domingo, 3 de agosto de 2025

Jubileu Sacerdotal - Obrigado, Senhor!

Jubileu Sacerdotal - Obrigado, Senhor!

Em 2013, vivendo e celebrando o Ano Jubilar Sacerdotal, fui convidado pelo Pe. Paulo Leandro (Representante dos Presbíteros de Guarulhos), para falar um pouco da alegria de servir e celebrar diariamente, por 25 anos, a Sagrada Eucaristia, respondendo algumas perguntas:

- Pe Otacilio, como foi celebrar sua primeira Missa em 1988 e celebrar 25 anos depois?

Quando celebrei a primeira Missa, senti muita emoção e me perguntava em silêncio enquanto celebrava: “Mas, eu celebrando, como pode?” “Eu consagrando?” “Esta partícula é agora o Corpo e Sangue do Senhor, pelas palavras que profiro, pelas mãos que imponho?” Não me parecia possível, não parecia ser verdade, tinha a impressão que somente os outros Padres celebravam, de fato.

Assim se multiplicavam os pensamentos. Estava lá e ao mesmo tempo não. Algo quase indescritível, verdadeiramente enlevado pelo Mistério da Eucaristia.

Vinte e cinco anos passados, não tenho mais aquele sentimento. Acredito piamente na Palavra que anuncio nas Homilias, tanto quanto no Pão Eucarístico que consagro e distribuo ao povo na fila da comunhão.

É verdadeiramente a Palavra de Deus anunciada, e que me empenho em viver; é verdadeiramente Comida e Bebida que nutre minha fé, renova minha esperança e mantém acesa a chama da caridade em meu coração e nos corações daqueles que da Ceia participam.

Entretanto, procuro celebrar cada Missa como se fosse a primeira da minha vida, com emoção e unção, com zelo e respeito, como é esperado. Não celebro mecanicamente, como obrigação, mas mergulhando e vivendo intensamente o Mistério celebrado, sem mérito algum de minha parte.

- Quais eram os sonhos do neo-sacerdote Otacilio e quais são hoje?

Sonhava com uma Igreja viva, de comunhão de vida e de amor, participativa, ministerial e, sobretudo, solidária com os empobrecidos. Continuo sonhando e me empenhando, para que a Igreja seja um valioso instrumento na construção do Reino de Deus. A Paixão pelo Reino me motiva em renovados compromissos que o Ministério Presbiteral nos propõe.

Com o tempo damos solidez aos sonhos, como metas a serem alcançadas, sem acomodações, rotinas, cansaços, perda do entusiasmo, do encanto, da paixão incondicional pelo Senhor, reavivando no coração a chama do primeiro amor, como exortou Paulo a Timóteo Por esse motivo, eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. (2 Tm 1,6);

- Quais eram os seus medos e quais são hoje?
                
Ontem e hoje o medo de não corresponder ao que Deus espera de mim, por isto mais do que fazer discurso do medo, da culpa e do castigo, aprofundo a minha relação com Deus, que se revela misericordioso, presente, bom, clemente, compassivo. Quando em Deus confiamos, quando sua presença e força experimentamos, o medo cede lugar para sentimentos mais nobres e divinos.

- Como avalia suas Homilias depois de 25 anos de pregação?

A vida nos ensina muitas coisas, vamos aprendendo com nossos erros e acertos, sem a pretensão de santidade já alcançada, mas a ser buscada em contínua atitude de vigilância e oração.

Toda homilia é um bom-bocado de pão que sacia a fome daqueles que nos ouvem. Por isto não nos é dado o direito de oferecer uma homilia qualquer, sem conteúdo, sem sabor, sem unção, sem luminosidade etc.

Acredito ter hoje uma pregação mais sólida, mais substancial, fruto da oração, de leituras, de aprofundamentos, do crescimento espiritual que todos precisam buscar, da maturidade espiritual que esperamos alcançar, sem jamais nos acomodarmos.

Sem dúvida, minhas homilias hoje são mais densas que as primeiras, e, certamente, mais longas, dialogais, reflexivas, levando sempre à mensagem da Igreja, à fé no Ressuscitado e ao compromisso com Ele e com todos que nos são confiados, como sinais do Bom Pastor que somos.

- Diante de uma sociedade, capitalista, hedonista e individualista, que diria a um jovem sobre o ser Padre?

Que primeiro procure ouvir o chamado de Deus, e ouvindo não fuja ao chamado. Tenha coragem de dizer sim, porque vale a pena. Não encontramos a felicidade quando fechamos os ouvidos e o coração ao chamado e à vontade divina.

Que antes de tudo, este jovem seja cristão, de fato, pois somente assim poderá viver a vocação a que foi chamado com alegria no coração, não obstante às dificuldades e renúncias necessárias. Não acredito em felicidade desvinculada da Cruz, pois foi por meio dela que nos veio a vida nova do Ressuscitado, a plenitude dos dons e a eternidade.

E, afirmo, sem sombra de dúvidas, sem hesitações quaisquer: vale a pena ser Padre. É bom ser padre, e nos sentirmos realizados fazendo o que Deus espera de nós. Vocação acertada, vida feliz, indubitavelmente.



PS: Publicado no jornal Folha Diocesana – Guarulhos – Edição nº199.  

“Sexualidade: um tesouro escondido”

“Sexualidade: um tesouro escondido”

Considerando notícias que revelam uma sexualidade mal integrada (pedofilia, casamentos que se desfazem subitamente, abandono do exercício do ministério presbiteral, hedonismo etc., retomo apontamentos de um estudo promovido pela Diocese de Guarulhos, oito anos passados, que teve como tema: “Afetividade e Sexualidade do Presbítero”, assessorado por Frei Antonio Moser (OFM).

A sexualidade pode ser o caminho da vida ou de morte. Uma sociedade desintegrada, na perspectiva da sexualidade, não será integrada em outros níveis. Há uma correlação entre os problemas pessoais e os problemas sociais, e vice-versa. A sexualidade nunca é uma força neutra, e integrá-la é um desafio vital.

O Frei apresentou sete pontos para compreensão da sexualidade, comparando-a como um grande tesouro dado por Deus a todos nós, fundamentando-se no livro de sua própria autoria: “Enigma da Esfinge – A Sexualidade”, da Editora Vozes.

A leitura do livro pareceu-me indispensável, para contribuir no processo educativo em busca de uma nova compreensão da sexualidade, para sermos e vivermos como pessoas integradas e felizes.

Imaginemos um grande castelo, e que tenhamos que passar por suas portas, usando sete chaves, para então encontrarmos o grande tesouro, que nos fará verdadeiramente humanos.

As grandes salas deste castelo são sete: conhecimento da mitologia, ciências, teologia, ética, história, fenômeno emergente da homossexualidade e, finalmente, as sete chaves do Livro do Apocalipse.

1.ª chave – Mitologia:
Oferece contribuições muito ricas para a compreensão da sexualidade. Um dos mitos é o enigma da esfinge (da mitologia grega – vale conferir): para desvendar o enigma da esfinge há a necessidade do diálogo, criatividade/ternura e a perspectiva religiosa/transcendência.

2.ª chave – Ciências:
A verdadeira religião se articula com a razão. As ciências revelam a multiplicidade da sabedoria de Deus. As ciências nos oferecem elementos muito preciosos para compreensão do mundo. Não conciliar a ciência com religião é não conhecer nem uma coisa e nem outra. É preciso deixar de lado as pretensas seguranças.

Valiosas contribuições advêm da psicologia, antropologia, sociologia e outras ciências para compreensão de nossa sexualidade, que não pode ser confundida com genitalidade.

A sexualidade como energia poderosa é uma força estruturante: pode fazer de nós pessoas integradas e integradoras, em cada fase de nossa vida. Nossa sexualidade pode ser expressa de diversos modos: no falar, olhar, gesticular...

3.ª chave – Teologia:
Junto com a filosofia, nos oferece instrumental para darmos razões de nossa fé. A teologia nos ajuda a compreender o sentido último da sexualidade. Por que Deus nos fez seres sexuados? Exatamente para facilitar a comunicação e a comunhão entre nós.

A sexualidade é uma energia a serviço da transcendência – “Deus é amor”. Sexualidade como amor nos permite um relacionamento com Deus que é amor. Não há santidade sem a vivência de uma sexualidade sadia. É preciso “anunciar o Evangelho da sexualidade”, que é fundamental para amizades, serviço, encantamento, edificação da família e da família universal.

Sexualidade bem compreendida e vivida leva à felicidade. “A felicidade é como a sombra, quanto mais se corre atrás dela, mais ela corre de nós. É preciso voltar...”, ou seja, “conheça-te a ti mesmo”.

4.ª chave – Ética = etos:
Ética carrega uma pecha de negatividade. A ética tem cara nova (bioética). A ética diz respeito à construção de nossa realização; nossa felicidade; deve contribuir na humanização. Deus nos fala através dos sinais dos tempos: localizá-los e entendê-los – um desafio para bioética. Não podemos enveredar pelos caminhos do casuísmo, dualismo, pessimismo... É preciso conhecer a tradição do magistério; educar-se para o amor; educar-se para a fidelidade; educar-se para a alteridade = o outro; educar-se para a fecundidade.

Sexualidade sadia: ternura; entusiasmo pastoral; estudo; celibato e castidade só são possíveis com amigos de verdade; é preciso ambiente sadio para viver o celibato; Jesus teve e foi amigo. Amizade não é apoderamento, e é preciso saber discernir.

O sentido profundo da sexualidade consiste em contribuir para a comunicação e a comunhão.

Para tanto, é preciso educar para o amor como processo contínuo (reflexão, oração, estudo) – vivemos numa cultura da promiscuidade permissividade;

Assumir o outro na alteridade – respeito ao outro / respeitar o diferente que pensa e sente diferente de mim;

Cultivar a cultura da fidelidade em seu sentido abrangente e profundo – não entrar na cultura da infidelidade tão presente em nosso meio. Quem não for fiel no pouco não o será no muito...;

Desenvolver o senso da responsabilidade social – o comportamento do indivíduo reflete na sociedade como um todo, pois nenhum ato é neutro em si mesmo...;

Promover a vida em todos os seus desdobramentos – a cultura da vida;

Libertar-se da tirania do prazer, recuperar a alegria de brincar e viver...;

Assumir a condição de pecadores – os santos sempre se reconheceram pecadores...;
Reconhecer-se pecador é colocar-se no caminho da salvação. Pecar não é fazer algo de mal, mas não estar sintonizado com o querer de Deus – quem não estiver em comunhão com o Pai fará barbáries. O pecado revela o desligamento. Pecado é não vibrar mais.


5.ª chave – Experiência – História:
Abrir-se ao novo, resgatando as experiências da humanidade, sem medo do novo; uma vez que o novo muitas vezes nos assusta, nos inquieta... Precisamos anunciar o Evangelho da responsabilidade, graça e cruz, para uma sexualidade integrada, para não incorrermos em patologias (doenças, desvios, frustrações).

A inserção e a paixão pelo Reino de Deus são condições para a realização de nossa sexualidade, marcada pelas diferenças de sexo, enriquecidos pela complementaridade e reciprocidade de gêneros (masculino e feminino)...

O processo de integração de nossa sexualidade se nos apresenta como um processo contínuo, portanto, inacabado para todos. Ler e compreender a história da sexualidade para uma nova possibilidade, a fim de que se corresponda ao plano do Criador.

6.ª chave – Fenômenos emergentes – homossexualidade:
A linguagem apropriada é falar de pessoas com orientação homossexual. Não nos cabe julgar, mas procurar, com misericórdia, compreender esta realidade (há aproximadamente 500 milhões de homossexuais no mundo).

Não há pessoas fisicamente homossexuais, como também ninguém é heterossexual 100%. A questão de pessoas homossexuais é uma questão afetiva e não de aparência. Pode ser homossexual periférico ou circunstancial ou pessoa com orientação homossexual estruturada.

Pode haver tendência sem ato homossexual; pode haver atos homossexuais; comportamentos homossexuais e mais: “ninguém é mais e nem menos bondoso por ser homossexual”.

Para trabalhar pastoralmente com a questão homossexual, precisa-se aprender com a pedagogia de Jesus – “boca pequena e orelhas grandes”; atitude de acolhida; há sempre um sentido de vida que passa pela cruz; relativizar o sexo (sublimação).

Há uma incompletude em todos nós, quer heterossexual, quer homossexual. Tanto um como o outro, deve fazer da sua realidade e vida, uma correspondência ao querer de Deus. Apresenta-se a todos nós o desafio e a graça de viver uma sexualidade sadia e conforme os desígnios de Deus.

7.ª chave - As setes chaves do Apocalipse:
Mistério profundo que só será desvendado na eternidade; ter a humildade e sabedoria evangélica: não nos cabe julgar ninguém.

O tesouro nos foi dado por Deus, as chaves estão em nossas mãos... Adentremos neste castelo em busca deste tesouro, por uma sexualidade equilibrada, integrada, integradora, feliz e geradora de felicidade. Sexualidade não é castigo, é dom divino!

Em poucas palavras... (XVIIIDTCC)

                                                    


“Não és acaso um ladrão ...” 

“Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste? ... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que estão estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro  que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar.” (1) 

 

(1)São Basílio Magno (séc. IV) 

 

 

“Buscai as coisas do alto” (XVIIIDTCC)

                                                               

“Buscai as coisas do alto”

A Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos convida a refletir sobre nossa atitude frente aos bens deste mundo. 

Não podemos fazer deles deuses, a tal ponto de determinar nossa vida. É preciso usar as coisas que passam e abraçar as que não passam, as coisas do alto, as coisas celestiais e não as terrenas.

A passagem da primeira Leitura do Livro do Eclesiastes (Ecl 1,2; 2,21-23) que, por seu caráter sapiencial, nos faz pensar, rever nossa conduta, questionando nossas falsas seguranças e saberes:

“Não é um Livro onde se vão procurar respostas, mas onde se denuncia o fracasso da sabedoria tradicional e onde ecoa o grito de angústia de uma humanidade ferida e perdida, que não compreende a razão de viver”. (1)

A mensagem é explícita: somente Deus dá sentido à nossa existência. A vida somente pelos bens materiais conduz à falência, quem vive por si e para si não encontra saída e sentido para sua vida. É preciso o humilde reconhecimento de nossa impotência diante da onipotência divina, que se manifesta como misericórdia, amor, bondade, alegria, vida e paz.

Não podemos colocar a nossa esperança em coisas falíveis e passageiras: “A nossa caminhada nesta terra está, na verdade, cheia de limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós sabemos que esta vida caminha para a sua realização plena, para a vida eterna: só aí encontraremos o sentido pleno do nosso ser e da nossa existência”. (2)

A passagem da segunda Leitura da Carta de Paulo aos Colossenses (Cl 3,1-5.9-11) nos convida, como homens novos pelo Batismo, a abandonar os falsos deuses, identificando-nos com Cristo que nos basta para a nossa Salvação. 

A comunhão vivida entre nós com o Cristo Ressuscitado exige que tenhamos esta identificação, como o próprio Paulo dirá em outra passagem aos Gálatas – “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim “(Gl 2, 20) e aos Filipenses –“Tenhamos em nós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus “ (Fl 2,5). E nisto consiste buscar as coisas do alto, as coisas celestiais.

Vivendo o Batismo, renascemos a cada dia como homem novo, e assim verão Cristo em nós. O batizado revela a face de Cristo para o mundo, por seus pensamentos, palavras e ação.

A passagem do Evangelho (Lc 12,13-21) nos apresenta a “Parábola do rico insensato”, com uma mensagem essencial para nossa vida: o perigo de uma vida voltada apenas para os bens materiais.

Jesus não é contra a riqueza, e tão pouco contra o progresso e o crescimento do nível de vida. O perigo é torna-se rico para si mesmo tão apenas, deixando-se aprisionar pelo dinheiro. A vida de uma pessoa e o seu valor real não são medidos por suas riquezas.

A lógica do Reino é diferente da lógica do mundo – é preciso usar as coisas e não ser usado por elas. O acúmulo de bens sempre pode levar ao esquecimento do outro, inclusive de Deus, da família, dos irmãos da comunidade...

A ambição e o egoísmo esvaziam o coração humano do essencial e, deste modo, é preenchido daquilo que não lhe dá sentido, incorrendo num consumismo com consequências empobrecedoras, tornando-nos escravos da lógica do lucro que escraviza e não nos faz verdadeiramente felizes.

A ânsia da ascensão social pode conduzir ao declínio, ao esvaziamento, ao desmoronamento da vida pessoal e da própria família, de todos com os quais se convive.

Em nome do acumular cada vez mais, quantas famílias são sacrificadas e privadas do mínimo essencial para sua dignidade e felicidade! É o perigo da deificação da riqueza, tornar os bens como deuses (aqui a idolatria encontra campo fértil). É preciso tomar cuidado com os falsos deuses não deixando que o acessório, o transitório nos distraia e nos afaste do fundamental para a nossa vida.

Urge que nos libertemos deste desejo de acumulação que nos torna cegos e indiferentes às necessidades do outro, e abramos horizontes na perspectiva da partilha e da solidariedade, do desapego e da liberdade diante das coisas terrenas, pautando a nossa vida pelos valores eternos que jamais passam.

Reflitamos:

- Quais são as nossas falsas e verdadeiras riquezas?
- De quais devemos nos esvaziar?

- De que modo avaliamos a nossa vida, ou seja, atrás do que corremos, nos consumimos?

- De que modo trabalhamos sem a perda do sentido da vida?
- O que nos preenche e nos dá alegria?

Concluo citando mais uma vez Santa Teresa D’Avila e Santa Teresa dos Andes, respectivamente:

“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda, a paciência tudo alcança; quem a Deus tem nada lhe falta: só Deus basta.”

“Só Deus nos basta para sermos felizes. Apalpo a cada instante o que é ser toda de Deus e parece-me que, se agora me fosse necessário passar pelo fogo para consagrar-me a Ele, não titubearia em fazê-lo, pois todos os sacrifícios desaparecem diante da felicidade de possuir a Deus só”.


(1) cf. www.dehonianos.org.br
(2) Idem.

Oração para o mês vocacional

 

A esperança de um mundo novo (XVIIIDTCC)

                                               

A esperança de um mundo novo

As palavras do Bispo São Basílio Magno (séc. IV), muito nos ajudam a refletir sobre lógica vivida em qualquer tempo.

“Se cada um guardasse apenas o indispensável para suas necessidades ordinárias, deixando o supérfluo para os indigentes, a riqueza e a pobreza seriam abolidas.

O que é um avarento? É alguém que não se contenta com o necessário. O que é um ladrão? É alguém que arrebata o bem alheio. E tu não é um avarento? Não és um ladrão?

Os bens te foram confiados para serem administrados. Mas te apoderas deles. Quem despoja a um homem de suas vestes, deve ser chamado de ladrão. E aquele que não veste a nudez de um mendigo, quando pode fazê-lo, merecerá outro nome?

O pão que guardas pertence ao homem nu. O calçado que apodrece contigo pertence ao descalço. O dinheiro que reténs escondido pertence aos miseráveis. O número de oprimidos é igual ao número daqueles que poderiam ajudar”.

Leiamos o noticiário do jornal e suas notícias nacionais e internacionais: a pecaminosa desigualdade social marcada por realidades discrepantes e absurdas entre ricos e pobres; a fome que ainda mata milhões de irmãos e irmãs nossos; o desperdício absurdo aliado ao consumismo sem escrúpulos; a consequente destruição do planeta e seus recursos, sobretudo os não renováveis; desvios de verbas ontem e hoje. 

Voltando ao texto, vemos quanto que podemos mudar para um mundo melhor fazer, um novo amanhecer sonhar.

Somemos e multipliquemos com aqueles que estão plantando sementes de um novo amanhecer, com reflexões que nos questionam, que nos chamam para a responsabilidade mútua diante da vida do outro e da Casa Comum em que habitamos: o planeta Terra.

Termino ouvindo a inesquecível canção de Louis Armstrong: “What A Wonderful World” (Que mundo maravilhoso!).

Ressuscitemos a esperança no futuro, porque há sempre a esperança de um mundo novo sem fundamentalismos execráveis, misérias abomináveis. Um mundo novo é preciso, e este mundo novo está em nossas mãos. Amém.

PS: São Basílio Magno (séc IV)- P.G. 31, pp. 262-78

Crer no Ressuscitado é buscar as coisas do alto! (XVIIIDTCC)

                                                   

Crer no Ressuscitado é buscar as coisas do alto!

Quem nunca se encantou diante da beleza de uma montanha? Não por acaso, ela aparece na Bíblia como lugar da manifestação de Deus, quando Moisés recebeu a tábua dos dez Mandamentos; Jesus se transfigurou diante dos discípulos... 

A vocação cristã consiste em permanente subida à montanha sagrada para ouvir o Filho amado de Deus, sem fixar tendas no topo da montanha, mas descer a planície, ao cotidiano, enraizando esta Palavra, com renovado ardor no anúncio, no serviço, diálogo ecumênico e profundo com o mundo.

Mas diante desta montanha, podemos ter três posturas, que revelarão nossa identidade: os pessimistas, os medíocres e os corajosos, como nos disse um grande Teólogo, a partir de uma bonita metáfora:

“Imaginemos um grupo de excursionistas que partiram à conquista de um cume difícil, e olhemos para eles algumas horas depois da partida. Naquele momento, podemos presumir sua comitiva dividida em três tipos de indivíduos.

Alguns lamentam ter deixado o albergue. As fadigas, os perigos parecem-lhes sem proporção com o interesse do sucesso. Decidem regressar. a outros não lhes desagrada ter partido.

O panorama é belo. Mas, para que subir ainda? Não seria melhor desfrutar da montanha onde se está, no meio aos prados ou em pleno bosque?

E deitam na grama ou exploram as vizinhanças, esperando a hora do piquenique. Outros finalmente, os verdadeiros alpinistas, não tiram os olhos do cume que se prometeram conquistar. e retomam a subida. Queremos então ser felizes?

Deixemos retornar os cansados e os pessimistas. Deixemos os gozadores estender-se burguesamente na ladeira. E agreguemo-nos, sem hesitação, ao grupo daqueles que querem arriscar a escalada, até o último degrau. Para frente” (Pe. Teilhad de Chardin – Sulla felicitá –pp.28-29).

Tudo isto nos remete às belíssimas palavras de Paulo: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,1-3). 

No topo da montanha O Filho amado nos diz o que são as coisas do alto: o amor, a fraternidade, o perdão, a acolhida, a solidariedade, a comunhão entre as pessoas e com todo o Universo...

Neste tempo de Páscoa mais uma vez somos convidados (as) a Celebrar a Ressurreição de Jesus. A presente reflexão tem a modesta pretensão de nos provocar diante da “montanha”.

Qual atitude tomaremos?

Somente com atitudes corajosas é que poderemos, no topo da montanha, contemplar o rosto do Ressuscitado e ressuscitar com Ele, não fugindo da cruz de cada dia a que fomos convidados a tomar e carregar, fazendo renascer entre nós relações evangélicas de ternura, para que a Igreja e o mundo sejam mais humanos, revestidos de beleza e alegria!

Assim a luz do Ressuscitado brilhará, a partir de pequenos e grandes gestos de amor, concretizando a devoção que mais agrada a Deus que é a dedicação aos necessitados.

E na Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã, renovamos nossas forças, para subir e descer a montanha incansavelmente para que nosso testemunho nos assegure vida plena, com dignidade e esperanças renovadas...

É Páscoa!
Busquemos as coisas do alto! Subamos a montanha! Não tenhamos medo!

“Levantem as mãos cansadas e fortaleçam joelhos enfraquecidos. Endireitem os caminhos por onde terão que passar, a fim de que o que é aleijado não manque, mas seja curado”! (Hb 12,12-13). 



PS: Escrito para o Tempo da Páscoa, mas apropriado para todo o tempo.

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