domingo, 6 de julho de 2025

A verdadeira paz

                                                         

A verdadeira paz

Não quero a paz como a mera ausência de guerra;
Nem tão apenas equilíbrio das forças adversárias;
Tampouco que tenha origem em um domínio tirânico.

Quero a paz que nasça da justiça (Is 32,17),
Como saboroso fruto da ordem.

Quero a paz inserida na sociedade humana por Seu divino fundador e a ser realizada de modo sempre mais perfeito pelos homens e mulheres que têm fome e sede de justiça.

Quero a paz que tenha como fundamento o bem comum do gênero humano,
Embora as contingências concretas possam estar em constantes mudanças ao longo dos tempos.

Quero a paz em permanente conquista, que deve ser continuamente construída, porque sendo a vontade humana volúvel e marcada pelo pecado, 
a busca da paz exige de cada um o constante domínio das paixões e a atenta vigilância da autoridade legítima.

Quero a paz em que seja salvaguardado o bem das pessoas, e que todos comuniquemos, com confiança e espontaneidade, as riquezas do coração e da inteligência.

Quero a paz em que se respeite a dignidade dos outros, dos povos, dos diferentes, numa ativa fraternidade.

Quero a paz como mavioso fruto do amor, que vai além do que a justiça é capaz de proporcionar, pois a paz terrena, oriunda do amor ao próximo, é figura e resultado da paz de Cristo, provinda de Deus Pai.

Quero a paz promovida por todos que, num mesmo espírito, renunciam à ação violenta para reivindicar os direitos inalienáveis, recorrendo aos meios de sua defesa, de modo especial dos que sejam mais fracos e vulneráveis, sem lesar os direitos e deveres de outros ou da própria comunidade.

Quero a Paz do Senhor, o Príncipe da Paz, Jesus Cristo, 
Que Ele nos trouxe ao Se encarnar, e na Cruz morrendo, a reconciliação da humanidade com Deus alcançando, recompondo a unidade de todos em um só povo e um só corpo.

Quero a Paz que nasceu naquela Madrugada da Ressurreição, a Paz que Ele comunicou desde então aos Seus, acompanhada do Sopro do Espírito, para a missão no mundo continuar; a caridade, mais que anunciar, viver, testemunhar.

Quero a Paz que brota quando, em Sua Carne, o ódio foi definitivamente destruído, e rompidos os muros da inimizade (cf. Ef 2,16; Cl 1,20.22);

A verdadeira Paz que, como cristãos, somos insistentemente chamados a promover, vivendo a verdade na caridade (cf. Ef 4,15), unindo-nos às pessoas verdadeiramente pacíficas. Amém.


PS: Livre adaptação da Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II-(N. 78) - (Séc. XX)

Exigências para a missão que o Senhor nos confia(XIVDTCC)

                                                          

Exigências para a missão que o Senhor nos confia

“O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, dizíamos ainda recentemente
a um grupo de leigos, ou então se escuta os mestres,
é porque eles são testemunhas”
(Papa São Paulo VI)

A Liturgia da quinta-feira da 26ª Semana do Tempo Comum nos convida a refletir sobre o envio que Jesus faz aos Seus discípulos e as exigências da missão evangelizadora.

É missão do discípulo ser portador da paz, da vida e da esperança de um mundo novo, e esta missão contemplamos na passagem do Livro do Profeta Isaías (Is 66, 10-14c).

O Profeta, mesmo numa situação difícil, em que o Povo de Deus se encontrava (martirizado, sofrido e angustiado), tem palavras de confiança e esperança.

Apresenta a ação divina com imagens de fecundidade e vida: somente Deus pode oferecer ao Seu povo o “shalom”, ou seja, saúde, fecundidade, prosperidade, amizade com Ele e com os outros, a felicidade total.

O Profeta tem sempre uma palavra que convida à alegria. Deus age por meio dele. Também nós somos Profetas, voz de Deus, num mundo também marcado pelo sofrimento, angústia, dores, prantos e morte.

Ontem e hoje, vivendo a vocação profética, somos convidados a superar o medo e a angústia e sentir a presença e a força de Deus conosco, não nos curvando diante dos temores que nos paralisam.

É oportuno nos questionarmos sobre a mensagem que temos a oferecer, como Igreja e Profetas do Reino, neste contexto.

Da mesma forma, o Apóstolo Paulo se dirigiu aos Gálatas (Gl 6, 14-18), nos exortando ao testemunho radical, que passa pela cruz, para alcançarmos a glória, e assim, possa nascer a vida do Homem Novo em nós:

Só gerados e alimentados por essa fonte é que poderemos ser novas criaturas. No que diz respeito, Paulo declara que no centro da sua glória não está a observância rigorosa da Lei, mas Cristo Crucificado”

Retomando a mensagem do Evangelho (Lc 10,1-12), somos continuadores da missão de Jesus, e pelo Batismo todos somos chamados a anunciar a alegria do Reino de Deus, não obstante as dificuldades que possam surgir. 

O comentário do Missal Dominical é enfático ao afirmar: “... Não há missão sem perseguição, sem sofrimento e sem Cruz.

A Cruz pelo Reino de Deus, aceita com amor, é o sinal da vitória sobre o mal e a morte...

O que o Senhor nos pede é a fidelidade a Ele, à Sua mensagem e ao Seu estilo de anúncio. Não nos garante o êxito” (pp. 1169-1170).

Jesus envia 72 discípulos, de dois em dois, pois a ação é comunitária, e apresenta a eles algumas exigências e advertências:

-   Terá que enfrentar dificuldades;
-    Viverá a pobreza, confiando tão apenas na providência divina;

-    Crerá na força libertadora da Palavra de Deus;
-    Viverá  a urgência da missão (não pode haver perda de tempo);

-    Será totalmente dedicado à missão;
-    Será portador da paz;

-    Combaterá contra o mal que se contrapõe ao Reino de Deus;
-    Exultará de alegria por terem os nomes inscritos no céu, no livro da vida.

Deste modo, é preciso que o discípulo missionário confie na Palavra de Deus, com desprendimento, coragem, ousadia, confiança  na providência de Deus e paixão por Ele, e carregando a cruz cotidiana, pois somente Cristo interessa para nossa Salvação, de modo que nossa identificação com Ele se dará na intensidade que amarmos como Ele nos ama.

Reflitamos:

-  Qual é a nossa fidelidade à missão que Deus nos confia?
-  Quanto nos empenhamos para que percebam em nós a alegria da chegada do Reino de Deus?

-  Percebem as pessoas que somos prisioneiros do mais belo Amor, Jesus Cristo, marcados pelo sinal da Cruz, com expressão do amor radical, da liberdade, da vida, doação e serviço?

-  Como viver mais intensamente a missão, por Deus, a nós confiada?
-  Em quem depositamos nossa confiança e esperança?

Retomo as palavras do Papa São Paulo VI: 

“O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, dizíamos ainda recentemente a um grupo de leigos, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”.

Participando das Mesas Sagradas do Senhor, sejamos iluminados e fortalecidos por Sua Palavra, e revigorados pelo Pão da Imortalidade, para continuarmos, com coragem e fidelidade, a missão que Ele nos confia. Amém.

Alegria na missão (XIVDTCC)

                                                             

Alegria na missão

Reflexão à luz da passagem da Carta de Paulo aos Gálatas (Gl 6,14-18).

Como membros da Igreja, pelo Batismo, recebemos a graça de sermos sacerdotes, profetas e reis. De fato, pelo Batismo recebemos a graça de sermos Profetas do Reino. 

Só gerados e alimentados por essa fonte é que poderemos ser novas criaturas. No que diz respeito, Paulo declara que no centro da sua glória não está a observância rigorosa da Lei, mas Cristo Crucificado”. (1)

 “Não nos surpreende ouvir da boca do Mestre que a missão não é fruto de decisões ou de empenhos humanos. O primeiro responsável é o Pai, o dono da seara: a Ele cabe a salvação dos homens, é Ele que suscita os anunciadores do Reino.

Por isso o missionário é sereno e corajoso no anúncio, atua na confiança e na ausência total de seguranças ou de recursos materiais, não se deixa tentar pelo fascínio da imposição forçada, não impressiona o auditório com meios poderosos ou efeitos especiais, está consciente de que a fecundidade da missão está toda na força inerme da Palavra de que é arauto, uma Palavra capaz de curar e libertar todas as enfermidades”. (2)

A Deus, supliquemos graça para vivermos a nossa vocação batismal, plenamente disponíveis para o anúncio do Reino de Deus; com a imprescindível coragem apostólica e liberdade evangélica, iluminando todos os lugares em que vivamos, com a luz da Palavra de Amor e de paz, como alegres e convictos discípulos missionários do Senhor!


(1)  Lecionário Comentado - Volume I Tempo Comum - Editora Paulus - Lisboa - pág. 669.
(2)  Idem pág. 670.

Missão, uma resposta de amor ao Senhor (XIVDTCC)

                                                 

                      Missão, uma resposta de amor ao Senhor
 
Reflexão à luz da passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 10,1-9), sobre o envio que Jesus faz aos Seus discípulos e as exigências da missão evangelizadora: é missão do discípulo ser portador da paz, da vida e da esperança de um mundo novo, como também foi a missão dos profetas, como vemos na passagem do Livro do Profeta Isaías (Is 66, 10-14c).
 
O Profeta, mesmo numa situação difícil, em que o Povo de Deus se encontrava (martirizado, sofrido e angustiado), tem palavras de confiança e esperança.
 
Apresenta a ação divina com imagens de fecundidade e vida: somente Deus pode oferecer ao Seu povo o “shalom”, ou seja, saúde, fecundidade, prosperidade, amizade com Ele e com os outros, a felicidade total.
 
O Profeta tem sempre uma palavra que convida à alegria. Deus age por meio dele. Também nós somos Profetas, a voz de Deus num mundo também marcado pelo sofrimento, angústia, dores, prantos e morte.
 
Ontem e hoje, vivendo a vocação profética, somos convidados a superar o medo e a angústia e sentir a presença e a força de Deus conosco, não nos curvando diante dos temores que nos paralisam.
 
Deste modo, compreendemos a mensagem do Evangelho: somos continuadores da missão de Jesus, e pelo Batismo, chamados a anunciar a alegria do Reino de Deus, não obstante as dificuldades que possam surgir. 
 
O comentário do Missal Dominical é enfático ao afirmar: “... Não há missão sem perseguição, sem sofrimento e sem Cruz.
 
A Cruz pelo Reino de Deus, aceita com amor, é o sinal da vitória sobre o mal e a morte...
 
O que o Senhor nos pede é a fidelidade a Ele, à Sua mensagem e ao Seu estilo de anúncio. Não nos garante o êxito” (pp. 1169-1170).
 
Jesus envia 72 discípulos, de dois em dois, pois a ação é comunitária, e apresenta a eles algumas exigências e advertências:
 
- Haverá dificuldades;
- Viverão a pobreza, confiando tão apenas na providência divina;
- Crerão na força libertadora da Palavra de Deus;
 
- Viverão a urgência da missão (não pode haver perda de tempo);
- Dedicarão totalmente à missão;
- Serão portadores da paz;
 
- Combaterão contra o mal que se contrapõe ao Reino de Deus;
- Exultarão de alegria por terem os nomes inscritos no céu, no Livro da Vida.
 
Urge que o discípulo missionário confie na Palavra e providência de Deus, com desprendimento, coragem, ousadia e paixão por Ele, carregando a cruz cotidiana. Somente Cristo interessa para nossa Salvação, de modo que nossa identificação com Ele se dará na intensidade que amarmos como Ele nos ama.
 
Neste sentido, Paulo, na passagem na Carta aos Gálatas, exorta a comunidade ao testemunho radical do Senhor, e como discípulos missionários, assumirmos nossa cruz, na qual devemos nos gloriar, para que nos tornemos novas criaturas e alcancemos a glória eterna (cf. Gl 6, 14-18).

 
Reflitamos:
 
- Qual é a nossa fidelidade à missão que Deus nos confia?
- Quanto nos empenhamos para que percebam em nós a alegria da chegada do Reino de Deus?
 
- Somos, de fato, prisioneiros do mais belo Amor, Jesus Cristo, marcados pelo sinal da Cruz, com expressão do amor radical, da liberdade, da vida, doação e serviço?
 
- Como viver mais intensamente a missão que Deus nos confia com plena doação, entrega e fidelidade?
 
Concluo com a afirmação do Papa São Paulo VI: “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, dizíamos ainda recentemente a um grupo de leigos, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”
 
Partícipes das Mesas Sagradas do Senhor, sejamos iluminados e fortalecidos por Sua Palavra, e revigorados pelo Pão da Imortalidade, para continuarmos com coragem, alegria e fidelidade a missão que Ele nos confia. Amém.


PS: Passagem proclamada na Festa de São Lucas Evangelista dia 18 de outubro.

Peregrinos da esperança: graça e missão pelo Senhor confiada (XIVDTCC)

 


Peregrinos da esperança: graça e missão pelo Senhor confiada

Sejamos enriquecidos pelo Comentário sobre o Evangelho de São Lucas escrito por São Cirilo de Alexandria, Doutor da Igreja (séc. V):

“Sendo que Cristo tinha dito: A messe é grande, mas os operários são poucos, novamente designou com os primeiros a outros setenta e dois e os enviou a sua frente a todos os povos e cidades da Judeia para que fossem precursores e falassem d’Ele. Os enviou deslumbrantes com a graça do Espírito santo e coroados com o poder de realizar milagres...

Na verdade, receberam o poder de repreender aos espíritos maus e de esmagar satanás, não para atrair a atenção sobre eles mesmos, mas para que Cristo fosse exaltado por aqueles catecúmenos que cressem que Cristo era Deus e Filho de Deus por natureza. E fosse tal o louvor, a preeminência e o poder, que tivessem também a potestade de esmagar satanás sob seus pés.

Os enviou muito bem-adornados com as dignidades apostólicas e os revelou capacitados com a ajuda da graça do Espírito Santo. Conferiu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos para que pudessem esconjurá-los.

Como já manifestei, tendo realizado muitos prodígios, estes regressaram dizendo: Senhor, até os demônios se submetem a nós por causa de teu nome.

Como já disse anteriormente, (o Senhor) estava cheio de alegria, ou seja, exultava, porque sabia bem que aqueles que tinha enviado haviam favorecido a muitos, e eles mesmos tinham aprendido sua glória por experiência. Portanto, aquele que é bom e ama aos homens, querendo salvar a todos os homens se torna em causa de alegria, conversão dos equivocados, luz dos que estão nas trevas e conversão dos ignorantes e indóceis mediante o reconhecimento da glória divina.

Deu aos santos apóstolos a autoridade e poder até mesmo para ressuscitar os mortos, limpar os leprosos, curar os enfermos e invocar o Espírito Santo sobre aqueles aos quais impunham as mãos.

Conferiu-lhes o poder de atar e desatar os pecados dos homens. Asseguro-vos, disse Ele, que tudo o que atares na terra será atado nos céus, e tudo o que desatares na terra será desatado no céu.

Na condição na qual nos encontramos, isto é o que podemos ver, e bem-aventurados sejam os nossos olhos e os de todos os que amam a Cristo.

Escutamos o Seu sagrado ministério. Ele nos ensinou as coisas que se referem a Deus Pai, e os mostrou a nós em Sua própria natureza. Aquelas coisas que graças a Moisés eram tipos e figuras, Cristo as manifestou diante de nós em verdade.

Aprendemos a adorar ao que é incorpóreo, imaterial e incompreensível a todo raciocínio, não com sangue e fumaça, mas com sacrifícios espirituais.” (1)

Somos peregrinos de esperança, e o Senhor nos confia e nos envia em missão, com a graça do Espírito Santo e coroados com o poder de realizar milagres.

Ontem, hoje e sempre, anunciamos e testemunhamos o Senhor, a quem rendemos toda honra, glória e poder.

Não podemos desistir diante de eventuais dificuldades, mas seguir sempre em frente, colocando-nos como frágeis instrumentos na vinha do Senhor. Amém.

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pág. 671-672

Nem sábios, nem ricos, nem poderosos... (XIVDTCC)

                                                                   

Nem sábios, nem ricos, nem poderosos...

“Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens,
e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.”
(1Cor 1,25)

Voltemo-nos para o Sermão do Bispo e Doutor da Igreja Santo Agostinho (séc. V), em que reflete sobre a escolha que Jesus Cristo fez, chamando para ser Apóstolos alguns pescadores.

Estando o bem-aventurado Pedro com outros dois discípulos de Cristo Senhor, Tiago e João, na montanha com o próprio Senhor, ouviu uma voz vinda do céu: ‘Este é o meu Filho amado, meu predileto, escutai-O’.

Recordando este episódio, o mencionado Apóstolo escreve em sua carta: ‘Esta voz trazida do céu nós a ouvimos estando com ele na montanha sagrada’. E em seguida continua dizendo: Isto nos assevera a palavra dos Profetas’. Se ouviu aquela voz do céu, e se garantiu a palavra dos Profetas’.

Este Pedro, que assim fala, foi pescador: e na atualidade é um inestimável sinal de glória para um orador ser capaz de compreender ao pescador. Esta é a razão pela qual o Apóstolo Paulo, falando dos primeiros cristãos, lhes dizia: ‘Atenham-vos, irmãos, em vossa assembleia: não há nela muitos sábios, segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos aristocratas; pelo contrário: Deus o escolheu o néscio do mundo para humilhar aos sábios; Deus escolheu o fraco do mundo para humilhar ao forte. Ainda mais: tem escolhido o vil e desprezível, aquilo que não conta, para anular ao que conta’.

Se para dar início à Sua obra Cristo tivesse escolhido um orador, o orador teria dito: ‘Fui escolhido em consideração a minha eloquência’. Se tivesse escolhido um senador, o senador teria dito: ‘Fui escolhido em atenção a minha dignidade’. Finalmente, se tivesse primeiramente escolhido a um imperador, o imperador teria dito: ‘Fui escolhido em consideração ao meu poder’.

Que esses tais descansem e aguardem ainda um pouco. Descansem um pouco: não se prescinda deles nem sejam desprezados; sejam somente diferidos aqueles que podem gloriar-se de si mesmos e em si mesmos.

Dá-me, diz, esse pescador, dá-me esse ignorante e ao analfabeto, dá-me a esse com quem o senador não se digna falar, nem sequer quando lhe compra um peixe: dá-me esse. E quando lhe tenha cumulado de meus dons, ficará manifesto que sou em quem atuo.

Ainda que seja verdade que me proponho a fazer o mesmo com o senador, o orador e o imperador: quando chegar o momento também farei com o senador, mas com um pescador a minha ação é mais evidente.

O senador pode gloriar-se de si mesmo, o orador também e o imperador: porém o pescador somente pode gloriar-se em Cristo.

Que venha, que venha primeiro o pescador a ensinar a humildade que salva; através dele o imperador será mais facilmente conduzido a Cristo.

Lembrai-vos, portanto, do pescador santo, justo, bom, pleno de Cristo, em cujas redes, lançadas por todo o mundo havia de ser pescado, junto com os outros, este povo africano; lembrai-vos, portanto, que ele tinha dito: ‘Isto nos assevera a palavra do Profeta’”. (1)

Deus verdadeiramente subverte qualquer lógica humana, chamando humildes pescadores e a eles confiando a missão de ser apóstolos: nem sábios, nem ricos; homens rudes e simples deram início à pregação, e semearam pelo mundo todo a Palavra que ouviram.

Regaram a Palavra com a vida e o sangue derramado, frutificando e multiplicando novos discípulos a partir do chamado, da convivência com Jesus, passando pelo Mistério da Paixão e Morte, e testemunhando a glória da Ressurreição.

Pescadores simples puderam chegar ao coração de sábios e ricos, apenas confiando, anunciando e testemunhando Aquele que mudou suas vidas: Jesus Cristo.

Como bem expressou o Bispo, não tinham a eloquência dos oradores, a dignidade dos senadores e tão pouco o poder dos imperadores, mas tinham humildade, confiança, disponibilidade, coragem, ardor e, sobretudo confiança na Palavra do Mestre e Senhor.

Creram e testemunharam Aquele que depois permaneceu vivo e Ressuscitado no Banquete da Eucaristia, cuja Palavra faz arder o coração, e o Pão partilhado faz abrir os olhos para o reconhecimento de Sua Divina presença, como o fez ao se manifestar aos discípulos de Emaús, e cada vez que nos reunimos para o Banquete Celestial.

Agora é o tempo favorável de nossa missão, com a força e a presença do Espírito Santo, continuar a missão de Jesus Cristo, a nós confiada, participando humildemente da construção do Reino de Deus.


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes - 2013 – pp.631-632

Paulo: um Apóstolo apaixonado por Cristo (XIVDTCC)

                                                     



Paulo: um Apóstolo apaixonado por Cristo

O Apóstolo Paulo, escrevendo aos Gálatas (Gl 6,14-18), nos exorta ao testemunho radical que passa pela cruz, para alcançarmos a glória, e assim possa nascer em nós a vida do Homem Novo.

O Apóstolo declara que, no centro da sua glória, encontra-Se o Cristo crucificado e não a observância rigorosa da Lei:

“Paulo acreditou tanto nisso que apostou a sua vida inteira nesta certeza, até sentir-se crucificado com Cristo (cf v. 14), trazendo ‘no seu corpo’ os sinais de uma permuta existencial de participação no Mistério da Paixão de Cristo.

A conformidade com a Cruz marcou o seu próprio corpo, como testemunham ‘os estigmas’ dos sofrimentos provocados pelo seu ministério apaixonado”. (1)

Deste modo, para que vivamos o discipulado com fidelidade, precisamos ser gerados e alimentados pela Divina Fonte da Eucaristia, a fim de que sejamos “novas criaturas”, carregando com fidelidade nossa cruz, cotidianamente.

Na saudação final, invoca a “graça de Cristo” sobre a comunidade, pois esta é fundamental para que se viva a comunhão e a solidariedade na missão, e em todos os momentos, não obstante às dificuldades e incompreensões que tenhamos que suportar.

Oremos:

“Senhor Deus, que na vocação batismal nos chamais a estar plenamente disponíveis para o anúncio do Vosso Reino, concedei-nos a coragem apostólica e a liberdade evangélica, para que levemos a todos os ambientes da vida a Vossa Palavra de amor e de paz. Amém” (2)



(1)         Lecionário Comentado – Editora Paulus – Vol. I do Tempo Comum – p.669
(2)        Idem p.672

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