sexta-feira, 9 de maio de 2025

Estamos contigo!

                                               


Estamos contigo! 

"Já não vos chamo servos,
porque o servo não sabe o que seu senhor faz;
mas vos chamo amigos, 
porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer." (1)

Faz tempo que não te vejo sorrir,
Há tempo não ouço tua voz.
Parece que mergulhou no aparente silêncio para sempre.
Quando voltará o sorriso e poderei te ouvir?
 
Mas tenha certeza, saberei esperar,
Porque amigos compreendem o tempo do outro,
Ainda que minha alma fique inquieta
Na espera de um sinal, tudo há de passar.
 
Por ora, fico em vigilância necessária,
Mãos para os céus suplicantes,
Na esperança de que, como o incenso,
Subam e alcancem a escuta divina.
 
Ainda que tuas dores sejam cortantes,
Não tão potentes que possam se eternizar.
Ainda que alma em dor dilacerante,
Deus, em Sua infinita bondade, a dor há de amenizar.
 
Haverá novo luminoso amanhecer,
Estou contigo, ainda que não me veja,
No recolhimento da minha oração,
O brilho em teu olhar voltará a resplandecer.
 
Estou contigo amigo, conte comigo,
Em momentos tranquilos, ou em turbulentos.
E Ele também conosco está, em todo o tempo.
Ele que nos chama não de servos, mas de amigos. Amém.
 

 

(1)  João 15,15

O fascinante encontro com o Ressuscitado

                                                                  

O fascinante encontro com o Ressuscitado

Na sexta-feira da 3ª semana do Tempo da Páscoa, ouvimos a passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos (At 9,1-20).

O “nascimento” de Paulo para o cristianismo, como testemunha e enviado de Jesus Cristo acontece nas dores do parto da Igreja primitiva, que sai das estruturas e instituições judaicas para se aventurar nas estradas do mundo dos povos.

Paulo não conviveu pessoalmente com Jesus de Nazaré, não participou das Suas idas e vindas missionárias pela Judeia, Galileia e Samaria, não presenciou nenhum milagre realizado por Ele.

Mas, a partir daquela inesquecível interpelação, quando se dirigia a Damasco: "Saulo, Saulo, por que me persegues?", sentiu-se abraçado por Jesus, a ponto de fazer sua opção radical por Ele: "que queres que eu faça?" (At 9, 4-6).

A experiência de Damasco (cerca de 200 km de Jerusalém) foi decisiva em determinar a direção de seu pensamento.

A “conversão” é descrita em Atos 9, 1-30; 22-5-16; 26,9-18.

Paulo fez uma experiência interna da verdade de Jesus. Ele experimentou dentro dele mesmo, por graça de Deus, que Jesus existia, estava vivo e não era uma fraude. 

Algo muito forte aconteceu na vida e Paulo naquele momento. Ele sentiu por dentro a presença de Jesus e a Ele entregou-se. Não tinha outro jeito. Ali estava Jesus vivo! O Messias vindo de Nazaré, enviando-o a anunciar o Evangelho aos pagãos.

Ser discípulo (a) nasce pelo fascínio do encontro pessoal com Cristo ressuscitado, e São Paulo aparece como modelo ímpar de apóstolo no amor e no seguimento de Jesus.

A experiência do encontro pessoal com Cristo tocou fundo a pessoa de Paulo, provocando nele a “conversão” e o compromisso inadiável com o anúncio explícito do Evangelho: "Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho" (1Cor 9, 16).

Desde aquele momento, Paulo pôs todas as suas energias a serviço exclusivo de Jesus Cristo e de Seu Evangelho: ele se definirá como: "Apóstolo por vocação" (Rm 1, 1; 1Cor 1, 1); "Apóstolo por vontade de Deus" (2Cor 1, 1; Ef 1, 1; Cl 1, 1), um Apóstolo que quer "fazer-se tudo a todos", sem reservas (1Cor 9, 22).

Em sua primeira pregação, encontrou a hostilidade dos judeus, que o perseguiram pelo resto de sua vida; então foi considerado, e o seria a seguir: o grande renegado.

Foi provavelmente depois de sua fuga de Damasco que retornou a Jerusalém pela primeira vez, desde sua partida como perseguidor dos cristãos, e ali encontrou os Apóstolos (Gl 1,18-19).

Paulo o “convertido” torna-se protótipo e pregador da conversão diante dos judeus e dos pagãos. Desse momento em diante, ele passa para o campo dos que são perseguidos e ameaçados de morte por causa da fé em Jesus Cristo.

Nesse contexto se explica a tentativa de linchamento por parte dos judeus no templo de Jerusalém: “É por isso que os judeus me perseguiram e tentaram matar-me” (At 26,21). 

Paulo, o “perseguidor” dos seguidores de Jesus, se torna o “perseguido” por parte dos judeus, e ele mesmo diz:

“Sou agradecido para com Aquele que me deu força, Cristo Jesus, Nosso Senhor, que me julgou fiel, tomando-me para o Seu serviço, a mim que outrora era blasfemo, perseguidor e insolente. Mas, obtive misericórdia, porque agi por ignorância, na incredulidade. Superabundou, porém, para mim, a graça de Nosso Senhor, com a fé e o amor que há em Cristo Jesus” (1Tm 1,12-14).

Portanto, a graça na teologia paulina é expressão da doação, ação, benefícios concedidos em transbordamento; gera e edifica.

Tenhamos também nós a "fineza paulina", na conquista das almas e dos corações. Olhemos para Paulo e procuremos reproduzir em nossa ação evangelizadora o que ele confessa:

"De modo nenhum considero a minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu leve a bom termo a minha carreira e realize o ministério que recebi do Senhor Jesus: Testemunhar a Boa-Nova da graça de Deus" (At 20,24).

Em poucas palavras...

                                                       


A luz da fé

“Por isso, urge recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor...

Ora, para que uma luz seja tão poderosa, não pode dimanar de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve porvir em última análise de Deus...

É precisamente desta luz da fé que quero falar, desejando que cresça a fim de iluminar o presente até se tornar estrela que mostra os horizontes do nosso caminho, num tempo em que o homem vive particularmente carecido de luz.” (1)

 

(1) Carta Encíclica “Lumen Fidei” – Papa Francisco (2013) – parágrafo 4

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Rezando com os Salmos - Sl 40 (41)

 


Em Deus, toda confiança e esperança


–1 Ao maestro do coro. Salmo de Davi.

–2 Feliz de quem pensa no pobre e no fraco:
o Senhor o liberta no dia do mal!
=3 O Senhor vai guardá-lo e salvar sua vida,
o Senhor vai torná-lo feliz sobre a terra,
e não vai entregá-lo à mercê do inimigo.

–4 Deus irá ampará-lo em seu leito de dor,
e lhe vai transformar a doença em vigor.
–5 Eu digo: 'Meu Deus, tende pena de mim,
curai-me, Senhor, pois pequei contra vós!'

–6 O meu inimigo me diz com maldade:
'Quando há de morrer e extinguir-se o seu nome?'
=7 Se alguém me visita, é com dupla intenção:
recolhe más notícias no seu coração,
e, apenas saindo, ele corre a espalhá-las.

–8 Vaticinam desgraças os meus inimigos,
reunidos, sussurram o mal contra mim:
–9 'Uma peste incurável caiu sobre ele,
e do leito em que jaz nunca mais se erguerá!'
–10 Até mesmo o amigo em quem mais confiava,
que comia o meu pão, me calcou sob os pés.

–11 Vós ao menos, Senhor, tende pena de mim,
levantai-me: que eu possa pagar-lhes o mal.
–12 Eu, então, saberei que Vós sois meu amigo,
porque não triunfou sobre mim o inimigo.
–13 Vós, porém, me havereis de guardar são e salvo
e me pôr para sempre na Vossa presença. –

–14 Bendito o Senhor, que é Deus de Israel,
desde sempre, agora e sempre. Amém!”
 

O Salmo 40(41) é a prece de um enfermo, que deposita em Deus toda a sua confiança e esperança:

“Quem ama o pobre é recompensado pelo auxílio permanente de Deus, mesmo tendo de passar por experiências dolorosas como a doença, o abandono dos inimigos e o desprezo dos inimigos.” (1)

Esta realidade vivida pelo salmista, remete-nos à experiência vivida por Jesus, quando faz a profecia da traição de um dos seus:

“Ao cair da tarde, Ele foi para lá com os Doze. E quando estavam à mesa, comendo, Jesus disse: ‘Em verdade vos digo: um de vós que come comigo há de me entregar’” (Mc 14,17-18).

Ainda que não vivamos tal experiência, podemos também passar por semelhante, e a mesma atitude devem marcar nossa vida como discípulos do Senhor: em Deus colocar toda a nossa confiança e esperança, pois Ele jamais desvia de nós o Seu olhar, se na fidelidade e reta conduta nos mantivermos. Amém.



(1) Comentário da Bíblia – Edições CNBB – pág. 761

 

Em poucas palavras...

                                          


Maria, imagem puríssima da esperança

“Pelos profetas, Deus forma o seu povo na esperança da salvação, na expectativa duma aliança nova e eterna, destinada a todos os homens (Is 2,2-4), e que será gravada nos corações (Jr31,31-34; Hb 10,16). 

Os profetas anunciam uma redenção radical do povo de Deus, a purificação de todas as suas infidelidades (Ez 36), uma salvação que abrangerá todas as nações (Is 49,5-6; 53,11).

Serão sobretudo os pobres e os humildes do Senhor (Sf 2,3) os portadores desta esperança. As mulheres santas como Sara, Rebeca, Raquel, Míriam, Débora, Ana, Judite e Ester conservaram viva a esperança da salvação de Israel. Maria é a imagem puríssima desta esperança (Lc 1,38).” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 64

“Lumen Fidei” – Introdução

                                                  


“Lumen Fidei” – Introdução

Com a Carta Carta Encíclica “Lumen Fidei” (A Luz da Fé) de nosso querido Papa Francisco (2014), temos uma valiosa contribuição para que aprofundamento da Fé.

Como ele mesmo disse, a Encíclica já estava quase concluída pelo então Papa Bento XVI, assumindo-a integralmente.

Nas primeiras páginas, nos apresenta o Cristo Ressuscitado, a estrela da manhã que não tem ocaso. Vê-Lo e n’Ele acreditar, é ver com uma luz que ilumina todo o percurso da estrada, ao contrário de afirmar que seja uma luz ilusória.

A fé não é uma ilusão de luz, que impeça o caminho de homens livres rumo ao amanhã, muito pelo contrário. Também não pode ser entendida como um salto no vazio, que fazemos por falta de luz e impelidos por um sentimento cego, ou ainda como luz subjetiva, que consola, mas não pode ser proposta de forma objetiva e comum para iluminar o caminho.

A Carta acena para a urgência de se recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, que chama de “luz grande”, não se contentando com pequenas luzes que iluminam por breves instantes, mas insuficientes para desvendar a estrada a ser percorrida.

A luz da fé ilumina toda a existência humana, quando brota do encontro pessoal com o Deus vivo, que nos chama e nos revela o Seu Amor: “Amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida” (n.4).

A fé “é luz que vem do futuro, que descerra diante de nós horizontes grandes e nos leva a ultrapassar o nosso ‘eu’ isolado abrindo-o à amplitude da comunhão” (n.4). A fé ilumina o presente, como estrela que mostra os horizontes de novos caminhos.

Citando um pequeno diálogo contido na Ata dos Mártires, em que o cristão Hierax responde ao prefeito romano Rústico acerca de seus pais – “O nosso verdadeiro Pai é Cristo, e nossa Mãe é a fé n’Ele”. É Mãe porque faz vir à luz, gerando neles a vida divina, uma nova experiência, uma visão luminosa da existência, pela qual eram prontos para dar testemunho até o fim.

Deste modo, a fé deve ser nutrida e revigorada, porque enriquece a existência humana em todas as suas dimensões.

Finalizando a introdução, apresenta-nos Jesus, a Palavra encarnada, e o Espírito Santo que nos transforma e ilumina o caminho do futuro e faz crescer as asas da esperança, para que percorramos com alegria, no testemunho da fé e caridade.

As virtudes teologais (interligadas) constituem no dinamismo da vida cristã rumo à plena comunhão com Deus.

Lumen fidei – Capítulo I

Lumen fidei – Capítulo I

“Acreditamos no amor” (cf. 1 Jo 4, 16)

Neste capítulo, o Papa inicia apontando para a fé que nos desvenda o caminho e nos acompanha nos passos da história.

Apresenta-nos Abraão como o pai da fé, aquele que não viu Deus, mas acreditou na Sua voz. De modo que, a fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um “Tu”, Deus, que nos chama pelo nome. Assim foi com Abraão.  

A fé está ligada à escuta, e, como memória do futuro, está intimamente ligada com a esperança.   A fé acolhe a Palavra de Deus como rocha segura, sobre a qual se pode construir com alicerces firmes.

É preciso ser fiel a Deus, porque Deus é fiel a nós. Enriquecedora citação de Santo Agostinho ele apresenta: “O homem fiel é aquele que crê no Deus que promete; o Deus fiel é aquele que concede o que prometeu ao homem” (n.10).

Discorre por várias páginas a experiência de fé do Povo de Deus, uma história marcada por fidelidade e infidelidade, adoração e idolatria, mas o Amor divino sempre se faz presente como um pai que conduz o filho pelo caminho.

A idolatria se contrapõe à verdadeira fé. De um lado a “fé pede para se renunciar à posse imediata que a visão parece oferecer; é um convite para se abrir à fonte da luz, respeitando o Mistério próprio de um Rosto que pretende revelar-Se de forma pessoal e no momento oportuno”, de outro a idolatria. Citando o rabino Kock, a idolatria é “quando um rosto se dirige reverente a um rosto que não é rosto” (n. 13).

O ídolo coloca-se a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. Ela por sua vez conduz ao politeísmo e não oferece um caminho seguro, mas veredas, introduzindo-nos como que num labirinto. Produz um movimento dispersivo.

A fé, como dom gratuito, por sua vez, é voltar-se para Deus num encontro pessoal.  Acreditar é “confiar-se a um Amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa; que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar-se pela chamada de Deus” (n.13)

Em Jesus Cristo se revela a plenitude da fé cristã, por isto todas as linhas do Antigo Testamento se concentram em Cristo.

Ele é a intervenção definitiva de Deus, a suprema manifestação do Amor de Deus por nós. Deste modo, a fé cristã é a fé no Amor pleno, no Seu poder eficaz, na Sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo. (n. 150), e a hora da Cruz se constituiu no momento culminante do olhar da fé (n.16).

Pela fé, sabemos que Deus Se tornou muito próximo de nós, transformando-nos e em nós habitando, iluminando a origem e o fim da vida. Assim, abrir-se à fé é deixar-se transformar pelo Amor e alargar o horizonte da esperança.

Na Cruz revela-se o Amor inabalável de Jesus por nós.  Este Amor não subtraiu a morte, mas penetrou na morte para nos salvar. (n. 16).  Por isto, Jesus, “perito nas coisas de Deus”, é Aquele que nos explica Deus (1 Jo 18).

Crer, acolher, confiar, aderir e seguir o Senhor, é o itinerário da fé em Deus revelado por Jesus, que Se fez próximo e entrou em nossa história. Por isto, a nova lógica da fé centra-se em Cristo.
A vida na fé se constitui, portanto, no reconhecimento do dom originário e radical, que se encontra na base de nossa existência (n. 19).  E a Salvação pela fé, por sua vez, é o reconhecimento do primado do dom Deus como graça.

No final do capítulo nos apresenta a forma eclesial da fé: A fé se vive em comunhão, em comunidade. É inconcebível viver a fé isoladamente. A fé nos insere no Corpo de Cristo, no qual professamos a nossa fé.

Excluída a possibilidade da concepção individualista da fé, ela nos leva à comunhão e ao anúncio. Portanto, se torna operativa, transformando-se em luz para os olhos de quem a possui.



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