segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Quaresma: vivamos a misericórdia intensamente

                                                      

Quaresma: vivamos a misericórdia intensamente

Na segunda-feira da primeira semana da Quaresma, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 25, 31-46), tendo como mensagem, o último julgamento a que todos seremos submetidos diante do Senhor, o quanto vivemos a misericórdia, como vemos em outra passagem do mesmo Evangelho, no Sermão da Montanha, em que Jesus diz: “Diz a Escritura: Bem-Aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5,7). 

Vivendo intensamente o itinerário quaresmal, sejamos enriquecidos por um dos Sermões do Bispo São Gregório de Nazianzo (Séc. VI), sobre a prática da caridade, de modo que sirvamos a Cristo na pessoa dos empobrecidos, com os quais Se identificou,

“A misericórdia não é certamente a última das Bem-Aventuranças. Lemos também: Feliz de quem pensa no pobre e no fraco (Sl 40,2). 

E ainda: Feliz o homem caridoso e prestativo (Sl 111,5). E noutro lugar: O justo é generoso e dá esmola (Sl 36,26). 

Tornemo-nos dignos destas Bênçãos, de sermos chamados misericordiosos e cheios de bondade.

Nem sequer à noite interrompa a tua prática da misericórdia. Não digas: ‘Vai e depois volta, amanhã te darei o que pedes’. Nada se deve interpor entre a tua resolução e o bem que vais fazer. Só a prática do bem não admite adiamento.

Reparte o teu pão com o faminto, acolhe em tua casa os pobres e peregrinos (Is 58,7), com alegria e presteza. Quem se dedica às obras de misericórdia, diz o Apóstolo, faça-o com alegria (Rm 12,8). 

Essa presteza e solicitude duplicarão a recompensa da tua dádiva. Mas o que é dado com tristeza e de má vontade não se torna agradável nem é digno.

Devemos alegrar-nos, e não entristecer-nos, quando prestamos algum benefício. Diz a Escritura: Se quebrares as cadeias injustas e desligares as amarras do jugo (Is 58,6), isto é, da avareza e das discriminações, das suspeitas e das murmurações, que acontecerá?

A tua recompensa será grande e admirável! Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa (Is 58,8). E quem há que não deseje a luz e a saúde?

Por isso, se me julgais digno de alguma atenção, vós, servidores de Cristo, Seus irmãos e coerdeiros, em todas as ocasiões visitemos a Cristo, alimentemos a Cristo, tratemos as feridas de Cristo, vistamos a Cristo, acolhamos a Cristo, honremos a Cristo; não apenas oferecendo-lhe uma refeição, como fizeram alguns, não apenas ungindo-O com perfumes como Maria, não apenas dando-lhe o sepulcro como José de Arimateia, não apenas dando o necessário para o sepultamento como Nicodemos que dava a Cristo só uma parte do seu amor, nem, finalmente, oferecendo ouro, incenso e mira, como fizeram os magos, antes de todos esses. 

O Senhor do universo quer a misericórdia e não o sacrifício, e a compaixão tem muito maior valor que milhares de cordeiros gordos. 

Ofereçamos a misericórdia e a compaixão na pessoa dos pobres que hoje na terra são humilhados, de modo que, ao deixarmos este mundo, eles nos recebam nas moradas eternas, juntamente com o próprio Cristo nosso Senhor, a quem seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém.”

Intensificamos a prática da caridade e a solidariedade para com o próximo, pois somente o amor a Deus, vivido concretamente para com o próximo, é que nos possibilitará o encontro definitivo e eterno com o Pai. 

Jesus não apenas mostrou o caminho, mas Se fez o próprio Caminho.
Como Jesus nos ensinou nos Evangelhos, é preciso dar primazia ao amor, amando a Deus e se consagrando totalmente a Ele, amando, inseparavelmente ao próximo como a si mesmo.

Nisto constitui dois eixos da religião que agrada a Deus, de modo que tudo o mais será complemento e terá valor relativo. 

É sempre possível que, com muita facilidade, no caminho para Deus, o ser humano embrenhe por atalhos, abandonando a estrada principal, empobrecendo tristemente, porque deixa de lado o caminho do amor a Deus e ao próximo. 

Somente o caminho do amor poderá levar-nos ao destino que esperamos: a eternidade, o encontro com Deus Uno e Trino. 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG