quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Exultemos pelo Mistério da Encarnação (Natal do Senhor)

                                                        


Exultemos pelo Mistério da Encarnação

Sobre o Mistério da Encarnação do Senhor, Mistério indizível e inesgotável de um Deus que Se fez homem para que o homem se tornasse Deus, é enriquecedor retomar o Sermão do Bispo Santo Agostinho (Séc. V).

Nosso Senhor Jesus Cristo, que é, desde a eternidade, o Criador de todas as coisas nasceu de uma mulher, como afirmou Paulo (Gl 4, 4-5). E assim, expressando Seu Amor, na Cruz, nos deu Sua mãe como a nossa.

O Senhor nasceu, por própria vontade, na plenitude do tempo, a fim de nos conduzir à eternidade do Pai:

Por isto, “Deus Se fez homem para que o homem se tornasse Deus. Para que o homem comesse o Pão dos Anjos, o Senhor dos Anjos Se fez homem”.

E ainda, o Bispo nos convida à exultação diante da ação de Deus;

“As leis da natureza são alteradas no homem. Deus nasce, uma virgem concebe e unicamente a palavra de Deus fecunda a que não se uniu a homem algum.

É ao mesmo tempo mãe e virgem; mãe que conserva a integridade virginal, virgem que gera um filho; permanece intacta, porém não infecunda. Só nasceu sem pecado Aquele que não foi gerado por homem nem pela concupiscência da carne, mas pela obediência do Espírito”

Afirma a realização da profecia neste dia em que o Verbo Se fez Carne:

“Céus, deixai cair orvalho das alturas, e que as nuvens façam chover o justo; abra-se a terra e germine o Salvador” (cf. Is 45,8).

Contemplemos extasiados tão grande Mistério: O Criador que Se torna criatura para nos encontrar, porque perdidos estávamos pelo pecado:

“Por isso, o homem confessa nos Salmos: Antes de ser humilhado, eu pequei (cf. Sl 118,67). O homem pecou e tornou-se culpado; Deus nasceu como homem para libertar o culpado. O homem caiu, mas Deus desceu. O homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente; o homem caiu por orgulho, Deus desceu com a sua graça”.

Celebrando o tão belo Mistério da Encarnação, sentimos que de fato Ele está presente entre nós, comunicando-nos Sua graça, bondade, força, luz e paz.

Silenciemo-nos diante desta expressão augusta de misericórdia  e caminhemos com o Emanuel, o Deus conosco, multiplicando pequenos e grandes gestos, testemunhando que Ele encontrou lugar em nosso coração, irradiando a alegria de Sua presença, que Se fez morada em nós e entre nós, em todos os momentos, bons e maus, sombrios ou não, pautando a nossa vida pelo Evangelho que Ele nos comunicou.

terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Natal: Com Jesus, as necessárias mudanças

 


Natal: Com Jesus,  as necessárias mudanças 


“Ele (Jesus), portanto, foi pequeno, foi criança,
para que possais vós, ser perfeitos adultos;
Ele foi envolvido em faixas, para que sejais, vós,
libertados das garras da morte;
 
Ele, na manjedoura, para vos por sobre o Altar;
Ele, na terra, para que estejais vós entre as estrelas;
não havia lugar para Ele na sala comum,
para que tenhais vós várias moradas na casa do Pai” (1)
 
Vigilantes, esperamos a chegada da noite tão esperada:
Celebrar o Natal do Senhor -  nasceu para nós o Salvador.
Olhos fixos nos olhos daquela criança, um Deus Menino,
Com os anjos, demos glória a Deus, em coro, num alegre hino.
 
Soem forte os sinos em todas as capelas e matrizes;
A luz veio iluminar nossos caminhos tão obscuros,
Pelas marcas da infidelidade, em pequenos ou grandes atos;
Agora, com Ele, novas atitudes, novos compromissos, de fato.
 
Com Ele renasce, em todo lugar e corações, a esperança ,
Com o imperativo, para toda a humanidade, de novas mudanças,
Em que se renovam compromissos com a vida, marca de fraternidade,
Nas ruas, nas praças, no campo e nas cidades.
 
Mudanças de faces e expressões múltiplas anunciadas:
Mudança de rumos que conduzam a uma nova realidade,
Em que haja marcas do sorriso, acompanhado de cantos,
Reapaixonamento pela vida, lágrimas enxugadas de prantos.


Mudança de assuntos reais ou virtuais, com novas pautas,
Não mais a promoção de discursos de ódios e divisões,
Superação de toda forma de rotulações marcadas pelo preconceito,
Que não edificam pontes, mas apenas erguem indesejáveis muros.
 
É Natal, tempo de virar tantas páginas,
Escrever novas linhas, uma nova história,
Com mudanças radicais e completas,
Que deem à vida novos conteúdos e cores.
 
É Natal, tempo de tomarmos consciência de que tudo passa,
Consciência de nossas limitações, fragilidades e finitudes,
Superação de toda petulância, arrogância, autossuficiência;
Renascimento, no mais profundo de nós, da necessária ternura.
 
Natal: repensar caminhos, novas diretrizes a nos conduzir,
Iluminados pela Palavra do Verbo que Se fez Carne,
Para nos ensinar a mais bela e imprescindível lição:
Amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como Ele nos amou.
Amém.
 
 
(1).Santo Ambrósio - séc. IV

Natal: A Divina Fonte não dispensa compromissos!

                                                          

Natal: A  Divina Fonte não dispensa compromissos!

O tempo de Natal e a própria Festa do Natal hão de ter sempre um tom festivo, com conotação religiosa profunda para todos os cristãos, libertos de todo tom consumista e passageiro, esvaziados do seu verdadeiro sentido.

Trata-se da Festa do Nascimento de Jesus Cristo, Deus feito homem, que toma as condições e os limites da natureza humana, conferindo à nossa humanidade a divindade.

Natal:
Deus Se humaniza e possibilita a divinização da pessoa humana. Realiza-se a profecia de Isaías, ao dizer que:
“De uma virgem nasceria o Emanuel” (Is 7,14).

Na Encarnação do Verbo, Deus mostrou que Ele mesmo Se envolveu na história da humanidade, assumindo-a com a disposição divina de conduzi-la ao seu destino verdadeiro, agindo dentro dela e respeitando sua dinâmica humana própria.

Mas o nascimento de Jesus não significou o esgotamento da esperança, nem o fim da promessa velada até o tempo dos Profetas (AT).

O Reino inaugurado pelo mais importante de todos os  nascimentos, testemunhado pelos pobres marginalizados (pastores), ainda continua sua trajetória, e conta com a nossa participação consciente e comprometida.

Por isto o Natal tem três tempos: ontem, hoje e amanhã.

ontem, na humilde gruta, com todas as suas vicissitudes e poesia da acolhida no despojamento.

amanhã da segunda vinda gloriosa, que vigilante esperamos, quando dizemos na Missa, ao proclamar o Mistério de nossa Fé: Anunciamos, Senhor, a Vossa morte, e proclamamos a Vossa Ressurreição, vinde Senhor Jesus!”.

Mas tem o hoje; o hoje do nosso sim, da nossa mencionada participação ativa, consciente e piedosa.

Festa do Natal não se esgota num dia, como a beleza de uma vida não se alcança apenas de um pôr do sol ao outro.

Nada como fazer de cada dia um verdadeiro Natal! De cada amanhecer do sol, o nascimento do Sol nascente que veio nos visitar:

Eterna acolhida amorosa da semente do Verbo, para que  a alegria, a bondade, a ternura, a justiça, a graça, verdade, a paz, o amor e a luz resplandeçam em nós.

Sementes que hão de ser regadas pela água da vida que somente o Senhor tem para dar, com a luz do Espírito que pousa sobre nós!

E semente nunca há de faltar, pois nosso Deus Pai criador, além de onipotente e onisciente, é infinitamente providente.

Natal, em uma palavra, é a acolhida da Palavra: o renascer da esperança, o fortalecer de santos compromissos para que a vida humana seja edificada, santificada, e o Reino de Deus inaugurado, em pequenos e grandes sinais, desde aquela  manjedoura, contemplados.

Reflitamos:

- Como acolhemos a Palavra que Se fez Carne?
- Como estão nossos pés como mensageiros desta Boa Nova?

