sábado, 8 de março de 2025

O deserto que atravessei...

 

  O deserto que atravessei...
 
“Catedral” Quem não conhece esta belíssima canção? Inspirado nela, há algum tempo, escrevi esta reflexão. Desejo que não sejam apenas palavras, mas um convite para retomarmos o fôlego em nossa travessia do deserto de cada dia, em tempo de grandes dificuldades sociais, econômicas, políticas etc.
 
Um homem moderno se perdeu no deserto e, durante dias arrastou-se, desorientado pelas dunas da areia. A inclemência do sol ardente foi desidratando seu corpo...
 
De repente, a certa distância, avistou um oásis - “Ah, disse a si próprio: esta é uma miragem que quer me enganar!”
 
Aproxima-se do oásis, que não desapareceu. Diante de seus olhos irritados surgiram tamareiras, pedaços de relva verde e, sobretudo uma nascente de água murmurante – “Isto não passa de fantasias produzidas pela fome, e de alucinações auditivas”, dizia para si o andante exausto, “Como é cruel a natureza!”.
 
Pouco tempo depois, dois beduínos o encontraram morto. “Você entende uma coisa dessas?” Perguntou um ao outro. “As tâmaras praticamente estavam ao alcance de sua boca, havia uma nascente ao lado dele, e ele morreu de fome e de sede! Como isso é possível?” “Bem, respondeu o outro, ele era um homem moderno”.
 
Diante de tantas incredulidades e credulidades caducas, precisamos saber em quem confiar: sem dúvida a Fonte de Água Viva habita em cada um de nós (Jo 4,14), e a nossa Verdadeira Comida é o próprio Cristo Jesus Ressuscitado, que Se fez Bebida e Comida para fortalecer nossa caminhada na travessia do deserto da vida.
 
Quantas vezes nossa vida parece uma travessia no deserto que não tem mais fim. As dificuldades parecem ser mais fortes que nossas forças. É preciso que saibamos recorrer à pessoa certa para refazer nossas forças. Esta Pessoa é Jesus, Que jamais nos deixará morrer de fome e cansados: “Eu sou o Pão da Vida, quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crer em Mim nunca mais terá sede” (Jo 6,34).
 
No Evangelho de São Mateus, Ele mesmo nos diz: “Vinde a Mim vós que estais cansados e abatidos, porque o meu fardo é leve e o meu jugo é suave” (Mt 11,30).
 
Esta mensagem muito nos inspira na luta, na caminhada, na travessia do deserto de cada dia.
 
Saciando nossa sede e fome em Jesus, poderemos ser:
 
“Vida, para fazer nascer os que estão morrendo... 
Sol, para fazer brilhar os que não possuem Lua... 
Luz, para iluminar os que vivem na escuridão... 
Chuva, para correr toda a terra e molhar os campos secos e devastados... 
Lágrima, para fazer chorar os corações insensíveis... 
Voz, para fazer falar os que sempre se ocultaram... 
Canto, para alegrar os que vivem na tristeza... 
Luar, para brilhar na noite dos amores incompreendidos... 
Flor, para enfeitar os jardins no outono...
Silêncio, para fazer calar as vozes que atordoam o coração do homem... 
Sino, para repicar nos Natais dos que possuem recordação amarga...
Grito, para gritar a dor dos que sofrem no silêncio... 
 
Olhos, para fazer enxergar os cegos de verdade... 
Força, para fugir dos que a utilizam para o mal. 
Sorriso, para encantar os lábios dos amargurados... 
Sonho, para colorir o sono dos realistas petrificados... 
Veículo, para trazer de volta os que partiram deixando saudades... 
Amanhecer, para fazer um dia a mais de felicidade sobre a Terra...
Noite, para acalentar os que lutam durante o dia... 
Amor, para unir as pessoas e lhes dizer que sou apenas uma delas”. (1)
 
Urge continuarmos firmes em nossa missão, renovando, a cada dia, o ardor missionário; procurando caminhos que melhor contribuam nesta caminhada de Evangelização.
 
Quaresma é o Tempo do fecundo silêncio, recolhimento para rever pensamentos, sentimentos, atitudes, para mais configurados a Cristo Jesus e ao Mistério de Sua Paixão, renovemos a fidelidade no carregar da cruz, para que um dia a alegria Pascal possamos celebrar e no coração senti-la transbordar, acenando para o destino de todos nós: a glória que passa pela cruz.
 
Por enquanto, em meio ao deserto, oásis de amor, revigoramento de nossas forças, Deus na Sua infinita misericórdia não nos deixa faltar.
 
Viver é como se tornar oásis na vida do outro,
bem como o outro na nossa própria.
Nisto Deus Se revela e conosco caminha!
 
(1) Autor desconhecido 

Chamados e aperfeiçoados pela Misericórdia Divina

                                                        

Chamados e aperfeiçoados pela Misericórdia Divina

Jesus viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado na
Coletoria. Jesus lhe disse: ‘Segue-me!’
Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu” (Lc 5,27)

Senhor, suplicamos com plena confiança, ainda que não mereçamos, que não apenas O reconheçamos, mas O anunciemos e testemunhemos como Aquele que é manso e humilde de coração, infinitamente misericordioso, e que viestes trazer salvação para todos os povos. 

Ajudai-nos a ter a mesma mansidão e humildade de coração nos relacionamentos cotidianos, de modo especial com aqueles que mais precisam, para que seja autêntica nossa vida de fé, numa sadia esperança, porque acompanhada de gestos concretos de caridade.

Dai-nos sabedoria para que nossas palavras e ações não sejam proibitivas, com o amargo gosto das rotulações e execração dos erros e pecados do outro, condenando o pecado e o pecador, simultaneamente.

Senhor, agradecemos porque nos chamastes não pelos nossos méritos, santidade e perfeição já alcançadas, mas para nos santificar, num itinerário permanente, e com saltos qualitativos no discipulado e em todos os âmbitos da existência.

Senhor, concedei-nos a vida nova, de modo que sejamos compassivos com os mais pobres, feridos e oprimidos, que encontrarmos à beira do caminho, movidos pela Vossa Palavra que nos diz: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), e assim, nos empenhemos na superação de toda forma de violência. Amém.



PS: Uma súplica, à luz da passagem do Evangelho do sábado depois das Cinzas: Lc 5,27-32 e Mt 9,9,9-13 na Festa de São Mateus celebrada dia 21 de setembro.

Mulher da Montanha, Mulher da Planície!

Mulher da montanha, mulher da planície 

“Este é o meu Filho amado; ouvi-O” (Mc 9,7) 

À luz da Transfiguração do Senhor (Mc 9,2-20), uma reflexão sobre o protagonismo das mulheres na Igreja e na sociedade. 

Quantas são incansáveis na subida da montanha para ouvir a voz do Filho Amado e contemplar a Sua glória, a fim de que na planície do cotidiano, sejam alegres mensageiras do Verbo, plantando no coração de seus filhos aquilo que ouviram e creem. 

São mulheres que contemplam o Cristo Glorioso e escutam Sua Voz, mas descem para carregar sua cruz de cada dia, participando da transfiguração do mundo, em inúmeros compromissos com tantos rostos desfigurados. 

Muitas são as mulheres da montanha e da planície; mulheres de Deus a serviço da vida, com ousadia, sem esmorecimentos, cansaços e apatias. 

Quem estas mulheres, presenças vivas de Deus, atentas à voz do Filho amado, que conosco convivem? 

São as que fazem o milagre da multiplicação do tempo, cuidando da família, comprometidas em semear a semente do Verbo em tantos corações confiados, e alargam, incansáveis, os horizontes da caridade nas pastorais e serviços diversos da comunidade... 

São as que lavam, passam, cozinham, limpam... E, na hora de descansar, pulam subitamente para cobrir com carinho o filho, a filha em seu sono puro e inocente... 

São as que não fixam tendas eternas na montanha, mas nos revelam a presença de Deus com seu carinho, ternura, paciência, mansidão, esperança, confiança, vitalidade de uma criança... 

São as que acreditam que a família é santuário da vida. Como sacerdotisas, ministras sagradas de seus lares, promotoras da comunhão, da partilha, da fantasia, do sonho, da poesia, da reconciliação e de perdão, portadoras de sãs utopias... 

São as que se revitalizam com a força que vem da Eucaristia, e assim prolongam a presença do Cristo em visitas aos enfermos, cuidado de crianças vulneráveis ou em qualquer outra situação que clame por solidariedade e compaixão. 

São as que se abrem à novidade do Espírito que faz novas todas as coisas, que não permitem que a vida se torne fadiga, incansável monotonia, e assim reinventam cada dia, sem mesmice e indesejável rotina. 

São as que procuram a perfeita sintonia entre a fé e a vida, assumindo no mundo compromisso com a paz, que é fruto da justiça, também no mundo da política. 

São as anônimas que não dão ibope na programação da TV, mas que no cenário do cotidiano, no mais profundo de nosso coração, ocupam todo espaço e tempo, porque são incansáveis em sua santa missão. 

São mulheres de tantos nomes, que não se acomodam diante da realidade dura, nua e crua da fome. 

Com ousadia e profecia, não se curvam à crueldade que ceifa vidas inocentes, quer pelo aborto ou qualquer coisa que atente contra a beleza e a sacralidade da vida.

Que não se calam quando precisam falar, que falam quando não se pode calar. Que escutam quando precisam ouvir, mas que falam quando precisam denunciar... 

Mulheres da montanha e da planície, contigo, nós homens:

- queremos o mundo transformar, transfigurar...;

- aprender contigo: a beleza do choro, da sensibilidade, da ternura, do encantamento, do sonho, da fragilidade que se transforma em força transformadora...;

-  queremos esforços somar, para machismos e preconceitos envelhecidos superar...;

- empenho multiplicamos, na promoção da cultura da Vida e da Paz! 

Oremos: 

Ó Maria, que és por excelência modelo para todas as mulheres, ajudai tantas mulheres que ainda não se descobriram como tu, que andam mergulhadas na planície da mediocridade, da vulgaridade; que são instrumentalizadas, exploradas como objeto sexual, fontes de lucro e prazer, miseravelmente manipuladas, comercializadas, dessacralizadas, desfiguradas. 

Que nós, homens, reconheçamos, em cada mulher, traços perfeitos que, abundantemente, em ti encontramos, para um mundo novo e transformado, desejo de Deus, contemplado na perfeita alegria e na mais bela sintonia. 

Ó Deus, volvei Vosso olhar para as mulheres da montanha, orantes e atentas à voz do Filho Amado, para que, na planície, sejam fiéis praticantes da Divina Palavra, com a presença e ação do Santo Espírito. Amém.


O protagonismo feminino na Igreja e no Mundo

                                                           


O protagonismo feminino na Igreja e no Mundo

“... nosso obrigado à mulher,
pelo simples fato de ser mulher...”

Retomo uma da nota da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – pelo Dia Internacional da Mulher (2012), com alguns pontos essenciais. 

“Saudamos todas as mulheres pela celebração do Dia Internacional da Mulher. Alegra-nos perceber que, cada dia mais, cresce a consciência da dignidade da mulher e de sua específica contribuição na construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária.

Esta data histórica nos convida, antes de tudo, a agradecer às mulheres por sua vocação e missão na Igreja e no mundo.”

Servindo-se da Carta às Mulheres do Beato João Paulo II (1995), afirma:

“... nosso obrigado à mulher-mãe, que se faz ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única e que se torna o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz; à mulher-esposa, que une o seu destino ao de um homem, numa relação de recíproco dom, ao serviço da comunhão e da vida; à mulher-filha e mulher-irmã, que levam ao núcleo familiar, e depois à inteira vida social, as riquezas da sua sensibilidade, intuição, generosidade e constância; à mulher-trabalhadora, empenhada em todos os âmbitos da vida social, econômica, cultural, artística, política, pela contribuição indispensável que dá à elaboração de uma cultura capaz de conjugar razão e sentimento, à edificação de estruturas econômicas e políticas mais ricas de humanidade; à mulher-consagrada, que se abre com docilidade e fidelidade ao amor de Deus; à mulher, pelo simples fato de ser mulher que, com a percepção que é própria da sua feminilidade, enriquece a compreensão do mundo e contribui para a verdade plena das relações humanas”.

Acompanha o agradecimento às mulheres cuja presença e atuação marcam fortemente a vida da Igreja – “Sua vocação evangelizadora, vivida no exercício dos vários ministérios, é fundamental à Igreja no desempenho de sua missão de tornar presente entre nós o Reino de Deus.”

Enaltece-se as mulheres por suas conquistas ao longo de uma história marcada pela discriminação e pelo preconceito. Reconhecem que é cada vez mais forte sua presença na família, no mundo do trabalho, na ciência, na educação, na política, na Igreja e na sociedade:

Somos testemunhas do papel decisivo da mulher no processo da redemocratização do País. Não sem razão, comemoramos em 2012 os 80 anos do voto feminino, uma conquista histórica.”

Reconhece, recorda e denuncia as inúmeras situações de violação de seus direitos e de sua dignidade: 

“Milhares delas são vitimas da discriminação, do desrespeito étnico-cultural, do tráfico para exploração sexual e laboral e de inúmeras outras formas de violência. Para muitas, o lar, lugar sagrado de proteção, converteu-se em espaço de dor e sofrimento. A Lei Maria da Penha é outra vitória das mulheres, que vem combater esta violência doméstica de que são vítimas.”

Com uma citação do Documento de Aparecida (n. 454) conclui:

"É urgente escutar o clamor, muitas vezes silenciado, de mulheres que são submetidas a muitas maneiras de exclusão e violências em todas as suas formas e em todas as etapas de suas vidas”.

Finalmente, Maria é apresentada como modelo de mulher e inspiração para todas as mulheres na vivência de sua vocação ao amor e ao cuidado da vida, em todas as suas dimensões, na luta por uma sociedade igualitária, de fraternidade e de paz.

Ave Maria, cheia de graça... 

PS: Postado com vistas ao dia 08 de março - Dia Internacional da Mulher

Mulheres que escrevem uma nova história

Mulheres que escrevem uma nova história

Uma homenagem à todas mulheres, lembrando Díogenes de Sinope, filósofo da Grécia antiga, que perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto.

Com lamparina nas mãos, andei por vilas, ruas e praças, e entrei em vários lugares a procura de mulheres virtuosas que constroem com valentia e sabedoria uma nova história.

Encontrei-as em lares, escolas, hospitais, comunidades de fé, e em tantos outros lugares...

Mulheres movidas pelas virtudes cardeais, da prudência, da justiça, da fortaleza e da temperança.

Mulheres que amam a justiça, cujo fruto do trabalho são as virtudes, porque ensinam a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza (Sb 8, 7).

Mulheres prudentes, que dispõem da razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o verdadeiro bem e para escolher os justos meios para atingi-lo.

Mulheres que não confundem prudência com a timidez ou o medo, a duplicidade ou dissimulação.

Mulheres sedentas de justiça, movidas e comprometidas pela virtude moral da constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.

Mulheres que desejam e lutam pelos direitos de todos estabelecendo harmonia nas relações humanas, objetivando a promoção do bem comum, vivendo com retidão de pensamentos e conduta.

Mulheres fortes, que no meio das dificuldades e as enfrentando com coragem e ousadia, asseguram a firmeza e a constância na realização do bem.

Mulheres que resistem às tentações de desistir e evadir do mundo, mas que se põem cotidianamente de pé na superação dos obstáculos, vencendo os medos, mesmo da morte, enfrentando provações e por vezes perseguições e discriminações.

Inúmeras que vivem a renúncia de si mesmas, com o sacrifício da  própria vida, na defesa de uma causa justa porque creem no Senhor e em sua Palavra, e assim rezam – “O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória” (Sl 118, 14); “No mundo haveis de sofrer tribulações: mas tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33).

Mulheres que agem com Temperança, que sabem moderar a atração dos prazeres e encontram equilíbrio no uso dos bens criados.

Mulheres que sabem viver o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade, guardando sã discrição e não se deixando arrastar pelas paixões do coração.

Mulheres que vivem com moderação, justiça e piedade no mundo presente (Tt 2, 12).

Às mulheres que encontrei, e não são poucas, movidas pelas virtudes cardeais, dedico estas palavras de Santo Agostinho, pois as vivem de fato:

“Viver bem é amar a Deus de todo o coração, com toda a alma e com todo o proceder [...], de tal modo que se lhe dedica um amor incorrupto e íntegro (pela temperança), que mal algum poderá abalar (fortaleza), que a ninguém mais serve (justiça), que cuida de discernir todas as coisas para não se deixar surpreender pela astúcia e pela mentira (prudência)” .

Parabéns pelo Dia Internacional da Mulher!


PS: Postado com vistas ao Dia 8 de março - Dia Internacional da Mulher

As mulheres e as virtudes cardeais

As mulheres e as virtudes cardeais

Em nossas comunidades, encontramos inúmeras mulheres discípulas missionárias do Senhor que, como Maria Madalena, a “Apóstola dos Apóstolos”, segundo Santo Tomás de Aquino, testemunham a fé no Cristo Ressuscitado, fazendo renascer, a cada dia, a esperança, porque inflamadas pela caridade.

Também, as encontramos em lares, escolas, hospitais, universidades, meios de comunicação, e em tantos outros lugares...

São elas movidas pelas virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança); amantes da justiça, cujo fruto do trabalho são as virtudes, porque ensinam a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza (Sb 8, 7).

Mulheres prudentes, que dispõem da razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o verdadeiro bem e para escolher os justos meios para atingi-lo; sem jamais confundir prudência com a timidez ou o medo, a duplicidade ou dissimulação.

Mulheres sedentas de justiça, movidas e comprometidas pela virtude moral da constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.

Deste modo, desejam e lutam pelos direitos de todos estabelecendo harmonia nas relações humanas, objetivando a promoção do bem comum, vivendo com retidão de pensamentos e conduta.

Mulheres fortes, que em meio às dificuldades, enfrentando-as com coragem e ousadia, asseguram a firmeza e a constância na realização do bem; resistem às tentações de desistir e evadir do mundo, pondo-se cotidianamente de pé na superação dos obstáculos, vencendo os medos, mesmo da morte, enfrentando provações e, por vezes, perseguições e discriminações.

Vivem a renúncia de si mesmas, com o sacrifício da  própria vida, na defesa de uma causa justa, porque creem no Senhor e em Sua Palavra, e assim rezam – “O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória” (Sl 118, 14); “No mundo haveis de sofrer tribulações: mas tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33).

Mulheres que agem com Temperança, moderando a atração dos prazeres, encontram equilíbrio no uso dos bens criados; vivendo o domínio da vontade sobre os instintos, mantêm os desejos nos limites da honestidade, guardando sã discrição e não se deixando arrastar pelas paixões do coração.

São verdadeiramente Pascais, testemunhas corajosas do Ressuscitado, a quem dedico estas palavras do Bispo Santo Agostinho: “Viver bem é amar a Deus de todo o coração, com toda a alma e com todo o proceder [...], de tal modo que se lhe dedica um amor incorrupto e íntegro (pela temperança), que mal algum poderá abalar (fortaleza), que a ninguém mais serve (justiça), que cuida de discernir todas as coisas para não se deixar surpreender pela astúcia e pela mentira (prudência)” .



PS: Publicado no jornal Folha Diocesana – Diocese de Guarulhos - Ed. n.264

Quaresma: a novidade do Mandamento do amor

                                                       

Quaresma: a novidade do Mandamento do amor

No sábado da 1ª semana da Quaresma, a Liturgia nos apresenta um grande paradoxo: o amor pelos inimigos, recomendado pela nova Lei que emana como consequência do Sermão da Montanha.

Ao cristão é prescrito não somente um estilo de comportamento, mas também uma necessária atitude de coração, do qual este comportamento deve nascer (Mt  5, 43-48).

Apenas para ilustrar, paradoxo consiste numa ideia, conceito, proposição ou afirmação aparentemente contraditória a outra ou ao senso comum.

Também pode ser compreendido como um comportamento que contradiz os princípios que o deveriam reger, numa aparente contradição.

Enquanto conceito filosófico, é o pensamento ou proposição que contraria os princípios do pensamento humano ou colide com as crenças e convicções da maioria das pessoas.

Pode ser também, na lógica, um raciocínio aparentemente racional, mas que contém contradições em sua estrutura.

Devidamente conceituado, compreendamos o paradoxo cristão, em que a tribulação aparece associada à alegria; a pobreza à riqueza; a fragilidade dos discípulos à força que possuem; o túmulo vazio, que é sinal da Ressurreição, e a plenitude da presença do Ressuscitado comunicando alegria e paz.

“Portanto, não só o respeito, mas também o amor pelos inimigos e perseguidores, para além de todos os limites da possibilidade humana.

Não em nível de sentimento, certamente: não seria porventura possível nem necessário, e nem sequer suficiente resolver tudo ao nível de moções da alma e de emoções.

Não se pode mandar que se ame, mas pode-se mandar que se procure amar, que se queira amar,  de modo que a vida inteira seja orientada para o bem daquele que se quer amar, mesmo se não o merece, mesmo se nos repugna”. (1)

Aqui o grande desafio, pois o cristianismo não é a religião dos méritos, mas do amor, para que sejamos perfeitos como o Pai Celeste é perfeito (Mt 5, 48). Ser misericordioso como o Pai é misericordioso ( Lc 6, 36).

Eis o paradoxo dos paradoxos, que o cristianismo é chamado a viver e testemunhar no mundo: o amor e a Oração pelos inimigos.

Amor assim vivido permite-nos reinventar o caminho da novidade, da fraternidade, de uma vida mais humana e mais bela, como sinal do Reino de Deus que já está em nosso meio.

É preciso que cada vez mais sejamos instrumentos do Amor Divino, testemunhas credíveis do Senhor, comprometidos com a civilização do amor, construindo a cultura da paz.     


(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus - pag.536

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG