Testemunhar
a fé em todo o tempo
Sejamos
enriquecidos pelo Sermão Escrito por Orígenes (séc. III):
“Senhor, salva-nos, que estamos perecendo. Era
tanto o temor que tinham, estavam tão perturbados e tão fora de si, que
chegaram ao Senhor com grande alteração, sem descanso nem sossego, mas muito
apressados, e lhe disseram assim: Senhor,
salva-nos, que estamos perecendo.
Ó
bem-aventurados e verdadeiros discípulos de Deus! Tendes convosco ao verdadeiro
Senhor e Salvador do mundo, e temeis algum perigo? Tendes convosco a vida, e
temeis a morte? Tendes presente ao Criador do mar, e lhe despertais com medo da
tempestade? Como? Pois não basta seu poder, mesmo que com o corpo durma, para
amansar as ondas e aplacar a tempestade?
Mas
a isto responderão estes santos e tão amados discípulos: ‘Agora nós somos pequenos, somos fracos, não estamos fortificados na
fé, e por isso tememos, ainda não vimos a cruz do Senhor; ainda não fomos
confirmados na gloriosa Paixão e triunfante Ressurreição; na sua maravilhosa
Ascensão aos céus; não nos visitou com a vinda do Espírito Santo sobre nós, e
desta forma não vos maravilheis de que sejamos fracos e temamos, e por isso
mesmo ouvimos muitas vezes que, repreendendo-nos, o Senhor nos chama homens de
pouca fé, e tudo o sofremos com amor e humildade para segui-Lo’.
Por que estais tão
medrosos, homens de pouca fé? Por que não tendes
fortaleza? Por que não tendes perfeita confiança e segurança? Como?
E
se a morte vos viesse, não seria motivo que com muita constância a sofrêsseis?
Não sabeis que a fortaleza é virtude necessária para sofrer tudo o que nos
sobrevém?
Qualquer
perigo e tribulação, até a própria morte se sofre com a fortaleza: a fortaleza
também é útil contra os prazeres, riquezas e honras do mundo, porque com ela
nos defendemos para não nos ensoberbecermos, para não desvanecermos.
Porque
a fortaleza nos ensina a não menosprezar aos nossos inimigos, nem ter em pouca
consideração aos pobres humildes; ensina-nos como não devemos esquecer-nos de
Deus, nem desamparar ao nosso Criador, nem ser-lhe ingratos; e de uma coisa vos
aviso: que se é necessária a virtude da fortaleza para combater as adversidades
e as dificuldades, para armar-se da fé e sofrer tudo por Deus, não é menos
necessária para saber usar das honras, riquezas e prosperidades que o mundo nos
dá, para que não nos sirvam de ciladas em que o diabo nos amarre.
Portanto,
por que estais perturbados, ó homens de
pouca fé? Se crestes que Eu sou verdadeiramente Deus, Criador de todas as
coisas, e por isso me seguistes e me tomastes por Mestre, como duvidais que o
que Eu criei esteja em meu poder e ao meu comando? Por que duvidastes, ó homens de pouca fé? Não sabeis que
está escrito que aquele que pouco crê será repreendido; e o que nada crê, será
menosprezado? Os fracos na fé serão repreendidos, os que forem completamente
alheios à fé serão castigados.
Então, levantando-se,
ordenou aos ventos e ao mar, e houve grande calmaria.
O grande profeta disse: E levantando-se o
Senhor como quem dormia, ou como um poderoso embriagado por vinho, feriu a
todos os seus inimigos nas costas; agora, levantando-se, ordenou aos ventos
e ao mar, e houve grande calmaria. Ordenou aos ventos e ao mar como seu Criador
que era: ordenou aos seus como poderoso, ordenou aos ventos como seu Senhor, e
ordenou-lhes antes por seus discípulos, para que eles, vendo-o, fossem
confirmados na fé.” (1)
Também
nós, podemos passar por momentos difíceis, em que devemos testemunhar nossa fé
em Deus, e n’Ele colocar toda a nossa confiança.
Urge que não
vacilemos na fé, nem esmoreçamos na esperança e não esfriemos na caridade, a
fim de que sejamos resistentes na tentação, pacientes na tribulação e
agradecidos a Deus nos mais preciosos sinais de prosperidade.
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - pp.
412-414
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