domingo, 6 de abril de 2025

“A mísera e a misericórdia” (VDTQC)

                                  

 “A mísera e a misericórdia”

O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica “Misericordia et misera”, por ocasião do encerramento do Ano Santo da Misericórdia (2016), nos apresentou um trecho da passagem do Evangelho sobre a adúltera perdoada (Jo 8,1-11).

“Não podia encontrar expressão mais bela e coerente do que esta, para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao encontro do pecador: ‘Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia’”.

De fato, a autêntica misericórdia divina, que é sempre outra possibilidade de vida, e esta não condena, não elimina, não julga e não mata, ao contrário, acolhe, perdoa, reintegra, reorienta os passos, refaz rumos, pois sua lógica é de uma nova vida.

Assim como o Povo de Deus é sempre chamado a tomar consciência de seu pecado e construir um mundo novo, Paulo também experimentou a misericórdia de Deus por isto afirmou que Cristo é a nossa riqueza, tudo o mais é lixo (Fl 3,8-14).  

Como Paulo, quem descobrir a novidade de Cristo se apaixona pela novidade e por Sua pessoa. 

Somente Cristo importa! A eficácia salvadora é conhecer Jesus. E, conhecer no sentido bíblico, é entrar em comunhão de vida e de destino com Ele. 

Desta comunhão nasce uma nova pessoa, uma nova criatura. Nossa vida, como a do Povo de Deus, parece às vezes um deserto árido, mas Deus Fonte de Água Viva, por Seu Amor faz surgir um rio de Água Viva (Is 43,16-21).

A aridez do deserto é revitalizada pela intervenção divina que nos ama: a pecadora perdoada passou da aridez do deserto à experiência que a fez nova criatura.

O episódio do perdão concedido à pecadora nos coloca diante de duas possibilidades: a intransigência e a hipocrisia humanas, sempre dispostas a julgar e condenar ou a busca da misericórdia e sua prática, uma vez que somos imperfeitos e limitados. Todos possuímos telhado de vidro.

Evidentemente a misericórdia não é pacto com o pecado, mas resgate do pecador! A lógica da misericórdia é criativa e nos desafia. A dinâmica divina é a misericórdia, um amor que transforma. 

Por isto a lógica de Deus é infinitamente superior: "errou – dê conta do erro" – não peque mais e entre num caminho comunitário de conversão. A lógica humana é simplista: "errou – pagou" Não há possibilidade alguma de vida.

O Amor anunciado e testemunhado por Jesus, liberta, renova e gera uma nova vida. Amemos da mesma forma!

Reflitamos: 

- Qual a lógica que organiza a sociedade?
- A lógica da eliminação sumária ou a reeducação; reintegração daquele que pecou ou sua exclusão?

- Quais são os lixos que nos impedem de viver uma vida nova?
- Do que devemos nos desapegar para servir, a Jesus e Sua Igreja, com maior liberdade e entrega?

- Qual o grau de conhecimento, intimidade, apaixonamento nosso por Cristo?
- O que somos capazes de renunciar por amor a Jesus e a Sua Igreja?

- Quais são as realidades de pecado que somos chamados a abandonar, romper para alcançar uma vida nova, possibilitando-nos a verdadeira celebração da Alegria Pascal?

- Quais roupagens de hipocrisia e intolerância que devemos nos despir, para estarmos dignamente vestidos com os trajes do amor?
- Quais são as pedras que devemos soltar?

- Em quais situações devemos recolher a nossa língua, muitas vezes tão pronta para julgar e condenar? 

Sejamos enriquecidos por estes dois Comentários:

“A satisfação de lançar a pedra nos faz esquecer quem somos, nos liberta de nossa responsabilidade e do sentimento de culpa. Assim fazem-se campanhas contra a prostituição, para que as ruas estejam limpas; marginalizam-se os drogados, para que não possam censurar a nossa inutilidade. Fazem-se casas de correção, para dizermos a nós mesmos que fazemos o possível. Escondemos o espelho para não vermos mais o nosso rosto, e assim pensamos estar limpos”. (1)

“Mas não apenas esse farisaísmo em grande escala. A satisfação  de poder dizer que não somos como a vizinha, ou como o colega de trabalho, é coisa de todos os dias, ou como quando, voltando da Missa de domingo, olhamos com desconfiança para aquele que só tem recebido   da vida situações humilhantes ou que continua a pagar na solidão os erros de sua vida...”. (2)

Como Igreja, tenhamos a coragem de nos identificar com a pecadora. Como Igreja santa e pecadora que somos, suplicamos a Misericórdia Divina, para que purificada de todo pecado, purificada pelo eloquente Sangue de Cristo, na Cruz, derramado, vivendo intensamente o Batismo recebido, na fidelidade ao Espírito, coloque-se a serviço do Reino.

Há uma Oração Eucarística da Igreja que diz claramente que somos uma Igreja santa e pecadora! Reconheçamos nossos pecados, confiemos na Misericórdia Divina, empenhemo-nos por torná-la mais santa. A missão é de todos nós!

Oremos: 

“Concedei, ó Deus todo-poderoso, 
que sejamos sempre contados entre os membros de Cristo 
cujo Corpo e Sangue comungamos.
Por Cristo, Nosso Senhor.
Amém!” 

,

(1) Missal Dominical – Editora Paulus - pág. 243.
(2) Idem

Em poucas palavras... (VDTQC)

 

 


O encontro da mísera com a misericórdia

“Não podia encontrar expressão mais bela e coerente do que esta, para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao encontro do pecador: ‘Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia’”.

 

 

(1) Carta Apostólica “Misericordia et misera” – Papa Francisco  por ocasião do encerramento do Ano Santo da Misericórdia (2016), comentando a passagem do Evangelho sobre a adúltera perdoada (Jo 8,1-11).

 

Em poucas palavras... (VDTQC)

                                                      


Misericórdia divina: um crédito de confiança

“Pela misericórdia, o passado do homem pecador não mais existe; ele pode recomeçar tudo. Pode alguém sentir-se chocado com este contínuo falar de misericórdia e de perdão...

Deus não fecha os olhos com complacente paternalismo, mas abre novo crédito de confiança a nossas responsabilidades e dá a garantia de vencer o mal com bem. Renova assim no pecador a alegria de viver.” (1)

 

(1) Comentário do Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 222 - sobre a passagem do Livro de Miqueias (Mq7,14-15.18-20)

Reflexão apropriada para a passagem do Evangelho de João (Jo 8,1-11)

 

 

O surpreendente Amor de Deus - Ano C - (VDTQC)

O surpreendente Amor de Deus 

Quaresma, um longo e rico Itinerário Espiritual (ano C), a toda igreja, proposto:

1.º Domingo – Começamos com Jesus a caminhada pelo deserto para aprendermos com Ele a vencer as tentações de Satanás (ter, ser e poder);

2.º Domingo – Subimos com Jesus ao alto da montanha para escutá-Lo, como Filho Amado de Deus, e imediatamente descer à planície no compromisso com a paz;

3.º Domingo – Deus, em Sua infinita misericórdia, espera que, num caminho de conversão, produzamos frutos: de paz e justiça, amor e fraternidade, alegria e perdão que sempre se multiplicarão, pois a misericórdia de Deus elimina toda e qualquer forma de esterilidade; 

4.º Domingo – Celebramos o chamado “Domingo Laetare”, em razão da alegria pela proximidade da Páscoa, preanunciada e saboreada na alegria da acolhida e do perdão, como vimos na Parábola do Filho Pródigo, que pode ser também chamada de a "Parábola do pai misericordioso"; 

5.º Domingo – Refletimos sobre o perdão concedido à pecadora adúltera, na certeza de que Deus está sempre pronto a perdoar, para novos passos na caminhada firmar: “vá e não peques mais”.

Embora ainda seja Quaresma, há o tom da Alegria Pascal anunciado, fazendo da vida uma constante passagem do desalento para a confiança, da angústia para o gozo, do abandono para o encontro, das trevas para a luz, da mentira para a verdade. Numa palavra, passagem da morte para a vida! 

A intensidade, profundidade, altura, largura e comprimento do Amor de Deus são incomensuráveis, sem medida, e Ele espera apenas uma coisa: que saibamos corresponder ao Seu Amor, para que alcancemos a alegria e a paz.

O surpreendente e incrível Amor de Deus vai sempre ao encontro para resgatar a todos, na acolhida, perdão e vida nova.

“Mortos para o pecado, vivos para Deus” (VDTQC)

                                                       

“Mortos para o pecado, vivos para Deus”

Acolhamos parte do Tratado sobre o Evangelho de São João, escrito pelo Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. V). Ele reflete a conhecida passagem da "mulher pecadora surpreendida em adultério” (Jo 8,1-11).

“Só aquela mulher, e retirando-se todos, o Senhor levantou os Seus olhos e os fixou nela. Já ouvimos a voz da justiça; ouçamos agora também a voz da mansidão.

Quão apavorada deve ter ficado aquela mulher quando ouviu o Senhor dizer: ‘Quem de vocês está sem pecado, que atire a primeira pedra!’

Mas eles se olhavam a si mesmos e, com sua fuga, confessaram-se réus, deixam aquela mulher sozinha com o seu grande pecado na presença d’Aquele que não tinha pecado. E como ela o ouviu dizer: ‘Aquele que está sem pecado, que atire a primeira pedra’, temia ser castigada por Aquele no qual não pode encontrar-se pecado algum.

Contudo, o que tinha afastado de si aos seus inimigos com as Palavras de justiça, fixa nela os olhos da misericórdia e lhe pergunta: ‘Ninguém te condenou?’ Contesta ela: ‘Ninguém, Senhor’. E Ele: ‘Eu também não te condeno’; eu mesmo, que quem talvez temeste ser castigada porque não encontraste em mim pecado algum. ‘Eu Também não te condeno’.

Senhor, o que é isto? Tu favoreces aos pecados? É claro que não é assim. Observa o que segue: ‘Vai, e não tornes a pecar’. O Senhor imediatamente deu sentença de condenação, mas contra o pecado, não contra o homem. Pois, se Ele fosse favorecedor dos pecados, lhe teria dito: Nem Eu te condeno, vai e vive as tuas liberdades; podes estar bem segura de minha absolvição; eu mesmo, peques o que pecares, te livrarei de todas as penas, mesmo as do inferno e de seus verdugos. Não foi esta a Sua sentença.

Não se fixem nisto aqueles que amam no Senhor a mansidão e temam a justiça; porque doce e reto é o Senhor. Tu O amas porque é doce; teme-O também porque é reto... Manso, magnânimo e misericordioso é o Senhor, mas também é o Senhor justo e veraz.

Ele te dá tempo para a correção; porém tu amas mais a dilação do que a emenda. Foste mau ontem? Sê bom hoje. Passaste o dia de hoje em pecado? Não sigas assim amanhã.

Tu sempre esperando e se prometendo muitíssimo da misericórdia de Deus, como se Aquele que te promete o perdão se te arrependes, te houvesse prometido também vida mais longa...” (1)

Retomemos parte do Tratado:

“O Senhor imediatamente deu sentença de condenação, mas contra o pecado, não contra o homem”.

Contemplemos a misericórdia divina, que, nos acolhe como somos, nos perdoa, para que sejamos melhores, que nos corrijamos, nos aperfeiçoemos...

Jamais podemos confundir misericórdia divina como conivência ou consentimento para que pequemos. A misericórdia é, na exata medida, a destruição do pecado, que nos rouba a pureza de coração, para que assim a recuperemos, e tenhamos do Senhor os mesmos pensamentos e sentimentos.

É sempre tempo de nos abrimos à misericórdia divina, sempre pronta a nos acolher e a nos perdoar, mas também é sempre tempo de vivê-la em relação ao nosso próximo, a fim de que sejamos “misericordiosos como o Pai” (cf. Lc 6,36).

A misericórdia divina é para que vivamos mortos para o pecado e vivos para Deus, como nos falou o Apóstolo Paulo (Rm 6,11).


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - pp. 574-575

No vale escuro da vida, a Luz do Senhor reluzir (VDTQC)

                                                

No vale escuro da vida, a Luz do Senhor reluzir

Senhor, vivendo intensamente este Tempo Quaresmal,
Tempo favorável de conversão e reconciliação,
Abro meu coração, com plena disposição,
Para acolher Tua Palavra de Vida Eterna.

Mais que acolher, renovo meu compromisso de fé,
Na fidelidade ao Pai de Amor, como Tu nos ensinaste,
Com a força do Teu Espírito que nos assiste,
Presença que sentimos em todos os momentos.

Viver Tua Palavra em comunhão com os irmãos,
E a vida pautar pelos valores do Teu Evangelho,
E, Tão somente assim, viver uma união mais íntima e profunda,
No mergulho do Amor Trinitário em que vives.

Configurado a Ti, completando em minha carne
O que falta à Tua Paixão, por amor à Tua Igreja,
Da qual Tu és a Cabeça, e nós, o Corpo
Edificado com pedras vivas e escolhidas

Afastai qualquer possibilidade de Ti renegar,
Através dos pensamentos, palavras, ações ou omissões.
E orientado por Ti, jamais tenha um coração vacilante,
Porque por Ti carregado no Coração manso e humilde.

Também inebriado pelo Sangue por nós oferecido
No Cálice Sagrado do Banquete da Eucaristia,
Renove em mim a graça de Te amar, seguir,
E a Tua luz divina, no vale escuro da vida, reluzir.



Fonte inspiradora: Jo 11, 31-42; Jo 8,1-11

Alegria que nasce do amor e do perdão! (VDTQC)

                                                    

Alegria que nasce do amor e do perdão!

Quem de nós não
precisa receber e dar o pero?

Toda experiência de ser amado e perdoado gera uma alegria com gosto de Páscoa. Assim foi com a pecadora adúltera perdoada por Jesus, como nos apresenta a passagem do Evangelho de São João (Jo 8,1-11).

Aprofundemos sobre a desafiadora e necessária experiência do perdão, para que sintamos a alegria que ele nos propicia. 

Assim diz o Comentário do Missal Cotidiano sobre esta passagem do Evangelho: "A adúltera representa os membros da Igreja. Para lá de nossos pecados aceitamos o encontro e o diálogo de fé com Cristo, que deve desaguar no 'não peques mais', não por mera obediência à lei, mas para responder às exigências de uma consciência que encontrou o Amor." (1)

A misericórdia de Deus não condena, não elimina, não julga e não mata. A lógica divina é sempre a possibilidade de uma nova vida, de um novo recomeço.

Quando Cristo é a nossa riqueza, tudo é lixo (Fl 3,8). Abandona-se a vida do pecado, para um mergulho na vida da graça: “Vá e não peques mais” (Jo 8,11).

O que Cristo escreve no chão de nossa história para que O descubramos como nossa riqueza, e busquemos uma nova vida?

Se formos de má índole precisamos nos corrigir. Se formos acompanhados de pessoas de má índole, devemos nos cercar de pessoas que nos retire da areia movediça de nossos pecados.

Se for toda uma estrutura que gera situações de pecados, todos devemos nos empenhar na transformação desta.

Nossa vida parece, às vezes, um deserto árido, mas Deus que é fonte de Água Viva, por Seu amor, faz surgir um rio de água viva em pleno deserto de nossa existência, a partir da experiência mais edificante que consiste em amar e ser amado.

A lógica de Deus não é a mesma lógica da sociedade. Deus reeduca, a sociedade elimina. Diante da atitude de exclusão o Amor divino propõe a inclusão de quem pecou.

A lógica do Amor de Deus nos faz perceber nossos telhados de vidros:

“Atire a primeira pedra quem não tiver pecado algum” (Jo 8,7).

A lógica humana é simplista: errou, pagou! A lógica de Deus é infinitamente superior e criativa e nos desafia a mesma criatividade: Errou, dê conta do erro e não peque mais! Entre num caminho comunitário de conversão e compromisso com o próximo.

O amor liberta, renova e gera uma nova vida. A pecadora adúltera somos nós, a Igreja, frágeis, pequenos, que suplicamos a Deus a Sua misericórdia.

A Igreja deve sempre ser no mundo sinal de quem experimentou a ternura de Deus e descobriu na prática da ternura de Jesus o que existe de mais humano em Deus e o que há de divino no homem.

Jesus nos faz um forte convite: desarmarmo-nos de nossas pedras e nos armarmos com a arma do cristão que é o amor.

Quais são as pedras que devemos depor?
Quais são as pedras que atiramos com nossas línguas, gestos no dia a dia?

Somente a partir da experiência de ser acolhido, amado e perdoado que poderemos fazer o mesmo.

Prenúncio de uma nova realidade!
Serão os sinais visíveis da Vinda do Senhor em nossa vida. Sinais para aqueles que se nutriram do horizonte do amor que é verdadeiramente infinito, inaugurado e realizado por Cristo Jesus, celebrado em cada Banquete Eucarístico, até que Ele venha! Amém!


PS: Missal Cotidiano - Editora Paulus - p. 293.

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