domingo, 3 de março de 2024

O Encontro da samaritana com o Senhor (IIIDTQA)


O Encontro da samaritana com o Senhor

A Liturgia do 3º Domingo da Quaresma (ano A) nos apresenta a passagem do Evangelho de João (Jo 4,5-42), sobre o diálogo de Jesus com a samaritana, sejamos enriquecidos com este Comentário escrito pelo Diácono e Doutor da Igreja, Santo Efrém (séc. IV).

“Nosso Senhor veio à fonte como um caçador, Ele pediu água para podê-la dar; pediu de beber como alguém sedento, para ter oportunidade de saciar a sua sede. Fez uma pergunta à samaritana para lhe poder ensinar e, por sua vez, ela lhe fez uma pergunta.

Embora rico, nosso Senhor não teve vergonha de mendigar como um indigente, para ensinar o indigente a pedir. E, dominando o pudor, não temeu falar a uma mulher sozinha, para ensinar-me que aquele que está na verdade não pode ser perturbado.

E ficaram admirados de ver Jesus falando com a mulher. Ele tinha afastado os discípulos, para que eles não lhe espantassem a presa; ele lançou a isca para a pomba, esperando apanhar todo um bando. Ele iniciou a conversa com uma pergunta, com a finalidade de provocar confissões sinceras: Dá-me de beber. Pediu água, e em seguida prometeu a água da vida; pediu, depois parou de pedir, do mesmo modo que a mulher abandonou o seu cântaro. Os pretextos tinham cessado, porque a verdade que tinham de preparar agora estava presente.

Dá-me de beber. Ela respondeu-lhe: mas tu és judeu. Respondeu-lhe Jesus: Se tu conhecesses; com estas palavras ele demonstrou-lhe que ela não sabia e que sua ignorância explicava o seu erro; a instruiu sobre a verdade; queria remover pouco a pouco o véu que havia em seu coração. Se lhe tivesse revelado desde o início: Eu sou o Cristo, ela teria se apavorado diante d’Ele e não teria colocação na Sua escola.

Se conhecesses quem é que te diz ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias. A mulher disse-lhe: Senhor, não tens sequer um balde e o poço é fundo... Replicou-lhe Jesus – A minha água desce do céu. Esta doutrina vem do alto e minha bebida é celeste; aqueles que a bebem não têm mais sede, pois não há senão um só batismo para os crentes:
Aquele que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me desta água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir aqui para tirá-la.

Ele lhe disse: Vai chamar teu marido. Como um profeta, Ele abre uma porta para revelar coisas ocultas. Mas ela lhe respondeu: Não tenho marido; para provar se Ele conhecia as coisas ocultas. Ele lhe demonstrou, então, duas coisas: o que ela era e o que ela não era, aquilo que era de nome, mas não era na verdade: pois tiveste cinco maridos e o que tens agora não é o teu marido. A mulher disse a Jesus: Senhor, vejo que és um profeta. Aqui, Ele a elevou a um nível superior.

Nossos pais adoraram neste monte. Disse-lhe Jesus: não será mais neste monte nem em Jerusalém, mas os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e verdade. Exercitava-lhe, portanto, na perfeição, e a instrui na vocação dos gentios. E para mostrar que não era uma terra estéril, ela testemunhou, mediante o feixe que lhe ofereceu, que a sua semente tinha frutificado o cêntuplo: Sei que o Messias vai chegar. Quando Ele vier, vai nos fazer conhecer todas as coisas. Disse-lhe Jesus: Sou Eu, que estou falando contigo. Mas se Tu és rei, por que me perguntou sobre a água?

Jesus revelou-Se progressivamente a ela, primeiro como judeu, depois como um profeta e, por fim, como o Cristo. Ela O convence que está com sede, ao judeu tinha aversão, interrogou o sábio, foi corrigida pelo profeta, e adorou o Cristo.” (1)

Um dos diálogos mais belos que encontramos nas páginas dos Evangelhos: o encontro e o diálogo de Jesus com a samaritana.

Contemplamos o caminho de fé feito pela samaritana: num primeiro momento reconhece Jesus tão apenas no aspecto humano, como um judeu. Depois como um Profeta, e por fim como o Cristo, acompanhado da adoração.

Depois disto, torna-se uma discípula missionária, anunciando a todos o encontro que transformou sua vida.

Vejamos o que nos falou o Papa Bento XVI sobre o ser cristão:

“Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus Caritas Est 1).

Verdadeiramente, Jesus é a Fonte de Água viva para nossa sede, e voltando para o Pai, nos foi enviado o Espírito, para saciar nossa sede de amor vida e paz.

Concluímos com as palavras do Prefácio da Missa do terceiro domingo da Quaresma, quando se proclama esta passagem do Evangelho:

“...Ao pedir a samaritana que lhe desse de beber, Jesus lhe dava o dom de crer. E, saciada sua sede de fé, lhe acrescentou o fogo do amor...”



(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.61-62

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