segunda-feira, 14 de julho de 2025

“Discurso do Papa Francisco à Cúria Romana” (XVIDTCC)

                                                        
“Discurso do Papa Francisco à Cúria Romana”

“Catálogo das Doenças curiais.”
“São doenças e tentações que
enfraquecem o nosso serviço ao Senhor.”

Retomemos o “Discurso do Papa Francisco à Cúria Romana”, por ocasião do final do Advento de 2014.

A Curia Romana, como o corpo humano, está exposta também às doenças, ao mau funcionamento, à enfermidade. E como um “corpo”, procura, séria e cotidianamente, ser mais viva, mais sadia, mais harmoniosa e mais unida em si mesma e com Cristo

O papa descreve 15 prováveis doenças curiais mais costumeiras, afirmando: “estas doenças e tais tentações são naturalmente um perigo para todo cristão e para toda a Cúria, Comunidade, Congregação, Paróquia, Movimento eclesial e podem atingir quer em nível individual quer comunitário”.

1. “A doença do sentir-se “imortal”, “imune” ou até mesmo “indispensável” pondo de lado os controles necessários e habituais. Uma Cúria que não faz autocrítica, que não se atualiza, que não procura melhorar é um corpo enfermo. Uma visita ordinária aos cemitérios poderia ajudar-nos a ver os nomes de tantas pessoas, algumas das quais pensassem talvez que eram imortais, imunes e indispensáveis!...”

2. A doença do “martalismo” (que vem de Marta), da excessiva operosidade: ou seja, "daqueles que mergulham no trabalho, descuidando, inevitavelmente, 'a melhor parte': sentar-se aos pés de Jesus (cf Lc 10,38-42)... o tempo do descanso, para quem levou a termo a sua missão, é necessário, obrigatório e deve ser levado a sério: no passar um pouco de tempo com os familiares e no respeitar as férias como momentos de recarga espiritual e física; é necessário aprender o que ensina Coelet que «para tudo há um tempo» (3,1-15)".

3. A doença do “empedernimento” mental e espiritual: o perigo de tornar o coração de pedra, frio e endurecido, deixando de ter os mesmos sentimentos do Senhor (Fl 2,5); ou seja, "daqueles que possuem um coração de pedra e são de 'dura cerviz' (At 7,51-60); daqueles que, com o passar do tempo, perdem a serenidade interior, a vivacidade, a audácia e escondem-se atrás das folhas de papel, tornando-se 'máquinas de práticas' e não 'homens de Deus' (cf Hb 3,12)"

4. A doença da planificação excessiva e do funcionalismo: jamais ter como Igreja a pretensão de regulamentar e domesticar o Espírito Santo que é  frescor, fantasia, novidade - "É necessário preparar tudo bem, mas sem nunca cair na tentação de querer conter e pilotar a liberdade do Espírito Santo, que sempre permanece maior e mais generosa do que toda a planificação humana (cf. Jo 3,8)...” .

5. A doença da má coordenação: os  membros perdem a comunhão entre si e o corpo perde a sua funcionalidade harmoniosa e a sua temperança com a falta do  espírito de comunhão e de equipe.

6. A  doença do “alzheimer espiritual”: ou seja, o esquecimento da “história da salvação”, "...da história pessoal com o Senhor, do 'primeiro amor' (Ap 2,4)... É o que vemos naqueles que perderam a memória do seu encontro com o Senhor; naqueles que não têm o sentido deuteronômico da vida; naqueles que dependem completamente do seu presente, das suas paixões, caprichos e manias; naqueles que constroem em torno de si barreiras e hábitos, tornando-se, sempre mais escravos dos ídolos que esculpiram com as suas próprias mãos".

7. A doença da rivalidade e da vanglória: "...quando a aparência, as cores das vestes e as insígnias de honra se tornam o objetivo primordial da vida, esquecendo as palavras de São Paulo: 'Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses , e sim os dos outros» (Fl 2,3-4)'".

8. “A doença da esquizofrenia existencial: há a criação de um mundo paralelo com uma vida oculta e dissoluta e a conversão é por demais urgente e indispensável para esta gravíssima doença (cf Lc 15,11-32) - "...é a doença dos que vivem uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do vazio espiritual progressivo que formaturas ou títulos acadêmicos não podem preencher”

9. A doença das bisbilhotices, das murmurações e do mexerico: É uma doença grave, que começa simplesmente, quem sabe, para trocar duas palavras e se apodera da pessoa, transformando-a em “semeadora de cizânia” (como satanás), e em tantos casos “homicida a sangue frio” da fama dos seus colegas e confrades - "É a doença das pessoas covardes que, não tendo a coragem de falar diretamente, falam pelas costas... guardemo-nos do terrorismo das maledicências!"

10. A doença de divinizar os chefes: "...é a doença dos que cortejam os Superiores, esperando obter a benevolência deles. São vítimas do carreirismo e do oportunismo, honrando as pessoas e não a Deus (cf Mt 23,8-12)...”

11. A doença da indiferença para com os outros:  Não se partilha o saber e, às vezes, por ciúme ou por astúcia, sente alegria ao ver o outro cair, ao invés de erguê-lo e encorajá-lo - "Quando alguém pensa somente em si mesmo e perde a sinceridade e o calor das relações humanas.”

12. A doença da cara fúnebre. Quer dizer, das pessoas grosseiras e sisudas que pensam que, para ser sérias, é necessário assumir as feições de melancolia, de severidade e tratar os outros – principalmente os que consideram inferiores – com rigidez, dureza e arrogância. Na realidade, a severidade teatral e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas de medo e de insegurança...”

13. A doença de acumular: "quando o Apóstolo procura preencher um vazio existencial no seu coração, acumulando bens materiais, não por necessidade, mas só para sentir-se seguro...”.

14. "A doença dos círculos fechados onde a pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo  e, em algumas situações, ao próprio Cristo...".

15. “A doença do proveito mundano, dos exibicionismos, quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter dividendos humanos ou mais poder; é a doença das pessoas que procuram insaciavelmente multiplicar poderes e, com esta finalidade, são capazes de caluniar, de difamar e de desacreditar os outros, até mesmo nos jornais e nas revistas...”

Como podemos perceber, estas “doenças curiais” também estão presentes em nossas comunidades, e é preciso a ajuda do Espírito Santo que, com Sua ação, dá vida nova a quem a Ele se abre.

Como bem afirmou o Papa, o restabelecimento destas enfermidades é fruto da consciência da doença, e da decisão pessoal e comunitária de tratar-se, suportando pacientemente e com perseverança a terapia com propósito de mudança.

Há esperança de cura e conversão, ele diz citando o Bispo Santo Agostinho:  «Enquanto uma parte aderir ao corpo, a sua cura não é desesperada; mas o que foi cortado não pode nem curar-se nem sarar».

Concluo afirmando que, na Cúria Romana ou em qualquer lugar, estas “doenças” podem nos tornar enfermos, e necessitados  da cura que somente Deus pode nos oferecer, em sincera abertura de coração, tomando consciência de nossos pecados, para estabelecer novas relações mais humanas e fraternas, que expressem a verdadeira presença de Deus entre nós.



PS: Confira o texto integral acessando:  http://pt.radiovaticana.va/


domingo, 13 de julho de 2025

A Igreja do Bom Samaritano (XVDTCC)

                                                                     

A Igreja do Bom Samaritano

“Mestre, que devo fazer para
receber em herança a vida eterna?”

Com a Liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum (Ano C), aprofundamos o caminho para o encontro da Vida Eterna, o caminho da felicidade presente e eterna; tendo como mensagem central: somente o amor a Deus e ao próximo é que nos dará vida em plenitude.

A passagem da primeira Leitura (Dt 30,10-14) é uma Catequese sobre o Amor a Deus, escutando a Sua voz no íntimo do coração e percorrendo o caminho dos Seus Mandamentos, em adesão total e incondicional.

A Lei de Deus não é posta fora de nosso alcance; é inscrita em nosso coração e em nossa mente, proclamada pela nossa boca, mas principalmente com a nossa vida.

Vivendo o contexto do final do exílio da Babilônia, o autor remete a parte final do terceiro discurso de Moisés, quando conduzia o Povo de Deus.

Ressoa como forte alerta para que o Povo de Deus tome consciência da sua infidelidade, e volte à fidelidade original para ter vida.

Reflitamos:

- Qual a qualidade de nossa escuta, adesão e fidelidade a Deus e aos Seus Mandamentos?
- O que nos impede de ouvir a voz de Deus, que nos fala e nos propõe vida em plenitude?
- Quais são as vozes que tentam calar a voz de Deus, hoje?

Na passagem da segunda Leitura (Cl 1,15-20), o Apóstolo Paulo nos fala da centralidade de Jesus em nossa vida: Ele é o centro a partir do qual tudo se constrói.

É preciso escutá-Lo atentamente, e viver Seu Mandamento, exigência fundamental para quem quiser segui-Lo.

Nada pode nos salvar a não ser Cristo Jesus e a Sua Palavra de Salvação. Ele é a “imagem de Deus invisível”; “o primogênito de toda criatura”, e “n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas”.

Deus é visível em Jesus, que tem por sua vez a supremacia e autoridade do Pai, e deve ocupar a centralidade em nossa vida. Ele não pode ser reduzido a um visionário, idealista, e humanista por excelência, pois tem a soberania no Mistério da redenção: Ele é “cabeça”, “princípio” e “n’Ele habita toda plenitude”.

Reflitamos:

- Jesus Cristo é verdadeiramente o centro de nossa vida?
- Quem é Cristo para nós?

A passagem do Evangelho (Lc 10,25-37) nos apresenta a Parábola do bom samaritano. Refere-se a um herege, um infiel, segundo os critérios judaicos (por longos séculos assim foi se caracterizando), mas foi aquele que tudo deixou para ser solidário ao irmão caído à beira da estrada, e o Senhor no-lo apresenta como exemplo a ser imitado: Fazer-se próximo de quem mais precisa – “Vai e faz o mesmo”.

Na Parábola são citados os levitas e sacerdotes que passam ao lado, sem nada fazer; talvez por medo de ficarem impuros, por pressa, indiferença, ou por viverem uma religião sem misericórdia.

Ao contrário, o samaritano, herege, excomungado, tem o coração cheio de amor, e nos dá o verdadeiro sentido da religião: ter um coração pleno de amor a Deus, que se concretiza no amor ao próximo, em gestos de partilha e solidariedade.

Conclui-se que a vida eterna somente se alcança quando não se separa o amor a Deus do amor ao próximo.

Este próximo é qualquer um que necessite de nós, amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido; e todo aquele que se encontra à beira do caminho e precisa de nosso amor e de nossas mãos para se levantar e se pôr a caminho.

Nisto consistirá a missão da Igreja do Bom Samaritano, em todos os tempos, na fidelidade ao Senhor Jesus: viver um amor sem limites, sem fronteiras, sem rotulações.

Reflitamos:

- Qual a missão que O Senhor confia a nossas comunidades à luz desta parábola?
- Somos sensíveis e solidários aos clamores dos pobres?

- Como nossas comunidades podem ser mais parecidas com o bom samaritano?
- Quem se encontra à beira do caminho e precisa de nossas mãos e ação solidária?

- Como estamos vivendo a verdadeira religião, que nos permite experimentar a proximidade divina, para uma maior proximidade humana, em gestos de comunhão fraterna?
- Qual é a diretriz de minha vida: leis, ritos ou o amor concreto?

Concluindo, quando Cristo é o centro de nossa vida e de nossa comunidade, abrimo-nos ao outro, fazemo-nos próximos daqueles que estão à beira do caminho, no amor, misericórdia, compaixão e solidariedade.

Lembremos as palavras do Papa Bento XVI, na Encíclica – Deus Caritas Est” – 2005 – n. 15.16:

O Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo:
no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e,
em Jesus, encontramos Deus... o amor ao próximo
é uma estrada para encontrar também a Deus, e que
o fechar os olhos diante do próximo torna cegos
também diante de Deus.”

PS: apropriado para refletimos sobre a passagem do Evangelho proclamada na segunda-feira da 27ª semana do Tempo Comum.

Em poucas palavras... (XVDTCC)

                                                  


“Compaixão é ter coração nas mãos”
 
“É a compaixão que O (Jesus) leva a quebrar o distanciamento social e compromete-Se.
 
Quando as mãos estão carregadas de compaixão, elas se tornam oblativas, abertas, servidoras... 


A compaixão é o sentimento que faz a conexão das mãos com o coração. Ter compaixão é ter coração nas mãos.” (1)

 
 
(1)         Adroaldo Palaoro (SJ)
Comentário da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 1,4-45)


PS: Apropriado para a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 10,25-37)

O Senhor carregou sobre Si nossa humanidade ferida (XVDTCC)

                                                                 


O Senhor carregou sobre Si nossa humanidade ferida

Uma reflexão sobre a “A Doutrina Social da Igreja à luz da misericórdia divina”, e da passagem do Evangelho sobre o Bom Samaritano (Lc 10, 25-37). 

Vejamos o que nos dizem os Padres da Igreja, e também o Papa Francisco, para melhor vivermos as obras de misericórdia corporais e espirituais:

Orígenes (séc. III):

“Para que entendas que este samaritano descia por disposição de Deus para cuidar do que foi atacado pelos ladrões, deves observar que já trazia consigo as faixas, o vinho e o azeite, isto me parece que ocorreu não somente em atenção a este homem meio-morto, mas por todos aqueles que, feridos, necessitam de Suas faixas, de Seu vinho e Seu azeite.

Carregou o ferido sobre o jumento, sobre Seu próprio corpo, o que somente significa que Se dignou assumir a nossa humanidade. Este samaritano lavou os nossos pecados, sofreu por nós, carregou o homem meio-morto, levou-o para a pousada, isto é, a Igreja, que recebe a todos e que não nega o seu auxílio a ninguém, e à qual nos convoca Jesus, dizendo: Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, que Eu vos aliviarei.

Tendo-o levado à pousada, não foi embora imediatamente, mas ficou com ele um dia inteiro, cuidando-o dia e noite... Quando chegou a manhã seguinte quer partir, dá de Seu bom dinheiro dois denários e encarrega ao posseiro, aos Anjos de Sua Igreja, que cuidem e levem ao céu aquele que ele tinha cuidado nas angústias deste tempo” (1)

Clemente Alexandrino (séc. III):

“Quem poderia ser este próximo senão o próprio Salvador? Quem mais do que Ele teve piedade de nós que estávamos para ser mortos pelos dominadores deste mundo de trevas com as muitas feridas, os medos, as paixões, as iras, as dores, os enganos, os prazeres?

De todas estas feridas o único médico é Jesus. É Ele que derrama sobre nossas almas feridas o vinho que é sangue da videira de Davi, é Ele que doa copiosamente o óleo que é a piedade do Pai” (2)

O Bispo e Doutor da Igreja, Santo Ambrósio (séc. IV):

“Enquanto descia, pois, este samaritano – quem é este que desceu do céu, senão o que sobe ao céu, o Filho de Deus que está no céu –, tendo visto a um homem semimorto, ao qual ninguém quis curar – o mesmo que aquela que padecia do fluxo de sangue e que tinha gastado em médicos toda a sua renda-, aproximou-Se dele, ou seja, compadecido de nossa miséria, tornou-Se nosso íntimo e nosso próximo para exercitar Sua misericórdia conosco.

E enfaixou suas feridas untando-as com óleo e vinho. Este médico tem uma infinidade de remédios, mediante os quais alcança, ordinariamente, suas curas. Medicamento é a Sua Palavra; esta, algumas vezes, enfaixa as feridas, outras, serve de óleo, e outras atua como vinho; enfaixa as feridas quando expressa uma ordem de dificuldade mais exigente; suaviza perdoando os pecados, e atua como o vinho anunciando o juízo” (3)

São Severo de Antioquia (séc. VI):

“Sobre as nossas chagas derramou vinho, o vinho da Palavra, e, como a gravidade dos ferimentos não suportava toda a Sua força, misturou-o com o óleo da Sua ternura e do Seu amor pelos homens. Em seguida, conduziu o homem à estalagem.

Chama estalagem à Igreja, que se tornou o lugar de morada e de refúgio de todos os povos. Chegados à estalagem, o Bom Samaritano teve para com aquele que tinha salvo uma solicitude ainda maior; o próprio Cristo ficou na Igreja, concedendo-lhe todas as graças... E, ao partir, isto é, ao subir ao céu, deixou ao dono da estalagem – símbolo dos apóstolos, dos pastores e dos doutores que lhe sucederam – duas moedas de prata, para que ele cuidasse do enfermo.

Estas duas moedas são os dois Testamentos, o Antigo e o Novo, o da Lei e dos Profetas, e aquele que nos foi dado pelos Evangelhos e pelos escritos dos Apóstolos... No último dia, os pastores das Igrejas santas dirão ao Senhor que há de vir: Senhor, confiastes-me dois talentos, aqui estão outros dois que ganhei, através dos quais fiz aumentar o rebanho. E o Senhor irá responder-lhes: Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel no pouco, muito te confiarei. Entra no gozo do teu Senhor”. (4)

Retomemos as reflexões acima, e sejamos fortalecidos em nossa fidelidade ao Senhor, para que edifiquemos uma Igreja mais samaritana, que se aproxime dos que mais precisam, porque são sinais visíveis e tangíveis da presença de Deus em nosso meio.

Finalizo com o parágrafo n.15 da Bula “Misericordiae Vultus”, escrita pelo Papa Francisco para o Ano Santo extraordinário da Misericórdia (8/12/2015 à 26/11/2016):

“Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática.

Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos.

Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas.

Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói.

Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade.

Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo”.

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - pp.678-679
(2) O Verbo Se faz Carne – Editora Ave Maria - p. 676
(3) Lecionário Patrístico Dominical - pp.675-676
(4) idem - p . 677  

Da empatia à compaixão e solidariedade (XVDTCC)

                                                                                 


Da empatia à compaixão e solidariedade 

“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34)

Compreendamos empatia como a ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias; também, como a aptidão para identificação com o outro, de modo que se pode sentir o que ele sente. 

Como discípulos missionários do Senhor, somos chamados a viver esta empatia, que nos levará a sentimentos e compromissos mais elevados, como vemos na passagem da parábola do bom samaritano (Lc 10,29-37). 

Três verbos, destacamos na parábola: “ver”, Sentir compaixão” e “cuidar”. Deste modo, todos somos chamados à compaixão e solidariedade, no genuíno testemunho cristão, como nos lembrou a Campanha da Fraternidade deste ano. 

Não nos é permitido, em situação alguma, a omissão da solidariedade, porque amamos e seguimos Jesus Cristo, o Bom Samaritano, que veio ao nosso encontro, em expressão de amor e compaixão para conosco, a fim de que todos tenhamos vida plena e feliz, como Ele mesmo nos falou na passagem do Evangelho de São João (Jo 10,10). 

Na vivência do Mandamento do amor a Deus, seja expresso concretamente no amor ao próximo, fazendo este caminho: da empatia à compaixão, e da compaixão à solidariedade e proximidade permanente.

Campanha da Fraternidade 2020

                                                           

Campanha no momento, compromisso sempre!

A Igreja no Brasil está realizando mais uma Campanha da Fraternidade com uma proposta extremamente atual e de importância indiscutível.

Tema: “Fraternidade e vida: dom e compromisso”
Lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34)

Que todos nós não meçamos esforços em acompanhar, refletir e ajudar a desenvolver esta Campanha que não se encerra, como se diz indevidamente, com a Páscoa.

Oração da Campanha da Fraternidade - 2020 - CNBB

Deus, nosso Pai, fonte da vida e princípio do bem viver, criastes o ser humano e lhe confiastes o mundo como um jardim a ser cultivado com amor. Dai-nos um coração acolhedor para assumir a vida como dom e compromisso. Abri nossos olhos para ver as necessidades dos nossos irmãos e irmãs, sobretudo dos mais pobres e marginalizados.

Ensinai-nos a sentir verdadeira compaixão expressa no cuidado fraterno, próprio de quem reconhece no próximo o rosto do Vosso Filho.

Inspirai-nos palavras e ações para sermos construtores de uma nova sociedade, reconciliada no amor.

Dai-nos a graça de vivermos em comunidades eclesiais missionárias, que, compadecidas, vejam, se aproximem e cuidem daqueles que sofrem, a exemplo de Maria, a Senhora da Conceição Aparecida, e de Santa Dulce dos Pobres, Anjo Bom do Brasil. Por Jesus, o Filho amado, no Espírito. Amém.

PS: Riquíssimo material da CF/2020, o leitor poderá encontrar acessando a página da CNBB: www.cnbb.org.br

Compaixão e ternura (XVDTCC)

                            


Compaixão e ternura  

“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele.” (Cf. Lc 10,33-34)

Não creio em respostas e soluções mágicas
Para as dificuldades que me confidencias.

Mas direi que é preciso ousar e olhar para dentro de si;
Ter coragem de encontrá-las, sem jamais desistir.

Não te falarei da poesia e odores das flores,
Porque sentes na alma a dor de um espinho.

Mas contigo olharei para Aquele que por nós,
Em ato extremo de amor, coroado foi, não por coroa de flor.

Não serei indiferente por estares caído à beira do caminho,
Porque tuas esperanças e sonhos foram saqueados.

Mas quero ser como o bom samaritano,
Não apenas ver, compaixão sentir, e de ti “cuidar”.

São teus o vinho e o azeite para as feridas.
Derramo sobre ti o vinho e o óleo da acolhida e ternura

São tuas as faixas de que tanto precisas;
Ofereço-te as faixas das minhas orações e solidariedade.

Não te direi sequer uma palavra neste momento,
Porque estás saturado de palavras vazias.

Mas te darei meu ombro e meus ouvidos,
E no peito do Amado, Jesus, reclina silenciosamente.

Por fim, te direi: ponha-te de pé, tens que em frente seguir.
Nutre tua fé, renove tua esperança, fortalece a chama da caridade.

Com renúncias, tome tua cruz, celebre comigo a Ceia da Eucaristia,
Deixa-te iluminar pela Palavra, revigora-te com o Pão de Eternidade.Amém.


Fonte inspiradora: Lc 10,25-37

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG