domingo, 9 de fevereiro de 2025

Sejamos Sal e luz na planície do cotidiano (VDTCA)

Sejamos Sal e luz na planície do cotidiano

... quando atraímos o olhar de todos para Deus, e não para nós mesmos, é que somos sal da terra e luz do mundo.

A Liturgia do 5º Domingo do tempo Comum (Ano A) nos convida a refletir sobre o compromisso que abraçamos no dia de nosso Batismo, quando nos tornamos cristãos, discípulos missionários do Senhor.

Fazer brilhar a luz de Deus na noite do mundo, e como sal dar gosto e sentido de Deus a todo o existir, é a nossa grande missão.

Na passagem da primeira Leitura, o Profeta Isaías (Is 58,7-10), em tempos difíceis do pós-exílio, mantém viva a chama da esperança de um tempo novo, expressando a reclamação de Deus contra aqueles que praticam um culto vazio e estéril: de nada adianta a prática de leis externas, que não saem do coração, sem a necessária correspondência na vida.

O Profeta faz, portanto, um convite ao Povo para que respeite a santidade da Lei, colocando-a em prática. De modo especial, retrata na passagem o jejum, que no contexto do capítulo aparece sete vezes.

A prática do jejum deve ser feita com humildade diante de Deus, como expressão da dependência, do abandono e amor para com Ele, a renúncia a si próprio, a eliminação do egoísmo e da autossuficiência.

Jejum é voltar-se para o Senhor, manifestando a entrega confiante em Suas mãos, em total disponibilidade de acolher a ação e o dom de Deus, em gestos concretos de amor e solidariedade.

Deste modo, o jejum jamais pode ser compreendido como uma tentativa de colocar Deus do nosso lado, captando Sua benevolência a fim de que realize prontamente nossos interesses e desejos egoístas.

Somente a prática do jejum autêntico é que levará a comunidade a ser e contemplar a luz de Deus no mundo.

Reflitamos:

- Qual é a relação entre os gestos cultuais e gestos reais de nossa vida. Expressam ambos em sintonia a misericórdia e o Amor de Deus?

De que modo o que celebramos tem determinado a nossa vida?
Que matiz o Amor Divino tem dado as nossas ações?

- Somos uma luz acesa na noite do mundo, em solidariedade expressiva?
   - Somos como Isaías, Profetas do amor e servidores da reconciliação para um mundo novo justo e fraterno?

O Apóstolo Paulo, na passagem segunda Leitura (1Cor 2,1-5), nos exorta a identificação com Cristo, interiorizando a “loucura da Cruz”, que é dom e vida. Deus age através de nossa fragilidade e debilidade, como agiu através dele, um homem frágil e pouco brilhante.

Diante da comunidade de Corinto, o Apóstolo se apresentou consciente de sua fraqueza, assustado e cheio de temor.

O que levou os coríntios a abraçar a fé não foi a sedução de sua personalidade, nem suas brilhantes qualidades de pregador (que não possuía), e tão pouco a coerência de sua exposição, que ao contrário foi acolhida com ironia e indiferença.

O que levou os coríntios a aderirem à proposta de Jesus foi a força de Deus que se impõe, muito além dos limites de quem apresenta ou ouve a Sua proposta.

O Espírito de Deus está sempre presente e age no coração daquele que crê, de forma que a sabedoria humana é suplantada e, assim, somos tocados e elevados pela sabedoria divina.

É preciso que nos coloquemos sempre como humildes instrumentos nas mãos de Deus, para que se realize Seu Projeto de Salvação para o mundo todo.

Com isto não quer dizer que Deus dispense nossa entrega, doação, técnicas, meios de comunicação, ao contrário, é o Espírito de Deus que potencia e torna eficaz a Palavra que anunciamos.

A mensagem da passagem do Evangelho (Mt 5,13-16) é o desdobramento do Sermão da Montanha que, se verdadeiramente vivido na planície, nos faz sal da terra e luz do mundo.

Seguidores do Senhor não podem se instalar na mediocridade, jamais se acomodar, mas pôr-se sempre a caminho, sem nenhuma possibilidade para comodismo e facilidades.

Ser sal e luz implica em total fidelidade dos discípulos ao programa anunciado por Jesus nas Bem-Aventuranças: ser pobre em espírito, sedento de justiça e paz, misericordioso, puro e capaz de sofrer toda forma de incompreensão, calúnia e perseguição.

Ser cristão é um compromisso sério, profético, exigente no testemunhar do Reino em ambientes adversos. Não se pode viver um cristianismo “morno” instalado, cômodo, reduzindo a algumas práticas de Oração e de culto (até mesmo de uma Missa apenas aos domingos, como simples expressão de preceito cumprido).

Somente quando o nosso agir revela a ação e o compromisso com o Projeto Divino é que somos sal da terra e luz do mundo, e apresentamos Jesus como a Luz de todos os Povos, de todas as nações.

Somente quando atraímos o olhar de todos para Deus, e não para nós mesmos, é que somos sal da terra e luz do mundo.

Discípulos missionários do Senhor devem se preocupar permanentemente em não atrair sobre si o olhar de todos, mas deve, antes e sempre, se preocupar em conduzir o olhar e o coração de todos para Deus e à Proposta de Seu Reino de Amor, Vida e Paz.

Sendo sal, que jamais percamos o gosto, do contrário para nada serviremos. Sendo luz, que jamais permitamos que ela se apague, não obstante as dificuldades próprias da existência.

Que tenhamos a coragem de comunicar a luz de Deus na escuridão do cotidiano, sem jamais perder o gosto do sal de Deus: gosto da partilha, do acolhimento, da misericórdia, da caridade.  Tão somente assim a luz de Deus, que em nós habita pelo Seu Espírito, comunicará luz aos que se encontram ao nosso redor.

Sal e luz, sejamos sempre! Sermão da Montanha ouvido e acolhido, na planície da vida anunciado, testemunhado e corajosamente vivido. Amém!  

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Um hino de louvor a Deus

 

Um hino de louvor a Deus 

Na passagem da Carta de Paulo aos Romanos (Rm 11,33-36), o Apóstolo eleva a Deus um hino de louvor; faz uma exaltação do desígnio salvador de Deus, que possui toda riqueza, sabedoria e ciência (v.33): 

“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos! De fato, quem conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem se antecipou em dar-lhe alguma coisa, de maneira a ter direito a uma retribuição? Na verdade, tudo é dele, por ele, e para ele. A ele, a glória para sempre. Amém!” (1)

Como o Apóstolo, fiquemos abismados diante de Deus e nos entreguemos com toda a confiança em Suas mãos, acolhendo humildemente Sua Palavra e seguindo, com simplicidade e amor, o caminho que Ele nos propõe.

Mergulhemos na infinita grandeza de Deus, na contemplação de Seu Mistério, precedido pela reflexão e reconhecimento de Sua riqueza, sabedoria e ciência.

Deste modo, veremos a Deus não como um concorrente, mas como um Pai cheio de amor, afastando de nós toda autossuficiência, autorreferencialidade e orgulho.

Correspondamos, em todo o tempo,  com gratidão, aos tantos dons com os quais Deus nos enriquece, e a Ele glorifiquemos, por meio do Seu Filho, em comunhão com o Seu Espírito. Amém.


(1) Leitura breve das Vésperas do quarto sábado do Tempo Comum

Se você quiser ser feliz...

                                                          


Se você quiser ser feliz...

Se você quiser ser feliz,
Abra-se à ação da graça divina e reconheça a presença de Jesus, que jamais se afasta de você, porque o carrega em Seu Dulcíssimo Coração, e nos ombros do Bom Pastor. Ele que disse:

"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". (Mt 11, 28-30)

Se você quiser ser feliz,
Aceita de bom coração a presença de Jesus, e O acolha, sobretudo no Tempo do Advento, em que preparamos Seu Nascimento, e caminhe com Ele, vivendo intensamente cada dia de sua vida, em mais um ano que se anuncia.

Abra à ação do Espírito Santo de modo que, conduzido por Ele, renuncie à sabedoria do mundo como um fim em si, e aberto a Verdadeira Sabedoria do Espírito, conduza cada pensamento, palavra e ação sem o pecado indesejável de omissão.

Se você quiser ser feliz,
Aceita o Mistério que nos abre para as realidades eternas e imutáveis, acolhendo o invisível que Se fez visível no Menino Deus, tocável por nossas mãos, e perpetuado para sempre na Palavra e na Eucaristia, que contemplamos com o novo olhar da fé.

Se você quiser ser feliz,
Sinta-se amado por Deus que, a partir da Revelação que nos veio por meio de Jesus, nos permitiu viver conscientemente aqui na terra as realidades do céu, crendo n’Ele, que reina gloriosamente, e nos convida a buscar, incansavelmente, as coisas do alto, onde habita.

Se você quiser ser feliz,
Caminhemos juntos, ajudemo-nos mutuamente no carregar da cruz, e não esmoreçamos no testemunho da fé, para que guardemos a necessária esperança, acompanhada de pequenos e grandes gestos de caridade, até que mereçamos a eternidade.

PS: Passagem bíblica inspiradora desta reflexão: Lc 10, 21-24; Mc 6,30-34

A humanidade de Jesus

                                                         

A humanidade de Jesus

A passagem do Evangelho de Marcos (Mc 6,30-34) nos revela a humanidade de Jesus, que ultrapassa quaisquer parâmetros, e não há adjetivos para descrevê-la.

O Evangelista Marcos retrata um dia do Mestre e dos Apóstolos: ficam entre a necessidade do repouso e a atenção às necessidades dos outros.

Este é o modelo para todos e para sempre, não importa o tempo ou o lugar onde a Igreja se faça presente.

Na passagem, também contemplamos o notável entusiasmo dos Apóstolos, ansiosos por narrar o resultado da sua primeira missão: “Os Apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo que haviam feito e ensinado (Mc 6,30).

A escuta de Jesus se deu com afeto e compreensão, de modo que os convida paternalmente a descansar: “Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco (Mc 6,31).

Com este convite, Jesus nos revela a importância do repouso aos agentes de pastoral, sempre a correr, sobrecarregados por tanto a fazer, bem como todo cristão, que precisa muito se ‘desligar’ de suas atividades, a fim de recuperar a serenidade e a força, recolocando-se, prontamente, a serviço da evangelização, em todas as suas dimensões e desafios.

A passagem nos apresenta a multidão reunida, sedenta de uma Palavra, atenção, por isto Jesus Se comove diante dela, pois estavam como ovelhas sem pastor: “Jesus viu uma multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6,34), e, assim, a ela restitui a serenidade e a esperança.

Quanta humanidade nas palavras e no agir de Jesus! Somente Ele, o Senhor, tem Palavra de vida eterna, dirá o Apóstolo, e somente Ele nos assegura a serenidade, força e esperança.

Renovemos a graça da missão de discípulos missionários do Senhor, na fidelidade a Ele, Divino Mestre da serenidade, da força e da esperança.

Oremos:
“Ó Deus, sede generoso para com os vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”


Fonte: Lecionário Comentado – Vol I – Editora Paulus – Lisboa – pp.762-763

Servos da Compaixão Divina

                                                               

Servos da Compaixão Divina

Ouvimos no 4º Sábado do Tempo Comum a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 6,30-34), e contemplamos mais uma vez o Amor e o zelo de Deus com Seu Povo; a Sua misericórdia, ternura e compaixão com Seu rebanho, que parece ovelhas sem pastor.

Deus é tomado da compaixão que enfrenta todo tipo de sofrimento, suscitando Profetas, discípulos para cuidar com carinho do Seu rebanho. Ninguém pode ficar excluído do pão, da alegria, da vida...

Com isto entendemos o nascimento das mais diversas pastorais e serviços dentro da comunidade: cuidar da vida do rebanho.

Há um só Deus, um só povo, um só Senhor, como bem diz São Paulo na Carta aos Efésios.

Com Jesus os “muros” foram derrubados. Ele gerou o homem novo com vida plena. Não podemos ficar desanimados e desorientados à mercê dos ventos e das marés. Ele mesmo nos devolve a paz, a alegria e a serenidade.

Reflitamos:

- Quando estou cansado e desanimado onde me reabasteço para continuar a missão evangelizadora?
- Sendo o discípulo testemunha visível da compaixão e Amor de Deus, como tenho testemunhado a compaixão e o Amor de Deus?

- Sou agente de Pastoral na minha comunidade? 
- Sirvo a Deus com entusiasmo e empenho?

- Tenho consciência de que continuo a missão do Senhor Jesus?

Para que nossa missão seja plena de êxito, é necessário intimidade e confiança em Deus, e a certeza de que é o Espírito Santo o Protagonista da história.

A comunidade tem que ser sinal e instrumento da compaixão, do Amor e da ternura divina. Coração e mente sensibilizados aos clamores do povo e à busca de evangélicas respostas. 

Sejamos sinais da Compaixão Divina

                                                               

Sejamos sinais da Compaixão Divina

Ouvimos na Liturgia do 4º Sábado da quarta semana do Tempo Comum, a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 6,30-34), e contemplamos o amor e a solicitude de Deus para com o Seu rebanho, numa incomparável compaixão.

Já no Antigo testamento, Deus já havia prometido ser o próprio Pastor, conforme a passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 23,1 -6).

O Profeta Jeremias é a voz incompreendida que clama pela conversão e fidelidade do Povo a Deus e ao Seu Divino Projeto Libertador. Por isto é considerado o “Profeta da desgraça”.

Ele denuncia a ação dispersiva dos pastores do seu tempo, e anuncia a pertença do Povo a Deus. Fala da intervenção divina através da repatriação dos exilados (a volta do exílio); a escolha de pastores exemplares e a vinda do Messias.

Já não mais ficarão perdidos e abandonados ao sabor dos ventos e dos mares, dos interesses inescrupulosos de seus pastores, de suas autoridades.

Com Jeremias, aprendemos a confiar em Deus mantendo, nas adversidades, a alegria, a serenidade, a esperança e a paz, e, de modo muito especial, a não usar o povo que nos foi confiado em benefício próprio.

Voltando ao Evangelho, refletimos sobre o regresso dos discípulos que foram enviados em missão, entusiasmados pelos resultados, mas cansados, naturalmente.

Jesus compreende e os convida ao recolhimento, a gozar da intimidade com Ele, recuperando as forças, para não caírem num ativismo que esvazia a vida de sentido e dinamismo.

É preciso estar sempre refeito e disposto para colocar-se com alegria a serviço do rebanho sofrido do Senhor, e nisto consiste a essência de toda atividade pastoral. De modo que podemos dizer tal Cristo, tal cristão.

Questionemo-nos:
- Vivemos num ativismo descontrolado?
- Nossas atividades não são, por vezes, de funcionários eficientes tão apenas?

- Nossas atividades são revigoradas por uma genuína espiritualidade?
- Qual o perigo da fadiga, cansaço, desânimo, diante dos muitos desafios e das respostas que devemos dar diante do povo?

- Diante do rebanho, temos a humanidade e a sensibilidade de Jesus?
- Nosso coração e consciência doem diante dos clamores que brotam da vida do povo simples de nossas comunidades?

- O que procuramos fazer em resposta a estes clamores?
- Como acolhemos e vivemos a proposta de Jesus no cuidado daqueles que nos foram confiados, dentro e fora da Igreja?

Finalizo apresentando um eterno ciclo na vida do discípulo missionário do Senhor por força de seu Batismo: envio, missão, cansaço, descanso, renovação, continuidade.

Começar e recomeçar sempre, sem desânimo, revigorados no Banquete da Palavra e da Eucaristia, a serviço do Reino, até que alcancemos a glória da eternidade, e então brilharemos com os  justos, conforme o Senhor nos assegurou.

Nada façamos sem Deus...

                                                     


Nada façamos sem Deus...

“Porque, sem o Criador, a criatura se reduz a nada”

A luz da A Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” (Vaticano II), sobre a Igreja no mundo de hoje, reflitamos sobre a concepção da atividade humana nas construções de um mundo mais humano, solidário e fraterno.

“A atividade humana origina-se no homem e para o homem se ordena. De fato, ao trabalhar, o homem não apenas modifica os seres e a sociedade, mas aperfeiçoa-se a si também. Aprende muitas coisas, desenvolve suas faculdades, sai de si mesmo e se supera.

Este crescimento, se bem entendido, vale muito mais que toda a riqueza que possa ajuntar. O homem vale mais pelo que é do que pelo que tem.

Igualmente, tudo quanto os homens fazem para obter maior justiça, fraternidade mais larga e uma ordem mais humana nas relações sociais, tem maior valor do que os progressos técnicos. Estes podem proporcionar base material para a promoção humana, mas, por si sós, não conseguem realizá-la.

Esta é, pois, a norma da atividade humana: que corresponda ao genuíno bem da humanidade, de acordo com o desígnio de Deus, e permita ao homem, como indivíduo ou como membro da sociedade, a plena realização de sua vocação.

Contudo, muitos contemporâneos parecem temer um vínculo muito estreito entre a atividade humana e a religião. Veem nisso um perigo para a autonomia das pessoas, das sociedades e das ciências.

Se por autonomia das realidades terrenas entendemos que toda criatura e as sociedades gozam de leis e de valores próprios, que o homem deve gradualmente reconhecer, utilizar e organizar, tal exigência de autonomia é plenamente legítima.

Não só é exigida pelos homens de hoje, mas concorda com a vontade do Criador. Em virtude mesmo da criação todas as coisas possuem consistência própria, verdade, bondade, leis e ordens específicas. Deve o homem respeitá-las reconhecendo os métodos próprios de cada ciência e técnica.

Seja-nos, portanto, permitido deplorar certas atitudes existentes mesmo entre cristãos, insuficientemente advertidos da legítima autonomia da ciência, que levaram, pelas tensões e controvérsias suscitadas, muitos espíritos a julgar que a fé e a ciência se opõem.

Se, porém, por ‘autonomia das realidades temporais’ se entende que as criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem qualquer referência ao Criador, quem reconhece a Deus não pode deixar de perceber a que ponto é falsa esta afirmação. Porque, sem o Criador, a criatura se reduz a nada.”

Para aprofundar, retomo a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 5,1-11) em que Jesus faz de Pedro e toda Igreja “pescadores de homens”, naquele dia da pesca milagrosa, depois de uma enfadonha e decepcionante  noite sem nada pescar, e que somente no amanhecer, em atenção a Palavra do Divino Mestre, o êxito é alcançado – “assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam” (v. 6).

Nisto consiste a missão da Igreja, avançar para águas mais profundas e lançar as redes, testemunhando que a Onipotência Divina não dispensa a ação humana.

A Igreja nos ensina que toda atividade/trabalho humano é uma forma do homem participar da obra da criação.  

Embora Deus não prescinda da atividade humana, para que ao nada não sejamos reduzidos, é imprescindível que a mesma corresponda aos desígnios divinos.

Oportunas são também estas palavras do Missal Dominical sobre esta passagem do Evangelho:

“A a humanidade se encontra à beira de um abismo, basta pouco para nele precipitar-se, tal é o seu egoísmo e seu gosto de poder.

Hoje, ser pescador de homens significa participar de todos os empreendimentos que querem livrar o homem dessa perdição e que concorrem para arrancar a humanidade do perigo que a ameaça, através de maior igualdade, paz mais estável, mais ampla possibilidade de promoção para os pequenos...  

A Igreja só pode revelar o Amor de Deus partilhando este Amor com os homens”.  (1)

Portanto, como criaturas, unamo-nos ao Criador de todas as coisas, para com Seu Filho Redentor, confiando na ação e presença do Santo Espírito, desenvolver tudo quanto possamos para que a vida humana brilhe em esplendor e dignidade.

(1) Missal Dominical - Editora Paulus - pág.1110

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