domingo, 3 de março de 2024

Sentemo-nos à beira do poço com o Senhor! (IIIDTQA)

Sentemo-nos à beira do poço com o Senhor!

“Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais
sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la” (Jo 4,15).

Retomemos o texto da Liturgia das Horas do 3º Domingo da Quaresma, sobre o inesquecível encontro de Jesus com a Samaritana, extraído do “Tratado sobre o Evangelho de São João”, do Bispo Santo Agostinho (séc. V).

“Veio uma mulher. Esta mulher é figura da Igreja, ainda não justificada, mas já a caminho da justificação. É disso que iremos tratar. A mulher veio sem saber o que ali a esperava; encontrou Jesus, e Jesus dirigiu-lhe a palavra. Vejamos o fato e a razão por que veio uma mulher da Samaria para tirar água (Jo 4,7).

Os samaritanos não pertenciam ao povo judeu; não eram do povo escolhido. Faz parte do simbolismo da narração que esta mulher, figura da Igreja, tenha vindo de um povo estrangeiro; porque a Igreja viria dos pagãos, dos que não pertenciam à raça judaica.

Ouçamos, portanto, a nós mesmos nas palavras desta mulher, reconheçamo-nos nela e nela demos graças a Deus por nós. Ela era uma figura, não a realidade; começou por ser figura, e tornou-se realidade. Pois acreditou n’Aquele que queria torná-la uma figura de nós mesmos. Veio para tirar água. Viera simplesmente para tirar água, como costumam fazer os homens e as mulheres.

Jesus lhe disse: 'Dá-me de beber'. Os discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. A mulher samaritana disse então a Jesus:

'Como é que Tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?' De fato os judeus não se dão com os samaritanos (Jo 4,7-9).

Estais vendo que são estrangeiros. Os judeus de modo algum se serviam dos cântaros dos samaritanos. Como a mulher trazia consigo um cântaro para tirar água, admirou-se que um judeu lhe pedisse de beber, pois os judeus não costumavam fazer isso. Mas Aquele que pedia de beber tinha sede da fé daquela mulher.

Escuta agora quem pede de beber. Respondeu-lhe Jesus: 'Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a Ele, e Ele te daria Água viva' (Jo 4,10).

Pede de beber e promete dar de beber. Apresenta-se como necessitado que espera receber, mas possui em abundância para saciar os outros.

Se tu conhecesses o dom de Deus, diz Ele. O dom de Deus é o Espírito Santo. Jesus fala ainda veladamente à mulher, mas pouco a pouco entra em seu coração, e vai lhe ensinando.

Que haverá de mais suave e bondoso que esta exortação? Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a Ele, e Ele te daria Água viva.

Que água lhe daria Ele, senão aquela da qual está escrito: Em Vós está a Fonte da vida? (Sl 35,10). Pois como podem ter sede os que vêm saciar-se na abundância de Vossa morada? (Sl 35,9).

O Senhor prometia à mulher um Alimento forte, prometia saciá-la com o Espírito Santo. Mas ela ainda não compreendia. E, na sua incompreensão, que respondeu?

Disse-lhe então a mulher: 'Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la' (Jo 4,15).

A necessidade a obrigava a trabalhar, mas sua fraqueza recusava o trabalho. Se ao menos ela tivesse ouvido aquelas palavras:

Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos e Eu vos darei descanso! (Mt 11,28). Jesus dizia-lhe tudo aquilo para que não se cansasse mais; ela, porém, ainda não compreendia”.

Quaresma, Tempo favorável de nossa salvação, tornando mais fecunda nossa Oração, acompanhada de jejum e esmola, desde o primeiro dia deste Itinerário.

Há encontros e encontros. Este foi um dos encontros que marcou a história da humanidade, pois Jesus Se revelou como Aquele que sacia a sede de vida e felicidade que todos trazemos, desde a concepção até o declínio natural.

Coloquemo-nos, como Igreja, pessoalmente, aos pés do Senhor, no lugar da samaritana.

Ontem foi ela, hoje somos nós que acolhemos o Senhor em pleno dia, para este diálogo amoroso e fecundo, que sacia a nossa alma dos desejos mais santos e divinos.

Que nossas Orações, tanto pessoal como comunitária, sejam um sentar-se com o Senhor à beira do poço recebendo d’Ele a Água cristalina que jorrou de Seu lado trespassado para nos fazer renascer e viver eternamente.

Bebendo da Divina Fonte, renovemos nossas forças para vivermos como alegres discípulos missionários na planície do quotidiano, como vimos no Domingo passado, vencendo as tentações que nos afastam da vida plena e feliz que Deus tem a nos oferecer.   

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