vida em plenitude para todos nós.

Nisto consiste a beleza do viver: abrir-se ao
Mistério Divino que nos acompanha.
E, quando milagres Deus propicia,
é a mais pura expressão do Seu amor
para com aqueles que criou.

Em poucas palavras...

 


Jesus de Nazaré

“Nós cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, judeu nascido duma filha de Israel, em Belém, no tempo do rei Herodes o Grande e do imperador César Augusto, carpinteiro de profissão, morto crucificado em Jerusalém sob o procurador Pôncio Pilatos no reinado do imperador Tibério, é o Filho eterno de Deus feito homem; que Ele «saiu de Deus» (Jo 13, 3), «desceu do céu» (Jo 3, 13; 6, 33) e «veio na carne» (5), porque «o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós.

Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade [...] Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça» (Jo 1, 14, 16).” (1)


(1)        Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 423

O Senhor é a nossa luz! Não há porque temer

                                             

O Senhor é a nossa luz!  Não há porque temer

A Liturgia da Palavra da quarta-feira da 4ª Semana da Páscoa nos apresenta as seguintes Leituras: At 12,24-13,5a; Sl 66,2-3.5-8 e Jo 12,44-50.
  
Na passagem do Evangelho, Jesus Se apresenta como a luz do mundo, enviado pelo Pai. É esta luz que Barnabé e Saulo (primeira Leitura) foram escolhidos e enviados para anunciar.
  
Oportuna esta afirmação para aprofundarmos nossa reflexão:

“É nos pedido que acreditemos que Jesus está do nosso lado: Não vim condenar o mundo, mas para salvar o mundo” (Jo 12,47). Rejeitando esta âncora de Salvação, não podemos deixar de nos condenarmos a uma existência insatisfeita, autoexcluindo-nos da alegria.
  
Pode acontecer que a espessura das trevas (rancores, inimizades, falhanços, frustrações) torne mais pesada a nossa vida a ponto de nos tornar incapazes de pronunciar mesmo só a palavra ‘acredito’: acredito em Vós, Jesus.
  
Nestas circunstâncias conforta-nos a certeza de que o Amor de Deus é de tal modo tenaz que consegue projetar um forte feixe de luz através de uma pequena fresta.
  
Jesus apoiou sem dúvida a sincera confissão de um pai: ‘Senhor, eu creio, mas ajuda a minha falta de fé’ (Mc 9, 24).” (1)
  
O Tempo Pascal é marcado pelo intenso e profundo transbordamento da alegria, como rezamos nas Orações e, de modo especial, no Prefácio da Santa Missa.
  
A alegria transborda no coração daquele que crê e não ruma mais em direção ao túmulo, mas para a Mesa da Páscoa, para a Mesa do Banquete da Eucaristia e da Palavra, no desejo de um dia contemplar a Face de Deus no Banquete Eterno e Celestial (1Jo 3,2b).
  
Sentimos a presença de Jesus ao nosso lado, como quando estava com os discípulos de Emaús. Estamos moldando a nossa vida pelo Mistério da Palavra proclamada. A cada Missa acolhendo e afirmando nossa fé na “ancora da Salvação”, o Cristo Ressuscitado, na escuta e testemunho de Sua Palavra.
  
A Páscoa traz sempre novo gosto pela vida. Nossas forças são renovadas, nossa existência ganha em beleza, plenitude de graça e luz, é nos cumulada no coração, para que em pequenos ou grandes sinais possamos comunicar e transbordar esta alegria que ninguém pode nos roubar.

A “espessura das trevas”, ou seja, a somatória dos sofrimentos, desafios, dificuldades pelas quais possamos passar, não serão mais fortes que a força que nos vem do Cristo Glorioso, Vitorioso, Ressuscitado.
  
Cremos que o Amor de Deus é sempre surpreendente. Quando já não parece mais haver esperança, Deus a faz renascer.
  
Quando a chama do amor parece se apagar, é reacesa e inflamada com a Chama Eterna do Fogo do Espírito. Quando a fé parece esmorecer e diluir pelo Mistério de Paixão e Morte, ressuscita, renova, fortalece, substancia-se, enormemente, no mais profundo de nossa alma e coração.
  
Acolhamos no mais profundo de nós o Amor de Deus tão tenaz (persistente, inextinguível e vigoroso...).
  
