quinta-feira, 3 de abril de 2025

Quaresma: Deus é bondoso e paciente e espera nossa conversão

                                                   

Quaresma: Deus é bondoso e paciente e espera nossa conversão

Ouvimos na quinta-feira da 4ª semana do Tempo da Quaresma, a passagem do Livro do Êxodo (Ex 32,7-14), em que nos revela um Deus que é paciente e sempre adia o castigo ao Seu povo..

A Sagrada Escritura nos apresenta algumas passagens, de modo especial os Salmos, que oferecem uma concepção de um Deus impaciente, que queima as etapas, em que os apelos à vingança são bastante frequentes (1Rs 18,40; Sl 82 e 108).

Os Profetas falam da cólera de Deus, que não é o último e definitivo momento da manifestação divina: o perdão sempre vence.

A Bíblia nos apresenta Javé, rico em graça e fidelidade, e sempre pronto a retirar Suas ameaças, quando Israel volta novamente ao caminho da conversão (Sb 12,12.16-19).

O Profeta Elias, cheio de zelo, em experiência pessoal, compreende que Deus não está no furacão ou no terremoto; Ele Se apresenta na brisa leve, no sopro do vento mais delicado (1Rs 19,9-13).
No Novo Testamento, os Apóstolos Tiago e João são censurados por causa do desejo de fazer cair raios sobre os samaritanos que não acolhem Jesus (Lc 9,51-55; Mt 26,51).

Esta foi a Boa-Nova do Reino inaugurada por Jesus, anunciada a todos e, de modo especial, aos pecadores, sem exclusão de ninguém no Seu Reino: todos são a ele chamados, todos podem aí entrar.

Em todos os momentos, Jesus encarnou e viveu a paciência divina, e nisto consiste a missão da Igreja, Corpo de Cristo, encarnar entre os homens a paciência de Jesus.

Como Igreja, temos que revelar no mundo a verdadeira face do amor, sem jamais destruir as pontes de comunicação com a força misericordiosa de Deus, como vemos no Evangelho (Mt 13,24-43).

“Na terra, o trigo está sempre misturado com o joio, e a linha de demarcação entre um e outro não passa pelas páginas dos registros paroquiais ou pelas fronteiras dos países; está no coração e na consciência de cada homem. Deve-se sempre recordar que a separação entre os bons e os maus só será feita depois da morte”.

Urge aprender com Deus a viver a divina paciência diante das dificuldades do mundo, com os que pensam e agem diferente de nós.

A divina paciência é alcançada quando nos reconhecemos diante de Deus como frágeis criaturas modeladas por Sua Mão, e nos configuramos a Jesus Cristo, que Se apresentou a nós manso e humilde de coração.

Cabe a Deus o julgamento final, não nos cabe catalogar as pessoas entre trigo e joio. Ao contrário, é preciso que nosso coração seja entranhado pela misericórdia e paciência divina, para que sejamos puro trigo de Deus em Sua seara.

Somente a abertura e acolhida do Espírito e a vivência da Palavra que Jesus nos comunicou, é que nos farão verdadeiramente puros trigos de Deus.


PS: Fonte inspiradora -  Missal Dominical – Editora Paulus - pág. 749. 

Quaresma: acolhidos e envolvidos pela misericórdia divina

                                                                

Quaresma: acolhidos e envolvidos pela misericórdia divina

Na quinta-feira da 4ª semana do Tempo da quaresma, ouvimos a passagem do Livro do Êxodo (Ex 32,7-14), e contemplamos a face misericordiosa de Deus, que Se revela num Amor infinito e incondicional pela humanidade.

A passagem retrata um momento fundamental na História do Povo de Deus: Moisés está no Monte Sinai, e lá Deus Se manifesta com Ele dialoga, mais ainda, ora e intercede pelo povo que, infringindo os termos da Aliança, faz um bezerro de ouro para ser adorado.

Retrata, portanto, o necessário compromisso de amor e comunhão de Israel com Deus, sem o que cairá em nova escravidão, da qual Javé os libertou, de modo que, sem fidelidade e adoração a Javé não há vida, liberdade e felicidade.

Ressalta-se a intercessão de Moisés e a ação misericordiosa de Deus, que se expressa em ternura e bondade.

O Amor infinito de Deus pelo Seu Povo sempre fala mais alto que Sua vontade de castigar, por causa dos desvios e infidelidades cometidas.

A atitude de Moisés é questionadora: face à indignação de Deus, intercede pelo Povo e não deixa que a ambição pessoal se sobreponha ao interesse do Povo – “deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua; de ti farei uma grande nação”. Moisés não aceitou a proposta, mas intercede em favor do povo. Moisés nada pede para si e questiona a tantos que sacrificam tudo pelo status, poder e acúmulo de bens...

Reflitamos:

- Quais são as infidelidades que cometemos contra Deus?
- Como corresponder melhor ao infinito e incondicional Amor de Deus por nós?
- Quais lições temos a aprender com Moisés nesta passagem bíblica?

Concluindo, vivendo a Quaresma, como seguidores de Jesus, que se põem a caminho com Ele, façamos uma caminhada de penitência e conversão, sentindo-nos acolhidos pelo Amor de Deus, que espera nossa resposta de amor.

Entremos na alegria de Deus, revelada a nós por Jesus, acolhendo e nos deixando conduzir pela ação do Espírito Santo.

Redimidos pelo Amor Trinitário, preenchidos deste amor, seremos dele comunicadores, transbordando o mesmo amor para com o outro, na alegria do perdão dado e recebido.

Renovemos nossa fé e fidelidade em Jesus Cristo, que nos revelou a face de um Deus que é amor e misericórdia

Cremos na Vitória da Cruz

                                                        

Cremos na Vitória da Cruz

No Tempo Quaresmal, de modo muito especial, pela Igreja, somos exortados a contemplar a Paixão do Senhor, imitando Seu exemplo de amor e fidelidade a Deus, à luz do Sermão do Papa São Leão Magno (séc. V).

Quem venera realmente a Paixão do Senhor deve contemplar de tal modo, com os olhos do coração, Jesus crucificado, que reconheça na Carne do Senhor a sua própria carne.

Trema a criatura perante o suplício do seu Redentor, quebrem-se as pedras dos corações infiéis e saiam para fora, vencendo todos os obstáculos, aqueles que jaziam debaixo de seus túmulos.

Apareçam também agora na Cidade Santa, isto é, na Igreja de Deus, como sinais da Ressurreição futura e realize-se nos corações o que um dia se realizará nos corpos.

A nenhum pecador é negada a vitória da Cruz e não há homem a quem a Oração de Cristo não ajude. Se ela foi útil para muitos dos que O perseguiam, quanto mais não ajudará os que a Ele se convertem?

Foi eliminada a ignorância da incredulidade, foi suavizada a aspereza do caminho, e o Sangue sagrado de Cristo extinguiu o fogo daquela espada que impedia o acesso ao Reino da vida.

A escuridão da antiga noite cedeu lugar à verdadeira luz. O povo cristão é convidado a gozar as riquezas do paraíso, e para todos os batizados está aberto o caminho de volta à pátria perdida, desde que ninguém queira fechar para si próprio aquele caminho que se abriu também à fé do ladrão arrependido.

Evitemos que as preocupações desta vida nos envolvam na ansiedade e no orgulho, de tal modo que não procuremos, com todo o afeto do coração, conformar-nos a nosso Redentor na perfeita imitação de Seus exemplos.

Tudo o que Ele fez ou sofreu foi para a nossa salvação, a fim de que todo o Corpo pudesse participar da virtude da Cabeça. Aquela sublime união da nossa natureza com a Sua divindade, pela qual o Verbo Se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), não exclui ninguém da Sua misericórdia senão aquele que recusa acreditar.

Como poderá ficar fora da comunhão com Cristo quem recebe Aquele que assumiu a sua própria natureza e é regenerado pelo mesmo Espírito por obra do qual nasceu Jesus?

Quem não reconhece n’Ele as fraquezas próprias da condição humana? Quem não vê que alimentar-se, buscar o repouso do sono, sofrer angústia e tristeza, derramar lágrimas de compaixão, eram próprios da condição de servo?

Foi precisamente para curar a nossa natureza das antigas feridas e purificá-la das manchas do pecado, que o Filho Unigênito de Deus Se fez também Filho do Homem, de modo que não lhe faltasse nem a humanidade em toda a sua realidade, nem a divindade em sua plenitude.

É nosso, portanto, o que esteve Morto no sepulcro, o que Ressuscitou ao terceiro dia e o que subiu para a glória do Pai, no mais alto dos céus.

Se andarmos pelos caminhos de Seus Mandamentos e não nos envergonharmos de proclamar tudo o que Ele fez pela nossa salvação na humildade do Seu Corpo, também nós teremos parte na Sua glória.

Então se cumprirá claramente o que prometeu: Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também Eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus (Mt 10,32)”.

Este Sermão muito nos ajuda a dar mais um passo neste tão rico Itinerário Quaresmal que nos conduzirá às Alegrias Pascais.

Silenciemo-nos e nos coloquemos diante da Cruz de Nosso Senhor e lembremos as palavras do Apóstolo Paulo aos Gálatas: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6,14).

Nesta caminhada de conversão, contemplemos o Amor Divino, com atitudes e compromissos que nos levem a maior correspondência a este imensurável Amor.

É tempo de contemplar, orar, e muito mais ainda a viver.

Nisto consiste a caminhada quaresmal: conversão, para que melhores sejamos, configurados ao Cristo Morto e Crucificado para com Ele também Ressuscitarmos. Amém! 

Quaresma: Deus não desiste de nós

                                                      

Quaresma: Deus não desiste de nós

Na quinta-feira da 4ª semana do Tempo da Quaresma, ouvimos a passagem do Livro do Êxodo (Ex 32,7-14), e contemplamos a lógica do Amor de Deus, que é a lógica do Amor incondicional, sem restrições, sem fim, indefectível; um amor pela humanidade, um Amor absoluto, gratuito, inesgotável, irrevogável...

É uma página da misericórdia, do Amor, da bondade, da ternura, da magnanimidade divina para conosco, pois o amor e o perdão divinos têm sempre a última palavra. O amor de Deus fala mais alto, paradoxalmente, à nossa surdez a Sua Palavra.

A lealdade de Deus para com Seu povo é incontestável, infinitamente além de nossas infidelidades, e não correspondência ao Seu Projeto de vida, fraternidade e paz!

Deus é incapaz de deixar de nos amar, porque somos obra de Suas mãos; inacabadas, portando limitações que somente o amor é capaz de aprimorar.

O Amor de Deus é a possibilidade de nos aprimorarmos, para que sejamos o que devemos ser, para que mais verdadeiramente, imagem d’Ele, o sejamos... Por isto Seu amor jamais nos falta!

Transbordemos de alegria diante de um Deus que não pensa e não faz outra coisa, senão nos amar e querer o melhor para nós!

Deus é irredutível em nos amar, porque jamais desiste de nós, e somente quem ama é capaz de entrar na alegria de Deus!

Infelizmente, na cidade é grande o número dos que não são amados por ninguém, para os quais não se tem um olhar a não ser o olhar da eficiência econômica, do quanto é capaz de gerar riquezas...

Vivemos na sociedade da descartabilidade – “... só pode ser feliz quem é reconhecido, estimado, apreciado, sobretudo amado. Não existe verdadeira experiência humana sem intercâmbio, diálogo, confidência, verdadeiro amor recíproco. Só o amor é capaz de transformar, mas com uma condição: que seja gratuito e livre”
Enquanto o mal existir, haverá a emergência e a necessidade do amor a ser vivido, para que o bem e a vida prevaleçam, a comunhão aconteça.

Moisés, confiante na misericórdia de Deus, não tem outra atitude, senão suplicar a mesma para com o povo; nada quis para si, a não ser o bem daqueles que o Senhor lhe confiou

Verdadeiramente e continuamente, a Misericórdia de Deus nos recria, nos aperfeiçoa e nos faz novas criaturas.

Coração pleno do Amor de Deus

                                                        

Coração pleno do Amor de Deus

Ouvimos na quarta Quinta-feira da Quaresma a passagem do Evangelho de João (Jo 5, 31-47) com o duro discurso de Jesus contra as acusações que recebeu dos judeus ao curar um homem paralítico há  38 anos, na piscina de Betesda.

Jesus diz claramente aos seus opositores: “Vós nunca ouvistes a Sua voz nem vistes a Sua face. Desse modo a Sua Palavra não permanece em vós {...} conheço-vos muito bem: o Amor de Deus não está dentro de vós” (Jo 5, 38-42).

Jesus constata que, infelizmente, os judeus, diante da cura realizada, e apesar dos inúmeros testemunhos e sinais realizados, permaneceram incrédulos, porque eram cheios de si mesmos e, portanto, privados de Deus.

Eles não reconheceram Jesus como Salvador nem a sua missão divina por Deus confiada, ainda que quatro testemunhos concorressem para a veracidade de Sua Pessoa e Missão Redentora da Humanidade (verdadeiramente Homem, verdadeiramente Deus):

- O testemunho dado por João Batista sobre a sua pessoa e missão;
As obras (sinais) que Ele realizava;
O próprio Deus, a quem chamava de Abbá (papaizinho)
- As Escrituras Sagradas, como a fonte de Vida, falam a Seu respeito: “Ele é a Palavra de Deus que Se faz Carne no meio da humanidade.”

Pode ocorrer o mesmo conosco: incredulidade no poder de Deus, frieza e indiferença à pessoa e missão de Jesus, dureza de coração e fechamento ao amor de Deus e, consequentemente, fragilização e empobrecimento de nossos relacionamentos com o outro.

Supliquemos a Deus para que nesta Quaresma, tempo favorável de conversão, transforme nosso coração de pedra em coração de carne, como tão bem expressou o Profeta Ezequiel (Ez 36,26), confiantes na misericórdia de Deus que não despreza um coração contrito e humilhado (Sl 50).

Provocados pela Palavra de Deus, pelas duras Palavras de Jesus no Evangelho, permitamos a ação transformadora e renovadora de Deus em nossa vida, abertos à Sua misericórdia, deixando-nos modelar por Suas mãos, como barro na mão do oleiro.

Deixando de lado toda letargia, preguiça, ilusões deste mundo, com nosso coração por Deus seduzido e indiviso, revigorados pela ação do Santo Espírito, na fidelidade a Cristo Servo Sofredor, glorioso e vencedor, não vacilemos jamais na fé, tão pouco esmoreçamos e tornemos ínfima nossa esperança, crescendo na prática da caridade, comunicando ao mundo a luminosidade divina que tanto se faz necessária.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

A Quaresma e o Sacramento da Penitência

A Quaresma e o Sacramento da Penitência

“Eu confessar?” “Pra que se vou pecar de novo”; “Confessar com padre? Eu não! Confesso diretamente com Deus”; “Eu não tenho pecado, vou confessar o quê?”...

Estas expressões e outras semelhantes ouvimos muitas vezes, portanto, urge que aprofundemos sobre este assunto tão vital para uma vida cristã mais ativa, piedosa, consciente e frutuosa, conhecendo a Doutrina e a fundamentação bíblica do Sacramento da Penitência, que o Papa Francisco tanto insistiu em  sua Carta Apostólica “Misericordia et misera”.

A Igreja recorda-nos, precisamente neste Tempo da Quaresma, a necessidade irrevogável da Confissão Sacramental, para que possamos celebrar e viver a Ressurreição de Cristo, na Liturgia e no dia a dia.

O Tempo da Quaresma é oportuno para procurarmos um Sacerdote, a fim de receber um dos sete Sacramentos da Igreja, o Sacramento da Penitência. Bem entendido e vivido, este Sacramento nos introduz no Mistério do Amor de Deus, renova-nos, para que melhor imagem d’Ele sejamos: “sede santos como Deus é santo”.

Retomo as palavras de São Josemaria Escrivá, que aconselhava com critério simples e prático que as nossas confissões fossem concisas, concretas, claras e completas. Mais uma vez volto a elas, a fim de ajudar a quantos possa, e que desejem chegar melhor preparados para o Sacramento da Misericórdia Divina.

Confissão concisa, sem muitas palavras: apenas as necessárias para dizermos com humildade o que fizemos ou omitimos, sem nos estendermos desnecessariamente, sem adornos. A abundância de palavras denota às vezes o desejo, inconsciente ou não, de fugir da sinceridade direta e plena; para evitá-lo, temos que fazer bem o exame de consciência.

Confissão concreta, sem divagações, sem generalidades. O penitente “indicará oportunamente a sua situação e o tempo que decorreu desde a sua última confissão, bem como as dificuldades que teve para levar uma vida cristã”, declarando os seus pecados e o conjunto de circunstâncias que tenham caracterizado as suas faltas a fim de que o confessor possa julgar, absolver e curar.

Confissão clara, para sermos bem entendidos, declarando a natureza precisa das faltas e manifestando a nossa própria miséria com a necessária modéstia e delicadeza.

Confissão completa, íntegra, sem deixar de dizer nada por falsa vergonha, para “não ficar mal” diante do confessor.”

É sempre tempo favorável de nossa salvação, de não desperdiçarmos a graça de Deus, como bem falou o Apóstolo Paulo na Carta aos Coríntios. Sendo assim, exercemos a função de embaixadores em nome de Cristo, e é por meio de nós que o próprio Deus vos exorta. Em nome de Cristo, suplicamos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20).

Do pecado da concupiscência, livrai-nos, Senhor

 




Do pecado da concupiscência, livrai-nos, Senhor

“Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo – o desejo da carne, o desejo dos olhos e a ostentação da riqueza, não vem do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa, e também o seu desejo, mas aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre” (1 Jo 16-17)

 

Vivendo o Tempo da quaresma, somos convidados a refletir sobre o pecado da concupiscência, que consiste na inclinação para o pecado a que todos estamos submetidos.

O Catecismo da Igreja, em diversos parágrafos, nos enriquece neste aprofundamento (1).

Como vimos na citação acima, São João distingue três espécies de cupidez ou concupiscência: 

-A concupiscência da carne;

- A concupiscência dos olhos;

- A soberba da vida.

 

Vejamos como compreender esta inclinação para o pecado?

 

- “No batizado permanecem, no entanto, certas consequências temporais do pecado, como os sofrimentos, a doença, a morte, ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de carácter, etc., assim como uma inclinação para o pecado a que a Tradição chama concupiscência ou, metaforicamente, a «isca» ou «aguilhão» do pecado («fomes peccati»)...”  (n. 1264);

- “...No entanto, a vida nova recebida na iniciação cristã não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a inclinação para o pecado, a que a tradição chama concupiscência, a qual persiste nos batizados, a fim de que prestem as suas provas no combate da vida cristã, ajudados pela graça de Cristo (Concílio de Trento). Este combate é o da conversão, em vista da santidade e da vida eterna, a que o Senhor não se cansa de nos chamar (Concílio de Trento).” (n. 1426);

-“Em sentido etimológico, «concupiscência» pode designar todas as formas veementes de desejo humano. ... Desregra as faculdades morais do homem e, sem ser nenhuma falta em si mesma, inclina o homem para cometer pecado (Concílio de Trento).” (n.2515);

Assim compreendemos a tradição catequética católica, que no nono mandamento proíbe a concupiscência carnal; e no décimo, a cobiça dos bens alheios, e como batizados recebemos a graça da purificação de todos os pecados.

No entanto, o batizado tem de continuar a lutar contra a concupiscência da carne e os desejos desordenados, contando com a graça divina no combate aos movimentos da concupiscência que não cessam de nos arrastar para o mal (n.978):

- Pela virtude e pelo dom da castidade, pois esta permite amar com um coração reto e sem partilha;

– Pela pureza de intenção, que consiste em ter em vista o verdadeiro fim do homem: com um olhar simples, o batizado procura descobrir e cumprir em tudo a vontade de Deus (Rm 12,2; Cl 1,10);

– Pela pureza do olhar, exterior e interior; pela disciplina dos sentidos e da imaginação; pela rejeição da complacência em pensamentos impuros que o levariam a desviar-se do caminho dos mandamentos divinos: «a vista excita a paixão dos insensatos» (Sb 15, 5);

– Pela oração – vejamos o que nos diz Santo Agostinho nas Confissões: «Eu pensava que a continência dependia das minhas próprias forças, forças que em mim não conhecia. E era suficientemente louco para não saber [...] que ninguém pode ser continente, se Tu lho não concederes. E de certo Tu o terias concedido, se com gemido interior eu chamasse aos teus ouvidos e se com fé sólida lançasse em Ti o meu cuidado»”

Ainda sobre o pecado, afirma o Catecismo: “... o pecado torna os homens cúmplices uns dos outros, faz reinar entre eles a concupiscência, a violência e a injustiça. Os pecados provocam situações sociais e instituições contrárias à Bondade divina; as «estruturas de pecado» são expressão e efeito dos pecados pessoais e induzem as suas vítimas a que, por sua vez, cometam o mal. Constituem, em sentido analógico, um «pecado social» (Papa São João Paulo II).” (n.1869).

Como vemos, a inclinação para o pecado pode favorecer situações de pecado, que ultrapassam as relações humanas, provocando situações sociais de pecado, ou até mesmo em sua máxima expressão – “estruturas de pecado”: desestruturação de famílias, fome, miséria, destruição planetária, dominações e morte de vidas humanas e de toda a Casa Comum, como a Campanha da Fraternidade tanto nos ajuda a compreender e nos compromete, com seu tema – “Fraternidade e Ecologia Integral”, e lema – “A esperança não decepciona” (Rm 5,5).

Do pecado da concupiscência, livrai-nos, Senhor. Amém.

 

 (1) Catecismo da Igreja Católica: parágrafos números 978, 1264, 1426, 1869, 2514, 2515, 2517, 2520, 2529, 2534, 2542

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