segunda-feira, 7 de abril de 2025

A proximidade com o Senhor nos faz luminosos

 

                                      
A proximidade com o Senhor nos faz luminosos
       
Senhor Jesus, suave é a Vossa luz, extremamente boa, para nossos olhos, penetrantes, iluminai os mais sombrios caminhos que tenhamos que trilhar, até que possamos alcançar a luminosidade eterna, a plenitude de luz, em que, com Vossa Morte e Ressurreição, chegastes e um lugar nos prometestes.
 
É como contemplar um sol esplêndido, porque sem a luz o mundo não teria beleza, a vida não seria vida, e com Moisés, também dizemos: E Deus viu a luz e declarou-a boa, e nós temos a graça de Vos contemplar, a verdadeira e eterna luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo, o Redentor do  mundo, que, feito homem, quisestes  assumir ao máximo a nossa  condição humana.
 
Vós, que sois a luz do mundo, nos dissestes – “Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida” e ainda “Este é o juízo: a luz veio ao mundo” (Jo 8,12), e viestes para conviver com nossa pequenez e fragilidade, e não distanciastes de nossa enfermidade, e restituístes a vista aos cegos, fizestes os coxos andarem, os surdos ouvirem, limpastes os leprosos, aos mortos devolvestes a vida.
 
É um deleite vê-Lo com olhos espirituais e contemplarmos demoradamente Vossa simples e divina beleza, e pela união e comunicação convosco, tornar-nos luminosos, com o espírito banhado de doçura e revestido de santidade, com o dom do entendimento, vibrarmos de uma alegria divina todos os dias.
 
Exultemos com todos os juntos, diante de Vossa presença, que nos revela a face do Pai de Misericórdia, ternura e bondade, e  com os que trilham os retos caminhos, somemos nossos cantos e louvores para que subam mais fortes a Vós, que mereceis toda a honra, glória, poder e louvor! Amém!
 
PS: Livre Adaptação - Do Comentário sobre o Eclesiastes, do Bispo São Gregório de Agrigento, (Séc. VI). 
 


A confiança dos inocentes na ação divina

                                                         

A confiança dos inocentes na ação divina

Na segunda-feira da quinta semana do Tempo da Quaresma, ouvimos a passagem do Livro do Profeta Daniel (Dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62), que nos apresenta o testemunho de fidelidade da bela e jovem Suzana (origem do hebraico, que significa lírio, açucena).

Como bem sabemos, ela foi insidiada por dois juízes anciãos de Israel, no tempo do Exílio na Babilônia.

Trata-se de um relato fruto da mais fina psicologia, com uma notável tensão progressiva até ao ensinamento didático que se pretende transmitir: o triunfo da inocência sobre a maldade.

Quanto à sua redação, remonta provavelmente ao século I a.C., e reflete a polêmica contra os saduceus e as autoridades políticas e religiosas desse tempo.

Com a narração, vemos a condenação amarga e maldosa dos chefes perversos e mentirosos, afastados de Deus e indignos de sua missão como guias do povo.

A atitude confiante de Suzana no Senhor reflete a confiança dos pobres e pequeninos em Deus, que defende os inocentes e nunca os abandona, porque têm tão somente n’Ele a esperança.

Suas palavras: – “Prefiro cair nas vossas mãos sem ter feito nada, a pecar na presença do Senhor”, é o grito dos mártires Macabeus e a mais bela expressão dos seus heroicos sentimentos, séculos mais tarde.

A jovem, sem nenhum apoio humano, com a consciência inocente, conta com a intervenção de Deus na pessoa e palavras de Daniel, como nos revela a passagem.

Experimenta a intervenção divina, que sempre se manifesta de modo surpreendente, invertendo uma situação aparentemente irreversível.

Este relato bíblico remete a ontem, hoje e em todos os tempos àqueles que procuram manter viva a fé em sintonia com a vida, em absoluta confiança em Deus, mantendo firme esperança em Sua Palavra, que nos impele ao relacionamento profundo e fecundo de amor.

Concluindo, lembramos a passagem do Evangelho de João (Jo 8,1-11), sobre a pecadora surpreendida em adultério, e a ação misericordiosa em seu favor, desmascarando a hipocrisia dos escribas e fariseus, escondidos em sua falsidade.

Por sua atualidade, pode ser também uma página iluminadora para refletirmos sobre o sofrimento dos inocentes; as injustiças cometidas contra os pobres de todos os tempos; e de modo especial toda e qualquer forma de violência cometida contra a mulher, em sua pecaminosa expressão – o feminicídio.


Fonte de pesquisa:

Lecionário Comentado – Volume Quaresma-Páscoa - Editora Paulus - Lisboa – 2011 - pp. 232-233

Comentários à Bíblia Litúrgica – Gráfica Coimbra 2 – pp.681-682

domingo, 6 de abril de 2025

“Vá e não peques mais” (VDTQC)

                                                           

“Vá e não peques mais”

No 5º Domingo da Quaresma (Ano C), a Liturgia da Palavra da Santa Missa nos convida a nos pormos de pé, vivendo de maneira diferente, acolhendo a Palavra de Jesus que foi dirigida à pecadora surpreendida em adultério: “vai e não tornes a pecar”.

É o grande convite para fortalecermos o dinamismo de conversão que iniciamos com a Quarta-feira de Cinzas, voltando-nos para um Deus que nos ama e nos desafia a romper as escravidões que nos afastam de Seu Amor e nos colocando a caminho numa vida nova, até que alcancemos a Ressurreição.

A primeira Leitura (Is 43, 16-21) é uma passagem contida no “Livro da Consolação”, que retrata um contexto de exílio na espera de um novo êxodo (séc. VI a.C.).

O Povo de Deus não podia ficar ancorado numa fuga nostálgica do passado, tão pouco ficar inerte numa saudade que não levasse a uma nova realidade, menos ainda refugiar-se com medo do presente. A lembrança do passado somente é valida quando alimenta a esperança e prepara um futuro novo. Este só será possível quando o Povo de Deus se volta para Ele em fidelidade incondicional.

Deus, de fato, é um Deus libertador que não se conforma com qualquer escravidão que roube a vida e a dignidade do homem e da mulher, e nos acompanha e nos fortalece para que lutemos contra toda forma de sujeição.

A segunda Leitura (Fl 3,8-14) é uma pequena e densa passagem em que o Apóstolo Paulo exorta os fiéis da comunidade a jogar fora todo “lixo” que impeça a mais bela descoberta de Cristo, para se viver a comunhão e a identificação com Ele.

Paulo está preso e escreve esta Carta terna e afetuosa, com palavras de gratidão e exortação à fidelidade a Cristo Jesus, para que a comunidade não se desvie pela pregação dos falsos pregadores.

Somente Cristo importa. Conhecê-Lo numa intimidade de vida, viver em comunhão com Ele, assumir o mesmo destino para Ressuscitar para uma vida nova. É preciso se apaixonar por Cristo e Sua Palavra.

O episódio descrito na passagem do Evangelho (Jo 8,1-11) revela-nos um Deus de Misericórdia que age por meio do Filho, Jesus. 

O cenário de fundo nos coloca frente a uma mulher apanhada em adultério, e de acordo com o Levítico (Lv 20,10) e o Livro do Deuteronômio (Dt 22,22-24), a mulher devia ser morta (lapidada).

Aplicar a Lei ou não, eis a questão colocada para Jesus, que é posto em face à Lei e, ao mesmo tempo, em face de uma mulher adúltera.

Jesus não rejeita a Lei, pede tão apenas que escribas e fariseus se voltem para sua própria vida antes de olhar a mulher e de sentenciar a condenação.        

Que se vejam “no espelho” e também vejam quão pecadores também o são. E, assim, a partir dos mais velhos retiram-se.

A ação de Jesus diante da questão posta revela que a Misericórdia Divina não condena, não elimina, não julga e não mata.

A lógica divina é sempre a possibilidade de uma vida nova. De fato, o amor liberta, renova e gera esta vida nova que tanto ansiamos.

Embora nossa vida pareça, por vezes, um deserto árido, Deus se apresenta como a Fonte de Água Viva; por Seu Amor faz surgir um rio de Água Viva. A aridez do deserto é vitalizada pela intervenção divina, que nos acompanha e nunca desiste de nós, apesar de nossas infidelidades.

Somos interpelados a rever a lógica sobre a qual se organiza a sociedade, passando da eliminação sumária à reeducação e a reintegração daquele que pecou, ainda que o caminho pareça mais difícil, mais longo.

Somos desafiados a viver a lógica da misericórdia que é criativa. É preciso superar a lógica simplista - “errou, pagou...”. A lógica divina é infinitamente superior: “errou, dê conta do erro e não peques mais, e entre num caminho comunitário de conversão”.

Neste Tempo Quaresmal, somos convidados a rever também nossos pecados, e confessá-los diante da Misericórdia de Deus, sobretudo, através do Sacramento da Penitência.

Também convidados somos a cuidar melhor de nossos “telhados de vidro”, sem conivência com o pecado do outro, mas crendo que a Misericórdia Divina é a possibilidade de vida reconciliada, de vida nova para todos.

A alegria de Deus é a conversão do pecador. Deus abomina o pecado e ama o pecador. Ele não quer que ninguém se perca e naufrague no mar imenso de pecado.

É preciso que esvaziemos nossas mãos das pedras, sempre prontas para as lapidações sumárias do outro. Por vezes estas pedras se encontram em nossa língua e em nossos gestos, se nosso coração estiver cheio de rancores, ressentimentos, autossuficiência, soberba...

Libertemo-nos das pedras, revistamo-nos da Misericórdia Divina que em Cristo nos reconciliou e nos fez novas criaturas.

Caminhemos com Jeus, o rosto da misericórdia divina. Amém.

“A mísera e a misericórdia” (VDTQC)

                                  

 “A mísera e a misericórdia”

O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica “Misericordia et misera”, por ocasião do encerramento do Ano Santo da Misericórdia (2016), nos apresentou um trecho da passagem do Evangelho sobre a adúltera perdoada (Jo 8,1-11).

“Não podia encontrar expressão mais bela e coerente do que esta, para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao encontro do pecador: ‘Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia’”.

De fato, a autêntica misericórdia divina, que é sempre outra possibilidade de vida, e esta não condena, não elimina, não julga e não mata, ao contrário, acolhe, perdoa, reintegra, reorienta os passos, refaz rumos, pois sua lógica é de uma nova vida.

Assim como o Povo de Deus é sempre chamado a tomar consciência de seu pecado e construir um mundo novo, Paulo também experimentou a misericórdia de Deus por isto afirmou que Cristo é a nossa riqueza, tudo o mais é lixo (Fl 3,8-14).  

Como Paulo, quem descobrir a novidade de Cristo se apaixona pela novidade e por Sua pessoa. 

Somente Cristo importa! A eficácia salvadora é conhecer Jesus. E, conhecer no sentido bíblico, é entrar em comunhão de vida e de destino com Ele. 

Desta comunhão nasce uma nova pessoa, uma nova criatura. Nossa vida, como a do Povo de Deus, parece às vezes um deserto árido, mas Deus Fonte de Água Viva, por Seu Amor faz surgir um rio de Água Viva (Is 43,16-21).

A aridez do deserto é revitalizada pela intervenção divina que nos ama: a pecadora perdoada passou da aridez do deserto à experiência que a fez nova criatura.

O episódio do perdão concedido à pecadora nos coloca diante de duas possibilidades: a intransigência e a hipocrisia humanas, sempre dispostas a julgar e condenar ou a busca da misericórdia e sua prática, uma vez que somos imperfeitos e limitados. Todos possuímos telhado de vidro.

Evidentemente a misericórdia não é pacto com o pecado, mas resgate do pecador! A lógica da misericórdia é criativa e nos desafia. A dinâmica divina é a misericórdia, um amor que transforma. 

Por isto a lógica de Deus é infinitamente superior: "errou – dê conta do erro" – não peque mais e entre num caminho comunitário de conversão. A lógica humana é simplista: "errou – pagou" Não há possibilidade alguma de vida.

O Amor anunciado e testemunhado por Jesus, liberta, renova e gera uma nova vida. Amemos da mesma forma!

Reflitamos: 

- Qual a lógica que organiza a sociedade?
- A lógica da eliminação sumária ou a reeducação; reintegração daquele que pecou ou sua exclusão?

- Quais são os lixos que nos impedem de viver uma vida nova?
- Do que devemos nos desapegar para servir, a Jesus e Sua Igreja, com maior liberdade e entrega?

- Qual o grau de conhecimento, intimidade, apaixonamento nosso por Cristo?
- O que somos capazes de renunciar por amor a Jesus e a Sua Igreja?

- Quais são as realidades de pecado que somos chamados a abandonar, romper para alcançar uma vida nova, possibilitando-nos a verdadeira celebração da Alegria Pascal?

- Quais roupagens de hipocrisia e intolerância que devemos nos despir, para estarmos dignamente vestidos com os trajes do amor?
- Quais são as pedras que devemos soltar?

- Em quais situações devemos recolher a nossa língua, muitas vezes tão pronta para julgar e condenar? 

Sejamos enriquecidos por estes dois Comentários:

“A satisfação de lançar a pedra nos faz esquecer quem somos, nos liberta de nossa responsabilidade e do sentimento de culpa. Assim fazem-se campanhas contra a prostituição, para que as ruas estejam limpas; marginalizam-se os drogados, para que não possam censurar a nossa inutilidade. Fazem-se casas de correção, para dizermos a nós mesmos que fazemos o possível. Escondemos o espelho para não vermos mais o nosso rosto, e assim pensamos estar limpos”. (1)

“Mas não apenas esse farisaísmo em grande escala. A satisfação  de poder dizer que não somos como a vizinha, ou como o colega de trabalho, é coisa de todos os dias, ou como quando, voltando da Missa de domingo, olhamos com desconfiança para aquele que só tem recebido   da vida situações humilhantes ou que continua a pagar na solidão os erros de sua vida...”. (2)

Como Igreja, tenhamos a coragem de nos identificar com a pecadora. Como Igreja santa e pecadora que somos, suplicamos a Misericórdia Divina, para que purificada de todo pecado, purificada pelo eloquente Sangue de Cristo, na Cruz, derramado, vivendo intensamente o Batismo recebido, na fidelidade ao Espírito, coloque-se a serviço do Reino.

Há uma Oração Eucarística da Igreja que diz claramente que somos uma Igreja santa e pecadora! Reconheçamos nossos pecados, confiemos na Misericórdia Divina, empenhemo-nos por torná-la mais santa. A missão é de todos nós!

Oremos: 

“Concedei, ó Deus todo-poderoso, 
que sejamos sempre contados entre os membros de Cristo 
cujo Corpo e Sangue comungamos.
Por Cristo, Nosso Senhor.
Amém!” 

,

(1) Missal Dominical – Editora Paulus - pág. 243.
(2) Idem

Em poucas palavras... (VDTQC)

 

 


O encontro da mísera com a misericórdia

“Não podia encontrar expressão mais bela e coerente do que esta, para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao encontro do pecador: ‘Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia’”.

 

 

(1) Carta Apostólica “Misericordia et misera” – Papa Francisco  por ocasião do encerramento do Ano Santo da Misericórdia (2016), comentando a passagem do Evangelho sobre a adúltera perdoada (Jo 8,1-11).

 

Em poucas palavras... (VDTQC)

                                                      


Misericórdia divina: um crédito de confiança

“Pela misericórdia, o passado do homem pecador não mais existe; ele pode recomeçar tudo. Pode alguém sentir-se chocado com este contínuo falar de misericórdia e de perdão...

Deus não fecha os olhos com complacente paternalismo, mas abre novo crédito de confiança a nossas responsabilidades e dá a garantia de vencer o mal com bem. Renova assim no pecador a alegria de viver.” (1)

 

(1) Comentário do Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 222 - sobre a passagem do Livro de Miqueias (Mq7,14-15.18-20)

Reflexão apropriada para a passagem do Evangelho de João (Jo 8,1-11)

 

 

O surpreendente Amor de Deus - Ano C - (VDTQC)

O surpreendente Amor de Deus 

Quaresma, um longo e rico Itinerário Espiritual (ano C), a toda igreja, proposto:

1.º Domingo – Começamos com Jesus a caminhada pelo deserto para aprendermos com Ele a vencer as tentações de Satanás (ter, ser e poder);

2.º Domingo – Subimos com Jesus ao alto da montanha para escutá-Lo, como Filho Amado de Deus, e imediatamente descer à planície no compromisso com a paz;

3.º Domingo – Deus, em Sua infinita misericórdia, espera que, num caminho de conversão, produzamos frutos: de paz e justiça, amor e fraternidade, alegria e perdão que sempre se multiplicarão, pois a misericórdia de Deus elimina toda e qualquer forma de esterilidade; 

4.º Domingo – Celebramos o chamado “Domingo Laetare”, em razão da alegria pela proximidade da Páscoa, preanunciada e saboreada na alegria da acolhida e do perdão, como vimos na Parábola do Filho Pródigo, que pode ser também chamada de a "Parábola do pai misericordioso"; 

5.º Domingo – Refletimos sobre o perdão concedido à pecadora adúltera, na certeza de que Deus está sempre pronto a perdoar, para novos passos na caminhada firmar: “vá e não peques mais”.

Embora ainda seja Quaresma, há o tom da Alegria Pascal anunciado, fazendo da vida uma constante passagem do desalento para a confiança, da angústia para o gozo, do abandono para o encontro, das trevas para a luz, da mentira para a verdade. Numa palavra, passagem da morte para a vida! 

A intensidade, profundidade, altura, largura e comprimento do Amor de Deus são incomensuráveis, sem medida, e Ele espera apenas uma coisa: que saibamos corresponder ao Seu Amor, para que alcancemos a alegria e a paz.

O surpreendente e incrível Amor de Deus vai sempre ao encontro para resgatar a todos, na acolhida, perdão e vida nova.

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