Na menor fresta que Deus possa encontrar na janela de nossa alma, que Ele invada com a luz do Seu Espírito, para que vivamos a vida nova daqueles que no Ressuscitado creem.

Firmemos nossos passos acolhendo a “âncora de nossa Salvação”, Jesus. O céu é possível para quem n’Ele viver e crer. 

Creio, Senhor, mas aumentai a minha fé...


(1) Lecionário Comentado – Editora  Paulus – Lisboa - pág. 506-509. 

Os Sofrimentos de Cristo, os sofrimentos do cristão


Os Sofrimentos de Cristo, os sofrimentos do cristão...


"Procuro completar na minha carne 
o que falta das tribulações de Cristo" (Cl 1,24).

O Comentário do Bispo Santo Agostinho  (séc. V), nos ajuda na compreensão dos sofrimentos do cristão e os sofrimentos de Cristo.

“Jesus Cristo é um só Homem, com Sua cabeça e Seu corpo: Salvador do corpo e membros do corpo são dois numa só carne, numa só voz, numa só Paixão; e quando passar o tempo da iniquidade, num só descanso.

Por isso, os Sofrimentos de Cristo não são apenas de Cristo, ou melhor, os Sofrimentos de Cristo não são senão de Cristo. Se pensas em Cristo como cabeça e corpo, os Sofrimentos de Cristo são apenas de Cristo; se, porém, pensas em Cristo só como cabeça, os Sofrimentos de Cristo não são apenas de Cristo.

Com efeito, se os Sofrimentos de Cristo só atingem a Cristo, isto é, apenas a cabeça, como pode dizer um de Seus membros, o Apóstolo Paulo:

Procuro completar na minha carne o que falta das tribulações de Cristo? (Cl 1,24).

Se, pois, és membro de Cristo – quem quer que sejas tu que ouves estas palavras, ou mesmo que não as ouça (no entanto ouves se és membro de Cristo) – tudo quanto sofreres por parte daqueles que não são membros de Cristo, é o que faltava às tribulações de Cristo.

Por isso se diz que faltava. Tu vens encher a medida, mas não a fazes transbordar. Tu sofres apenas o que faltava da tua parte na Paixão total de Cristo, que sofreu como nossa cabeça e sofre ainda em Seus membros, quer dizer em nós mesmos.

Assim como numa sociedade civil, ou 'república', cada um paga conforme as suas posses o que lhe compete, também cada um de nós contribui para esta comunidade, na medida de suas possibilidades, com uma espécie de quota de sofrimentos.

A liquidação total dos sofrimentos de todos só se dará quando chegar o fim do mundo. Portanto, irmãos, não julgueis que todos os justos que sofreram perseguições dos iníquos, mesmo aqueles que foram enviados antes da vinda do Senhor para anunciar Sua chegada, não pertenciam aos membros de Cristo.

Longe de vós pensar que não pertença aos membros de Cristo quem faz parte da cidade que tem Cristo como Rei. Pois toda esta cidade fala, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias.

E a partir de então, desde o sangue de João Batista, é uma só cidade que fala através do sangue dos Apóstolos, do sangue dos mártires, do sangue dos fiéis em Cristo”. 

Deixemos ressoar estas afirmações::

 “Tu sofres apenas o que faltava da tua parte na Paixão total de Cristo, que sofreu como nossa cabeça e sofre ainda em Seus membros, quer dizer em nós mesmos” e ainda:

“A liquidação total dos sofrimentos de todos só se dará quando chegar o fim do mundo.”

Somos remetidos às palavras do Apóstolo Paulo:

“Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por Seu corpo que é a Igreja”  (Cl 1,24).

Sofrimentos...
Ainda que não gostemos, eles existem!
Sofrimentos, quem não os têm?
Sofrimentos, quem deles está imune?
Sofrimentos, como assumi-los?

Façamos uma súplica por todos os que sofrem:

Que o Espírito Santo,  o Paráclito, 
o Advogado, Defensor, o Consolador 
venha sempre ao nosso encontro e, 
de modo especial, de todos os que sofrem...
Vinde Espírito Santo enchei os corações
dos Vossos fiéis...

PS: Liturgia das Horas - Vol. II - páginas: 1574 e 1575. 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG