Como o fragor de muitas águas Deus nos fala!
quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Como o fragor de muitas águas Deus nos fala! (continuação)
Como o fragor de muitas águas Deus nos fala!
O pecado capital da soberba
A indulgência jubilar e a prática das obras de misericórdia
A
indulgência jubilar e a prática das obras de misericórdia
“A indulgência está, portanto, ligada
também às obras de misericórdia e de penitência, com as quais se testemunha a
conversão empreendida.
Os fiéis, seguindo o exemplo e mandato
de Cristo, sejam encorajados a praticar mais frequentemente obras de caridade
ou misericórdia, principalmente a serviço daqueles irmãos que se encontram
oprimidos por diversas necessidades.
Mais concretamente redescubram ‘as obras de misericórdia corporais; dar
comida aos famintos, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, acolher o
estrangeiro, assistir aos doentes, visitar os presos, sepultar os mortos’
(Misericordiae Vultus, n.15) e redescubram também as ‘obras de misericórdia espirituais: aconselhar os duvidosos, ensinar
os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas,
suportar com paciência a injustiças, rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos’
(Misericordiae Vultus, n.15).” (1)
(1) Dicastério para a Evangelização – Jubileu 2025- Textos
Litúrgicos – Normas sobre a Concessão da Indulgência Jubilar - Edições CNBB –
pág. 65-66
Com Cantos e louvores, celebremos as maravilhas de Deus
Com Cantos e louvores, celebremos as maravilhas de
Deus “Louvem a
Javé, nações todas, e O glorifiquem todosos povos!
Pois o Seu Amor por nós é firme, e afidelidade
de Javé é para sempre! Aleluia!”(Sl 117,1-2) Sejamos enriquecidos com o “Comentário sobre os Salmos”, do bispo e
mártir São João Fisher (Séc. XVI): “Primeiramente, Deus, realizando muitos portentos
e prodígios, libertou o povo de Israel da escravidão do Egito. Deu-lhe passagem
a pé enxuto através do mar Vermelho. Sustentou-o com o Pão vindo do céu, maná e
codornizes. Da pedra duríssima fez jorrar água abundante para os sedentos.
Deu-lhe vitória sobre os inimigos que lhe moviam guerra. Fez com que o Jordão,
contrariando o seu ímpeto, retrocedesse por algum tempo. Repartiu entre as tribos e as famílias a terra
prometida. Concedeu-lhes tudo isto com amor e generosidade. No entanto,
ingratamente, aqueles homens esquecidos de tudo, desleixando e mesmo repudiando
o culto a Deus, não poucas vezes se emaranharam no inominável crime da
idolatria. Depois, também a nós, quando ainda pagãos íamos
atrás dos ídolos mudos, ao sabor de nossas inclinações, Ele nos cortou da
oliveira selvagem da gentilidade e, quebrados os ramos naturais, nos enxertou
na verdadeira oliveira do povo judaico, tornando-nos participantes da graça
fecunda de Sua raiz. Por fim, nem sequer poupou ao próprio Filho, mas O
entregou por todos nós como sacrifício e oblação de suave odor, a fim de nos
remir e de tornar puro e aceitável para Si um povo. Todos estes fatos, absolutamente certos, não são
apenas provas de Seu Amor e de Sua generosidade para conosco, mas também
acusações. Pois, ingratos, ou melhor, ultrapassando todos os limites de
ingratidão, nem damos atenção ao Seu Amor nem reconhecemos a grandeza dos
benefícios. Rejeitamos e temos por desprezível o liberal doador de tão grandes
bens. A imensa misericórdia que Ele demonstrou incessantemente para com os
pecadores não nos comove nem nos leva a adotar uma norma de vida conforme Seu
Mandamento Santo. Tudo isto bem merece ser escrito para as gerações
futuras, em perpétua memória. E assim todos aqueles que no futuro receberem o
nome de cristão, reconhecendo a infinita bondade de Deus para conosco, não
deixem nunca de celebrá-Lo com louvores divinos.” A primeira reflexão que nos desperta, é sobre a beleza e a riqueza
inesgotável dos Salmos, que são a expressão da oração do Povo de Deus, com as diferentes
sentimentos e realidades por que passamos. Não há nada de humano que tenha escapado aos salmistas. Com eles,
podemos falar com Deus: alegrias e tristezas, angústias e esperanças, dúvidas e
certezas, prantos e sorrisos, sonhos e pesadelos, sofrimentos e realizações,
sombras e luzes, pecado e graça. Cantos e louvores a Deus: Pela Sua ação criadora e recriadora, desde os primeiros amanheceres no
Éden, até que venha o novo céu e a nova terra. Pela Sua bondade e misericórdia, conduzindo o Povo pelo deserto,
libertando-o da escravidão do Egito, e de toda forma de escravidão em todos os
tempos. Pela experiência do amor e presença, através dos Profetas que
prepararam a vida do Messias, e com Ele, o tempo da graça, a inauguração do
Reino. Pela proximidade de Deus no Verbo que Se fez Carne, que desceu ao nosso
encontro assumindo nossa condição humana, igual a nós, exceto no pecado, para
nos redimir e nos elevar à glória da eternidade. Pela bondade e misericórdia nas Palavras e ação de Jesus, que nos
revelou a face misericordiosa do Pai, porque inserido na plena comunhão de amor
do Santo Espírito. Pelo amor que ama até o fim, que elevado na Árvore da Vida, deixou-Se
trespassar e morrer de amor por nós. Pela presença do Santo Espírito, o Paráclito, que nos foi concedido
quando voltou para junto do Pai, para conduzir, iluminar e fortalecer a Sua Igreja,
para que jamais sentíssemos orfandade, fragilidade e abandono. Reflitamos: - O que mais Deus poderia ter feito por nós?Nada, absolutamente nada! Pois não poupou Seu Próprio Filho, para que
n’Ele creiamos e tenhamos vida eterna (Jo 3,16). - O que podemos fazer para corresponder ao Amor de Deus?Muito mais, porque, ainda que algo tenhamos feito, é nada diante do
tudo que a Trindade Santíssima fez, faz e sempre fará em nosso favor. O tempo é breve, a figura deste mundo passa. Façamos de cada instante,
de cada palavra e gesto multiplicado uma correspondência ao indizível e
infinito amor de Deus por nós, tão somente assim felizes o seremos. A segunda reflexão é sobre a graça de podermos celebrar as maravilhas
de Deus. No comentário, vemos retratadas as maravilhas que Deus realizou sempre
em favor da humanidade, cuja expressão máxima encontra-se em Jesus, entregue
por todos nós como sacrifício de suave odor. Também hoje, precisamos reconhecer as maravilhas que Deus continua a
realizar, em meio às dificuldades, provações, angústias e tristezas que se
possam notar. Não podemos incorrer no risco de não perceber a ação de Deus, a cada
segundo em nossa vida, e não cairmos na tentação de ver tão apenas o que haja
de negativo. Celebremos com louvores divinos a ação permanente de Deus, para que
tenhamos vida plena e feliz. Redescobrir a Sua vontade e realizá-la, é um dos
caminhos de acolhida da Palavra de Jesus, com a força do Espírito, apresentada
no Sermão da Montanha: as Bem-Aventuranças. Louvemos e agradeçamos as maravilhas que Deus realiza em nosso favor,
pois a gratidão é, verdadeiramente, o tesouro dos humildes (Shaekesperare); a
gratidão, humildade, paz e felicidade caminham juntas. Contemplemos as maravilhas de Deus com os olhos do
mesmo coração que celebra a Sua misericórdia e bondade, na plena comunhão com o
Espírito, por meio de Jesus, a quem rendemos toda a honra, glória, poder e
louvor. Amém.
A virtude da paciência
“Carta Apostólica Totum Amoris Est” - “Tudo pertence ao amor” (Síntese)
“Carta Apostólica Totum Amoris Est” - “Tudo pertence ao amor”
O título “Tudo pertence ao amor”,
é a expressão do grande legado espiritual por ele deixado, afirma o Papa ao
iniciar a Carta.
São Francisco de
Sales nasceu no dia 21 de agosto de 1567, na Província de Savoia, no castelo de
Sales, foi ordenado Sacerdote em 18 de dezembro de 1593, e ordenado bispo em 8
de dezembro de 1602, morreu no dia 28 de dezembro de 1622
O Papa Francisco
menciona e desenvolve a Carta a partir do célebre “Tratado do Amor
de Deus”, e para São Francisco de Sales, não
havia melhor lugar para encontrar Deus e ajudar a procurá-lo, do que no coração
de cada mulher e homem do seu tempo, afirma o Papa Francisco.
No Prefácio do
Tratado, encontra-se uma síntese do seu modo de proceder: “Na santa Igreja, tudo pertence
ao amor, vive no amor, faz-se por amor e vem do amor”.
A caridade e o
amor é que dão valor às nossas obras, e sua vida e escritos assim expressaram,
de modo que, não foi por acaso que São João Paulo II o chamava de “Doutor
do amor divino”.
Possuía dotes de
mediador, como homem do diálogo, e revelou-se inventor de práticas pastorais
originais e ousadas, como os famosos «panfletos», afixados por todo o lado e
até metidos por baixo da porta das casas.
Deu-se conta de uma
verdadeira «mudança de época», à qual era preciso responder através de linguagens
antigas e novas.
São Francisco de
Sales, controversista hábil e incansável, ia-se transformando, pela graça, num
sagaz intérprete do tempo e extraordinário diretor de almas.
Além de “Tratado do Amor de Deus”,
também escreveu a “Introdução
à Vida Devota”, somado a milhares de cartas de
amizade espiritual.
Sobre São Francisco
de Sales, assim falou o Papa Bento XVI: “É apóstolo, pregador, escritor, homem de ação e
oração; comprometido na realização dos ideais do Concílio de Trento; empenhado
na controvérsia e no diálogo com os protestantes, experimentando cada vez mais,
para além do necessário confronto teológico, a eficácia da relação pessoal e da
caridade; encarregado de missões diplomáticas a nível europeu e de tarefas
sociais de mediação e de reconciliação”.
Seu apostolado
ilumina o nosso tempo na edificação de uma Igreja não autorreferencial, liberta
de toda a mundanidade, mas capaz de habitar no seio do mundo, partilhar a vida
das pessoas, caminhar juntos, escutar e acolher; a fim de que saiamos da preocupação
excessiva conosco, com as estruturas, a imagem social, perguntando antes quais
são as necessidades concretas e as expectativas espirituais de nosso povo,
afirma o Papa Francisco, retomando citações da Evangelli Gaudium.
Os seus escritos,
além do que se disse, é um convite para que nos abramos, com confiança, às asas
ao Espírito, e assim, façamos os voos necessários, pois a graça de Deus não nos
torna passivos, mas protagonistas e concriadores.
Também nos ajuda
na compreensão da falsa e verdadeira devoção, que é o caminho da perfeição e santidade
para todos (como veremos, séculos depois, claramente expresso na Lumen Gentium
– Concílio Vaticano II, sobre a vocação universal à santidade).
Na “Introdução à
Vida Devota”, São Francisco define a falsa devoção, e, segundo o Papa, não é
difícil nela nos revermos, pois é uma descrição graciosa e sempre atual:
“Quem se consagra ao
jejum, pensará que é devoto porque não come, enquanto tem o coração cheio de
rancor; e enquanto não se permite banhar a língua no vinho e nem sequer na água
por amor da sobriedade, não sentirá qualquer escrúpulo em mergulhá-la no sangue
do próximo com a maledicência e a calúnia. Outro pensará que é devoto porque
bisbilha todo o dia uma série interminável de orações; e não dará peso às palavras
más, arrogantes e injuriosas que a sua língua lançará, no resto do dia, aos
servos e vizinhos. Outro ainda levará de bom grado a mão à carteira para dar
esmola aos pobres, mas não conseguirá extrair do coração uma migalha de doçura
para perdoar os inimigos; e outrem, por sua vez, perdoará aos inimigos, mas
pagar as dívidas nem lhe passará pela cabeça; será preciso o tribunal.”
À luz dos seus
escritos, o Papa reflete sobre o êxtase da vida, de modo que, para São Francisco, a vida
cristã nunca acontece sem êxtase e, todavia, o êxtase não é autêntico sem a
vida.
Deste modo, São
Francisco de Sales, com uma imagem muito bela, descreve no mencionado Tratado, o
Calvário como “o monte dos enamorados” – lá e somente
lá, se compreende que “não é possível ter a vida sem o amor, nem o amor sem a
morte do Redentor; mas, fora de lá, tudo é morte eterna ou amor eterno, e toda
a sabedoria cristã consiste em saber escolher bem”.
Encerra a carta
citando o final do seu Tratado, que é a conclusão de um discurso de Santo
Agostinho sobre a caridade:
“Que há de mais fiel que a caridade? Fiel não ao efêmero,
mas ao eterno. Ela tudo suporta na vida presente, pela simples razão que
acredita em tudo sobre a vida futura: suporta todas as coisas que aqui nos são
dadas suportar, porque espera tudo o que lhe foi prometido lá. Justamente nunca
acaba. Por isso praticai a caridade e produzi, meditando-a santamente, frutos
de justiça. E se encontrardes, em louvor dela, outras coisas que não vos tenha
dito agora, que isso se veja no vosso modo de viver”.
Finalmente,
o Papa nos convida a crescer em sua devoção a São Francisco de Sales, e contar
com sua intercessão, a fim de que sejam derramados, abundantemente, os dons do
Espírito no caminho do santo Povo fiel de Deus.
PS: Desejando ler a mensagem na integra, acesse:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/20221228-totum-amoris-est.html