domingo, 29 de junho de 2025

Graça e perseverança na missão

                                                           

Graça e perseverança na missão

 “Tende entre vós o mesmo sentimento
que existe em Cristo Jesus” (Fl 2,5)

Retomo as iluminadoras palavras do Papa Francisco na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”:

 “A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação, com a carne dos outros. Na Sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura...” E ainda: “Precisamente nesta época, inclusive onde são ‘um pequenino rebanho’ (Lc 12,32), os discípulos do Senhor são chamados a viver como comunidade que seja sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-16). São chamados a testemunhar, de forma sempre nova uma pertença evangelizadora. Não deixemos que nos roubem a comunidade”

Portanto, é sempre tempo de olhar para frente e ver de que modo podemos contribuir, corajosa e decididamente, nesta “revolução da ternura” e sermos, de fato, uma comunidade sal da terra e luz do mundo, jamais permitindo que nos roubem a comunidade e a alegria de pertencer a esta.

É tempo de reavivar a chama da vocação batismal, que em nós foi acesa, para fazer brilhar a luz de Deus, com nossa ação evangelizadora, na mais bela expressão da ternura de Deus, que acolhe, ama e perdoa e recria a vida plena e feliz para todos.

É tempo de sermos uma Igreja missionária, autêntica casa da iniciação da vida cristã, na qual podemos celebrar nossa fé, formados e conduzidos pela Palavra Sagrada, resplandecendo a luz divina nos acontecimentos do cotidiano, mais conforme os desígnios de Deus.

É tempo de sermos uma Paróquia, comunidade de comunidades, onde se vive a proximidade, a comunhão, a fraternidade; uma Paróquia que não se fecha em si mesma, aberta aos horizontes maiores, que nos interpelam e nos desafiam, em evangélica expressão de solidariedade e missionariedade cristã.

Urge que todos nos empenhemos no anúncio e testemunho da Boa-Nova do Evangelho, expressando, assim, um verdadeiro amor inseparável à Igreja e a Jesus Cristo. Quanto mais nos sentirmos amados e envolvidos pelo amor divino, mais vivo e fervoroso será o nosso sim na missão que nos for confiada. 

Oportunas são as palavras do Apóstolo Paulo: “Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus” (Fl 2,5), pois se os divinos sentimentos do Senhor tivermos, continuaremos firmes n’Ele (Fl 4,1), com Ele e para Ele, do qual nos vem toda força e graça necessária no bom combate da fé (Fl 4,13; 2 Tm 4,6-7), edificando uma comunidade essencialmente evangelizadora, cumprindo assim a sua missão como pequenino rebanho do Senhor.

Em poucas palavras...

                                                   


Insuficientes instrumentos nas mãos de Deus 

“Amados Irmãos e Irmãs, depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na Vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes”. (1)

 

(1) Papa Bento XVI, no dia de sua eleição (19/4/2005)

  

O "Espinho na carne" e a graça do Senhor Jesus

                                                         


O "Espinho na carne" e a graça do Senhor Jesus

“... roguei três vezes ao Senhor que o afastasse de mim. 
Mas Ele disse-me: “Basta-te a minha graça, pois
 é na fraqueza que a força se manifesta””.

Reflexão à luz da passagem da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios (2 Cor 12,7-10).

O Apóstolo menciona o fato de possuir um espinho na carne, e de, por três vezes, ter suplicado ao Senhor que dele afastasse espinho, e o Senhor respondeu:

“Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força”.

O próprio Apóstolo afirma que o espinho em sua carne foi para que não fosse levado ao orgulho, o espinho era como um anjo de Satanás a esbofeteá-lo para livrá-lo da vaidade.

O que seria este espinho?

Santo Agostinho (e outros) pensava tratar-se de uma enfermidade física, particularmente dolorosa e humilhante.

Segundo São João Crisóstomo (e outros) acreditava ser as tribulações que lhe causavam as contínuas perseguições sofridas.

A partir de São Gregório Magno, optou-se por uma interpretação ascética, segundo a qual o espinho referia-se às tentações da concupiscência.

Assim lemos no Lecionário Comentado:

"Não é muito claro a que é que se refere (a uma doença humilhante, a um defeito físico, à contínua hostilidade encontrada no seu ministério, a um problema de tipo sexual? - muitas e variadas, e por vezes são extravagantes as hipóteses apontadas pelos exegetas), mas decerto, através desse espinho, Paulo torna-se irmão das nossas angústias e fadigas."(1)

Entretanto, sejam as enfermidades físicas, as tribulações e perseguições, as tentações da concupiscência, ou quaisquer outras possibilidades, foi um espinho na carne, e favoreceu que a graça de Deus não fosse em vão à vida do Apóstolo.

Paulo confiou no Senhor e entregou-se a Ele, com suas fraquezas, debilidades, limitações, com o sentimento de finitude, entre as necessidades e possibilidades.

Também nós temos nosso “espinho”, e é preciso coragem de reconhecê-lo, nominá-lo.

E uma vez reconhecido, assumido, suplicar a graça de Deus, abrir-se a Ela, Permitindo que o Senhor venha em socorro de nossa fraqueza; confiantes de que Ele tem poder sobre nossas dores e enfermidades, não somente físicas, mas, sobretudo da alma.

Deste modo, permitamos que o Senhor “costure” as feridas de nossa alma e, com Seu bálsamo de amor, devolva-nos sempre a alegria e o sentido de viver.

Deixemos que Ele navegue nas veias de nossa história para nos conduzir ao porto desejado da eternidade, na travessia a que todos somos desafiados a fazer cotidianamente.

Concluo com saudação que o Apóstolo eternizou, e que, entre outras, repetimos nas Eucaristias que celebramos

“A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo estejam convosco” (1 Cor 2, 3).

(1) Lecionário Comentado - Vol.I  - Tempo Comum - Editora Paulus - pág.552-553

Em poucas palavras...

                                              


Perseverança nas tribulações 

Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 4, 7-15), o Apóstolo Paulo nos fala da centralidade e fundamento de nossa fé: a Ressurreição, que confere o verdadeiro sentido à vida cristã, para que não se perca diante do que for efêmero, e tão pouco desanimar diante das incompreensões e dificuldades, aprofundando a coerência exigida daqueles que se propõem a ser discípulos de Jesus Cristo.

 

Contemplemos e contemos as estrelas...

                                                         

Contemplemos e contemos as estrelas...

Outrora Deus chamou Abrão para uma conversa, numa noite de verão em que as estrelas brilhavam nos céus.

Trata-se evidentemente de um imaginário diálogo entre Deus, Abraão e Paulo... 

Deus:
 “Abrão ergue os olhos para o céu e conta as estrelas, se as pode contar. Assim será tua posteridade”.

Prontamente Abrão acreditou e assim se fez: memória, fecundidade, a superação da esterilidade de Sara, terra de Canaã e descendência... E o que era impossível se realizou!

Abraão:
“Senhor, sou grato por tudo que me prometestes, mas devo confessar que jamais conseguirei contar as estrelas que me pedistes”.

Deus assim respondeu:
“Assim como não és capaz de contá-las, também não serás capaz de declinar as graças que tenho para ti e para o povo do qual serás pai da fé”.

Ainda hoje Abraão continua contando as estrelas como o Senhor lhe propusera. Missão impossível de ser concluída, pois as graças de Deus da mesma forma são infinitas.

E, também numa imaginária viagem Abraão foi ao encontro de Paulo para que este o ajudasse nesta missão tão difícil.

Paulo:
Abraão, eu o tenho como modelo exemplar de fé. Várias vezes falei de ti e de tua fé em minhas Cartas às Comunidades. Pelo respeito, consideração e gratidão que tenho por ti, ouso dar algumas primeiras respostas”.

Assim, Paulo convidou Abraão a dar uma volta pela noite. Ainda era verão... Começou a falar das tantas estrelas que Deus faz brilhar em nossas vidas.

Paulo iniciou sua resposta, que a encontramos no primeiro capítulo da Carta aos Efésios:

A primeira estrela são as bênçãos espirituais derramadas sobre nós por meio de Cristo Jesus.

Cristo é com certeza a Estrela Maior, de brilho eterno, sem começo e fim. Com brilho próprio Ele sempre há de brilhar com Ele todos que n’Ele crerem, pois n’Ele somos filhos da luz e devemos brilhar como estrelas nos céus.

Há uma estrela que não podemos perder, a estrela da santidade a que fomos predestinados a viver e ser, como consequência de nossa filiação divina por meio de Jesus Cristo. Que estrela reluzente e transbordante!

Nós a contemplamos na Cruz, na qual Ele foi trespassado pela redenção de toda a humanidade; nela alcançamos a remissão de nossos pecados!

Tem também a estrela da sabedoria, da inteligência que nos permite conhecer o mistério de Sua vontade. Sem falar da herança maior que Deus nos concedeu também por meio de Seu Filho, o Ressuscitado: Herança do Reino de Deus.

A estrela brilhou porque, tanto Abraão como Paulo, são membros do Povo eleito, testemunha da realização da promessa messiânica.

Finalmente, Paulo fala da outra magnânima estrela: o fato de termos sido selados pelo Espírito da promessa, o Espírito Santo, garantia de nossa herança. Espírito que vem sempre em socorro de nossas fraquezas.

Depois de algum tempo...

Abraão retomou a palavra e disse:
 “Paulo, o que vislumbrei pela fé há séculos, vós podeis testemunhar e anunciar a todos os povos em todos os tempos”.

Paulo assim concluiu:
“Pai da fé, gostaria de enumerar outras tantas estrelas que Deus nos garantiu e há de sempre nos garantir... Mas a hora é avançada... continuemos amanhã nossa conversa...”

Segundo consta, Abraão e Paulo retomaram a conversa na noite seguinte e até hoje continuam contando as estrelas que são as manifestações amorosas de Deus em nossa vida. Quando Deus promete, cumpre.

Também nós somos convidados a contemplar as estrelas, contar as estrelas...

Também nós somos convidados a procurar nossas respostas...

Também nós, sem pressa, sem sermos levados pelas inquietações e emergências de cada dia, olhar contemplativo e atento às graças de Deus em nossa vida...
Ponhamo-nos sempre a contemplar estas maravilhas, ainda que não seja uma noite de verão. Não importa, porque as estrelas de Deus brilham sempre e em toda parte...

Deste modo, faremos nosso o canto do Magnificat,
Cantando-o com a Estrela Mãe, Maria:
“Minha alma glorifica o Senhor, meu espírito
exulta em Deus meu Salvador...”



PS: Propositalmente, cito Abrão e Abraão. E, para melhor compreensão, sugiro ao leitor retomar Gênesis (Gn 12,1-9)

Entretanto, para além dos nomes citados, importa que, em meio aos acontecimentos do dia a dia, possamos perceber a presença de Deus, reanimando  nossas forças, revigorando nossas esperanças e nossa fé, inflamando nossa caridade. Isto, verdadeiramente, é o que conta!



Sigamos o Senhor com alegria

Sigamos o Senhor com alegria

Oportunas são as palavras do Papa Francisco aos Arcebispos em 29 de junho de 2014. Na alegre e desafiadora missão de anunciar o Evangelho da Esperança, exorta não só os ministros ordenados, mas todos que se colocam como discípulos missionários do Reino.

“Hoje, o Senhor repete a mim, a vós e a todos os Pastores:

‘Segue-Me! Não percas tempo em questões ou conversas inúteis;
não te detenhas nas coisas secundárias, mas fixa-te no essencial e segue-Me.

Segue-Me, não obstante as dificuldades.
Segue-Me na pregação do Evangelho.

Segue-Me no testemunho duma vida que corresponda ao dom da graça do Batismo e da Ordenação.

Segue-Me quando falas de Mim às pessoas com quem vives dia a dia, na fadiga do trabalho, do diálogo e da amizade.

Segue-Me no anúncio do Evangelho a todos, especialmente aos últimos, para que a ninguém falte a Palavra de vida, que liberta de todo o medo e dá a confiança na fidelidade de Deus.

Tu segue-Me!’”.

Que ao celebrar a Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos e Colunas da Igreja, renovemos a alegria de sermos Igreja e continuadores da Missão que o Senhor nos confiou.

Supliquemos a força e a luz do Espírito Santo para que sejamos evangelizadores com espírito, como nos propôs o Papa Francisco na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” (2013).

Vinde, Espírito Santo...

“Enraizados no Amor do Senhor”

                                                            

“Enraizados no Amor do Senhor”

“Que Cristo habite pela fé em vossos corações
e que sejais arraigados e fundados no Amor.” (Ef 3,17)

Procedentes da Sagrada Escritura, de modo geral, as Orações da Igreja são sempre fundamentais. Retomo a Oração depois da Comunhão, elevada na Solenidade de São Pedro e São Paulo:

“Concedei-nos, ó Deus, por esta Eucaristia, viver de tal modo na Vossa Igreja que, perseverando na Fração do Pão e na Doutrina dos Apóstolos, e enraizados no Vosso Amor, sejamos um só coração e uma só alma. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém!”

O início da Oração, assim como a parte final (“um só coração e uma só alma”), nos remete a Atos dos Apóstolos (At 2,42-45), em que Lucas nos apresenta uma comunidade perseverante na Doutrina dos Apóstolos, Fração do Pão, Comunhão Fraterna e Oração.

A parte que ora retomo nos remete à Oração do Apóstolo Paulo, que se encontra na Epístola aos Efésios (Ef 3,14-21), de modo específico no versículo 17: “enraizados no Amor do Senhor”

Assim como Pedro e Paulo, todo discípulo missionário do Senhor deve ter os mesmos propósitos das primeiras comunidades, tão bem descrito por Lucas, e, de modo especial, precisa ser enraizado e alicerçado no Amor do Senhor.

Sem este enraizamento, fundamentação, precedido pelo encontro do Senhor, o caminho se abrevia porque se torna impossível de seguir. Faltará coragem, fidelidade, confiança e a certeza de Sua presença que caminha conosco.

Faltará a experiência mais bela e motivadora que se precisa para seguir o Senhor: deixar-se envolver pelo Seu Amor e ternura.

A seiva de Seu Amor é imprescindível para que não morramos, não sucumbamos diante das dificuldades que possam surgir no caminho.

Somente enraizados em Seu Amor, revigorados cotidianamente na Eucaristia, com a força e luz de Sua Palavra, é que as trevas são iluminadas, nossas fraquezas n’Ele encontram força; nossa miséria é acolhida por Sua misericórdia.

Somente enraizados no Amor do Senhor é que cuidaremos melhor de nós mesmos, de nossas famílias, de nossas comunidades, do meio em que vivemos...

Somente enraizados no Amor do Senhor é que daremos passos seguros, carregando com fidelidade nossa cruz, rumo à glória futura, dando conteúdo e verdade às palavras do Bispo Santo Irineu: “A glória de Deus é o homem vivo. E a vida do homem é a visão de Deus”.

Somente assim, enraizados no Amor do Senhor, vamos sentindo Sua presença, até que um dia possamos vê-Lo face a face. 


PS: Apropriado para a passagem da Carta de Paulo aos Efésios (Ef 3,14,21)

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG