quarta-feira, 3 de setembro de 2025
Impermeabilidade...
Travessia em tempo de pandemia
Travessia em tempo de pandemia
A travessia pelo deserto em tempo de pandemia nos desafia:
Noticiário invade nossas casas, comunidades e outros espaços,
Inquietando-nos,
roubando e adiando sonhos e projetos,
Mas
haveremos de vencer juntos na solidariedade,
Comunhão,
proximidade real ou virtual, quando possível,
Com
a firme convicção de que lições haveremos de aprender.
Travessia
com suas subtrações num rol imensurável:
Daqueles
que partiram para a eternidade cedo demais;
Dos
encontros, festas, aulas, formações e celebrações.
Travessia
vivida como um pesadelo sem fim,
Em
que somos desafiados a dar razão da esperança viva,
Fé
inquebrantável e caridade vivida mais necessária.
Travessia
com suas adições da mesma forma sucedem:
Soma
de sorrisos que não empalidecem, apesar de toda a dor.
Soma
de experiências que marcarão para sempre nossa vida,
Que
não mais voltará a ser como antes, pois
Navegávamos
como que numa nave à deriva;
Ao
encontro da tragédia que vivenciamos.
Travessia
com suas multiplicações, contemplamos:
Multiplicaram-se
esforços de crescimento, superação;
Esforços
de vidas sacrificadas para que outros vivessem.
Quer
nos espaços da comunidade ou do cotidiano,
Multiplicações
de mil nomes de pessoas ora visíveis
Ora
em anonimatos em heroicas atividades lembramos.
Travessia
com suas divisões em gestos tantos vistos.
Aprendizado
para repartir o pouco que se tem,
Para
que, juntos, nos fortaleçamos e consigamos atravessar,
E a
margem do horizonte do inédito que nos move, alcançar.
Divisão
de responsabilidades sem lamentos, com dedicação,
A
fim de que nada e a ninguém falte o essencial para sobreviver.
Travessia
se faz sofrendo e aprendendo, incansavelmente.
Como
assim o fez o Povo de Deus, narra a Sagrada Escritura;
Travessia
que nos aproxima uns dos outros ao encontro do Outro,
Do
Deus do Êxodo, da libertação, da solidariedade sempre presente,
Que
jamais à nossa dor se faz cego, surdo, mudo e indiferente.
Amor
que ama para que não desistamos da travessia.
“Iahweh disse: ‘Eu vi a miséria do meu
povo que está no Egito.
Ouvi seu grito por causa dos opressores; pois eu conheço as suas
angústias. Por isso desci a fim de
libertá-lo da mão dos egípcios,
E para fazê-lo subir desta terra para
uma terra boa e vasta,
Terra que emana leite e mel, o lugar dos cananeus, dos heteus, dos
amorreus, dos ferezeus, dos heveus e jebuzeus’” (Ex 3,7-8).
PS: Escrito em 2020
Rezando com os Salmos - Sl 61 (62)
Somente em Deus
confiamos e esperamos
“–1 Ao maestro do
coro. Sobre Iditun. Salmo de Davi.
–2 Só em Deus a minha alma tem repouso,
porque d’Ele é que me vem a salvação!
–3 Só Ele é meu rochedo e salvação,
a fortaleza, onde encontro segurança!
–4 Até quando atacareis um pobre homem,
todos juntos, procurando derrubá-lo,
– como a parede que começa a inclinar-se,
ou um muro que está prestes a cair?
–5 Combinaram empurrar-me lá do alto,
e se comprazem em mentir e enganar;
– enquanto eles bendizem com os lábios;
no coração, bem lá do fundo, amaldiçoam.
–6 Só em Deus a minha alma tem repouso,
porque d’Ele é que me vem a salvação!
–7 Só Ele é meu rochedo e salvação,
a fortaleza, onde encontro segurança!
–8 A minha glória e salvação estão em Deus;
o meu refúgio e rocha firme é o Senhor!
=9 Povo todo, esperai sempre no Senhor,
e abri diante d’Ele o coração:
nosso Deus é um refúgio para nós!
–10 Todo homem a um sopro se assemelha,
o filho do homem é mentira e ilusão;
– se subissem todos eles na balança,
pesariam até menos do que o vento:
–11 Não confieis na opressão, na violência
nem vos gabeis de vossos roubos e enganos!
– E se crescerem vossas posses e riquezas,
a elas não prendais o coração!
=12 Uma palavra Deus falou, duas ouvi:
"O poder e a bondade a Deus pertencem,
pois pagais a cada um conforme as obras".
O Salmo 61(62) nos convida a colocar em Deus nossa esperança.
O salmista vive uma realidade de perseguição, mas coloca toda a
confiança em Deus, que é o Seu apoio e força. Deste modo, exorta o povo a
confiar em Deus e não nas ilusórias demonstrações de forças humanas (1).
De fato, a esperança deve estar em Deus, pois ela não nos
decepciona (Rm 5,5), e tão somente n’Ele encontramos a verdadeira paz.
Em outra passagem, assim falou o Apóstolo Paulo aos Romanos:
“Que o
Deus da esperança vos encha de toda alegria e paz em vossa fé. Assim, vossa
esperança abundará, pelo poder do Espírito Santo (Rm 15,13).
Coloquemos também em Deus toda a nossa confiança e esperança. Amém.
(1) Comentário da Bíblia
Edições CNBB – p.776
Senhor, quero falar contigo...
Iluminai os lugares mais sombrios e obscuros de minha mente e pensamento,
Para que eu possa no mundo resplandecer a Vossa divina luz:
Com palavras, gestos, renovados compromissos batismais.
Ajudai-me a perceber Vossa maviosa presença,
sem jamais o esmorecimento e o pretenso retorno a “Emaús”,
sem qualquer chama de alegria e esperança.
Reavivai em mim o sonho puro, a doce confiança,
um coração terno de criança.
extremado na Morte de Cruz.
Que a lógica por mim vivida preencha todo meu ser.
porque se meu coração Pelo “fogo devorador” do Vosso Espírito, inflamado, passos firmados na santificação.
a minha existência com a luz da Vossa Verdade;
da malícia, maldade, crueldade, infidelidade.
Somente pelo Vosso Amor incomparável, indizível,
quero sedimentar cada momento:
Na família, na Igreja, na sociedade, no mundo,
impregnado pela Vossa Divina Palavra,
Nutrir-me do Pão de Imortalidade,
inebriar-me do Vinho do Sagrado Cálice:
ser Vosso fermento.
cada página escrita, com a tinta do Amor
pois assim esperais de mim, é o que anseias.
Que eu lance âncoras na eternidade,
num presente vivido em contínuos mergulhos
No mar infinito de Vossa misericórdia, caridade, amor, ternura e bondade.
buscando a glória da imortalidade.
Que suportastes ser o Grão de Trigo no chão caído, morto,
Para que na glória fosseis pelo Pai Ressuscitado, Glorificado.
Que vivendo e crendo em Vós,
um dia eu seja elevado para o alto, onde estais.
Senhor Jesus, como nada ainda Vos amo!
Como nada ainda Vos adoro!
Senhor Jesus, uma súplica última:
Dilatai as medidas de meu coração.
“Por que as pessoas procuram uma religião?”
Uma pergunta aparentemente simples, mas nem tanto: “Por que as pessoas procuram a religião?”
Sejamos febris de amor pelo Senhor!
Cura: interação da ação divina e humana
Cura: interação da ação divina e humana
"Pois a glória de Deus é o homem vivo,
e a vida do homem é a visão de Deus. "
Reflitamos sobre a enfermidade e a cura, quando Jesus curou a sogra de Pedro, bem como a muitos enfermos de diversas doenças, ao final da tarde (Mc 1,29-39; Lc 4,38-44).
Assim lemos no Comentário do Missal Dominical:
“A experiência de uma enfermidade ou de uma situação de perigo pertence à da bagagem de todo homem.
Numa sociedade secularizada não existe o dilema entre dirigir-se ao médico ou recorrer à oração e acender uma vela.
Isto não quer dizer que tenha desaparecido a religiosidade ou que seja sintoma de ateísmo. Talvez se tenha simplesmente mudado o modo de encontrar-se com Deus.
O mundo foi confiado ao homem para que o transforme, construindo uma realidade sempre mais humana através da ciência e da organização social, que constituem o instrumento e as modalidades de transformação.
Esta tarefa se insere no quadro da relação Deus-homem e a ciência se torna seu lugar de encontro. E o é porque o homem, enquanto artífice no meio das realidades terrestres, se torna colaborador de Deus, e a ciência é a nova síntese baseando-se nos elementos do ‘criado-por-Deus’.
A ciência, pois, longe de afastar de Deus, aproxima mais profundamente dele, pelo respeito ao homem.
No quadro da fé, Cristo é libertador-vencedor da morte por Sua Ressurreição. Sua vitória é radical, mas em estado potencial. Cabe ao homem ‘novo’ tornar consistente esta vitória de Cristo.
Vencer a doença pela pesquisa científica significa ‘viver a Ressurreição de Cristo’. A libertação da moléstia, que a ciência realiza, assume uma significação particular no contexto do símbolo da libertação radical.
Debelar uma enfermidade, eliminar uma praga social, é símbolo-sacramento da libertação para a qual o Pai conduz a humanidade.”
Retomo duas afirmações para reflexão:
- “Numa sociedade secularizada não existe o dilema entre dirigir-se ao médico ou recorrer à oração e acender uma vela”;
- “Vencer a doença pela pesquisa científica significa ‘viver a Ressurreição de Cristo’”.
A oração, como expressão da fé em Deus, não dispensa a interação e colaboração do saber humano, das tecnologias, do desenvolvimento dos recursos disponíveis para debelar, curar as enfermidades das quais somos todos vulneráveis.
A fé em Deus, ao contrário, é um impulso para que mais pessoas tenham acesso ao que a medicina pode oferecer para curar e tornar a vida mais digna, mais humana.
A fé não dispensa compromissos com políticas públicas para que todos tenham acesso a um melhor atendimento médico, em Unidades Básicas, Postos de Saúde, Hospitais etc.
A fé em Deus nos leva à indignação e denúncia de desvios dos recursos que deveriam ser revertidos na promoção do bem comum, favorecendo melhores condições de atendimento a um enfermo, sobretudo os mais pobres.
Acender velas a Deus, confiando em Seu poder de curar, é possível e necessário, mas não se pode exigir que Ele faça o que esteja ao alcance de todos nós.
Urge vencer a doença pela pesquisa científica, a cada dia mais avançada, e isto nos faz verdadeiramente pascais, partícipes do Mistério da Paixão e Morte do Senhor, que veio no curar e nos salvar.
A cura de Deus, portanto, é graça, e podemos acender nossas velas em oração, mas sejam favorecidos todos os meios possíveis que o saber científico desenvolveu, como graça de Deus, para que as dores sejam amenizadas, enfermidades curadas.
Cura do corpo e da alma foram ações de Jesus, e serão sempre, pois Deus nos quer vivos e saudáveis, porque fomos criados à Sua imagem e semelhança, e, o Seu sopro de criador, recebemos, e nos tornamos Sua morada.
Finalizo com as palavras do Bispo Santo Irineu (séc. II):
“Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus. Com efeito, se a manifestação de Deus, através da criação dá a vida a todos os seres da terra, muito mais a manifestação do Pai, por meio do Verbo, dá a vida a todos os que veem a Deus”.
(1) Comentário do Missal Dominical - pág.893