quinta-feira, 19 de junho de 2025

Contemplemos o Mistério de nossa Redenção (Corpus Christi)

Contemplemos o Mistério de nossa Redenção

Adoramos-vos, Senhor Jesus Cristo, e contemplamos o Mistério de nossa Redenção que nos alcançastes.

Gloriamo-nos em Vossa Santa Cruz, da qual pendeu a Salvação do Mundo, pelo Vosso Sangue e pela Água, do lado trespassado, derramados.

Contemplamos o Mistério de Vossa Encarnação, pela qual, fazendo-Se pobre, nos enriquecestes com a Vossa pobreza.

Meditamos sobre Vossa vida oculta que, por obediência, reparastes a nossa insubmissão.

Ouvimos e acolhemos Vossa Palavra nas fibras mais íntimas do nosso ser, pois ela nos purifica e ilumina nossos passos.

Por Vós, somos curados e libertos de todos os demônios, tomando sobre Vós nossas enfermidades, carrega com as nossas doenças.

Cremos e testemunhamos Vossa gloriosa ressurreição, pela qual nos justificastes, com o Pai nos reconciliastes, e o Espírito nos enviastes.

Agradecemos-Vos por fazer-Se real presença na Santa Eucaristia, Divina Bebida e Salutar Alimento. Amém.


Fonte: Catecismo da Igreja Católica nn.516-517

Quando a Missa não termina... (Corpus Christi)

                                                        

Quando a Missa não termina...

Quando a Missa não termina...
Temos muito e muito mais para viver.

Assim rezamos na Oração depois da Comunhão:

Ó Deus, que nos alimentastes com este Pão que nutre a fé, incentiva a esperança e fortalece a caridade, dai-nos desejar o Cristo, Pão vivo e verdadeiro, e viver de toda a Palavra que sai de Vossa boca. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”

Com a Igreja, elevamos aos céus uma Oração que precisa ser retomada para aprofundamento, meditando sobre ela silenciosamente diante do Sacrário, ou no silêncio do sacrário de nosso coração.

Rezá-la para que a Força da Divina Eucaristia, que a nós vem pelo Espírito nela consagrada, nos revigore na vivência das virtudes teologais.

Saboreá-la porque são preciosas delícias que a Igreja nos oferece nas Missas, e que muito mais precisariam ser ouvidas, entendidas, valorizadas.

Divulgá-la a quantos possamos, sobretudo para aqueles com quem convivemos, nos relacionamos e a quem devemos oferecer sempre algo de bom, ou muito mais, algo de muito melhor.

Vivê-la na longa travessia do deserto que haveremos de passar, sob a condução do Santo Espírito.

Crer nela, crer na eficácia e força da Palavra que rezamos, para que encarnada seja nossa mais bela resposta para vencer as tentações de Satanás, como aprendizes que somos do Divino Mestre que venceu o tentador.

Orando e prolongando a Eucaristia que celebramos:

Nutramos nossa fé, pois a sua vitalidade é garantia de maravilhas multiplicadas; resultados mais belos desejados e alcançados; certeza da superação dos obstáculos que se reproduzem no caminho...

Incentivada seja nossa esperança para que não nos percamos no caminho ou em pequenos e ínfimos horizontes da mediocridade e do egoísmo, da não percepção do outro, porque se anestesiados espiritualmente, perdemos o mais belo olhar do amor e compaixão.

Caridade fortalecida, o amor não será mera palavra, mas uma vida solidária, que se consome em incontáveis gestos, por vezes silenciosos, sem a pretensão do reconhecimento e tão pouco de regar a vaidade. Amar por amar, tão apenas e simplesmente.

Quando a Missa não termina...
Temos muito para rezar, para escrever...
Temos muito e muito mais para viver.
Amém! 

A lua e a avenida (Corpus Christi)

A lua e a avenida

Pela vidraça da janela, eu via a lua
como que pousando suavemente sobre a avenida.

Os carros vinham e iam,
como que não permitindo que ela fizesse tal coisa,
mesmo porque obviamente não o faria.

Por poucos minutos aquele quadro ali estava estampado,
como que pintado pelas mais habilidosas mãos de um pintor.

Por pouco tempo pôde ser contemplado,
para sempre inesquecido.

Assim costumam ser algumas coisas maravilhosas
que acontecem em nossa vida.
Muitas coisas valem não pelo tempo que se prolongou enquanto fato,
mas quanto no coração e na memória tenham ficado.

De outro lado, há coisas que se prolongam
e que gostaríamos que fossem como uma nuvem que passa,
com formas e informes para outras tantas possíveis,
despertando nossa imaginação.

Aquele quadro que não sai de minha mente.

A avenida parecia terminar num horizonte
Aparentemente próximo e tangível,
mas bem sabemos que não.

A lua da mesma forma, como que convidando ao abraço,
ao recolhimento ainda que por um instante.
Mas tão distante também o sabemos.

A lua e a avenida são como as mais belas utopias
que nos movem,
os sonhos que nos impulsionam nos passos firmes a serem dados
conferindo à vida um belo sentido.

Intangíveis e por tão pouco tempo vistas:
o que buscamos não morre em nossa alma,
e de vez em quando,
vem à mente e nas palavras.

De vez em quando temos que ver
pelas vidraças do quarto escuro de nossa existência
uma luz brilhando no aparente ponto final de uma história,
de um acontecimento,
de um momento.

De vez em quando precisamos ver
o aparentemente intangível à nossa frente
para não fixarmos âncoras num passado
que às vezes não mais tem sentido.

Quem crê terá sempre à sua frente uma luz;
a luz do Espírito do Ressuscitado
que vem sempre ao nosso encontro,
atravessando as nuvens da história,
iluminando nossos obscuros caminhos.

Isto acontece em cada Eucaristia que celebramos
como bem disse o Papa São João Paulo II:

– “A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de céu
que se abre sobre a terra; 
é um raio de glória da Jerusalém celeste, 
que atravessa as nuvens da nossa história
e vem iluminar o nosso caminho.”

Não preciso mais da lua, muito menos da avenida.
Não preciso mais daquele quadro,
mas do que ele me despertou:
fome e sede de Deus, que abundantemente nos sacia,
em cada Mesa da Palavra e da Eucaristia. 

São Romualdo, exemplar na fidelidade ao Senhor

 


São Romualdo, exemplar na fidelidade ao Senhor

São Romualdo nasceu em Ravena (Itália), em meados do século X, e morreu por volta de 1027.

Tendo abraçado a vida eremítica, por muitos anos percorreu vários lugares em busca de solidão, edificando pequeninos mosteiros.

Sua vida foi marcada pela valorosa luta contra o relaxamento de costumes dos monges de seu tempo, enquanto, por sua parte, progredia com empenho no caminho da santidade pelo perfeito exercício das virtudes.

Conheçamos a história e o testemunho de vida do Abade São Romualdo (séc. XI), descritos por São Pedro Damião.

“Romualdo passou três anos nas vizinhanças da cidade de Parenzo. No primeiro ano, construiu um mosteiro e colocou nele uma comunidade de irmãos com seu abade; nos dois anos seguintes, aí permaneceu enclausurado.

Nesse lugar, a vontade divina o elevou a tão alto grau de perfeição que, inspirado pelo Espírito Santo, previu acontecimentos futuros e, com a luz da inteligência, pôde compreender muitos mistérios ocultos do Antigo e do Novo Testamento.

Era frequentemente tão arrebatado pela contemplação da divindade que se desfazia em lágrimas e, ardendo no fogo do amor divino, tinha expressões como esta: ‘Jesus, meu amado Jesus, para mim mais doce do que o mel, desejo inefável, doçura dos santos, suavidade dos anjos’.

Estes e outros sentimentos de alegria profunda a que era movido pela ação do Espírito Santo, nós não somos capazes de exprimir com palavras humanas.

Em qualquer lugar que o santo varão decidisse morar, sua primeira providência era fazer uma cela com um altar. Em seguida, fechando-se nela, isolava-se de toda a gente.

Depois de ter vivido em vários lugares, sentindo que se aproximava o fim de sua vida, voltou ao mosteiro que construíra em Val di Castro. Aí, esperando como certa a morte iminente, mandou construir uma cela com oratório, para nela se recolher e guardar silêncio até o fim.

Acabada a construção dessa ermida, com mente lúcida, dispôs-se imediatamente para nela se recolher. No entanto, seu estado começou a se agravar não tanto pela doença, mas devido ao peso dos anos.

E assim, certo dia, sentiu que lhe faltavam as forças e aumentava a fadiga causada pelas enfermidades. Ao pôr do sol, ordenou aos dois irmãos que ali se achavam que saíssem e fechassem a porta da cela; e que voltassem de madrugada, a fim de cantarem juntos o ofício das Laudes. Preocupados com seu estado de saúde, os irmãos saíram a contragosto, mas não foram descansar; ficaram junto da cela, observando aquele tesouro de valor inestimável, temendo que, de um momento para outro, seu mestre pudesse morrer. Permanecendo por ali e passando algum tempo, escutando com atenção, deram-se conta de que não havia qualquer movimento do corpo nem o menor ressonar.

Convencidos do que havia acontecido, empurraram a porta, entraram depressa e acenderam a luz. Encontraram o corpo santo de Romualdo caído no chão e deitado de costas; a alma santa já tinha partido para o céu. Ali jazia ele, como pedra preciosa caída do céu e abandonada, para ser novamente colocada, com todas as honras, no tesouro do rei supremo.”

Também nós, em nosso tempo e realidade, somos chamados às renúncias cotidianas necessárias, para maior fidelidade no seguimento de Jesus Cristo (Lc 9,23).

Meditemos suas palavras e a Oração do Dia, quando se celebra sua memória:

“Jesus, meu amado Jesus, para mim mais doce do que o mel, desejo inefável, doçura dos santos, suavidade dos anjos”.

Oremos:

“Ó Deus, que por São Romualdo renovastes na Vossa Igreja a vida eremítica, concedei-nos renunciar a nós mesmos e, seguindo o Cristo, chegar com alegria ao Reino Celeste. Por N.S.J.C. Amém.”

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Em poucas palavras...

                                               


O sentido eucarístico da multiplicação dos pães

“No Evangelho (Jo 6,1-15), reveste-se de um evidente sentido eucarístico, como realidades que se anunciam e se completam mutuamente, e introduzem a comunhão sem véus com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. [...] 

A Eucaristia é vista, assim, em seu sentido mais genuíno de abundância de vida, e, capaz de dar a vida eterna dentro do banquete messiânico. “ (1)

(1) Comentário do Missal Dominical - Editora Paulus - pág. 972

 

 

Eucaristia, amor e partilha

                                                          

Eucaristia, amor e partilha

Na Liturgia da Palavra, da segunda Sexta-Feira da Páscoa, ouvimos a proclamação da passagem do Evangelho de São João (Jo 6, 1-15), em que narra o sinal que Jesus fez no deserto, celebrando com a multidão o Banquete da Vida, em oposição ao banquete de Herodes, o banquete da morte:

Sacrifício voraz de vidas inocentes e justas, como a vida de João Batista. No Banquete de Jesus, há credenciais exigidas para autêntica participação:

O amor de compaixão, a solidariedade, a confiança na providência de Deus, a gratidão, a bênção, e a consciência de que os bens de graça, d’Ele, recebidos devem ser generosamente partilhados.

O pão que de Deus, cotidianamente, recebemos, por Ele abençoado e por nós partilhado, ganha um novo sabor.

No Banquete da Vida de Nosso Senhor, não há como se omitir diante da dor, da fome, da miséria da existência humana: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.

É possível superar esta brutal realidade que rouba a beleza do Projeto Divino. 

O Profeta Isaías já anunciara a promessa messiânica, de restauração da vida, em que Deus nos chama a comer e a beber sem paga: vinho e leite, deleite e força, alegria, revigoramento...

No Antigo Testamento vemos o Profeta Eliseu que também soube partilhar o pouco para saciar a fome de muitos (2 Rs 4,42-44).

Uma última exigência: Aprender a nova matemática de Deus: Na racionalidade da matemática humana 5+ 2 = 7, indiscutivelmente, logo os 5000 homens, sem contar mulheres e crianças, estariam condenados à fome, ao desalento...

Na racionalidade da Matemática Divina, 5 + 2 = plenitude, perfeição, tudo!

Temos tudo para saciar a fome da humanidade, pois os bens que de Deus recebemos, quando partilhados, são multiplicados.
O milagre da multiplicação dos 5 pães e 2 peixes foi um sinal do Banquete Eucarístico que celebramos.

Alimentando-nos de um pedaço de Pão e um pouco de Vinho, Corpo e Sangue do Senhor, prolongamos a celebração na vida, multiplicando gestos de compaixão, partilha, solidariedade, tornamo-nos promotores da justiça, da fraternidade, da vida e da paz.

Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir, no séc. I, num contexto de dominação e perseguição, nos exortava com sabedoria indiscutível:

“Vosso Batismo seja a vossa arma; a fé, o vosso capacete; a caridade, a vossa lança; a paciência, a vossa armadura completa. As vossas obras sejam vosso depósito para receberdes em justiça o que vos é devido”.

Quando aprendizes da matemática divina:

- Nada nos separará do Amor de Deus (Rm 8,35-39): nem a tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada...

- Intensificaremos nosso relacionamento com Deus, que é misericórdia, piedade, amor, paciência, compaixão, muito bom para com todos e pleno de ternura que abraça toda criatura (Sl 144).

-   Aprenderemos com um autor desconhecido:

Somente a água que damos de beber ao próximo poderá saciar nossa sede. Somente a roupa que doamos poderá vestir nossa nudez. Somente o doente que visitamos poderá nos curar.

Somente o pão que oferecemos ao irmão poderá nos satisfazer.
Somente a palavra que suaviza a dor poderá nos consolar.
Somente o prisioneiro que libertamos poderá nos libertar”.

Somente a partir da matemática de Deus é que teremos o sinal de um novo céu e uma nova terra, pois não é a lógica fria e irracional, mas a lógica da compaixão, amor, solidariedade e partilha que multiplica, abundantemente, em nós, todas as graças divinas.

Matemática de Deus...
Uma bela lição a aprender para que vivamos a Eucaristia como expressão de amor, acompanhado da necessária partilha. Amém. Aleluia!

PS: Oportuna para o 17º Domingo do Tempo Comum - ano B

Não sejamos palco para nós mesmos!

                                                      

Não sejamos palco para nós mesmos!

Tudo deve ser feito para que
nos coloquemos em perfeita comunhão com o Pai...

A Liturgia da quarta-feira da 11ª semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho de São Mateus (Mt 6,1-6;16-18), que nos fala da prática da esmola, da Oração e do jejum.

Muito mais que uma exortação feita por Jesus, para que os discípulos vivam estas práticas, é uma indicação da autêntica maneira de realizá-las, numa verdadeira e frutuosa religiosidade, fundada na sinceridade daquilo que se faz.

Tudo deve ser feito para que nos coloquemos em perfeita comunhão com o Pai, sob Seu olhar, em profunda intimidade com Ele, jamais acompanhadas de atitudes que revelem um coração duplo e hipócrita.

Jamais praticar obras de modo à obtenção da aprovação dos outros, ou até de si mesmos. Se o coração do discípulo estiver em íntima comunhão com o Pai, tudo fará para que seja visto tão apenas por Ele que dará a Sua recompensa, que é o próprio Jesus, que nunca Se separa de quem O procura com sinceridade e abertura total.

Atuar em segredo exige muito mais, pois podemos nos tornar palco de nós mesmos, requerendo reconhecimento e gratidão, acompanhados de autoelogios, autoaplausos acompanhados do vácuo de humildade.

É preciso tão apenas nos tornamos o que, de fato, somos, fazendo brotar, no mais profundo de nosso eu, uma autenticidade sem interesses duvidosos. 

Cada palavra, pensamento ou obra deve ser a pura expressão do amor, experimentado na relação com Deus em favor do outro, da mais frutuosa, piedosa e ativa atitude de quem crê no que celebra em cada Eucaristia, e do que vive e prolonga em cada gesto do cotidiano.

Que a Oração nos coloque em mais intensa comunhão, intimidade e amizade com Deus, para que saibamos viver o autêntico jejum, a morte de toda e qualquer expressão de egoísmo, que consiste na ausência de liberdade, acompanhado de gestos múltiplos, pequenos ou grandes de caridade.

Assim vividas, a Oração e a caridade, a esmola edifica e promove o outro, sem vínculos de dependência de uma das partes, ou  sobressair-se sobre a miséria do outro, da parte de quem a oferece.

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG