sexta-feira, 7 de março de 2025

Quaresma: oração, jejum e esmola

                                                 

Quaresma: oração, jejum e esmola

Neste tempo de Quaresma, como Igreja, somos chamados a viver os exercícios quaresmais da oração, jejum e esmola.

Quanto à oração: o Terço em família, Grupos de Reflexão; intensificação e qualificação dos momentos orantes. Oração – a relação entre Deus e eu!   Uma Oração pura, verdadeira e sincera é revertida em ações solidárias.

A Quaresma também nos lembra que "Nem só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”. Portanto, a importância de ler, ouvir, meditar, praticar a Palavra de Deus.  

Devemos renunciar a algo que habitualmente fazemos, para nos dedicarmos mais à leitura orante da Palavra de Deus: leitura de textos bíblicos, da história dos Santos, da Tradição da Igreja; pesquisar fontes boas para o nosso alimento espiritual.

Sobre o jejum: devemos agradecer a Deus o que temos. Eu jejuo livremente em prol de quem o faz por privação.

Quando abrimos o coração para Deus, também abrimos o coração para o outro. Quando assim acontece, tudo se abre em nossa vida, inclusive nossos projetos.  Coração fechado, mãos fechadas.

A prática do jejum leva-nos à esmola, que não é somente jogar moeda para um pedinte, ou um pedaço de pão, é transformar o amor em ação; é agir com compaixão. Viver a compaixão é ‘dar mão ao coração’; é Deus levando nossas mãos a agirem em favor do outro.

Vivamos intensamente, portanto, o Tempo da Quaresma, tempo de graça e salvação, firmando nossos passos na fidelidade ao Senhor, no Mistério de Sua Paixão e Morte, para também com Ele alcançarmos a Ressurreição.

Quaresma: Tempo de Graça e Salvação

                                                

Quaresma: Tempo de Graça e Salvação

No Tempo da Quaresma, somos convidados a viver em atitude penitencial, intensificando a Oração, o jejum e a esmola.

Como Igreja, acolheremos as exortações do Apóstolo Paulo, abertos ao Mistério da misericórdia divina:

Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois Ele diz: ‘No momento favorável, Eu te ouvi e no dia da salvação, Eu te socorri’ É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2 Cor 6,1-2).

De fato, Quaresma é tempo favorável de Graça e Salvação para toda a Igreja, para que seja presença luminosa no coração do mundo, e ao mesmo tempo pessoas reais, com suas histórias, que se tornam a presença do mundo no coração da Igreja, de modo que nada que diz respeito ao homem e à mulher, pode se tornar indiferente à Igreja, como nos lembram as primeiras palavras da Constituição “Gaudium Et Spes”, em que se acentua a íntima união da Igreja com toda a família humana:

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (GS 1).

A Igreja se une a todas as pessoas de boa vontade, colocando nas mãos de Deus nossas limitações e fraquezas, para que através delas, paradoxalmente, o Senhor manifeste a Sua força, fortalecendo nosso coração no amor e cuidado do outro, nosso irmão e irmã.

Não podemos ficar surdos e indiferentes a este clamor de milhões que sobe aos céus, pois seria o mesmo que nos fecharmos aos apelos de conversão que Deus nos propõe.

Deste modo, iniciaremos as primeiras reflexões sobre a Campanha da Fraternidade 2025, com o tema: “FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL", e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom" (Gn 1,31).

Importantes e necessários serão os momentos de oração que a comunidade oferecerá: Vias Sacras, encontros de reflexão sobre a Campanha da Fraternidade e, de modo especialíssimo, as celebrações das Missas e o Sacramento da Penitência (Confissão), além da Oração pessoal e familiar, que deve ser cultivada em todo tempo.

Como Igreja, haveremos de empenhar esforços de conversão, para que se fortaleçam os vínculos fraternos dentro da comunidade, chegando a todos os âmbitos em que vivemos, em gestos multiplicados de amor, partilha e solidariedade, para que alcancemos uma vida nova, envolvidos e renovados pela misericórdia divina que nos faz novas criaturas.

Que o roxo, a cor litúrgica da Quaresma, seja a expressão do nosso empenho para que morra o pecado em nosso coração e no mundo. Somente assim, lavados dos pecados, mergulhados no Mistério da Paixão e Morte do Senhor, com Ele Ressuscitaremos na tão esperada madrugada, quando celebraremos, com exultação e alegria, a Páscoa de nosso Redentor.

Será o mais belo e radiante Aleluia, que não sairá apenas de nossos lábios, mas de nosso coração, onde Deus habita, onde Se fez nosso mais belo Hóspede.

Quaresma: Tempo forte de Oração

                                                    

Quaresma: Tempo forte de Oração

Com a Homilia do século IV, de Pseudo-Crisóstomo, refletamos sobre a Oração, fundamental em todo o tempo, de modo especial na Quaresma.

“A Oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os olhos do corpo são iluminados quando recebem a luz, a alma que se eleva para Deus é iluminada por Sua luz inefável.

Falo da Oração que não é só uma atitude exterior, mas que provém do coração e não se limita a ocasiões ou horas determinadas, prolongando-se dia e noite, sem interrupção.

Com efeito, não devemos orientar o pensamento para Deus apenas quando nos aplicamos à Oração; também no meio das mais variadas tarefas – como o cuidado dos pobres, as obras úteis de misericórdia ou quaisquer outros serviços do próximo – é preciso conservar sempre vivos o desejo e a lembrança de Deus. 

E assim, todas as nossas obras, temperadas com o sal do Amor de Deus, se tornarão um alimento dulcíssimo para o Senhor do Universo.

Podemos, entretanto, gozar continuamente em nossa vida do bem que resulta da Oração, se lhe dedicarmos todo o tempo que nos for possível. A Oração é a luz da alma, o verdadeiro conhecimento de Deus, a mediadora entre Deus e os homens.

Pela Oração a alma se eleva até os céus e une-se ao Senhor num abraço inefável. Como uma criança que chorando, chama sua mãe, a alma deseja o leite divino, exprime seus próprios desejos e recebe dons superiores a tudo que é natural e visível.

A Oração é venerável mensageira que nos leva à presença de Deus, alegra a alma e tranquiliza o coração. Não penses que nessa Oração se reduza as palavras.

Ela é desejo de Deus, amor inexprimível que não provém dos homens, mas é efeito da graça divina, como diz o Apóstolo: Nós não sabemos o que devemos pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis (Rm 8,26).

Semelhante Oração, quando o Senhor a concede a alguém, é uma riqueza que não lhe pode ser tirada e um alimento celeste que sacia a alma.

Quem a experimentou inflama-se do desejo eterno de Deus, como que de um fogo devorador que abrasa o coração. Praticando-a em sua pureza original, adorna tua casa de modéstia e humildade, torna-a resplandecente com a luz da justiça.

Enfeita-se com boas obras, quais plaquetas de ouro, ornamenta-se de fé e de magnanimidade em vez de paredes e mosaicos. Como cúpula e coroamento de todo o edifício, coloca a Oração.

Assim prepararás para o Senhor uma digna morada, assim terás um esplendido palácio real para O receber, e poderás tê-Lo contigo na tua alma, transformada, pela graça, em imagem e templo de Sua presença.” (1)

Como vemos, a Oração o jejum e a esmola são os três Exercícios que devem ser mais intensificados neste Tempo de Quaresma.

Reflitamos sobre o primeiro: a Oração.

Evidentemente que não é só na Quaresma que se deve orar. É sempre tempo de orar, em todas as situações e em todos os tempos, adversos ou favoráveis; diante de fracassos anunciados ou vitórias preanunciadas; na agitação e na tranquilidade; na alegria e na tristeza; na angústia e esperança; no tempo dos sonhos para que não cedam lugar a pesadelos; tempo da presença divina mais percebida, para percepção mais aguçada, quando tudo parecer desolação e abandono divino (o que será sempre impossível).

A Oração bem feita é expressão  e fortalecimento de nossa amizade com Deus.

Orar e sentir nossa alma a Deus elevada.
Orar e perceber que o quarto escuro
de nossa alma foi iluminado.

Orar, como encontro e esquecimento do tempo,
para ficar com o Eterno que transcende
nosso miserável tempo.
Oremos! 

(1) Liturgia das Horas - Vol. II - Quaresma e Páscoa - pp. 58-9

Santas Perpétua e Felicidade: testemunhas corajosas do Senhor

                                                              

Santas Perpétua e Felicidade: testemunhas corajosas do Senhor

No dia 07 de março, celebramos a Memória das Santas Perpétua e Felicidade, Mártires da Igreja, como lemos nesta narração, escrita em parte pelos próprios confessores da fé cartagineses e, também, por um escritor contemporâneo.

“Despontou o dia da vitória dos mártires, e vieram do cárcere até ao anfiteatro, como se fosse para o Céu, de rosto radiante e sereno; e se algum tinha o rosto alterado, era de alegria e não de medo.

Perpétua foi a primeira a ser arremessada ao ar pela vaca brava, e caiu de costas no chão. Levantou-se imediatamente e, vendo Felicidade caída por terra, aproximou-se, estendeu-lhe a mão e ergueu-a. Ficaram ambas de pé. Saciada a crueldade do povo, foram reconduzidas à porta chamada Sanavivária.

Perpétua foi aí acolhida por um certo catecúmeno, chamado Rústico, que permanecia sempre ao seu lado; e como se acordasse do sono (até esse momento estivera em êxtase do espírito) começou a olhar à volta e, para espanto de todos, perguntou: ‘Quando é que seremos expostas à tal vaca?’.

Quando lhe disseram que já tinha acontecido, não quis acreditar, e só se convenceu quando viu no seu corpo e nas suas vestes a marca dos ferimentos recebidos. Chamou então para junto de si o seu irmão e aquele catecúmeno e disse-lhes: ‘Permanecei firmes na fé, amai-vos uns aos outros e não vos perturbeis com os nossos sofrimentos’.

Por sua vez, Sáturo, noutra porta do anfiteatro, exortava o soldado Pudente com estas palavras: ‘Até agora, tal como te tinha afirmado e predito, não fui ainda ferido por nenhuma fera. Acredita, portanto, agora de todo o coração: agora vou avançar de novo para ali e serei abatido com uma única mordedura de leopardo’.

E imediatamente, já quase no fim do espetáculo, foi lançado a um leopardo, e com um só golpe ficou coberto de tanto sangue que o povo, sem saber o que dizia, dava testemunho do seu segundo batismo, aclamando: ‘Foste lavado, estás salvo. Foste lavado, estás salvo!’. E na verdade estava salvo quem de tal modo fora lavado.

Sáturo disse então ao soldado Pudente: ‘Adeus. Lembra-te da fé e de mim, e que estas coisas não te perturbem, mas te confirmem’. E pediu-lhe o anel que trazia no dedo, mergulhou-o na ferida e devolveu-lho como uma herança, deixando-lho como penhor e recordação do sangue. Depois, já exânime, prostrou-se com os outros no lugar destinado ao golpe de misericórdia.

Mas o povo reclamava em alta voz que aqueles que iam receber o golpe final fossem levados para o meio do anfiteatro, porque queriam ver com os seus próprios olhos, cúmplices do homicídio, a espada penetrar nos corpos das vítimas; os mártires levantaram-se espontaneamente e foram para o sítio onde o povo os queria, depois de terem dado mutuamente o ósculo santo, para coroarem o martírio com este rito de paz.

Todos receberam o golpe da espada imóveis e em silêncio: especialmente Saturo, que fora o primeiro a subir (na visão de Perpétua) e que foi o primeiro a entregar a alma. Até ao último instante ia confortando Perpétua. E esta, que desejava ainda experimentar maior dor, exultou ao sentir em seus ossos a cutilada, e ela própria guiou até à garganta a mão incerta do inexperiente gladiador. Talvez esta mulher, de quem o espírito do mal se temia, não tivesse podido ser morta de outra maneira do que querendo-o ela própria.

Ó mártires, cheios de força e ventura! Verdadeiramente fostes chamados e eleitos para a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Impressiona-nos a coragem e a fidelidade destas mulheres, juntamente a outros mártires, como vemos na narração do martírio dos santos Mártires de Cartago (séc. III).

Elas e outros, como vimos, foram chamados e escolhidos para glória do Senhor, consumada em sua expressão máxima da fé, o Martírio.

Cada tempo suas provações e dificuldades, e estes são para nós, exemplos a serem imitados pela coragem e fidelidade, no bom combate da fé.

Celebrando esta Memória, renovemos a alegria de ser discípulos missionários do Senhor, participando mais intensa e frutuosamente de nossas comunidades, a fim de que sejam verdadeiras comunidades eclesiais missionárias; que anunciam a Palavra de Deus, fortalecidas pelo Pão da Eucaristia, testemunhas da Caridade que gera um mundo novo, movidas pela fé e esperança que não decepciona (cf. Rm 5,5).

Oremos:

“Ó Deus, pelo Vosso intenso amor, as santas Mártires Perpétua e Felicidade resistiram ao perseguidor e venceram os tormentos da morte; concedei-nos, por sua intercessão, crescer sempre mais em vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém

Conversão e sincero arrependimento

                                                           

Conversão e sincero arrependimento

Reflexão à luz de uma das Cartas do abade e Confessor São Máximo (séc. VII), em que retrata a ação de Deus em favor de todos nós, movido pela misericórdia divina que deseja a nossa conversão:

“Os pregadores da verdade e os ministros da graça divina, todos os que, desde o princípio até os nossos dias, cada um a seu tempo, expuseram a vontade salvífica de Deus, dizem que nada lhe é tão agradável e conforme a Seu Amor como a conversão dos homens a Ele com sincero arrependimento.                                                                       
E para dar a maior prova da bondade divina, o Verbo de Deus Pai (ou melhor, o primeiro e único sinal de Sua bondade infinita), num ato de humilhação que nenhuma palavra pode explicar, num ato de condescendência para com a humanidade, dignou-Se habitar no meio de nós, fazendo-Se homem.

E realizou, padeceu e ensinou tudo o que era necessário para que nós, Seus inimigos e adversários, fôssemos reconciliados com Deus Pai e chamados de novo à felicidade eterna que havíamos perdido.

O Verbo de Deus não curou apenas nossas enfermidades com o poder dos milagres. Tomou sobre Si as nossas fraquezas, pagou a nossa dívida mediante o suplício da Cruz, libertando-nos dos nossos muitos e gravíssimos pecados, como se Ele fosse o culpado, quando na verdade era inocente de qualquer culpa.

Além disso, com muitas Palavras e exemplos, exortou-nos a imitá-lo na bondade, na compreensão e na perfeita caridade fraterna.

Por isso dizia o Senhor: Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão (Lc 5,32). E também: Aqueles que têm saúde não precisam de médicos, mas sim os doentes (Mt 9,12). Disse ainda que viera procurar a ovelha desgarrada e que fora enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel.

Do mesmo modo, pela Parábola da dracma perdida, deu a entender mais veladamente que viera restaurar no homem à imagem divina que estava corrompida pelos mais repugnantes pecados. E afirmou: Em verdade Eu vos digo, haverá alegria no céu por um só pecador que se converte (cf. Lc 15,7).

Por esse motivo, contou a Parábola do bom samaritano: àquele homem que caíra nas mãos dos ladrões, e fora despojado de todas as vestes, maltratado e deixado semimorto, atou-lhe as feridas, tratou-as com vinho e óleo e, tendo colocado em seu jumento, deixou-o numa hospedaria para que cuidassem dele; pagou o necessário para o seu tratamento e ainda prometeu, dar na volta, o que porventura se gastasse a mais.

Mostrou-nos ainda a condescendência e bondade do pai que recebeu afetuosamente o filho pródigo que voltava, como o abraçou porque retornara arrependido, revestiu-o de novo com as insígnias de sua nobreza familiar e esqueceu todo o mal que fizera.

Pela mesma razão, reconduziu ao redil a ovelhinha que se afastara das outras cem ovelhas de Deus e fora encontrada vagueando por montes e colinas. Não lhe bateu nem a ameaçou nem a extenuou de cansaço; pelo contrário, colocando-a em seus próprios ombros, cheio de compaixão, trouxe-a sã e salva para o rebanho.

E deste modo exclamou: Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e Eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo (Mt 11,28-29).

Ele chamava de jugo os Mandamentos ou a vida segundo os Preceitos evangélicos; e quanto ao peso, que pela penitência parecia ser grande e mais penoso, acrescentou: O meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11,30).

Outra vez, querendo nos ensinar a justiça e a bondade de Deus, exortava-nos com estas Palavras: Sede Santos, sede perfeitos, sede misericordiosos, como também vosso Pai celeste é misericordioso (cf. Mt 5,48; Lc 6,36). 
E: Perdoai, e sereis perdoados (Lc 6,37). Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles (Mt 7,12).”

Deus age movido pela misericórdia infinita e irrevogável para com os pecadores para que se convertam e vivam, recuperando a dignidade e o sentido da existência perdida.

Com a Carta, o Abade nos leva a um mergulho na profundidade da misericórdia de Deus, que encontramos no Sagrado Coração de Jesus.

Como um pintor, nos apresenta, em telas do Espírito, a ação de Jesus em diversas situações e Parábolas, com uma leveza indescritível.

Sobretudo, neste Tempo Quaresmal, reconheçamos nossa condição pecadora, intensificando o processo contínuo de conversão e arrependimento sincero.

Procuremos novos caminhos, em que renunciando às obras das trevas, nos introduzirá no esplendor da Luz do Ressuscitado que celebraremos no Tempo Pascal.

Assim é o Itinerário Quaresmal que nos conduz à alegria Pascal: conversão e sincero arrependimento de nossos pecados, acompanhados de gestos e novos compromissos, para que sejamos testemunhas vivas e credíveis do Ressuscitado; testemunhas de que a misericórdia de Deus pode nos purificar e nos libertar de todo pecado que rouba nosso movimento, como que numa indesejável paralisia espiritual.

Bem afirmou o Apóstolo Paulo: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). 

Em defesa da sacralidade da vida e da pessoa humana

Em defesa da sacralidade da vida e da pessoa humana

As últimas Campanhas da Fraternidade têm insistido na defesa da vida, desde sua concepção ao seu declínio natural. Também têm insistido na sacralidade da qual toda a vida é portadora. Vida como dom divino, portanto, não submetida à manipulação de toda ordem.

Coincidentemente, estamos acompanhando a intensa discussão sobre o lamentável fato acontecido em Alagoinhas – PE, o abuso sexual sofrido pela menina de nove anos, que ficou grávida de gêmeos, cujos pais foram forçados à prática do aborto como não foi divulgado na mídia.

Retomamos a palavra do Secretário-geral da CNBB, D. Dimas Lara Barbosa - “Mais lamentável ainda é o fato de que não se trata de um caso isolado. Infelizmente, temos no Brasil inúmeras denúncias de exploração sexual e até de tráfico de crianças. Alguns dos nossos bispos estão sendo ameaçados no Pará por denunciar esse tipo de prática de exploração contra crianças e adolescentes”, em entrevista coletiva à imprensa realizada na sede da CNBB, em Brasília.

Nesta mesma entrevista, D. Geraldo Lyrio Rocha, Presidente da CNBB reiterou que não se pode reduzir a violência ocorrida com a menina de Alagoinha à questão da excomunhão.

Lembrou que a recente nota da CNBB manifesta, em primeiro lugar, solidariedade à família da criança que está passando por um constrangimento enorme e condena o estuprador que deve pagar pelo crime segundo a justiça.

Há que se pensar na situação da mãe desta criança e nos demais familiares. É um enorme sofrimento, uma coisa repugnante, uma humilhação, ter uma criança explorada sexualmente pelo padrasto, desde os seis anos de idade.

A imprensa enfatizou exaustivamente a excomunhão e procurou tirar os dividendos em clara prática pró-aborto, que paira em tantos programas, artigos, jornais, como política internacional planejada.

Quanto à excomunhão, ao contrário do que queiram deixar transparecer, não é sinônimo de condenação ao inferno, mas trata-se de um ato disciplinar da Igreja: "A excomunhão existe para chamar atenção para a gravidade do ato. O aborto traz consigo essa pena porque está se diluindo a gravidade do aborto até mesmo entre os cristãos. Quem viola isto, se coloca fora da comunidade eclesial, conforme cânone n.º 1398 do Código de Direito Canônico: ’Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão late sententiae’” (=automaticamente).

A gravidade do estupro é de consciência de todos, e dispensa a advertência. A excomunhão para a prática do aborto e quem dele participa não tira o peso da gravidade do pecado do estupro.

A excomunhão não é tão apenas para punição, mas como advertência para que se tome consciência de sua gravidade e se busque a reconciliação.

Fatos como este se repetem todos os dias e nos obrigam a  enfatizar a importância de uma sadia educação; intensificar absoluta reprovação de toda e qualquer prática de exploração sexual como mencionado acima; criar possibilidades para que as crianças possam crescer num clima familiar sadio, impregnando-se de valores irrenunciáveis: valor da vida, respeito ao corpo como templo de Deus, educação para uma sexualidade sadia e amadurecida.

Quanto ao fato do aborto, antes deveria ser feito todo esforço, investido todos os recursos para que a gravidez pudesse chegar ao seu sexto mês, para que o parto ocorresse, pois também carece de veracidade a ameaça de morte da vida da menina. O caminho mais fácil abre a porta para sua repetição sem maiores empenhos e constrangimentos...

E agora, quem vai acompanhar esta criança? Como está? Haverá da mídia e de tantos quantos tenham defendido a prática do aborto o mesmo acompanhamento, a mesma “solidariedade”.

Como praxe, a mesma Igreja que se opôs ao aborto, carregará com compaixão a cruz, tendo passado o alarde, a exploração midiática…

As vozes que se levantaram contra a Igreja neste lamentável fato são, de modo geral,  as mesmas vozes que promovem a banalização da vida; a exploração do corpo do homem e da mulher; a erotização precoce das crianças; “o sexo livre bom e sadio desde que se use a camisinha”; a pornografia nos diversos meios de comunicação; a prostituição...

 “Estas vozes são daqueles que demonstram lamentavelmente egoísmo, egocentrismo e falta de respeito  com a vida em detrimento da dignidade do homem, o ser mais importante do universo e ao qual todos os valores devem ser submetidos.

Estas atitudes procedem inversamente submetendo o homem às falácias e afirmações maldosas e mentirosas em favor da vida”, diz o Bispo da Diocese de Guarulhos, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini. 

A Igreja, para além de seus pecados, que são amplamente explorados, não deixa de ter sua autonomia como voz em defesa da vida, contra todo tipo de violação da vida: estupro, aborto, extermínios, tráfico de droga, corrupção, extorsão, práticas espúrias que desviam os recursos do povo não promovendo o bem comum etc.

Dentro e fora dela, a Igreja não revogará jamais a Palavra de Deus que diz: “Não matarás!”, como encontramos no Livro do Êxodo (20,13).
  

PS: Texto para a Redação do Jornal Folha Diocesana - publicado na  Edição de Abril de 2009 -

quinta-feira, 6 de março de 2025

Diálogo amoroso com o Senhor

                                                               

Diálogo amoroso com o Senhor

Cessem as palavras,
Para contigo dialogar, Senhor.
Sou envolvido pelo Teu amor, a ponto de perder a noção do tempo.

Agora ouço Tua Voz,
Ouço Tua Palavra, que abrasa o coração:
Uma passagem do Teu Evangelho (Lc 11, 5-13)

Agora em oração, diante de Tua presença, Senhor,
Suplico-Te que nos ajude em nossas necessidades,
Mas não quero pedir mal, e talvez não saiba o que deveria pedir...

Não quero pedir nada que brote de minha mesquinhez,
Do meu vazio materialismo, e estéril egoísmo e individualismo,
Que vise somente a satisfação de meus interesses pessoais e imediatos.

Peço-Te, Senhor, o aprendizado e vivência de verdadeiros valores eternos.
Peço-Te a minha salvação e de toda a humanidade.
Peço-Te o perdão dos meus pecados e do meu próximo.

Peço-Te pelo ardor na ação evangelizadora da Igreja; Igreja que evangeliza, quando se evangeliza.
Peço-Te pela superação das injustiças, que causam guerras e tantos sofrimentos.
Peço-Te, principalmente, Senhor, a ação do Espírito Santo em nossas vidas.

Nada mais, Te peço, Senhor, somente
Agradeço, levanto-me, caminho, tenho sempre Tua presença,
Tenho sempre Teu amor, e a Tua ternura que me envolve.

Obrigado, Senhor!
Da Leitura à meditação,
Da meditação à oração e contemplação.
E, com Teu Espírito, à ação. Amém. 

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG