domingo, 13 de abril de 2025

Em poucas palavras...

                                                              

 

Quem nos ama tanto assim? 

“Doente, nossa natureza precisava de ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser ressuscitada. 

Havíamos perdido a posse do bem; era preciso no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz; cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um libertador. 

Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a Deus, a ponto de fazê-Lo descer até à nossa natureza humana para visitá-la, uma vez que a humanidade se encontrava em estado tão miserável e infeliz?”.(1)

 

 

(1)Bispo São Gregório de Nissa (séc. IV)

 

Se não é culpa de Deus, de quem é?

                                                           

Se não é culpa de Deus, de quem é?

Esta reflexão aborda uma questão existencial.
Quem nunca ouviu expressões como estas:
“A culpa é de Deus”
“Deus é culpado”
“Que culpa tenho eu”?
“Quem é o culpado”?
“O que fiz para merecer este castigo?”
“Será que joguei pedra na Cruz?”
“Por que Deus permitiu a morte de...”
“Se Deus existe, por que tal fato aconteceu?”
“Se Deus existisse mesmo e tivesse poder tais coisas não aconteceriam...”

E outras expressões infelizes somar-se-iam a estas, exatamente porque muitas vezes temos a construção da imagem de Deus que não corresponde ao Deus vivo e verdadeiro que as Sagradas Escrituras nos apresentam...

Atribuir certas fatalidades a Deus leva-nos a construção de imagens de um Deus cruel, indiferente e insensível às nossas dores, surdo aos nossos clamores!

Atribuir certas catástrofes à inoperância de Deus leva-nos a não perceber a nossa participação para que algumas coisas possam acontecer: Intervenções abruptas na natureza, sem levar em conta as reais consequências, por exemplo, não ficam sem respostas, como constatamos inúmeras vezes...

Muitas colheitas amargas que fazemos não foi Deus quem plantou suas sementes foi, muitas vezes, nossa pouca inteligência e mau uso da liberdade que não tomou consciência das eventuais consequências...

Ver fatos tristes, partidas repentinas de quem amamos como castigo é uma das piores distorções da imagem de Deus que jamais se comprazeria com nossas dores, lamentos, tormentos e crudelíssimos sofrimentos...

Amar o Deus bíblico, não nos impede de carregar a cruz, ao contrário, ela nos foi proposta para o seguimento. Cruz não como sinal de derrota, mas como sinal daqueles que na força de Deus confiam; força que se manifestou no Amor que nos amou até o fim!

A vida consiste, muitas vezes, no carregar de cruzes próprias, ou na solidariedade no carregar cruzes de nosso próximo...

Finalmente, se algum fato nos interroga e nos deixa inquietos, compreende-se, mas atribuir culpa a Deus é não conhecer Seu Amor; é não ter relacionamento profundo e sincero com Aquele que nos ama e nos quer bem, e com certeza, por isto não escuta as heresias que procedem de nossos lábios, porque procedem de um coração vazio, que do Seu Amor não se preencheu, por isto jamais transbordou... Afinal a boca fala do que o coração está cheio...

Não procurar culpados, muito menos a Deus culpar: silenciar, refletir, converter-se, crescer, amadurecer... e ao Deus de Amor dobrar-se, submeter-se.

Mergulhar nossa mente nos Seus Mistérios e não ter a pretensão de envolver o Sublime Mistério de Amor em nossa limitada mente e às vezes tão pequeno espaço de nosso coração...

Que o Amor de Deus dilate nosso coração, que o Seu Espírito ilumine nossas mentes para que menos ingratos sejamos e tantas infidelidades não cometamos!

Esta reflexão pretende levar a revisão da imagem de Deus que possuímos. Tendo Deus nos criado à Sua imagem, criamos inúmeras imagens Suas. Aqui um gravíssimo problema!

Enriquecerei com comentários edificantes e que nos façam mais sujeitos e a Deus mais confiantes!

Agora o caminho está aberto. Que sejamos mais responsáveis pelo que fazemos. Antes de buscar culpados, assumir cada fato, cada momento...

As podas, ainda que doloridas, são necessárias para que as flores e os frutos se multipliquem.

Há coisas que acontecem que são aparentes perdas sem retorno. Enganamo-nos. Nem a morte é perda final, porque o abismo sepulcral, pela Morte e Ressurreição do Senhor, foi iluminado.

Mais do que respostas aos “por quês”, contemplação e amadurecimento com os mesmos.

Mais do que interrogações para Deus, acolhida de Sua Resposta Maior: O próprio Filho que nos amou e ama, que por nós na Cruz morreu e nos reconciliou e o Amor se eternizou:

“Deus amou tanto o mundo que nos deu
O Seu Filho único para que quem n'Ele crer não morra,
mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

O que mais Deus poderia ter feito por nós?

Caminhamos com Jesus (Domingo de Ramos - Ano C)

Caminhamos com Jesus

Naquele Domingo, Ele me levou ao deserto,
E pude ver Seu combate contra Satanás.
Por três vezes, eu O vi vencer,
Sem ceder às tramas diabólicas;
Com suas palavras “doces” e enganadoras,
Aparentemente, a felicidade realizar, porque “promissoras”.

Eu O vi vencer a tentação da abundância, da dominação e da fama.
Ensinou-me que também somos chamados o mesmo  fazer.
Temos também nossos combates diabólicos cotidianos,
E não estamos livres da tentação de tudo e muito ter,
De poder possuir, e dele, mau uso fazer, e tirânicos, outros fazer sofrer.
Da fama, prestígio e abuso das coisas divinas, amargo sabor.

No Domingo seguinte, dirigiu-Se ao Monte Tabor, 
Com Pedro, João e Tiago, em oração Se retirou.
Lá, no Monte, o acontecimento mais que memorável:
A Sua maviosa Transfiguração: Seu rosto radiante, roupas brilhantes.
As presenças testemunhais qualificadas de Moisés e Elias.,
Cumpriu e cumpre-se n’Ele, Jesus, a Lei e a Profecia.

A Transfiguração experimentada e depois lembrada
Afastaria o escândalo da aparente derrota do Senhor na Cruz.
No Mistério de dor e morte de Jesus Cristo, por amor,
Os discípulos serão testemunhas de que Ele Ressuscitou, e é nosso Senhor.
E assim, o mesmo haveremos de fazer até o fim dos tempos:
Testemunhar que o Amor do Pai, O glorificou, O Ressuscitou.

Mais um Domingo, e o Senhor nos revela dulcíssima verdade:
Deus é paciente e misericordioso conosco, Suas criaturas.
Ainda que fixemos tendas nos lamaçais do pecado e morte,
Deus não desiste de nós, e nos quer com Ele reconciliados.
Por isto, nos disse o Senhor, com palavras tão penetrantes:
“Mas, se não converterdes, morrereis todos do mesmo modo” (Lc 13,5).

Somos como uma figueira, na vinha do Senhor plantada,
Que precisa ser permanentemente cultivada e adubada.
Também o chão de nosso coração lavrar com o arado da Cruz,
Para que, como frondosa figueira, frutos saborosos
De amor, verdade, justiça e paz, produzir,
Na fidelidade à Palavra Divina, Sua luz reluzir.

É bom estar com o Senhor! E assim, em mais um Domingo,
O encontro dos encontros no Banquete da Eucaristia.
Ele, diante da crítica por comer com pecadores e publicanos,
Como que num magnífico mosaico da misericórdia,
Fala-nos na Parábola do filho pródigo, ou do pai misericordioso,
Que Deus, Seu Pai de amor, está sempre nos esperando de volta.

Não se pode ouvir a Parábola e ficar indiferente.
Parábola questiona, desinstala, provoca, pede conversão.
Se parecidos com o pai, misericordiosos seremos.
Se com o filho mais novo, reconhecedores de nossa miséria
E sedentos do perdão, da misericórdia divina, à “casa”, voltamos.
Se com o filho mais velho: legalismo, fechamento e muito mais...

No último Domingo, mais um encontro memorável,
Com Aquele que um dia encontramos, e nossa vida mudou,
Novo sentido conferiu e todos os horizontes alargou.
Diante da pecadora adúltera surpreendida em adultério,
Revelou a hipocrisia dos que condenam e matam,
Com “pedras” da maldade tirânica, diante de quem pecou.

Foi o mais belo encontro da Misericórdia com a miséria,
Miséria que sou e que todos somos. Reconheçamos.
Somente Ele tem Palavras de vida eterna,
E pode nossos pecados perdoar, as feridas abertas
De nossa alma, até mais que as do corpo, curar.
Jesus Cristo, Verdadeiramente Homem, Verdadeiramente Deus.

Ansiosos estávamos com a chegada do Domingo:
O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor.
Ele conosco quis mais uma vez se encontrar.
Acolhemos o Messias, e proclamamos pelas ruas:
“Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!
Paz no céu e glória nas alturas” (Lc 19,38).

Iniciamos, com Ele, a grande Semana,
A Semana Santa, que nos convida,
Passo a passo, com Ele caminhar,
Cada momento, piedosamente celebrar,
Vivenciar com intensidade o Tríduo Pascal.
Ele será o Vencedor do amor sobre o ódio,
Bem como do bem sobre o mal.

A vida vencerá a morte.
O amor de Deus falou e falará como sempre mais alto.
Deus tem e terá sempre a última palavra. Amém.

Celebremos a Semana Santa: a Semana Maior (Domingo de Ramos ) Ano C

                                                  

Celebremos a Semana Santa: a Semana Maior

A Semana Santa ou Semana Maior é por excelência Santa, pois é consagrada à celebração anual da Páscoa do Senhor, quando fazemos a memória solene do Mistério central da fé da vida da Igreja: Cristo morto e ressuscitado para a Salvação do mundo inteiro.

Iniciamos com o “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor”, com procissão e ramos na mão, aclamando-se Jesus Cristo, Rei do Universo, vencedor do pecado e da morte.

Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, temos o tom da Semana Maior, e assim, a assembleia cristã vai ao encontro do Senhor, aclamando-O como Rei do universo.

Apesar da entrada triunfal em Jerusalém, começa a dura caminhada da Cruz, que se percorre seguindo os passos do Servo de Deus, que, por amor, foi fiel até o fim, na doação e entrega de Sua vida, culminando em Sua crudelíssima morte.

Mas cremos que, após Sua Morte, por Deus, foi elevado acima de todas as coisas, recebeu “o Nome que está acima de todos os nomes; para que todos, ao Nome de Jesus se ajoelhem nos Céus, na terra e nos infernos. E toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai’ (Fl 2,9-11).

É fundamental que vivamos intensamente esta Semana, meditando o Mistério do Amor de Deus testemunhado por Jesus, que carregou nossos pecados sobre a Cruz, e também por nossos pecados, foi levado sobre a Cruz: ‘Ele foi castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades’ (Is 53,5; 1Pd 2,24).

Para continuarmos nossa meditação sobre a Semana Maior e o Mistério da Paixão do Senhor, retomo um trecho da reflexão de Raniero Cantalamessa, que nos convida a fazer nossa identificação para bem celebrar a Semana Santa:

“A Davi, que furioso procurava o responsável pelo crime que lhe fora contado por Natã, o profeta respondeu: ‘Tu és esse homem’ (2 Sm 12,7).

A mesma coisa a Palavra de Deus responde a nós que perguntamos quem fez morrer a Jesus: tu és aquele homem! Judas que trai; Pedro que renega, Pilatos que se lava as mãos, o povo que se aquece ao fogo conversando de ninharias, os soldados que dividem avidamente a túnica do condenado, os ladrões que mataram, mas estão aí sozinhos: atrás deles há multidões e lá estamos nós também...

Cabe a nós escolher com que atitude queremos entrar na história da Paixão de Cristo: com a atitude de Cireneu, que se coloca ao lado de Jesus, ombro a ombro, para carregar com ele o peso da cruz; com a atitude das mulheres que choram, do centurião que bate no peito e de Maria que fica silenciosa ao pé da cruz; ou se queremos entrar com a atitude de Judas, de Pedro, de Pilatos e daqueles que ‘olham de longe’ para ver como irá terminar aquele episódio” (1)

Oremos:

“Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador Se fizesse homem e morresse na Cruz. Concedei aprender o ensinamento da Sua Paixão e Ressuscitar com Ele em Sua glória. Por N.S.J.C. Amém!


(1) O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria - 2013 -  pp.800-801

Uma súplica diante dos sinais de morte… (Domingo de Ramos) (Ano C)

Uma súplica diante dos sinais de morte…

Com o Domingo de Ramos iniciamos a Semana Santa e com toda a Igreja mergulharemos nas profundezas das entranhas da Misericórdia Divina.

Trata-se de um tempo de maior sensibilidade diante dos sinais de morte, para os transformarmos em sinais de vida, vivendo Mistério da Páscoa.

Supliquemos, portanto,  para que Deus nos dê um olhar:

- de ternura e compaixão, que se alimenta na força renovadora de Sua Ressurreição;

-  de partilha e solidariedade, para que fortaleça a corrente inquebrantável da fraternidade;

-  de serenidade e confiança, que vislumbra alegres sinais de esperança;

-  de ousadia e profecia para não nos curvarmos diante dos temores de cada dia.

Peçamos a Deus:

- uma escuta sintonizada e atenta, que capta os clamores de realidades cruentas;

- uma escuta aliada à sabedoria para promover apenas sinais de vida, paz e alegria;

- humildade e mansidão de coração, para que se alargue a sensibilidade e a compaixão.

Tenhamos a graça da ação de Deus que:

- cuida das nossas cordas tênues do coração, para que suporte os espinhos sem choro ou lamentação!

- coloca a palavra certa, em nossa boca e que nossos lábios sejam possuidores de fagulhas de santos pensamentos sábios, para proclamarmos palavras que  restituam a quem as ouve esperança e alegria;

- firma nossos pés nesta árdua caminhada, a fim, de que não esmoreça diante das cruzes pesadas.

Que jamais nos cansemos do caminhar de fé, nutrido d’Aquele que está presente no Pão e no Vinho, com as mãos fortalecidas, prontas e estendidas e para as mais enfraquecidas.

Jamais nos cansemos de abri-las para quem delas mais precisa, oferecendo o que de melhor se possui, pois é isto o que se eterniza!

Acolhamos e agradeçamos a quem cumpre o que promete e atende a todo aquele que pede: Obrigado Senhor!

Tomemos nossa cruz de cada dia e sigamos o Senhor (Domingo de Ramos) (Ano C)

Tomemos nossa cruz de cada dia e sigamos o Senhor

Com a Celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, iniciamos a Semana Santa, uma semana de intensa e profunda oração para os cristãos.

Como que num longo retiro espiritual, acolher, aclamar, caminhar com Jesus; vivificar a nossa fé, revigorar a nossa esperança e fortalecer a caridade, que nos impele no testemunho de Cristo Glorioso, Ressuscitado.

A Semana Santa é um convite ao mergulho na misericórdia divina, vivendo uma vida nova, marcada por atitudes de amor, serviço, entrega da vida, numa doação incondicional e total, na prática das virtudes corporais e espirituais, a saber:

Obras de misericórdia corporais:
1ª Dar de comer a quem tem fome;
2ª Dar de beber a quem tem sede;
3ª Vestir os nus;
4ª Dar pousada aos peregrinos;
5ª Assistir aos enfermos;
6ª Visitar os presos;
7ª Enterrar os mortos.

Obras de misericórdia espirituais:
1ª Dar bom conselho;
2ª Ensinar os ignorantes;
3ª Corrigir os que erram;
4ª Consolar os aflitos;
5ª Perdoar as injúrias;
6ª Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo;
7ª Rogar a Deus por vivos e defuntos.
(Catecismo de S. Pio X. - Capítulo IV - "Das obras de misericórdia")

Semana Santa bem celebrada, leva-nos a reassumir o Projeto do Reino pelo qual Jesus deu a Sua vida: o amor aos pequenos, aos pobres, contra tudo o que fere e elimina a vida.

Saciados e envolvidos pelo infinito amor de Deus, sermos testemunhas vivas e credíveis deste mesmo amor, opondo-nos a todos os sinais de morte, por amor, para que a vida esteja em nós.

Façamos desta semana uma semana diferente, a Semana Maior, uma Santa Semana Santa, marcada pelo recolhimento, silêncio, reflexão, aprofundamento espiritual à luz da Palavra de Deus para maior fidelidade, e assim trilharmos o caminho da autêntica felicidade.

Tomemos nossa cruz de cada dia, sigamos atrás de Jesus até o fim, para que sejamos merecedores da eternidade. Amém.

“Deus amou tanto o mundo...” (Domingo de Ramos)

                                                           


“Deus amou tanto o mundo...”

Com a Liturgia do Domingo de Ramos, iniciamos a Semana Santa, contemplando a imensidão do Amor de Deus por nós, não poupando o próprio Filho – “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

Neste contexto, acolhamos o Tratado sobre a fé de Pedro, do Bispo São Fulgêncio de Ruspe, século IV.

“Os sacrifícios das vítimas materiais, que a própria Santíssima Trindade, Deus único do Antigo e do Novo Testamento, tinha ordenado que nossos antepassados lhe oferecessem, prefiguravam a agradabilíssima oferenda daquele sacrifício em que o Filho unigênito de Deus feito carne iria, misericordiosamente, oferecer-Se por nós.

De fato, segundo as palavras do Apóstolo, Ele Se entregou a Si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor (Ef 5,2). É Ele o verdadeiro Deus  e o verdadeiro sumo-sacerdote que por nossa causa entrou de uma vez para sempre no santuário, não com o sangue de touros e bodes, mas com o Seu próprio Sangue. Era isto que outrora prefigurava o sumo-sacerdote, quando, uma vez por ano, entrava no santuário com o sangue das vítimas.

É Cristo, com efeito, que, por Si só, ofereceu tudo o quanto sabia ser necessário para a nossa redenção; Ele é ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício, Deus e templo. Sacerdote, por quem somos reconciliados; sacrifício, pelo qual somos reconciliados; templo, onde somos reconciliados; Deus, com quem somos reconciliados. Entretanto, só Ele é o sacerdote, o sacrifício e o templo, enquanto Deus na condição de servo; mas na Sua condição divina, Ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo.

Acredita, pois, firmemente e não duvides que o próprio Filho Unigênito de Deus, a Palavra que Se fez carne, Se ofereceu por nós como sacrifício e vítima agradável a Deus. A Ele, na unidade do Pai e do Espírito Santo, eram oferecidos sacrifícios de animais pelos patriarcas, Profetas e sacerdotes do Antigo Testamento. E agora, no tempo do Novo Testamento, a Ele, que é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, a santa Igreja Católica não cessa de oferecer em toda a terra, na fé e na caridade, o sacrifício do pão e do vinho.

Antigamente, aquelas vítimas animais prefiguravam o Corpo de Cristo, que Ele, sem pecado, ofereceria pelos nossos pecados, e Seu Sangue, que Ele derramaria pela remissão desses mesmos pecados. Agora, este sacrifício é ação de graças e memorial do Corpo de Cristo que Ele ofereceu por nós, e do Sangue que o mesmo Deus derramou por nós. A esse respeito, fala São Paulo nos Atos dos Apóstolos: Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com o Sangue do Seu próprio Filho (At 20,28). Antigamente, aqueles sacrifícios eram figura do dom que nos seria feito; agora, este sacrifício manifesta claramente o que já nos foi doado.

Naqueles sacrifícios, anunciava-se de antemão que o Filho de Deus devia sofrer a Morte pelos ímpios; neste sacrifício anuncia-se que Ele já sofreu essa morte, conforme atesta o Apóstolo: Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado (Rm 5,6). E ainda: Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela Morte do Seu Filho (Rm 5,10).”

Contemplemos o Amor que por nós Se doa e Se entrega na crudelíssima Morte de Cruz, para nos ensinar o Caminho que nos conduz ao Pai. Fará da Cruz um sinal aparente de derrota, o caminho da nossa vitória, quando for Ressuscitado na madrugada das madrugadas, precedida pela noite sombria, da Sua descida à mansão dos mortos, para libertar os que jaziam na sombra da morte e todos quantos vierem a n’Ele crer.

Mergulhemos na compreensão do Mistério do Amor de Deus, da oferenda de Cristo por Amor de cada um de nós, Mistério que não compreendemos, Mistério de Amor que não merecemos.

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