domingo, 13 de abril de 2025

“Deus amou tanto o mundo...” (Domingo de Ramos) (Continuação)



“Deus amou tanto o mundo...” 

Retomo um parágrafo do Tratado sobre a fé de Pedro, escrita pelo Bispo São Fulgêncio de Ruspe (séc IV), para que meditado, sejamos fortalecidos em nosso Itinerário Quaresmal, e introduzidos no Mistério da Semana Santa que se aproxima: 

“É Cristo, com efeito, que, por Si só, ofereceu tudo o quanto sabia ser necessário para a nossa redenção; Ele é ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício, Deus e templo.

Sacerdote, por quem somos reconciliados;
Sacrifício, pelo qual somos reconciliados;
Templo, onde somos reconciliados;
Deus, com quem somos reconciliados.

Entretanto, só Ele é o sacerdote, o sacrifício e o templo, enquanto Deus na condição de servo; mas na Sua condição divina, Ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo.”

Cremos em Jesus Cristo ao mesmo tempo: Sacerdote e Sacrifício, Deus e Templo, Altar e Cordeiro, completo.

Qual deus, qual rei procuraria reconciliação com seus súditos?
Qual deus, qual rei suportaria sacrifício pelos seus súditos?
Qual deus, qual rei abriria sua morada para acolher os seus súditos?
Qual deus, qual rei se preocuparia em reintegrar seus súditos?
Qual deus, qual rei suportaria por a mesa para seus súditos?
Qual deus, qual rei ofereceria o melhor de si para seus súditos?

Nenhum, a não ser o Deus Uno e Trino que cremos e amamos: Pai, Filho e Espírito Santo, um só Deus, três Pessoas, a quem rendemos, honra, glória, poder e louvor.

Imagem de Deus que somos, vivendo intensamente a Semana Santa, configuremo-nos ao Senhor, sejamos semelhantes a Cristo Jesus no Mistério de Sua Paixão e Morte, para também com Ele alcançarmos a glória da Ressurreição.

Vivendo intensamente a Semana Santa nos renovemos,
Nos revigoremos para no mundo a diferença fazer:
Sal, fermento e luz, como Jesus nos enviou,
Corajosamente haveremos de ser.

E o Aleluia ressoará em nossos lábios,
Porque o Mistério Pascal, no mais profundo de nós,
Luz nova da Ressurreição,
Haverá de resplandecer.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo... Amém! 

Meditai sobre a Paixão do Senhor... (Domingo de Ramos) (Ano C)

                                                    

Meditai sobre a Paixão do Senhor...

“Meditai sobre a Paixão do Senhor,
Aumentai a caridade em vossos corações,
Consolidai a vossa fé, Renovai a vossa esperança.
Entrai em íntima comunhão com o Senhor!”

Ao celebrar o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, iniciamos a Semana Santa, e somos enriquecidos pelo Sermão do Bispo Santo André de Creta (séc. VI):

“Vinde, subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo, que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para aquela venerável e Santa Paixão, a fim de realizar o Mistério de nossa salvação.

Caminha o Senhor livremente para Jerusalém, Ele que desceu do céu por nossa causa – prostrados que estávamos por terra – para elevar-nos consigo bem acima de toda autoridade, poder, potência e soberania ou qualquer título que se possa mencionar (Ef 1,21), como diz a Escritura.

O Senhor vem, mas não rodeado de pompa, como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, diz a Escritura, nem gritará, e ninguém ouvirá Sua voz (Mt 12,19; cf. Is 42,2). Pelo contrário, será manso e humilde, e Se apresentará com vestes pobres e aparência modesta.

Acompanhemos o Senhor, que corre apressadamente para a Sua Paixão e imitemos os que foram ao Seu encontro. Não para estendermos à Sua frente, no caminho, ramos de oliveira ou de palma, tapetes ou mantos, mas para nos prostrarmos a Seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de recebermos o Verbo de Deus que Se aproxima, e acolhermos Aquele Deus que lugar algum pode conter.

Alegra-Se Jesus Cristo, porque deste modo nos mostra a Sua mansidão e humildade, e Se eleva, por assim dizer, sobre o ocaso (cf. Sl 67,5) de nossa infinita pequenez; Ele veio ao nosso encontro e conviveu conosco, tornando-Se um de nós, para nos elevar e nos reconduzir a Si.

Diz um Salmo que Ele subiu pelo mais alto dos céus ao Oriente (cf. Sl 67,34), isto é, para a excelsa glória da Sua divindade, como primícias e antecipação da nossa condição futura; mas nem por isso abandonou o gênero humano, porque o ama e quer elevar consigo a nossa natureza, erguendo-a do mais baixo da terra, de glória em glória, até torná-la participante da Sua sublime divindade.

Portanto, em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo.

Revestidos de Sua graça, ou melhor, revestidos d’Ele próprio, – vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo (Gl 3,27) – prostremo-nos a Seus pés como mantos estendidos.

Éramos antes como escarlate por causa dos nossos pecados, mas purificados pelo Batismo da salvação, nos tornamos brancos como a lã. Por conseguinte, não ofereçamos mais ramos e palmas ao vencedor da morte, porém o prêmio da Sua vitória.

Agitando nossos ramos espirituais, O aclamemos todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas Santas Palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel”.

Ele desceu do céu e veio ao nosso encontro: um Deus que Se faz Homem, assume a nossa condição, faz-Se um de nós, igual a nós, menos no pecado, para exatamente destruí-lo e nos redimir como criaturas novas.

Não conhecendo o pecado, numa perfeitíssima oferenda agradável ao Pai, sacrifica-Se por Amor à humanidade, ensinando e vivendo o caminho do Amor e fidelidade, doação e entrega em favor do próximo. Fez-Se grão de trigo caído por terra para germinar e produzir frutos abundantes de vida, alegria e paz.

É este Jesus que acolhemos como Salvador; Aquele que entrou em Jerusalém aclamado por todos, com ramos deitados para que sobre eles passasse.


Não fiquemos insensíveis ao convite do Bispo, em seu Sermão e prostremo-nos diante do Senhor, e a Ele demos toda honra, glória, poder e louvor:

“... em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo. Revestidos de Sua graça, ou melhor, revestidos d’Ele próprio, – vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo (Gl 3,27) – prostremo-nos a Seus pés como mantos estendidos”

Sejam os ramos a expressão de que somente n’Ele e com Ele encontramos vida, somente diante d’Ele nossos joelhos se dobrem, e ternamente nossa língua proclame que Jesus é o Senhor.

Será a grande Semana em que a Igreja nos convida ao recolhimento, ao silêncio e a Oração, a frutuosa meditação da Paixão do Senhor, para que aumente em nós a caridade, consolidando a fé e renovando a esperança. 

Semana Santa - Tempo de intensa Oração (Domingo de Ramos) (Ano C)

Semana Santa - Tempo de intensa Oração

Iniciamos com o Domingo de Ramos, a Semana Santa, um tempo forte de recolhimento e oração.

A Sagrada Escritura ressalta a necessária prática da Oração pessoal e comunitária, como veremos nos escritos do Bispo Santo Isidoro (séc. VII).

“A Oração nos purifica, a leitura nos instrui. Pratiquemos uma e outra coisa, porque ambas são boas. Mas se isso não for possível, é melhor orar do que ler.

Quem deseja estar sempre com Deus, deve orar e ler frequentemente. Quando oramos, falamos com Deus, mas quando lemos é Deus quem fala conosco.

Todo o nosso progresso provém da leitura e da meditação. Pela leitura aprendemos o que ignorávamos, e o que aprendemos, conservamos pela meditação.

É duplo o proveito que tiramos da leitura da Sagrada Escritura: ilumina a nossa inteligência, afastando-nos das vaidades do mundo, leva-nos ao Amor de Deus…”

Um pouco antes, São Jerônimo exortou-nos a amar a Palavra de Deus na Sagrada Escritura. Literalmente afirmou: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”.

Por isso, é importante que todo cristão viva em contato e em diálogo pessoal com a Palavra de Deus, que nos é entregue na Sagrada Escritura.

Este diálogo com Ela deve ter sempre duas dimensões: por um lado, deve haver um diálogo realmente pessoal, pois Deus fala conosco através da Sagrada Escritura e tem uma mensagem para cada um de nós.

A Sagrada Escritura não pode ser vista como uma Palavra do passado, mas como Palavra de Deus dirigida também a nós, quando procuramos entender o que o Senhor quer nos dizer.

Para não cair no individualismo, temos de ter presente que a Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão e para nos unir na verdade de nosso caminho rumo a Deus.

Portanto, apesar de ser sempre uma Palavra pessoal, é também uma Palavra que edifica a comunidade, que edifica a Igreja. Por isso, temos de lê-la em comunhão com a Igreja viva.

O lugar privilegiado da leitura e da escuta da Palavra de Deus é a Liturgia, nela ao celebrar a Palavra e ao tornar presente o Sacramento do Corpo de Cristo, atualizamos a Palavra em nossa vida e a fazemos presente entre nós.

A Palavra de Deus transcende os tempos, ao contrário das opiniões humanas que passam. O que hoje se apresenta como moderno, amanhã estará ultrapassado. Ela é Palavra de Vida Eterna, tem em si a eternidade, vale para sempre. 

Com a leitura da Palavra Divina, podemos nos instruir acerca da vontade de Deus, mas quando a tomamos para a Oração, abrimos nosso coração e a Ele apresentamos nossos anseios, propósitos, angústias, esperanças,  alegrias e tristezas, em atenta espera de Sua resposta.

Os Salmistas nos ensinam que os ouvidos de Deus estão sempre abertos e prontos a nos conceder uma resposta, ainda que esta nos desinstale, nos questione, exija mudança de rumos, conceitos e paradigmas, e alargamento de horizontes…

“Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei para meu Deus:
do Seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor em Sua presença chegou aos Seus ouvidos.” (Sl 17,7)

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (Domingo de Ramos) (Ano C)

                                                                         


Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

Ao celebrarmos o Domingo de Ramos e a Paixão e Morte do Senhor, silenciaremo-nos diante da Cruz e contemplamos o Senhor, que por amor a Deus e a nós, Se fragilizou.

É a mais espantosa e incrível História de Amor: como não nos abismarmos ao contemplá-la, e como não renovar, no mais profundo de nós, os Sagrados compromissos de fidelidade no seguimento deste Jesus, com renúncias necessárias, e a cruz cotidiana carregando, com a firme convicção de que ela assumida, com coragem, nos levará a contemplar, um dia, a face deste Deus de Amor?

“Celebrar a Paixão e Morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil…

Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou Sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar.

Desse Amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conosco ‘até ao fim dos tempos’: esta é a mais espantosa História de Amor que é possível contar; ela é a Boa Notícia que enche de alegria o coração dos crentes...

Contemplar a Cruz, onde se manifesta o Amor e a entrega de Jesus, significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade…

Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias. Significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens. Significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor…

Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da Ressurreição” (1)

Celebrando e meditando a Paixão de Cristo, sejamos fortalecidos na solidariedade e compaixão com  sofrimento de tantos irmãos e irmãs que vivem em situações que clamam por vida e dignidade.

Paixão de Cristo e Paixão do mundo são indissociáveis! 

Assim como cremos 
que o caminho da Cruz é inevitavelmente, 
o caminho que nos conduz à glória, 
quando, através de nosso agir, 
nos tornamos viva expressão 
e sinal do Amor de Deus 
por toda a humanidade.
Amém.


O indizível amor do Senhor por nós (Domingo de Ramos) (Ano C)

O indizível amor do Senhor por nós

Jesus é, para nós que cremos, o Servo Sofredor, que foi encontrado com aspecto humano, Se humilhou fazendo-Se obediente até a morte, e Morte de Cruz; e como disse Isaías: “Ele suportou nossos sofrimentos e padeceu nossas dores “ (Is 53, 1-3).

O Doutor da Igreja Santo Atanásio de Alexandria (séc. IV) nos disse:

“Sendo assim, não foi vexado de dores por Sua causa, mas pela nossa; nem foi abandonado por Deus, mas por nós; e por nós, os abandonados, Ele veio ao mundo. E quando diz: ‘Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome’, fala do Templo de Seu Corpo”.

Na Semana Santa, caminharemos com Jesus, celebraremos o Mistério de Sua Paixão e Morte, para celebrarmos com alegria transbordante a Sua Páscoa, num alegre Aleluia que voltaremos a cantar exultantes.

Por ora, meditaremos neste amor imensurável: Aquele que suportou dores indescritíveis por amor de nós, ainda que por vezes o abandonemos, Aquele que desceu ao mais profundo do Mistério da Solidão, passando pela morte e descendo à mansão dos mortos.

Mas Sua Morte é a morte de nossa morte. A Sua morte é a nossa redenção, nossa reconciliação, para que então, Ressuscitado, n’Ele vivendo e crendo, anunciando e testemunhando, vida nova e eterna tenhamos.

Em poucas palavras...

                                             


Jesus, por amor, na Cruz, consuma o Sacrifício Redentor

É o «amor até ao fim» (Jo 13,1) que confere ao sacrifício de Cristo o valor de redenção e reparação, de expiação e satisfação. Ele conheceu-nos e amou-nos a todos no oferecimento da sua vida (Gl 2,20). «O amor de Cristo nos pressiona, ao pensarmos que um só morreu por todos e que todos, portanto, morreram» (2 Cor 5, 14).

Nenhum homem, ainda que fosse o mais santo, estava em condições de tornar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos.

A existência, em Cristo, da pessoa divina do Filho, que ultrapassa e ao mesmo tempo abrange todas as pessoas humanas e O constitui cabeça de toda a humanidade, é que torna possível o seu sacrifício redentor por todos.” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 616

Em poucas palavras... (Domingo de Ramos) (Ano C)

                                                     


A Semana Maior: Semana Santa

“A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias vai realizar pela Páscoa da Sua Morte e da Sua Ressurreição. É com a Sua Celebração, no Domingo de Ramos, que a Liturgia da Igreja começa a Semana Santa”. (1)

 

(1)Catecismo da Igreja Católica – n.560

 

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG