quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Febris de amor para amar e servir

                                                            

Febris de amor para amar e servir

 “Minhas lágrimas e minha penitência
têm sido para mim como o Batismo”

Na quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum, ouviremos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,38-44), em que Jesus cura a sogra de Pedro que estava com febre.

Sejamos iluminados pelo Comentário de São Jerônimo, doutor da Igreja, (séc. V).

“A sogra de Pedro estava com febre.
Oxalá venha e entre em nossa casa o Senhor e com uma ordem Sua cure as febres de nossos pecados! Porque todos nós temos febre.

Tenho febre, por exemplo, quando me deixo levar pela ira. Existem tantas febres como vícios. Por isso, peçamos que intercedam frente a Jesus, para que venha a nós e segure nossa mão, porque se Ele segura a nossa mão, a febre foge em um instante. Ele é um médico nobre, o verdadeiro protomédico. Médico foi Moisés, médico Isaías, médico todos os Santos, mas este é o protomédico. Sabe tocar sabiamente as veias e perscrutar os segredos das enfermidades.

Ele não toca o ouvido, não toca a fronte, não toca nenhuma outra parte do corpo, mas a mão. Tinha febre, porque não possuía boas obras.

Em primeiro lugar, portanto, tem que curar as obras, e logo remover a febre. A febre não pode fugir se não são curadas as obras. Quando nossa mão possui más obras, jazemos no leito, sem podermos levantar, sem poder andar, pois estamos totalmente consumidos na enfermidade.

E aproximando-Se daquela que estava enferma.
Ela mesma não pôde levantar-se, pois jazia no leito e, portanto, não pôde sair ao encontro do que vinha. Porém, este médico misericordioso, ele mesmo acode ao leito; Aquele que tinha levantado sob Seus ombros a ovelhinha enferma, Ele mesmo acorre ao leito. E aproximando-Se... Sobretudo Se aproxima, e o faz para curá-la. E aproximando-Se... Observa o que Ele diz. É como dizer: seria suficiente sair-me ao encontro, achegar-te à porta e receber-me, para que tua saúde não fosse totalmente obra de minha misericórdia, mas também de tua vontade. Porém, já que te encontras oprimida pelas altas febres e não pode levantar-se, Eu mesmo venho a ti.

E aproximando-Se, a levantou.
Visto que ela mesma não podia levantar-se, é segurada pelo Senhor. Ele a levantou, tomando-a na mão. Segurou-a precisamente na mão. Também Pedro, quando perigava no mar e afundava, foi agarrado na mão e erguido. E levantou-a tomando-a pela mão, Com Sua mão o Senhor tomou a mão dela. Ó feliz amizade, ó formoso afago! Levantou-a segurando-a com Sua mão: com Sua mão curou a mão dela. Segurou sua mão como um médico, tomou o pulso, comprovou a intensidade das febres, Ele mesmo, que é médico e medicina ao mesmo tempo.

Jesus a toca e a febre foge. Que Ele toque também a nossa mão, para que nossas obras sejam purificadas, que Ele entre em nossa casa: por fim, levantemo-nos do leito, não permaneçamos abatidos. Jesus está de pé frente ao nosso leito, e nós permanecemos deitados? Levantemo-nos e fiquemos de pé: é para nós uma vergonha que estejamos recostados diante de Jesus.

Alguém poderá dizer: Onde está Jesus? Jesus está aqui agora. No meio de vós, diz o Evangelho, está alguém a quem não conheceis. O Reino de Deus está no meio de vós. Creiamos e vejamos que Jesus está presente. Se não podemos tocar Sua mão, prostremo-nos aos Seus pés. Senão podemos chegar à Sua cabeça, ao menos lavemos Seus pés com nossas lágrimas. Nossa penitência é unguento do Salvador. Vede quão grande é a Sua misericórdia. Nossos pecados fedem, são podridão e, contudo, se fizermos penitência pelos pecados, se os chorarmos, nossos pútridos pecados se convertem em unguento do Senhor. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos tome pela mão.

E no mesmo instante, afirma, a febre a deixou.
Apenas a segura pela mão e a febre a deixa. Observa o que segue: No mesmo instante a febre a deixou. Tem esperança, pecador, contanto que te levantes do leito.

O mesmo ocorreu com o santo Davi, que tinha pecado, deitado na cama com a mulher de Urias, o hitita, sentindo a febre do adultério, depois que o Senhor o curou, depois de ter dito: tem piedade de mim, ó Deus, por tua grande misericórdia, assim como: Contra Ti, só contra Ti pequei, cometi o mal aos Teus olhos. Livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu... Porque ele tinha derramado o sangue de Urias, ao ter ordenado derramá-lo. Disse: livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu, e renova meu espírito em meu interior.

Observa o que diz: Renova. Porque o tempo em que cometi o adultério e perpetrei o adultério e o homicídio, o Espírito Santo envelheceu em mim. E o que mais ele diz? Lava-me e ficarei mais branco do que a neve. Porque me lavaste com minhas lágrimas.

Minhas lágrimas e minha penitência têm sido para mim como o Batismo. Observa, então, de penitente em que se converte. Fez penitência e chorou, por isso foi purificado. O que acontece em seguida? Ensinarei aos iníquos Teus caminhos e os pecadores voltarão a Ti. De penitente se tornou mestre.

Por que disse tudo isto? Porque aqui está escrito: E no mesmo instante a febre a deixou e se pôs a servir-lhes. Não basta que a febre a deixasse, mas também se levanta para o serviço de Cristo. E se pôs a servi-lhes. Servia-lhes com os pés, com as mãos, corria de um lugar ao outro, venerava ao que lhe tinha curado. Sirvamos também nós a Jesus. Ele acolhe com gosto o nosso serviço, mesmo que tenhamos as mãos manchadas: Ele Se digna olhar aquele que curou, porque Ele mesmo o curou. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Jesus é, o Médico e tem a cura para nossas enfermidades, sejam quais forem.

Assim como Jesus curou a sogra de Pedro da febre que a acometia, e ela logo se pôs a serviço, também sejamos curados de nossas febres de tantos nomes (soberba, avareza, luxúria, ira, inveja, gula e preguiça), que consistem exatamente nos sete pecados capitais, que nos escravizam e nos roubam a alegria do serviço.

Curados pelo Médico, pelo Protomédico, curados pelo próprio Senhor, tomados pela Sua Mão, levantemo-nos e coloquemo-nos a serviço da vida e da esperança, para que a justiça e a paz se abracem, o amor e a verdade se encontrem, como rezou o Salmista (Sl 85,11). 

A sogra foi curada de uma febre para pôr-se a serviço; Pedro precisou, mais tarde, ser tomado pela febre de amor, para que o Senhor lhe confiasse o rebanho.

Há febres que precisamos ser curados, e há uma febre que deve, a cada dia mais, tomar conta de nosso coração: a febre de amor pelo Senhor.

Tão somente febris de amor pelo Senhor, somos curados das febres indesejáveis que nos afastam da alegria da participação da construção do Seu Reino.


 (1) Lecionário Patrístico Dominical – 2013 - Editora Vozes - pp.382-384

O Senhor cura-nos para o discipulado

                                                        

O Senhor cura-nos para o discipulado

A Liturgia da quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,38-44), em que Jesus cura a sogra de Pedro, e curada põe-se a servir.

Oportuno para refletirmos sobre qual é o sentido do sofrimento e da dor, que acompanham a caminhada da humanidade, apesar de Deus possuir um Projeto de vida verdadeira e felicidade plena e infinita para a mesma.

Como explicar o sofrimento dos bons, dos justos, dos inocentes?

No Livro de Jó (Jó 7, 1-4.6-7), já fora retratado sobre o sofrimento do justo, do inocente.

O sofrimento de Jó leva-nos a afirmar que fora de Deus não há nenhuma possibilidade de salvação: Deus é nossa única esperança.

O grito de revolta de Jó é, ao mesmo tempo, a afirmação de que somente em Deus encontra-se o sentido da existência e da salvação, insisto.

Jó procura o verdadeiro rosto de Deus – “... numa busca apaixonada, emotiva, dramática, veemente, temperada pelo sofrimento, marcada pela rebeldia e, às vezes, pela revolta, Jó chega ao face a face com Deus. Descobre um Deus onipotente, desconcertante, incompreensível, que ultrapassa infinitamente as lógicas humanas; mas descobre também um Deus que ama com Amor de Pai cada uma das Suas criaturas. Jó reconhece, então, a sua pequenez e finitude, a sua incapacidade para compreender os Projetos de Deus. Reconhece que ele não pode julgar Deus, nem entendê-Lo à luz da lógica dos homens. A Jó, o homem finito e limitado, só resta uma coisa: entregar-se totalmente nas mãos desse Deus incompreensível, mas cheio de Amor, e confiar plenamente n'Ele. É isso que Jó faz, finalmente”

Voltando à passagem do Evangelho, vemos qual é a preocupação de Deus a partir da atividade pastoral de Jesus, que torna o Reino uma realidade na vida das pessoas.

A ação de Jesus é para nos libertar de nossas misérias mais profundas, sejam quais forem. Jesus Se aproxima da sogra de Pedro, levanta-a tomando pela mão e esta, curada, põe-se a servir. Assim acontece quando o Senhor de nós Se aproxima, nos toca, nos cura. Põe-nos curados, de pé para amar e servir. Assim é a atitude e a vida de quem crê no Ressuscitado.

Reflitamos:

- Como enfrentamos a dor e sofrimento em nossa vida?
- O que eles nos ensinam?

- O que aprendemos com Jó?
- Como e onde procuramos encontrar a verdadeira Face de Deus?

- O que aprendemos com a cura da sogra de Pedro?
- O que a ação de Jesus nos ensina para que sejamos discípulos missionários como assim Ele deseja?

Oremos: Ó Deus, enraizados no Vosso Amor de Pai, tornemo-nos testemunhas eficazes do Reino, na fidelidade a Boa-Nova do Vosso Filho com a Luz e Sabedoria do Espírito. Amém.

Continuemos a missão do Senhor

                                                      

Continuemos a missão do Senhor

A Liturgia da quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho, em que Jesus cura a sogra de Pedro, à porta da casa deste, faz curas e expulsa demônios ao cair da tarde, e ainda quando era escuro, retira-Se para rezar em lugar deserto (Lc 4,38-44).

Para aprofundamento, apresento esta reflexão de São Pedro Crisólogo (séc. V).

“A Leitura evangélica de hoje ensina ao ouvinte atento porque o Senhor do céu e restaurador do universo entrou nos domicílios terrenos de Seus servos. Mesmo que nada tenha de estranho que se tenha mostrado afavelmente próximo a todos, ele que com grande clemência tinha vindo para socorrer a todos.

Já conheceis o que moveu Cristo a entrar na casa de Pedro: com certeza não o prazer de recostar-se à mesa, mas a enfermidade daquela que se encontrava na cama; não a necessidade de comer, mas a oportunidade de curar; a obra do poder divino, não a pompa do banquete humano.

Na casa de Pedro não se servia vinho, somente se derramavam lágrimas. Por isso Cristo entrou ali, não para banquetear, mas para vivificar. Deus busca aos homens, não as coisas dos homens; deseja dispensar bens celestiais, não espera conseguir as terrenas. Em resumo: Cristo veio buscar-nos, e não buscar as nossas coisas.

Ao chegar Jesus à casa de Pedro, encontrou sua sogra na cama com febre. Entrando Cristo na casa de Pedro, viu ao que vinha buscando. Não se fixou na qualidade da casa, nem na afluência de pessoas, nem nas cerimoniosas saudações, nem na reunião familiar; também não pensou no adorno dos preparativos: Fixou-se nos gemidos da enferma, dirigiu sua atenção ao ardor daquela que estava sob a ação da febre. Viu o perigo daquela que estava para além de toda esperança, e imediatamente coloca mãos para obra de Sua santidade: Cristo nem se sentou para tomar alimento humano, antes que a mulher que jazia se levantasse para as coisas divinas.

Tomou sua mão e sua febre passou. Vês como a febre abandona a quem segura a mão de Cristo. A enfermidade não resiste, onde o Autor da saúde assiste; a morte não tem acesso algum onde entrou o Doador da vida.

Ao anoitecer, levaram-lhe muitos endemoniados; Ele expulsou os espíritos. O anoitecer acontece ao acabar o dia do século, quando o mundo pende para entardecer da luz dos tempos. Ao cair da tarde vem o Restaurador da luz para introduzir-nos o dia sem ocaso, a nós que viemos da noite secular do paganismo.

Ao anoitecer, ou seja, no último momento, a piedosa e solene devoção dos Apóstolos nos oferece a Deus Pai, a nós que somos procedentes do paganismo: são expulsos de nós os demônios, que nos impunham o culto aos ídolos. Desconhecendo ao único Deus, cultuávamos a inumeráveis deuses em nefanda e sacrílega servidão.

Como Cristo já não vem a nós na carne, vem na Palavra: e aonde quer que a fé nasça da mensagem, e a mensagem consiste em falar de Cristo, ali a fé nos liberta da servidão do demônio, enquanto que os demônios, de ímpios tiranos, converteram-se em prisioneiros. Por isso os demônios, submetidos a nosso poder, são atormentados a nossa vontade. O único que importa, irmãos, é que a infidelidade não volte a reduzir-nos a sua servidão: coloquemos antes em nosso ser e nosso fazer, nas mãos de Deus, entreguemo-nos ao Pai, confiemo-nos a Deus: porque a vida do homem está nas mãos de Deus; em consequência, como Pai dirige as ações de Seus filhos, e como Senhor não deixa de preocupar-se por Sua família.” (1)

Esta passagem do Evangelho nos apresenta a identidade de Jesus: compassivo, contemplativo e missionário.
             
Três adjetivos que exprimem a identidade de Jesus: compassivo, contemplativo e missionário.

Compassivo, pois Se compadece da sogra de Pedro e a cura da febre, para que esta se coloque a serviço, como também curou todos que vieram ao Seu encontro, à porta da casa, bem como expulsou muitos demônios.

Contemplativo, pois retira-Se antes do amanhecer para colocar-Se em Oração, em diálogo íntimo com o Pai, para continuar a missão que lhe foi confiada, na presença do Espírito que pousa sobre Ele (Lc 4,16-21). A Oração de Jesus revela a Sua perfeita comunhão com o Pai e o Espírito Santo. A Oração é para Ele o que será para Seus discípulos, fonte e cume para que continue a missão.

Missionário, pois não Se instala nem Se acomoda com a possível acolhida na casa da sogra de Pedro, mas, aos discípulos, diz que é preciso continuar a missão em outros lugares.

Assim também é a Igreja, anunciando a Palavra de Deus, realizando a missão do Senhor, com a força e presença do Espírito, verdadeiro protagonista da missão na construção do Reino.

Anunciar e testemunhar o Senhor e Sua Boa-Nova, exige que sejamos como o Divino Mestre: compassivos, contemplativos e missionários.



(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes - pp.380-382

Tempo de promover a concórdia e a paz

         


                       Tempo de promover a concórdia e a paz
 
     “Suportemos as fraquezas dos menos fortes” (cf. Rm 15,1-3)
 
Reflexão à luz da passagem da Carta do Apóstolo Paulo aos Romanos:

“Nós que temos convicções firmes devemos suportar as fraquezas dos menos fortes e não buscar a nossa própria satisfação.
 
Cada um de nós procure agradar ao próximo para o bem, visando a edificação. Com efeito, Cristo também não procurou a Sua própria satisfação, mas, como está escrito: ‘Os ultrajes dos que te ultrajavam caíram sobre mim’”. (Rm 15,1-3)
 
Todos nós já tivemos oportunidade de viver esta realidade: uma ação impiedosa, um ato pensado e realizado por alguém, quase ou mesmo roubando nossa serenidade.
 
E isto pode ser no âmbito da comunidade, bem como em todos os níveis de relacionamentos.
 
Eis o grande desafio: “suportar as fraquezas dos menos fortes e não buscar a nossa própria satisfação”.
 
Jamais podemos perder de vista nossa missão de “edificar” a comunhão, a fraternidade, sobretudo porque somos discípulos missionários do Senhor, que nos deu a mais bela lição pelo Mistério de Sua Vida, Paixão e Morte, como nos fala o apóstolo.
 
Não é um caminho fácil a ser percorrido, e está explícito no Sermão da Montanha (Mt 5,1-12a), que nos exorta a viver a mansidão e promover a paz, suportando, se houver, calúnias, difamação e perseguições por causa do nome de Jesus e do Evangelho, que cremos, anunciamos e testemunhamos.
 
Vivendo em comunidade, somos desafiados a dar razão de nossa fé e esperança, sem jamais faltar com a caridade que jamais passará, e é exatamente nestes momentos e situações, o apóstolo nos exorta a “suportar as fraquezas dos menos fortes e não buscar a nossa própria satisfação”.
 
Urge a edificação da unidade, um grande desafio para nossa fé e testemunho: - “Agradar ao próximo para o bem, visando a edificação”.
 
E isto somente se torna possível, se tivermos como modelo o próprio Cristo “que não procurou a Sua própria satisfação”, fazendo cair sobre Si os ultrajes todos, ainda que não merecidos, por amor de nós, quando ainda pecadores.
 
Deste modo, é sempre tempo crescer na espiritualidade cristã e:
 
- Suportar as fraquezas dos menos fortes;
- Edificar a unidade, movidos pelas virtudes divinas;
- Ter os mesmos sentimentos, pensamentos e atitudes de Jesus.
 
Retomemos as Bem-Aventuranças, que o Senhor nos apresentou no alto da montanha (Mt 5,1-12), para que vivamos estes propósitos.
 
Oremos:
 
"Concedei-nos, Senhor nosso Deus, adorar-Vos de todo o coração, e amar todas as pessoas com verdadeira caridade. Por N.S.J.C. Amém" (1)
 
(1) “Oração do Dia” - IV domingo do Tempo Comum (ano A)
 

Do ativismo estéril livrai-nos, Senhor!

                                                              


Do ativismo estéril livrai-nos, Senhor!

A Homilia do Papa São Gregório Magno (séc. VI), sobre a vocação do Profeta Ezequiel é oportuna para refletirmos sobre o Ministério Presbiteral e toda vocação da Igreja; para nos iluminar em nossas atividades, para que não nos cansemos ou nos esvaziemos neste indesejável ativismo, com complicadas consequências.

“Por amor de Cristo, me consagro totalmente a Sua palavra Filho do homem, Eu te coloquei como sentinela da casa de Israel (Ez 3,16). É de se notar que o Senhor chama de sentinela aquele a quem envia a pregar.

A sentinela, de fato, está sempre no alto para enxergar de longe quem vem. E quem quer que seja sentinela do povo deve manter-se no alto por sua vida, para ser útil por sua providência.

Como é duro para mim isto que digo!
Ao falar, firo-me a mim mesmo, pois minha língua não mantém, como seria justo, a pregação e, mesmo que consiga mantê-la, a vida não concorda com a língua.

Eu não nego ser culpado, conheço minha inércia e negligência. Talvez haja diante do juiz bondoso um pedido de perdão no reconhecimento da culpa. Na verdade, quando no mosteiro podia não só reter a língua de palavras ociosas, mas quase continuamente manter o espírito atento à oração.

Mas depois que pus aos ombros do coração o cargo pastoral, meu espírito não consegue recolher-se sempre, porque está dividido entre muitas coisas.

Sou obrigado a decidir ora questões das Igrejas, ora dos mosteiros; com frequência ponderar a vida e as ações de outrem; ora auxiliar em certos negócios dos cidadãos, ora gemer sob as espadas dos bárbaros invasores e temer os lobos que rondam o rebanho sob minha guarda.

Por vezes, devo encarregar-me da administração, para que não venha a faltar o necessário aos submetidos à disciplina da regra. Às vezes devo tolerar com igualdade de ânimo certos ladrões, ora opor-me a eles pelo desejo de conservar a caridade.

Estando assim dispersa e dilacerada a mente, quando voltará a recolher-se toda na pregação, e não se afastar do Ministério da Proclamação da Palavra?

Por obrigação do cargo, muitas vezes tenho de encontrar-me com seculares; por isso sempre relaxo a guarda da língua. Pois se constantemente me mantenho sob o rigor de minha censura, sei que sou evitado pelos mais fracos e nunca os atraio para onde desejo.

Por esta razão, muitas vezes tenho de ouvi-los pacientemente em questões ociosas. Mas, sendo eu mesmo fraco, arrastado aos poucos pelas palavras vãs, começo a dizer sem dificuldade aquilo que a princípio tinha ouvido com má vontade; e ali onde me aborrecia cair, agrada-me permanecer.

Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza? Poderoso é, porém, o Criador e Redentor do gênero humano para conceder-me, a mim, indigno, a elevação da vida e a eficácia da palavra. Por Seu amor, me consagro totalmente a Sua Palavra.”

A cada dia, as atividades se multiplicam, a realidade do rebanho nos consome, e nos debatemos com a necessidade de muito para fazer e com tão pouco tempo; com atividades múltiplas a serem feitas, mergulhando-nos num perigoso ativismo...

Oportuno retomarmos a indagação apresentada no final da Homilia:

“Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza?” 

No “monte da ação”, devemos estar de pé. Mas sem vigilância e oração, fortalecimento da fé, revigoramento com o Pão da Eucaristia, jamais êxito teremos.

Sem contemplarmos o Senhor, e Sua Palavra não ouvirmos em belas e santas Liturgias, sem nos nutrirmos do Pão de Eternidade, remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, deitar-nos-emos no vale da fraqueza, sucumbidos e enterrados no vale da morte, na triste mansão dos mortos!

O “monte da ação” nos desafia todo dia com múltiplos apelos e compromissos. Jamais sucumbir às dificuldades, provações, inquietações, incertezas, jamais ficar deitados no vale de nossa fraqueza!

Não podemos perder o horizonte por Deus para nós querido; pondo-nos sempre de pé, como sentinelas, no monte da ação e com coragem o subamos.

E ainda que o vale da fraqueza tivermos que enfrentar, e se no monte da ação de lutar nos cansarmos, lembremo-nos que Deus sempre tem a última palavra e não nos deixará sucumbir no vale de nossa fraqueza.

Nutrindo uma espiritualidade essencialmente eucarística,
pelo vale da fraqueza passaremos, 
e “no monte da ação” momentaneamente de pé estaremos,
até que um dia possamos adentrar nas alturas onde Deus se encontra: Céu! 
Hosana no mais alto dos céus!

Do vale da fraqueza livrai-nos, Senhor! Amém.

PS: Oportuna para o 16º Domingo do Tempo Comum -  ano B

Peregrinar na esperança, crescer no amor fraterno

                                                          


Peregrinar na esperança, crescer no amor fraterno
 
Na passagem da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 12,9-12), temos um "pequeno decálogo" que nos ilumina no testemunho de nossa fé e adesão ao Senhor, sobretudo para nós, Seus discípulos missionários:
 
“O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros com terna afeição, prevenindo-vos com atenções recíprocas. Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, alegres por causa da esperança, fortes nas tribulações, perseverantes na oração”.
 
Vejamos o  “pequeno decálogo:
 
1.           Viver um amor sincero;
2.           Detestar o mal, apegando-se ao bem;
3.           Viver o amor fraterno, que nos une aos outros com terna afeição;
4.           Cuidar dos relacionamentos com atenções recíprocas;
5.           Ser zeloso e diligente;
6.           Ser fervoroso de espírito;
7.           Servir sempre ao Senhor;
8.           Ser alegre por causa da esperança;
9.           Forte nas tribulações;
10.        Perseverante na oração.
 
Fundamental que, em todo o tempo, nossas comunidades se empenhem em viver relações mais fraternas, contando com a presença e ação do Espírito, para pôr em prática este “pequeno decálogo”, dando razão de nossa esperança, numa fé íntegra e esforçada caridade.
 
Oremos:
 
Vinde, Espírito Santo, sobre a Igreja, com o amor entranhado de um irmão mais velho, para que nossa alma ao receber a Vossa luz, seja elevada acima da inteligência humana, e veremos o que antes ignorávamos.
 
Vinde, Espírito Santo,  como raios de luz para iluminar também os que se encontram nas trevas, e assim como ao nascer do sol, recebam nos olhos a Sua luz,  enxergando claramente coisas que até então não viam.
 
Vinde, Espírito Santo, sobre a Igreja, para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar nossa alma e a de todos que nos foram confiados.  Amém!  (1)
 
(1) Inspirado nos escritos do Bispo de Jerusalém, São Cirilo (séc. IV)

Em poucas palavras...

 


Fortaleçamos os vínculos da caridade

“Deus eterno e onipotente, que reunis os Vossos fiéis dispersos e os conservais na unidade, olhai com bondade para todo o Povo de Cristo, para que vivam unidos pela integridade da fé e pelo vínculo da caridade todos aqueles que foram consagrados pelo mesmo Batismo”. (1)

 

(1) Lecionário Comentado – Volume Quaresma/Páscoa – Editora Paulus – 2011 – p.638

 

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