quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Que nossas comunidades sejam mais fraternas!

                                                          

Que nossas comunidades sejam mais fraternas!

Sejamos enriquecidos pela reflexão “Espelho da Caridade”, do Bem-aventurado Abade Elredo (séc. XII).

“Nada nos impele tanto ao amor dos inimigos – e é nisso que consiste a perfeição do amor fraterno – do que considerar com gratidão a admirável paciência de Cristo, o mais belo dos filhos dos homens (Sl 44,3).

Ele apresentou Seu rosto cheio de beleza aos ultrajes dos ímpios; deixou-os velar Seus olhos que governam o universo com um sinal; expôs Seu corpo aos açoites; submeteu às pontadas dos espinhos Sua cabeça, que faz tremer os principados e as potestades; entregou-Se aos opróbrios e às injúrias; finalmente, suportou com paciência a Cruz, os cravos, a lança, o fel e o vinagre, conservando em tudo a doçura, a mansidão e a serenidade.

Depois, como cordeiro levado ao matadouro ou como ovelha diante dos que a tosquiam, Ele não abriu a boca (Is 53,7). 

Ao ouvir esta palavra admirável, cheia de doçura, cheia de amor e de imperturbável serenidade: Pai, perdoa-lhes! (Lc 23,34), quem não abraçaria logo com todo o afeto os seus inimigos? Pai, perdoa-lhes!, disse Jesus. Poderá haver Oração que exprima maior mansidão e caridade?

Entretanto, Jesus não se contentou em pedir; quis ainda desculpar, e acrescentou: Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem! (Lc 23,34). São, na verdade, grandes pecadores, mas não sabem avaliar a gravidade de seu pecado. Por isso, Pai, perdoa-lhes!

Crucificaram-Me, mas não sabem a quem crucificaram, porque, se soubessem, não teriam crucificado o Senhor da glória (1Cor 2,8). Por isso, Pai, perdoa-lhes! Julgaram-Me um transgressor da lei, um usurpador da divindade, um sedutor do povo. Ocultei-lhes a minha face, não reconheceram a minha majestade. Por isso, Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!

Por conseguinte, se o homem quer amar-se a si mesmo com amor autêntico, não se deixa corromper por nenhum prazer da carne. Para não sucumbir a essa concupiscência da carne, dirija todo o seu afeto à admirável humanidade do Senhor. Para encontrar mais perfeito e suave repouso nas delícias da caridade fraterna, abrace também com verdadeiro amor os seus inimigos. 

Mas, para que esse fogo divino não arrefeça diante das injúrias, contemple sem cessar, com os olhos do coração, a serena paciência de seu amado Senhor e Salvador”.

Somos exortados a viver o amor fraterno inaugurador de novos tempos, prefiguração do Tempo Pascal, em que a morte cederá lugar à vida, o pecado à graça, dentro e fora dos espaços da comunidade.

São assustadoras as estatísticas de violência, bem como também é fundmental o crescimento e amadurecimento do amor nos espaços de nossas comunidades eclesiais; assim como a necessidade de nos revestirmos do “homem novo” como nos exorta o Apóstolo Paulo: 
Renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo” (Ef, 4,23-24).

Urge vencer todo fermento da maldade, como nos ensinou Jesus ao caminhar quarenta dias e noites pelo deserto, enfrentando as tentações satânicas da abundância, do domínio e do sucesso! 

Como batizados, cristãos, que nossas súplicas a Deus sejam acompanhadas de renovadas atitudes de doçura, mansidão, serenidade, em maior fidelidade ao Senhor, como membros de Seu corpo que é a Igreja!

Seja a prática da oração, jejum e esmola vividos para que nos ajudem a edificar comunidades mais fraternas, instrumentos de um mundo melhor.


(1) Liturgia das Horas Vol. III – pp.114/116

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