Sim, a partir daquela Manjedoura a história nunca mais foi e nem será a mesma, porque o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, o amor veio morar para sempre, entre nós (cf. Jo 1,14).

É preciso que a cada sol poente e a cada sol nascente, e no espaço entre eles,  estejamos indo sempre ao encontro da Divina Fonte, para que nossa esperança se traduza em compromissos sagrados com a vida, na mais bela paixão das paixões: A paixão pelo Reino renovada e votos de Feliz Natal trocados.

A mais bela Noite da humanidade (Natal do Senhor)

                                                        

A mais bela Noite da humanidade

Mais uma Noite de Natal se aproxima...
Nossos olhos e coração se voltam para Belém.
Lá no Presépio, entre os animais,
Porque Ele, o Menino Jesus, não acolhido pela humanidade,
Na maior pobreza e  fragilidade.

Nossos olhos se voltam para José,
Homem justo e piedoso,
Que superou incompreensões e a Lei;
Tornou-se Guardião do Salvador, divina missão
Por Deus a Ele confiada, e zelosamente realizada.

Nossos olhos se voltam para Maria,
Mulher pura, simples, meiga cheia de graça;
Acolheu em si a ação do Espírito,
Coberta pelo poder do Altíssimo
E por Sua Divina sombra.

Abertura e confiança na ação divina,
Não deixou falar mais alto a perturbação,
Colocou-se nas mãos de Deus,
Como a mais bela serva do Senhor respondendo:
“Faça-se em mim a Vossa Palavra” (Lc 1,38).

Em Maria, a Palavra Se fez Carne (cf. Jo 1,14),
Nela, a Luz resplandeceu mais forte.
Pura e sem mancha, imaculada,
Mãe de Deus e nossa mãe,
Nesta Noite Santa te louvamos...

Maria, que é para todos nós, em todos os momentos,
“Verdadeiramente o porto dos que naufragam,
Consolo do mundo, resgate dos cativos,
Alegria dos enfermos.” (1), e quanto mais
Nossas palavras consigam expressar sem tudo dizer.

Que nossos olhos voltados para ti e teu esposo,
Queres que nós apenas acolhamos teu Filho,
Como Redentor e Salvador da humanidade;
Que Sua Palavra seja ouvida, crida, vivida:
“Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).

Nossos olhos se voltam para Maria, José
E para o Deus que Se fez Menino, não mais em Belém,
Mas bem aqui perto de nós, em cada pessoa,
Morada em tantos que a presença devemos reconhecer,
Para que O adoremos em espírito e verdade.

É Natal quando a Deus adoramos,
E Sua presença no próximo reconhecemos,
Amamos, servimos, com alegria e ardor;
Sua Palavra comunicamos,
Palavra Viva e Eterna, de Deus nosso Salvador.

Quando nossos olhos para o Presépio se voltam,
Pulsa mais forte nosso coração,
Temos ânsias de eternidade,
Porque n’Ele reconhecemos a presença divina
Oculta em Sua meiga humanidade.

Feliz Natal do Senhor!


(1) Santo Afonso Maria de Ligório. 

A mais bela Notícia: “Nasceu nosso Salvador!” (Natal do Senhor)

                                     

A mais bela Notícia: “Nasceu nosso Salvador!”

A Liturgia da Noite de Natal nos apresenta o Nascimento de uma criança em Belém na escuridão e nudez de um estábulo: Jesus.

Quem ficaria sabendo, não fossem os Anjos anunciarem o Nascimento de Jesus a alguns pastores que por ali andavam com os seus rebanhos?

Refletimos a revelação do sentido profundo e o extraordinário alcance deste nascimento escondido: “O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz”; “Hoje nasceu um Salvador para nós” e ouvimos o alegre anúncio dos Anjos – “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que Ele ama!” (cf. Lc 2,14).

A passagem da primeira Leitura, o Profeta Isaías (Is 9,1-6) traz uma mensagem de alegria no meio das trevas de um povo deportado: o Nascimento de um Menino com títulos ilustres; promessa de um futuro de paz, de justiça e direito para todos.

As maravilhas realizadas pelo Senhor do Universo com todas as virtudes dos heróis de Israel, tem a Sabedoria de Salomão; a coragem de Davi; a piedade de Moisés e dos Patriarcas. Ele é o verdadeiro Emanuel.

A passagem da segunda Leitura, a Carta de Paulo a Tito (Tt 2,11-14), é a revelação de um Deus que mostra a Sua graça a todos, oferecendo a Salvação que conduz as nossas vidas à felicidade verdadeira.

A Celebração desta manifestação divina faz com que voltemos o  olhar para um futuro de felicidade sem limites, pois este Nascimento reorienta o curso da História e o sentido de nossas vidas, de modo que viveremos com equilíbrio, justiça e piedade renunciando a todo o mal.

A passagem do Evangelho de Lucas (Lc 2,1-14) nos apresenta o Nascimento de Jesus, nosso Salvador, em tempo e realidade concretos: Jesus encarna-Se na História da Humanidade.

Diferentemente de João, o Precursor, que nasceu na casa de seus pais, rodeado dos seus vizinhos, Jesus veio à luz num curral. Maria e José estavam de viagem por causa do recenseamento ordenado pelo Imperador. Eles viveram um contratempo que acontece de modo geral aos pobres.

O conhecimento d’Aquele Nascimento somente foi possível pela ação do Anjo do Senhor, e de  algumas pessoas a quem a sociedade dava pouco valor, os pastores (desprezíveis e odiados pela profissão exercida – cuidar de animais e ocupar terras de terceiros).

Somente por eles o mundo tomou conhecimento do humilde Nascimento de um Salvador.

Quem poderia imaginar que assim o fosse, pois se sabia que Deus Se manifestava na fraqueza; mas, ninguém suspeitaria que o próprio Filho de Deus Se fizesse um bebê “deitado numa manjedoura!”, na humildade, pobreza e pequenez: o Altíssimo na estatura de uma criança; o Onipotente na fragilidade de uma criança; o Senhor do Universo contemplado num sorriso ou choro, expressão da sua condição humana.

Celebrando o Nascimento do Salvador, que a alegria anunciada pelos Anjos e experimentada pelos pastores seja também a nossa.

Cristo nascendo e renascendo a cada momento de nossa vida, é a Misericórdia Divina que vem ao nosso encontro, e assim nos comunicando o que tanto desejamos: amor, alegria, vida, luz e paz...

Natal: O Verbo se fez Misericórdia e habitou entre nós, e nós vimos a Sua Glória. Nossa miséria foi assumida para ser redimida.

É Natal, uma luz brilhou e há de brilhar sempre mais forte para iluminar os caminhos sombrios da História, assim o cremos, quando a Eucaristia celebramos: “A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho” (Papa São João Paulo II -  Encíclica Ecclesia de Eucharistia).

A celebração do Natal renova-nos no sagrado compromisso de comunicar a Divina Luz a quantos precisarem... Mas como iluminar sem que antes nos deixemos por Ele sermos iluminados?

Iluminados pela Divina Luz, sejamos luz no mundo.


PS: - Missal Quotidiano, Dominical e Ferial – p.170-173 – Paulus - Lisboa; Missal Dominical – pp. 87-90

Em poucas palavras... (Natal do Senhor)

 


Vem Senhor, vem nos salvar!

“Em hebraico, Jesus quer dizer «Deus salva». Quando da Anunciação, o anjo Gabriel dá-Lhe como nome próprio o nome de Jesus, o qual exprime, ao mesmo tempo, a sua identidade e a sua missão (Lc 1,31).

Uma vez que «só Deus pode perdoar os pecados» (Mc 2, 7), será Ele quem, em Jesus, seu Filho eterno feito homem, «salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1, 21). Em Jesus, Deus recapitula, assim, toda a sua história de salvação em favor dos homens.” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 430

Em poucas palavras... (Natal do Senhor)

 


O indizível e imenso amor de Deus por nós

“O amor de Deus para com Israel é comparado ao amor dum pai para com o seu filho (Os 11,1). Este amor é mais forte que o de uma mãe para com os seus filhos (Is 49,14-15).

Deus ama o seu povo, mais que um esposo a sua bem-amada (Is 62,4-5); este amor vencerá mesmo as piores infidelidades (Ez 16; Os 11); e chegará ao mais precioso de todos os dons: «Deus amou de tal maneira o mundo, que lhe entregou o seu Filho Único» (Jo 3, 16).” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.219

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