quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Como o fragor de muitas águas Deus nos fala! (continuação)


Como o fragor de muitas águas Deus nos fala! 

Como o fragor de muitas águas Deus nos fala!
Que em meio a ruídos ensurdecedores, 
Sua voz, atentos, possamos escutar,
E de nossos compromissos sagrados jamais nos furtar!

Como o fragor de muitas águas Deus nos fala!
Se não O ouvimos é porque outros barulhos nos ensurdecem...
E, curvados sob o jugo de ídolos, de forças subtraídos,
Somos aniquilados, espiritualmente enfraquecidos!

Como o fragor de muitas águas Deus nos fala!
No grito do silêncio dos inocentes,
No gesto de amor puro, verdadeiro, sem publicidades,
Cujo objetivo maior é, do outro, a felicidade!

Como o fragor de muitas águas Deus nos fala!
Em exercícios edificantes de jejum, oração e esmola,
Cultura da vida e da paz, solícitos, juntos construir
Seu Reino, mais que sonho, um mundo novo que há de vir!

Como o fragor de muitas águas Deus nos fala!
Calemo-nos, silenciemo-nos, nem mais uma palavra!
Acolhamos, sintamos Sua amável e indescritível presença.
Não haverá obstáculos cujas forças maiores nos vençam!

Com Ele, com Sua voz, Sua Palavra...
Uma certeza divina que jamais nos decepciona!
Fragor de Suas palavras, no coração, ecoadas,
Mais que vencedores, já o somos, em árduas jornadas! 

O pecado capital da soberba

O pecado capital da soberba

São Bernardo nos apresenta as diferentes manifestações progressivas da soberba, das quais devemos ficar sempre vigilantes.

À luz destas, apresento uma breve oração:

Senhor Jesus, a Vós que dissestes: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 29), nós Vos pedimos:

Livrai-nos da curiosidade, de querer saber tudo de todos, sem que seja, de fato, preocupação em edificar e construir fraternidade e comunhão.

Livrai-nos da frivolidade de espírito, porque a falta de profundidade na oração e na vida leva-nos à futilidade e vazio sem sentido.

Livrai-nos da alegria tola e deslocada, que se alimenta, frequentemente, dos defeitos dos outros e os ridiculariza, prevalecendo-nos das fraquezas do próximo.

Livrai-nos da arrogância, pois esta atitude nos torna vaidosos, orgulhosos, não reconhecendo a importância do outro.

Livrai-nos da arrogância que nos cega, levando-nos à indiferença ou até mesmo a pisar sobre os mais fracos, fechando-nos em nós mesmos.

Livrai-nos da presunção, com conceito maior de nós mesmos, a ponto de não reconhecermos, humildemente nossas fraquezas e limitações.

Livrai-nos do fechamento da mente e do coração, não reconhecendo jamais as falhas próprias, ainda que sejam notórias para todos com os quais convivemos.

Livrai-nos do medo de conhecer a autêntica realidade do nosso coração, e que não sejamos dados a pisar sobre os outros, seja em pensamento ou em atitudes. 

Livrai-nos da relutância, medo ou indiferença em abrir nossa alma ao sacerdote no Sacramento da Penitência, por não reconhecermos nossos pecados. Amém.

A indulgência jubilar e a prática das obras de misericórdia

                                               


A indulgência jubilar e a prática das obras de misericórdia

“A indulgência está, portanto, ligada também às obras de misericórdia e de penitência, com as quais se testemunha a conversão empreendida.

Os fiéis, seguindo o exemplo e mandato de Cristo, sejam encorajados a praticar mais frequentemente obras de caridade ou misericórdia, principalmente a serviço daqueles irmãos que se encontram oprimidos por diversas necessidades.

Mais concretamente redescubram ‘as obras de misericórdia corporais; dar comida aos famintos, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, acolher o estrangeiro, assistir aos doentes, visitar os presos, sepultar os mortos’ (Misericordiae Vultus, n.15) e redescubram também as ‘obras de misericórdia espirituais: aconselhar os duvidosos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência a injustiças, rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos’ (Misericordiae Vultus, n.15).” (1)

 

 

(1) Dicastério para a Evangelização – Jubileu 2025- Textos Litúrgicos – Normas sobre a Concessão da Indulgência Jubilar - Edições CNBB – pág. 65-66


Com Cantos e louvores, celebremos as maravilhas de Deus


 

Com Cantos e louvores, celebremos as maravilhas de Deus
 
“Louvem a Javé, nações todas, e O glorifiquem todos
os povos! Pois o Seu Amor por nós é firme, e a
fidelidade de Javé é para sempre! Aleluia!”
(Sl 117,1-2)
 
Sejamos enriquecidos com o “Comentário sobre os Salmos”, do bispo e mártir São João Fisher (Séc. XVI):
 
“Primeiramente, Deus, realizando muitos portentos e prodígios, libertou o povo de Israel da escravidão do Egito. Deu-lhe passagem a pé enxuto através do mar Vermelho.
 
Sustentou-o com o Pão vindo do céu, maná e codornizes. Da pedra duríssima fez jorrar água abundante para os sedentos. Deu-lhe vitória sobre os inimigos que lhe moviam guerra. Fez com que o Jordão, contrariando o seu ímpeto, retrocedesse por algum tempo.
 
Repartiu entre as tribos e as famílias a terra prometida. Concedeu-lhes tudo isto com amor e generosidade. No entanto, ingratamente, aqueles homens esquecidos de tudo, desleixando e mesmo repudiando o culto a Deus, não poucas vezes se emaranharam no inominável crime da idolatria.
 
Depois, também a nós, quando ainda pagãos íamos atrás dos ídolos mudos, ao sabor de nossas inclinações, Ele nos cortou da oliveira selvagem da gentilidade e, quebrados os ramos naturais, nos enxertou na verdadeira oliveira do povo judaico, tornando-nos participantes da graça fecunda de Sua raiz. Por fim, nem sequer poupou ao próprio Filho, mas O entregou por todos nós como sacrifício e oblação de suave odor, a fim de nos remir e de tornar puro e aceitável para Si um povo.
 
Todos estes fatos, absolutamente certos, não são apenas provas de Seu Amor e de Sua generosidade para conosco, mas também acusações. Pois, ingratos, ou melhor, ultrapassando todos os limites de ingratidão, nem damos atenção ao Seu Amor nem reconhecemos a grandeza dos benefícios. Rejeitamos e temos por desprezível o liberal doador de tão grandes bens. A imensa misericórdia que Ele demonstrou incessantemente para com os pecadores não nos comove nem nos leva a adotar uma norma de vida conforme Seu Mandamento Santo.
 
Tudo isto bem merece ser escrito para as gerações futuras, em perpétua memória. E assim todos aqueles que no futuro receberem o nome de cristão, reconhecendo a infinita bondade de Deus para conosco, não deixem nunca de celebrá-Lo com louvores divinos.”
 
A primeira reflexão que nos desperta, é sobre a beleza e a riqueza inesgotável dos Salmos, que são a expressão da oração do Povo de Deus, com as diferentes sentimentos e realidades por que passamos.
 
Não há nada de humano que tenha escapado aos salmistas. Com eles, podemos falar com Deus: alegrias e tristezas, angústias e esperanças, dúvidas e certezas, prantos e sorrisos, sonhos e pesadelos, sofrimentos e realizações, sombras e luzes, pecado e graça.
 
Cantos e louvores a Deus:
 
Pela Sua ação criadora e recriadora, desde os primeiros amanheceres no Éden, até que venha o novo céu e a nova terra.
 
Pela Sua bondade e misericórdia, conduzindo o Povo pelo deserto, libertando-o da escravidão do Egito, e de toda forma de escravidão em todos os tempos.
 
Pela experiência do amor e presença, através dos Profetas que prepararam a vida do Messias, e com Ele, o tempo da graça, a inauguração do Reino.
 
Pela proximidade de Deus no Verbo que Se fez Carne, que desceu ao nosso encontro assumindo nossa condição humana, igual a nós, exceto no pecado, para nos redimir e nos elevar à glória da eternidade.
 
Pela bondade e misericórdia nas Palavras e ação de Jesus, que nos revelou a face misericordiosa do Pai, porque inserido na plena comunhão de amor do Santo Espírito.
 
Pelo amor que ama até o fim, que elevado na Árvore da Vida, deixou-Se trespassar e morrer de amor por nós.
 
Pela presença do Santo Espírito, o Paráclito, que nos foi concedido quando voltou para junto do Pai, para conduzir, iluminar e fortalecer a Sua Igreja, para que jamais sentíssemos orfandade, fragilidade e abandono.
 
Reflitamos:
 
- O que mais Deus poderia ter feito por nós?
Nada, absolutamente nada! Pois não poupou Seu Próprio Filho, para que n’Ele creiamos e tenhamos vida eterna (Jo 3,16).
 
- O que podemos fazer para corresponder ao Amor de Deus?
Muito mais, porque, ainda que algo tenhamos feito, é nada diante do tudo que a Trindade Santíssima fez, faz e sempre fará em nosso favor.
 
O tempo é breve, a figura deste mundo passa. Façamos de cada instante, de cada palavra e gesto multiplicado uma correspondência ao indizível e infinito amor de Deus por nós, tão somente assim felizes o seremos.
 
A segunda reflexão é sobre a graça de podermos celebrar as maravilhas de Deus.
 
No comentário, vemos retratadas as maravilhas que Deus realizou sempre em favor da humanidade, cuja expressão máxima encontra-se em Jesus, entregue por todos nós como sacrifício de suave odor.
 
Também hoje, precisamos reconhecer as maravilhas que Deus continua a realizar, em meio às dificuldades, provações, angústias e tristezas que se possam notar.
 
Não podemos incorrer no risco de não perceber a ação de Deus, a cada segundo em nossa vida, e não cairmos na tentação de ver tão apenas o que haja de negativo.
 
Celebremos com louvores divinos a ação permanente de Deus, para que tenhamos vida plena e feliz. Redescobrir a Sua vontade e realizá-la, é um dos caminhos de acolhida da Palavra de Jesus, com a força do Espírito, apresentada no Sermão da Montanha: as Bem-Aventuranças.
 
Louvemos e agradeçamos as maravilhas que Deus realiza em nosso favor, pois a gratidão é, verdadeiramente, o tesouro dos humildes (Shaekesperare); a gratidão, humildade, paz e felicidade caminham juntas.
 
Contemplemos as maravilhas de Deus com os olhos do mesmo coração que celebra a Sua misericórdia e bondade, na plena comunhão com o Espírito, por meio de Jesus, a quem rendemos toda a honra, glória, poder e louvor. Amém.  

De Natã para Davi


A virtude da paciência

                                                         

A virtude da paciência

Todos podemos nos decepcionar frente às diversas dificuldades multiplicadas no tempo presente: resultados esperados, não alcançados; demora de resposta; metas que parecerem menos tangíveis; decepções, por ver não conformar o que se esperava de alguém ou de uma situação com a realidade de fato.

As provas são muitas, ora menores, ora maiores, ora internas próprias da condição humana, ora externas, devido aos inúmeros fatores que nos envolvem (econômicos, familiares, sociais).

E nos dizem: “é preciso ter paciência”... Paciência? Mas como ter paciência? Como cultivá-la? O que fazer quando “sentimos que o sinal de reserva já foi dado”?

A virtude da paciência precisa andar de mãos dadas com a perseverança, apesar de todos os obstáculos que possam surgir e nos desafiar, pois a paciência é, segundo Santo Agostinho, “a virtude pela qual suportamos os males com ânimo sereno”.

Na Sagrada Escritura, encontramos inúmeras passagens que revelam a paciência de Deus conosco: é próprio do Amor de Deus não desistir jamais de nós.

Entretanto, não confundamos paciência com passividade perante o sofrimento, pois o Amor de Deus nos assegura que, se um sofrimento nos foi permitido, é para que tenhamos frutos maiores ainda, como nos diz Santo Tomás em seu comentário da Epístola aos Hebreus:

– “Corramos com paciência ao combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé. Em vista da alegria que lhe foi proposta, suportou a Cruz; não Se importando com a infâmia (Hb 12,1-2)”.

O Senhor, sabedor das dificuldades, nos revela a misericórdia de Deus e nas provações nos diz: “havereis de ter aflições no mundo, mas tendes confiança, Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Precisamos viver a virtude da paciência em três níveis:

- Primeiro, para conosco próprios: humildade, confiança em Deus, superação das próprias limitações. São Francisco de Sales afirmava que “é necessário termos paciência com todos, mas, em primeiro lugar, conosco próprios – (“Epistolário – fragmento n.139);

- Depois, com as pessoas com quem nos relacionamos: elas também têm seus defeitos, limitações, e também podem estar fazendo esforços de superação. É preciso dar um tempo, uma resposta amável, para que nossas palavras cheguem ao coração destas, e ainda se não chegarem, com certeza chegarão ao Coração do Senhor, que não desviará Seu olhar de afeto para nós. Pode acontecer que o veneno, o problema não esteja no outro, mas bem dentro de nós;

- Finalmente, com os acontecimentos que nos contrariam: doença, pobreza, frio ou calor, contratempos, provações de muitos nomes... É preciso enfrentar tudo com ânimo, sem “explodir”, sem rancores, blasfêmias. Santificar-se também com as adversidades, e em todas as circunstâncias dar graças a Deus, ficando sempre alegres, e orando sem cessar, conforme falou o Apóstolo (1 Ts 5, 17).

Abrir o coração à docilidade do Espírito que nos assiste, vivendo a paciência de mãos dadas com a constância, a humildade: quando a paciência anda de mãos dadas com a humildade, acomoda-se ao ser das coisas e respeita o tempo e o momento de cada uma delas, sem precipitações, perturbações, inquietações desnecessárias, porque sabe lidar com as próprias limitações, com as dos outros e com o contexto no qual nos encontramos inseridos.

É preciso ter sempre o olhar posto em Cristo e confiar em Sua presença e Palavra; manter a serenidade, e, somente cresceremos em serenidade, se a pusermos a serviço da caridade, fortalecendo a humildade, tomando consciência de nossas limitações, aprendendo a conviver com elas para superá-las.

Para finalizar, somente com uma Oração bem feita, deixando-nos modelar pela mão divina, iluminando as profundezas de nosso coração, reencontraremos a paciência que tanto desejamos e precisamos para nos relacionarmos conosco, com o outro e com o mundo que nos cerca.

Cultivemos esta virtude tão cara, tão necessária para que a esperança de novos tempos se torne uma realidade, e o fortalecimento de novas relações de amor e paz.

Somente nos sentindo amados por Deus, daremos um suspiro profundo, renovando nossas forças que vêm do alto, vêm da Divina Fonte da Paciência: A Trindade Santíssima.

“Carta Apostólica Totum Amoris Est” - “Tudo pertence ao amor” (Síntese)

 


“Carta Apostólica Totum Amoris Est” - “Tudo pertence ao amor 

Uma síntese da Carta Apostólica escrita pelo Papa Francisco, em 28 de dezembro de 2022, quando se celebrou o IV Centenário da Morte de São Francisco de Sales, bispo e doutor da Igreja.

O título “Tudo pertence ao amor”, é a expressão do grande legado espiritual por ele deixado, afirma o Papa ao iniciar a Carta.

São Francisco de Sales nasceu no dia 21 de agosto de 1567, na Província de Savoia, no castelo de Sales, foi ordenado Sacerdote em 18 de dezembro de 1593, e ordenado bispo em 8 de dezembro de 1602, morreu no dia 28 de dezembro de 1622

O Papa Francisco menciona e desenvolve a Carta a partir do célebre “Tratado do Amor de Deus”, e para São Francisco de Sales, não havia melhor lugar para encontrar Deus e ajudar a procurá-lo, do que no coração de cada mulher e homem do seu tempo, afirma o Papa Francisco.

No Prefácio do Tratado, encontra-se uma síntese do seu modo de proceder: “Na santa Igreja, tudo pertence ao amor, vive no amor, faz-se por amor e vem do amor”.

A caridade e o amor é que dão valor às nossas obras, e sua vida e escritos assim expressaram, de modo que, não foi por acaso que São João Paulo II o chamava de “Doutor do amor divino”.

Possuía dotes de mediador, como homem do diálogo, e revelou-se inventor de práticas pastorais originais e ousadas, como os famosos «panfletos», afixados por todo o lado e até metidos por baixo da porta das casas.

Deu-se conta de uma verdadeira «mudança de época», à qual era preciso responder através de linguagens antigas e novas.

São Francisco de Sales, controversista hábil e incansável, ia-se transformando, pela graça, num sagaz intérprete do tempo e extraordinário diretor de almas.

Além de “Tratado do Amor de Deus”, também escreveu a “Introdução à Vida Devota”, somado a milhares de cartas de amizade espiritual.

Sobre São Francisco de Sales, assim falou o Papa Bento XVI: “É apóstolo, pregador, escritor, homem de ação e oração; comprometido na realização dos ideais do Concílio de Trento; empenhado na controvérsia e no diálogo com os protestantes, experimentando cada vez mais, para além do necessário confronto teológico, a eficácia da relação pessoal e da caridade; encarregado de missões diplomáticas a nível europeu e de tarefas sociais de mediação e de reconciliação”.

Seu apostolado ilumina o nosso tempo na edificação de uma Igreja não autorreferencial, liberta de toda a mundanidade, mas capaz de habitar no seio do mundo, partilhar a vida das pessoas, caminhar juntos, escutar e acolher; a fim de que saiamos da preocupação excessiva conosco, com as estruturas, a imagem social, perguntando antes quais são as necessidades concretas e as expectativas espirituais de nosso povo, afirma o Papa Francisco, retomando citações da Evangelli Gaudium.

Os seus escritos, além do que se disse, é um convite para que nos abramos, com confiança, às asas ao Espírito, e assim, façamos os voos necessários, pois a graça de Deus não nos torna passivos, mas protagonistas e concriadores.

Também nos ajuda na compreensão da falsa e verdadeira devoção, que é o caminho da perfeição e santidade para todos (como veremos, séculos depois, claramente expresso na Lumen Gentium – Concílio Vaticano II, sobre a vocação universal à santidade).

Na “Introdução à Vida Devota”, São Francisco define a falsa devoção, e, segundo o Papa, não é difícil nela nos revermos, pois é uma descrição graciosa e sempre atual:

Quem se consagra ao jejum, pensará que é devoto porque não come, enquanto tem o coração cheio de rancor; e enquanto não se permite banhar a língua no vinho e nem sequer na água por amor da sobriedade, não sentirá qualquer escrúpulo em mergulhá-la no sangue do próximo com a maledicência e a calúnia. Outro pensará que é devoto porque bisbilha todo o dia uma série interminável de orações; e não dará peso às palavras más, arrogantes e injuriosas que a sua língua lançará, no resto do dia, aos servos e vizinhos. Outro ainda levará de bom grado a mão à carteira para dar esmola aos pobres, mas não conseguirá extrair do coração uma migalha de doçura para perdoar os inimigos; e outrem, por sua vez, perdoará aos inimigos, mas pagar as dívidas nem lhe passará pela cabeça; será preciso o tribunal.”

À luz dos seus escritos, o Papa reflete sobre o êxtase da vida, de modo que, para São Francisco, a vida cristã nunca acontece sem êxtase e, todavia, o êxtase não é autêntico sem a vida.

Deste modo, São Francisco de Sales, com uma imagem muito bela, descreve no mencionado Tratado, o Calvário como “o monte dos enamorados” – lá e somente lá, se compreende que “não é possível ter a vida sem o amor, nem o amor sem a morte do Redentor; mas, fora de lá, tudo é morte eterna ou amor eterno, e toda a sabedoria cristã consiste em saber escolher bem”.

Encerra a carta citando o final do seu Tratado, que é a conclusão de um discurso de Santo Agostinho sobre a caridade:

“Que há de mais fiel que a caridade? Fiel não ao efêmero, mas ao eterno. Ela tudo suporta na vida presente, pela simples razão que acredita em tudo sobre a vida futura: suporta todas as coisas que aqui nos são dadas suportar, porque espera tudo o que lhe foi prometido lá. Justamente nunca acaba. Por isso praticai a caridade e produzi, meditando-a santamente, frutos de justiça. E se encontrardes, em louvor dela, outras coisas que não vos tenha dito agora, que isso se veja no vosso modo de viver”.

Finalmente, o Papa nos convida a crescer em sua devoção a São Francisco de Sales, e contar com sua intercessão, a fim de que sejam derramados, abundantemente, os dons do Espírito no caminho do santo Povo fiel de Deus.

 

 

PS: Desejando ler a mensagem na integra, acesse:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/20221228-totum-amoris-est.html

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