quarta-feira, 16 de julho de 2025

As duas naturezas do Senhor no ventre de Maria

                                                                     

 

As duas naturezas do Senhor no ventre de Maria

 

“Uma virgem [...]; iria conceber um filho, Deus e homem,

primeiro em seu espírito, e depois em seu corpo”.

 

Sejamos enriquecidos pelo Sermão escrito pelo Papa São Leão Magno (séc. V):

 

“Uma virgem da descendência real de Davi foi escolhida para a sagrada maternidade; iria conceber um filho, Deus e homem, primeiro em seu espírito, e depois em seu corpo.

 

E para evitar que, desconhecendo o desígnio de Deus, ela se perturbasse perante efeitos tão inesperados, ficou sabendo, no colóquio com o Anjo, que era obra do Espírito Santo o que nela se realizaria.

 

Maria, pois, acreditou que, estando para ser em breve Mãe de Deus, sua pureza não sofreria dano algum. Como duvidaria desta concepção tão original, aquela a quem é prometida a eficácia do poder do Altíssimo?

 

A sua fé e confiança são ainda confirmadas pelo testemunho de um milagre anterior: a inesperada fecundidade de Isabel. De fato, quem tornou uma estéril capaz de conceber, pode também fazer com que uma virgem conceba.

 

Portanto, a Palavra de Deus, que é Deus, o Filho de Deus, que no princípio estava com Deus, por quem tudo foi feito e sem ela nada se fez (cf. Jo 1,2-3), a fim de libertar o homem da morte eterna, Se fez homem.

 

Desceu para assumir a nossa humildade, sem diminuir a Sua majestade. Permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu a verdadeira condição de escravo à condição segundo a qual Ele é igual a Deus; realizou assim entre as duas naturezas uma aliança tão admirável que, nem a inferior foi absorvida por esta glorificação, nem a superior foi diminuída por esta elevação.

 

Desta forma, conservando-se a perfeita propriedade das duas naturezas que subsistem em uma só Pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a mortalidade pela eternidade.

 

Para pagar a dívida contraída pela nossa condição pecadora, a natureza invulnerável uniu-se à natureza passível; e a realidade de verdadeiro Deus e verdadeiro homem associa-se na única pessoa do Senhor.

 

Por conseguinte, Aquele que é um só mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), como exigia a nossa salvação, morreu segundo a natureza humana e ressuscitou segundo a natureza divina.

 

Com razão, pois, o nascimento do Salvador conservou intacta a integridade virginal de sua mãe; ela salvaguardou a pureza, dando à luz a Verdade.  

 

Tal era, caríssimos filhos, o nascimento que convinha a Cristo, poder e sabedoria de Deus. Por este nascimento, Ele é semelhante a nós pela sua humanidade, e superior a nós pela Sua divindade. De fato, se não fosse verdadeiro Deus, não nos traria o remédio; se não fosse verdadeiro homem, não nos serviria de exemplo.  

 

Por isso, quando o Senhor nasceu, os Anjos cantaram cheios de alegria: 'Glória a Deus no mais alto dos céus, e anunciaram paz na terra aos homens por Ele amados'(Lc 2,14).

 

Eles veem, efetivamente, a Jerusalém Celeste ser construída pelos povos do mundo inteiro. Por tão inefável prodígio da bondade divina, qual não deve ser a alegria da nossa humilde condição humana, se até os sublimes coros dos Anjos se rejubilam?”

 

 

Contemplemos Maria, que concebeu o Verbo, primeiro em seu espírito e depois em seu corpo. Que também nós saibamos formar e gerar Cristo em nós, em nosso coração, para que d’Ele sejamos testemunhas credíveis e agradáveis ao Senhor.


Maria, a mãe de Jesus, a mãe da Igreja e nossa, nos ajuda a colocar em prática a Palavra do seu Filho, para que tão somente assim desta família façamos parte, pois a família de Jesus não se limita aos laços consanguíneos, mas à acolhida e prática de Sua Palavra, e do Seu Mandamento: “amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei”, somente assim seremos Seus discípulos.

 

Cremos que Deus quis  o Salvador da humanidade, de natureza invulnerável, incapaz de sofrer qualquer desgaste, prejuízo, demérito, viesse ao mundo e Se encarnasse no ventre de uma Virgem.

 

Assim aconteceu. Encarnando-Se assume uma natureza passível, ou seja, capaz de sofrer as realidades temporais.

 

Ele que era de condição divina de tudo Se desapegou e aceitou a morte humilhante na Cruz. Lágrimas, choro, pranto, fome, abandono, indiferença, humilhação, escárnio, morte... como vemos  abundantemente nos Evangelhos, Hebreus, Cartas Paulinas.

 

Reflitamos como o "Sim" de Maria a Deus aponta quatro belos propósitos, que devem estar no coração de todos aqueles que amam e querem seguir e servir seu Filho:

 

- Imitá-la, sobretudo nas suas virtudes, qualidades incontáveis;

 

- Ser contemplativo como Maria, cantora da esperança dos pobres. Pés no chão, coração voltado para Deus e olhos plenamente abertos para a sede do povo, como cantamos;

 

- Fazer a vontade do Pai sempre e acima de tudo;

 

- Colocar-se numa incansável atitude de conversão, para que tenhamos um coração atento e fiel ao Projeto de Deus, para que o nosso coração seja semelhante ao Coração de Jesus.

 

Maria não nos salva, mas melhor do que ninguém nos aponta Àquele que é Oo Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14,6), Aquele que nos alcança a Salvação.

 

Reflitamos sobre o papel de Maria em nossa caminhada de fé, como peregrinos da esperança, e nos perguntemos, quem melhor do que Maria para nos:

 

- Ajudar a construir na terra o céu?

 

- Apontar o caminho que nos leva ao céu?

 

- Ensinar a crer na invulnerabilidade divina e passibilidade humana do Seu Filho?

 

Em Maria, no seu ventre:

 

- A natureza divina e a natureza humana encontraram-se, como que num abraço, para que ao tornar-se visível na forma de uma criança, toda a humanidade fosse abraçada;

 

- E desde o seu ventre, a nossa humanidade na Encarnação do Filho, para sempre foi redimida, resgatada.

 

Consagremo-nos a Maria, pois quanto mais consagrados a Ela, mais fiéis e próximos seremos do seu Amado Filho, e O adoraremos em espírito e verdade.

 

“Ó minha Senhora, e também minha mãe,

Eu me ofereço inteiramente todo a vós...”

 

Ave Maria cheia de graça... 

 

PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 1,26-38) e também ao celebramos a Festa de Nossa Senhora do Carmo (16 de julho) 

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