segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Transfiguração do Senhor: “na vida de fé, quem não avança, recua”

                                                                

Transfiguração do Senhor: “na vida de fé, quem não avança, recua”

Com a Solenidade da Transfiguração do Senhor, revigoramos nossas forças no carregar da cruz, renovando e fortalecendo compromissos com os desfigurados, na escuta do Filho Amado do Pai, transfigurando a realidade pessoal, familiar, eclesial e social, na qual estamos inseridos.

Precisamos reavivar sempre a chama, que em cada coração foi acesa no dia do Batismo (2Tm 1,6), de quem O encontrou, O ouviu e por Ele foi amado para viver a tríplice missão da Igreja e do Pastor: santificar, ensinar e governar a Igreja.

É tempo de percebermos o que está bom ou não, e não medir esforços para melhorar, corrigir, aperfeiçoar, avançar. Naquilo que está bom, recuar jamais e, no que nos desafia, avançar, buscar saídas.

Como afirmou o Papa Bento XVI em uma de suas mensagens para a Quaresma, “na vida de fé, quem não avança, recua”

Com a força do Espírito, é tempo de nos empenharmos na transformação dos sinais de morte em sinais de vida, uma vez que, mais do que nunca, a cidade e seus inúmeros desafios estão em nossa mente e coração.

Como Igreja em estado permanente de missão, sair e ir ao encontro dos que estão indiferentes ou até mesmo afastados.

Continuemos em direção da cruz, carregando-a com coragem, com imprescindíveis renúncias, despojamentos, amadurecimentos, somente assim alcançaremos a glória da eternidade.

Há um mundo desfigurado, triste, enfermo, mergulhado no pecado, que precisa ser transfigurado. Que a experiência do Monte Tabor, a contemplação do Cristo Glorioso, Transfigurado, d’Aquele que deu pleno cumprimento à Lei e à Profecia (Moisés e Elias), seja um momento de esplendor da luz divina.

Que toda a Igreja, na atenta escuta da Palavra do Filho Amado do Pai, na montanha do recolhimento, silêncio e Oração, na planície do cotidiano a coloquemos em prática, pois “nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor! entrará no Reino dos Ceús...” (Mt 7,21).

Transfiguração do Senhor: uma forte experiência de Deus

 


Transfiguração do Senhor: uma forte experiência de Deus


“Este é o meu Filho, o Escolhido.
Escutai o que  Ele diz” (Lc 9,35).
 
Pedro, João e Tiago, atônitos diante do Senhor Transfigurado,
Veem e contemplam a glória a eles pelo Senhor revelada.
Naquela Montanha da Transfiguração, memorável acontecimento.
 
Haveria de acompanhá-los em todos os momentos na missão,
E fundamental se tornaria, ao ver o aparente fracasso da Cruz
Testemunham a glória na montanha, fidelidade na planície.
 
Quão memorável e forte experiência de Deus viveram,
E a voz do Pai ressoaria para sempre em seus corações:
“Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que Ele diz” (Lc 9,35).
 
Assim como na Montanha, foram envolvidos por uma nuvem,
Na missão também o serão, mais tarde, quando enviados,
Mais que envolvidos, por Ele, acompanhados, assistidos.
 
Iluminará as “noites escuras” das adversidades e provações,
E os dias, não obstante, marcado pelas penumbras,
Obscuridades, incertezas, dúvidas, medos, total escuridão.
 
Além do mais, terão a presença da Virgem Maria,
Peregrina da fé, Mãe da Igreja necessariamente Sinodal,
Um povo que caminha junto, na comunhão, participação e missão.
 
Dela e com ela aprendizes da escuta da Sagrada Escritura,
Que sabe ler nos acontecimentos a ação da Providência divina,
No clamor dos pequeninos e pobres, assim como da Casa Comum.
Amém.
 
 

A Transfiguração do Senhor contemplada, compromissos sagrados renovados

 


A Transfiguração do Senhor contemplada, compromissos sagrados renovados

 

“Este é o meu Filho amado, no qual Eu pus todo o meu agrado. Escutai-O” (Mt 17,5)

Uma breve reflexão sobre a Transfiguração do Senhor, à luz do parágrafo número 555 do Catecismo da Igreja Católica:

- A glória divina é precedida pela Cruz

“Por um momento, Jesus mostra a Sua glória divina, confirmando assim a confissão de Pedro. Mostra também que, para «entrar na Sua glória» (Lc 24, 26), tem de passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias tinham visto a glória de Deus sobre a montanha; a Lei e os Profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias (Lc 24,27).”

- A presença e ação da Santíssima Trindade na Transfiguração do Senhor: verdadeiramente uma teofania:

“A paixão de Jesus é da vontade do Pai: o Filho age como Servo de Deus (Is 42,1). A nuvem indica a presença do Espírito Santo: «Tota Trinitas apparuit: Pater in voce; Filius in homine; Spiritus in nube clara – Apareceu toda a Trindade: o Pai na voz; o Filho na humanidade; o Espírito Santo na nuvem luminosa» (Santo Tomás de Aquino)”

-  A Transfiguração do Senhor: Jesus viveu uma paixão voluntária e Ele é a irradiação do Pai:

«Transfiguraste-Te sobre a montanha e, na medida em que disso eram capazes, os Teus discípulos contemplaram a Tua glória, ó Cristo Deus; para que, quando Te vissem crucificado, compreendessem que a tua paixão era voluntária, e anunciassem ao mundo que Tu és verdadeiramente a irradiação do Pai» (Liturgia bizantina, Kontakion na Festa da Transfiguração: «Mênaîa toû bólou eniautoû», v. 6 (Romae 1901) p. 341).” (1)

A transfiguração do Senhor contemplada, leva-nos necessariamente à renovação de sagrados compromissos como Igreja sinodal que somos, sempre caminhando juntos, atentos na escuta e na prática do que nos diz o Filho amado do Pai, Jesus.

Oremos:

“Ó Deus, que nos mandastes ouvir o Vosso Filho amado, alimentai nosso espírito com a Vossa palavra, para que, purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão da Vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.”

 

(1)         Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 555

(2)        Oração do dia no segundo Domingo da Quaresma


Transfiguração do Senhor: A Palavra e a Luz Divina que nos ilumina

                                                          

Transfiguração do Senhor:
A Palavra e a Luz Divina que nos ilumina

Contemplemos Jesus transfigurado no Monte Tabor:

“... O monte é um lugar de todo especial: demasiado rude ser habitação do homem, mas também demasiado terreno para ser a morada de Deus, é um meio-termo em que Deus e o homem se encontram, o homem com uma subida penosa, e Deus com uma descida humilde. Só quem aposta a sua vida n’Aquele que é fiel (Sl 32) pode chegar ao cume” (1).

Dirigindo-se da Galileia para Jerusalém, Jesus, com a Sua Transfiguração, concede aos discípulos uma antecipação da maravilhosa luz da Ressurreição que alcançará, mas passando, inevitavelmente, pelo Mistério da Paixão e Morte na Cruz.

Com a Transfiguração, o Senhor introduz gradualmente os discípulos (nas presenças de João, Pedro e Tiago)no Mistério do sofrimento, mas ao mesmo tempo da glória do Filho do Homem que é Ele próprio, Jesus.

Neste acontecimento, em que Jesus é envolvido numa grande luz, Ele Se revela como o novo Moisés e ali, no Monte Tabor,  um novo Sinai (onde Moisés recebeu a Tábula da Lei).

A Transfiguração é uma “...breve revelação da luz divina encarnada na opacidade da natureza humana, não é momento de autoexaltação, mas é dádiva feita aos discípulos chamados a serem, por sua vez, anunciadores.

É ingenuidade o desejo de reservar para si mesmo essa luz (v.4); não é felicidade da visão, mas a fadiga da ‘escuta’ é o que resta aos discípulos na sequela de Cristo.

Só Ele, Palavra de Deus, permanece quando o êxtase cessa e volta o temor da majestade pressentida (v. 6-8). E Jesus volta a descer, com os Seus discípulos, para cumprir uma caminhada dolorosa, através da qual, somente, a luz triunfará” (2)

Urge que escutemos a Palavra que se fez Carne, Jesus:

‘Palavra’ única do Pai, e também única ‘tenda’, a única morada de Deus entre os homens, ‘Palavra’ dura também, que da doçura do monte, embora necessária para aliviar na Oração, nos volta a impelir para um caminho de serviço...

Chamados a seguir o Ressuscitado, também nós, como os Apóstolos, devemos compreender que a contemplação não é evasão da vida, nem condução de uma vida paralela: a sequela de Cristo reconduz-nos à aridez da nossa terra de serviço, embora não estejamos já sozinhos, porque Ele desce do monte conosco, e o nosso caminho é transfigurado porque é marcado pela experiência de Cristo...

O rosto transfigurado de Cristo está escondido no rosto desfigurado do irmão pobre ou enfermo, mas nós próprios somos chamados a demonstrar aos irmãos, através do nosso rosto ferido pela vida, a luz do Ressuscitado” (3).

A experiência vivida pelos discípulos na Transfiguração também podemos vivê-la cada vez que subimos à Montanha, celebramos a Eucaristia e sentimos a presença de Deus em nosso meio, nos alimentando com o Seu Filho, que Se faz Comida e Bebida, e nos fortalecemos com a presença do Espírito Santo.

Revigorados no Banquete Eucarístico, saímos com o Senhor da Montanha Sagrada, a Igreja, descemos à planície para sermos alegres e corajosas testemunhas do Ressuscitado, num vigoroso e autêntico testemunho da fé, redimensionados na esperança e fortalecidos na caridade, para que vivamos sagrados compromissos com a construção do Reino de Deus.

Nisto consiste a Transfiguração: subidas e descidas com o Senhor. Lá na Montanha, ouvir Sua Palavra, na planície, vivê-la.



(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - p. 94.
(2) Idem pp. 93-94
(3) Idem p. 95 

Transfiguração do Senhor: Escutemos o Filho Amado

                                                             

Transfiguração do Senhor: Escutemos o Filho Amado

“Este é o meu Filho amado,
no qual pus todo meu agrado. Escutai-O”

Celebramos, no dia 6 de agosto, a Transfiguração do Senhor no Monte Tabor, como meditamos no  quarto Mistério da Luz, um presente que nos foi dado pelo Papa São João Paulo II.

Sejamos iluminados pelo Sermão, do Papa Leão Magno (séc. V), subindo com ao Monte para ouvir o que Filho amado tem a nos dizer:

“O Senhor manifesta a Sua glória na presença de testemunhas escolhidas, e de tal modo fez resplandecer o Seu corpo, semelhante ao de todos os homens, que Seu rosto se tornou brilhante como o sol e Suas vestes brancas como a neve.

A principal finalidade dessa transfiguração era afastar dos discípulos o escândalo da Cruz, para que a humilhação da Paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo.

(...) aos Apóstolos que deviam ser confirmados na fé e introduzidos no conhecimento de todos os Mistérios do Reino, esse prodígio ofereceu ainda outro ensinamento.

Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, apareceram conversando com o Senhor, a fim de cumprir-se plenamente na presença daqueles cinco homens (incluindo Pedro, João e Tiago), o que fora dito:

Será digna de fé toda palavra proferida na presença de duas ou três testemunhas (cf. Mt 18,16). Que pode haver de mais estável e mais firme que esta Palavra?

Para proclamá-la, ressoa em uníssono a dupla trombeta do Antigo e do Novo testamento, e os testemunhos dos tempos passados concordam com o ensinamento do Evangelho.

(...) Porque, como diz João, por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo (Jo l, 17).  N’Ele cumpriram-se integralmente não só a promessa das figuras proféticas, mas também o sentido dos preceitos da Lei; pois pela Sua presença mostra a verdade das profecias e pela Sua graça, torna-se possível cumprir os Mandamentos.

Sirva, portanto, a proclamação do Santo Evangelho para confirmar a fé de todos, e ninguém se envergonhe da Cruz de Cristo, pela qual o mundo foi redimido.

Ninguém tenha medo de sofrer por causa da justiça ou duvide da recompensa prometida, porque é pelo trabalho que se chega ao repouso, e pela morte, à vida.

O Senhor assumiu toda a fraqueza de nossa pobre condição e, se permanecermos no amor e na proclamação do Seu nome, venceremos o que Ele venceu e receberemos o que Ele prometeu.

Assim, quer cumprindo os Mandamentos ou suportando a adversidade, deve sempre ressoar aos nossos ouvidos a voz do Pai, que se fez ouvir, dizendo: Este é o meu Filho amado, no qual pus todo meu agrado. Escutai-O (Mt 17,5)”.(cf. Lit. Horas, Vol II, pp.130/2). 

Contemplar a glória de Jesus e descer à planície para testemunhar o que ouvimos. Na Planície, no compromisso com a paz, transfigurar a realidade de tantos rostos marcados e desfigurados pela fome, abandono, droga, desamor, desemprego, falta de sentido para a vida, ilhados pela falta da esperança, enfraquecidos pela fraqueza da fé, sem o ardor que queima da chama da caridade...

Subamos ao alto da montanha com o Senhor, e escutemos atentamente o que Ele tem a nos dizer, encorajando-nos para descer à planície, de cada dia, para testemunhar nosso amor e fidelidade à Sua Palavra, ao Seu Evangelho, esperançosos da glória futura, mas corajosamente carregando a cruz do tempo presente.

A subida na montanha, por mais esplêndida que seja a experiência, é apenas um momento provisório daquilo que será nos céus, antes é preciso enfrentar os desafios na planície.

A Transfiguração, enfim, é o pleno cumprimento de toda Profecia e da Lei. É convite para que vivamos nossa vocação profética na prática incondicional da Lei do Amor: a Caridade, que é a Plenitude da Lei, seu pleno cumprimento.

Não nos custa contemplar o Transfigurado, pelo contrário, difícil é reconhecê-Lo desfigurado na Cruz e reconhecê-Lo nos desfigurados na planície e com eles nos comprometermos com a sua transfiguração, a fim de que tenham vida plena e feliz.

“Transfiguração: Na Montanha escutar o filho amado,
na Planície compromisso com o Reino, vida plena e feliz...”.

Transfiguração do Senhor: Escutar e pôr em prática Sua Palavra

                                                             

Transfiguração do Senhor:
Escutar e pôr em prática Sua Palavra

“Este é o meu Filho amado,
no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-O” (Mt 17,5)

Celebramos, no dia 06 de agosto, a Transfiguração do Senhor, e somos convidados a renovar e fortalecer nossa fidelidade ao Senhor, carregando nossa cruz, cada dia, com renúncias necessárias, como discípulos missionários do Senhor.

Na passagem da Transfiguração do Senhor no Monte Tabor, ouvimos a voz que saiu da nuvem e disse: “Este é o meu Filho Amado, no qual eu pus todo meu agrado”.

A Transfiguração do Senhor é um permanente convite a subirmos à Montanha e  escutarmos Jesus, acolhendo Sua proposta sem edificar tendas, pois é ao mesmo  tempo um imperativo de descida, para que na planície vivamos compromissos irrenunciáveis com a paz, que há de ser fruto da justiça promovida em todos os níveis de nossa vida.

O Cristo Glorioso transfigurado na Montanha, é o mesmo que será desfigurado na planície. Somente quem reconhecê-Lo Glorioso terá coragem de se comprometer com os desfigurados da planície.

Quantos rostos desfigurados encontramos todos os dias pelo caminho. Nossa missão é buscar respostas para transfigurar a dura realidade que condena milhões de desfigurados: fome, dependência química, falta de teto, falta de carinho de seus pais, exploração sexual e estupros, pedofilia, exclusão da saúde e do lazer... Enfim, à margem do caminho, de mãos estendidas e olhos arregalados. A lista dos desfigurados é interminável.

Nossa espiritualidade, nutrida pela riqueza da Palavra, nos compromete na participação em iniciativas pela ética na política, empenho pela justa distribuição de renda e justiça social, construção de uma economia solidária e fraterna, com a consequente promoção da cultura de vida e de paz...

Escutemos o que Jesus tem a dizer à Sua Igreja e ao mundo, e assim a Paz tão sonhada possa ser alcançada, que os sinais de morte deem lugar à vida, que situações de menos vida cedam lugar à vida plena e abundante...

A escuta e a vivência da Palavra de Deus são condições indispensáveis para que a Paz positiva aconteça: alegria, moradia, pão partilhado, saúde para todos, educação, famílias estruturadas, meio ambiente cuidado, saneamento básico assegurado para todos.

É sempre tempo da escuta, de subir e descer a Montanha, pois a fé cristã não foi nem nunca será fuga, mas corajoso compromisso na defesa da vida, no chão nosso de cada dia.

Sonhar com a paz é muito bom, melhor ainda é o compromisso com ela e com Ele, Jesus, que é a Fonte da verdadeira paz!


Fontes: cf. Dn 7,9-10.13-14; Mt 17,1–9, Mc 9,2–8; Lc 9,28–36; 2 Pd 1,16-19

 

Transfiguração do Senhor: contemplemos a Luz radiante

                                                                

Transfiguração do Senhor: contemplemos a Luz radiante

Celebramos, no dia 06 de agosto, a Transfiguração do Senhor, em que Jesus Se transfigura diante de Pedro, Tiago e João, a fim de conceder aos discípulos um suporte da fé, quando virem, pouco depois, o aparente fracasso da Sua morte na Cruz.

Sejamos enriquecidos pelo Sermão do Diácono Santo Efrém (séc. IV), sobre a Transfiguração do Senhor.

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o Seu rosto brilhou como o sol e as Suas roupas ficaram brancas como a luz.

Ele os levou até a montanha para mostrar-lhes a glória de Sua divindade, e lhes ensinar que Ele era o Redentor de Israel, tal como já tinha revelado por Seus profetas; e também para prevenir todo escândalo à vista dos sofrimentos que livremente iria sofrer por nós em Sua natureza humana.

Eles, de fato, o conheciam como homem, mas ignoravam que fosse Deus; conheciam-no como filho de Maria, um homem que vivia com eles no mundo, mas sobre a montanha revelou-lhes que era o Filho de Deus, e o próprio Deus.

Eles O tinham visto comer e beber, fatigar-Se e descansar, cochilar e dormir, apavorar-Se até gotejar de suor, coisas que não pareciam estar em harmonia com Sua natureza divina, nem convir à Sua humanidade. Por isso os trouxe sobre a montanha, para que o Pai O chamasse de Seu Filho, e lhes mostrasse que Ele era realmente Filho d’Ele, e que Ele era Deus.

Ele os levou sobre a montanha e mostrou-lhes Sua realeza, antes de sofrer, seu poder antes de morrer, Sua glória antes de ser ultrajado, e Sua honra antes de sofrer a ignomínia. Assim, quando fora tomado e crucificado pelos judeus, Seus apóstolos compreendessem que não foi por fraqueza, mas por consentimento e de plena vontade para a salvação do mundo.

Ele os levou sobre a montanha e mostrou-lhes, antes de Sua ressurreição, a glória da Sua divindade. Deste modo, quando ressuscitasse dentre os mortos na glória de Sua divindade, Seus discípulos reconheceriam que não recebia esta glória em recompensa de Suas aflições, como se precisasse delas, mas porque já Lhe pertencia bem antes dos séculos, com o Pai e para o Pai, assim como Ele mesmo lhe disse ao aproximar-se voluntariamente de Sua Paixão: Pai, glorifica-me junto de Ti, concedendo-me a glória que tive contigo antes que o mundo fosse criado.

E então, na montanha, Ele mostrou aos Seus apóstolos a glória de Sua divindade, oculta e escondida por Sua humanidade. Porque eles viram o Seu rosto brilhante, como um relâmpago, e Suas roupas brancas como a luz.

Eles viram dois sóis, um no céu, como de costume, e um incomum; um visível no firmamento e iluminando o mundo, e outro, a Sua face, visível somente a eles”. (1)

Também nós somos chamados a contemplar a Transfiguração do Senhor no Monte Tabor, e não fixar tendas, mas descer à desafiadora planície, no seguimento de Jesus, com plena confiança e incondicional fidelidade ao chamado que Ele nos fez, carregando nossa cruz com coragem e ousadia.

Também nós podemos, em cada Eucaristia que celebramos, contemplar dois sóis, um no céu, sem maiores dificuldades, e o outro, o Sol Nascente, que nos veio visitar, Aquele que Se Transfigurou no alto do Tabor, revelando toda a Sua glória, a plena realização da Lei e da Profecia: Jesus.

Assim como precisamos da luz e do calor do sol, muito mais precisamos da radiante Luz que nos vem do Senhor, para nos aquecer e iluminar, sobretudo em nossas noites escuras, frias e aparentemente intermináveis, marcadas pelas dificuldades, provações, inseguranças, tentações, fragilidades.

Contemplemos  o Cristo glorioso, como um sinal do que poderemos contemplar eternamente, mas não sem antes viver o Mistério de Sua Paixão e Morte na Planície, assim como fizeram Pedro, João, Tiago e muitos outros ao longo da história.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes 2013 - pp. 59-60

Fontes: cf. Dn 7,9-10.13-14; Mt 17,1–9, Mc 9,2–8; Lc 9,28–36; 2 Pd 1,16-19

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