quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Quando nos abrimos ao Espírito...

Quando nos abrimos ao Espírito...

Ah, a vida! A beleza da vida está em suas surpresas, nas repentinas decisões a serem tomadas, e na Sabedoria que nunca nos desampara.

A Sabedoria Divina vem quase imperceptivelmente ao nosso encontro, mesmo que não a supliquemos pela exiguidade do tempo para escuta, reflexão, elaboração de proposta... Ela vem como resposta da alma, do coração...
Quem não viveu semelhante experiência?

Um dia, uma proposição... Se de Deus foi inspiração,
confesso que não sei, verdadeiramente não sei;
Sei apenas que foi acolhida plenamente,
E, a Deus, elevo meu agradecimento alegremente.

Se a Deus agradeço, logo é d’Ele a inspiração!
Vejo na paradoxalidade da minha ignorância,
De Deus a presença e indispensável assistência
Que para o bem da Igreja, concede luz e ciência.

Abrir-se ao Espírito, em Sua atenta escuta,
Nos faz, com Ele, mais profundamente sintonizados
E com indiscutível certeza, mais que fortalecidos,
Em todo momento, amados e assistidos!

Quando nos abrimos ao Espírito,
Delícias infinitas, d’Ele, acolhemos,
E com muito maior acerto, insisto,
As surpresas da vida saborearemos! 

Uma saudação que nos fortalece


Uma saudação que nos fortalece

Retomemos a saudação do Apóstolo Paulo a Timóteo em sua Primeira Segunda Carta a Timóteo (1 Tm 1, 1-2.12-14):

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por ordem de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus nossa esperança, a Timóteo, verdadeiro filho na fé: a graça, a misericórdia e a paz de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor”.

Na saudação são explicitadas três palavras:

“Ao filho Timóteo, que ele gerou na fé e com o qual partilha o ministério, Paulo augura que possa experimentar a ‘graça’, ou seja a presença do Espírito, infundido pelo Pai e pelo Filho; a ‘misericórdia’, isto, é o perdão de Deus (só nas Cartas a Timóteo é que Paulo augura também a misericórdia); a ‘paz’, ou seja, a reconciliação com Deus, consigo mesmo, com o seu serviço, com os irmãos e com o mundo” (1)

A saudação Paulina “Graça, misericórdia e paz”  pode ser repetida por nós a quantos pudermos, pois todos precisamos da:

- graça que nos vem pelo Espírito que em nós habita;

- misericórdia, porque imperfeitos, pecadores, consequentemente, o somos, e colocamos nossa miséria nas mãos de Deus que nos ama e nos perdoa e nos faz uma nova criatura, e por fim, somos plenificados pela paz;

- da paz - “shalon”, plenitude de bens e dons, pela gloriosa presença do Ressuscitado em nosso meio, que conosco caminha, desde aquela aurora, em que se manifestou o Sol Nascente a Maria Madalena e aos primeiros Apóstolos.

Como é bom ouvirmos de nossos irmãos e irmãs a mesma saudação: “graça, misericórdia e paz”, para que nossa vida cristã esteja inteiramente situada entre a experiência da misericórdia de Deus por nós, que somos pecadores, e a solicitude misericordiosa pelos nossos irmãos, como expressão de quem foi amado e perdoado por Deus, que espera o mesmo de cada um de nós em relação ao nosso próximo.

Desejo a você, portanto, “graça, misericórdia e paz”, hoje e sempre. Amém.


(1) Lecionário Comentado p.322 

Aspiremos uma vida perfeita


Aspiremos uma vida perfeita

“Onde quer que estejamos,
devemos e podemos aspirar à vida perfeita.

Meditemos parte “Da Introdução à Vida Devota”,  que retrata a devoção que deve ser praticada, de modos diferentes e num enriquecimento mútuo, escrita pelo Bispo São Francisco de Sales (séc.XVI).

“Na criação, Deus Criador mandou às plantas que cada uma produzisse fruto conforme sua espécie. Do mesmo modo, Ele ordenou aos cristãos, plantas vivas de Sua Igreja, que produzissem frutos de devoção, cada qual de acordo com sua categoria, estado e vocação.

A devoção deve ser praticada de modos diferentes pelo nobre e pelo operário, pelo servo e pelo príncipe, pela viúva, pela solteira ou pela casada. E isto ainda não basta. A prática da devoção deve adaptar-se às forças, aos trabalhos e aos deveres particulares de cada um.

Dize-me, por favor, Filoteia, se seria conveniente que os bispos quisessem viver na solidão como os cartuxos; que os casados não se preocupassem em aumentar seus ganhos mais que os capuchinhos; que o operário passasse o dia todo na Igreja como o religioso; e que o religioso estivesse sempre disponível para todo tipo de encontros a serviço do próximo, como o bispo. Não seria ridícula, confusa e intolerável esta devoção?

Contudo, este erro absurdo acontece muitíssimas vezes. E, no entanto, Filoteia, a devoção quando é verdadeira não prejudica a ninguém; pelo contrário, tudo aperfeiçoa e consuma. E quando se torna contrária à legítima ocupação de alguém, é falsa, sem dúvida alguma.

A abelha extrai seu mel das flores sem lhes causar dano algum, deixando-as intactas e frescas como encontrou. Todavia, a verdadeira devoção age melhor ainda, porque não somente não prejudica a qualquer espécie de vocação ou tarefa, mas ainda as engrandece e embeleza.

Toda a variedade de pedras preciosas lançadas no mel, tornam-se mais brilhantes, cada qual conforme sua cor; assim também cada um se torna mais agradável e perfeito em sua vocação quando esta for conjugada com a devoção: o cuidado da família se torna tranquilo, o amor mútuo entre marido e mulher, mais sincero, o serviço que se presta ao príncipe, mais fiel, e mais suave e agradável o desempenho de todas as ocupações.

É um erro, senão até mesmo uma heresia, querer excluir a vida devota dos quartéis de soldados, das oficinas dos operários, dos palácios dos príncipes, do lar das pessoas casadas.

Confesso, porém, caríssima Filoteia, que a devoção puramente contemplativa, monástica e religiosa de modo algum pode ser praticada em tais ocupações ou condições. Mas, para além destas três espécies de devoção, existem muitas outras, próprias para o aperfeiçoamento daqueles que vivem no estado secular.

Portanto, onde quer que estejamos, devemos e podemos aspirar à vida perfeita.

O Bispo se dirige à personagem Filoteia (amiga de Deus, numa tradução mais aproximada). Como desejamos também aprofundar nossa amizade com Deus, sem nos afastarmos da comunhão com o próximo, esta mensagem é também dirigida a cada um de nós, vocacionados a viver esta intensa e fecunda amizade com Deus.

Esta amizade implica numa aspiração à vida perfeita, que não se entende como fuga do mundo, pelo contrário, compromisso em santificá-lo, transformá-lo, independente da vocação de cada um.

Como discípulos missionários do Senhor, devemos aspirar por uma vida perfeita, em que a Palavra Divina esteja sempre nas entranhas profundas de nossa alma.

Estamos no mundo não para destruí-lo, mas “dominá-lo”, biblicamente falando, como nas primeiras páginas da Sagrada Escritura. Precisamos aprender com as abelhas: cada um fazer bem e com o amor o que lhe é próprio, sem prejuízo do outro (pessoas e coisas), para que o “mel” do bem, da vida, da fraternidade, da paz, possa ser deliciosamente saboreado neste tempo e sempre e por toda a vida: 

“A abelha extrai seu mel das flores sem lhes causar dano algum, deixando-as intactas e frescas como encontrou. Todavia, a verdadeira devoção age melhor ainda, porque não somente não prejudica a qualquer espécie de vocação ou tarefa, mas ainda as engrandece e embeleza.”

Em nossas comunidades, independente do ministério que exerçamos, que seja feito com amor e dedicação, aspirando à realização do amor, e assim chegaremos à perfeição, como o Senhor nos exortou:

“Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). 

PS: Bispo São Francisco de Sales: Memória celebrada dia 24 janeiro.

Em poucas palavras...

                                                                

 

“Deus amou tanto o mundo...” 

“Doente, nossa natureza precisava de ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser ressuscitada. 

Havíamos perdido a posse do bem; era preciso no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz; cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um libertador. 

Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a Deus, a ponto de fazê-Lo descer até à nossa natureza humana para visitá-la, uma vez que a humanidade se encontrava em estado tão miserável e infeliz?”.(1)

 

 

(1)Bispo São Gregório de Nissa (séc. IV)

 

Em poucas palavras...

                                            


Para a cura dos doentes...

“As experiências científicas, médicas ou psicológicas, sobre pessoas ou grupos humanos, podem concorrer para a cura dos doentes e para o progresso da saúde pública.” (1)

 

 

(1) Parágrafo do Catecismo da Igreja Católica - n. 2292

Sou como um ponto entre as “Aspas Divinas”

Sou como um ponto entre as “Aspas Divinas”

Sou como um ponto entre as “Aspas Divinas”.
Sou, entre tantos, uma obra da mão do Criador.
Entre elas sinto-me contido, abraçado, contemplado...
Jamais, por Ele, excluído, à margem, abandonado...

Sou como um ponto entre as “Aspas Divinas”.
Mais: sou uma página de Deus entre bilhões e bilhões
Não tenho direito de escrevê-la de qualquer modo.
Que ela não seja incolor, sórdida, inócua, mórbida...

Sou como um ponto entre as “Aspas Divinas”.
Mais: sou uma história a ser escrita minuciosamente,
Por Ele acompanhada silenciosa e amorosamente,
Presente muito mais do que possa perceber...

Sou como um ponto entre as “Aspas Divinas”.
Mais ainda: como peregrino longe do Senhor
Esperando a Sua gloriosa vinda, a Ele aderido,
Paixão incondicional! Por Ele sinto-me amado, querido...

Sou como um ponto entre as “Aspas Divinas”.
Mais: sou uma possibilidade de história eterna
Na passagem da morte, no encontro com o Altíssimo,
No eterno Banquete de amor pleno, dulcíssimo...

Sou como um ponto entre as “Aspas Divinas”...

Ah, o olhar de Lara!

Ah, o olhar de Lara!

Numa manhã, celebrando a Missa dominical,
O olhar daquela criança no colo...
Lara! Mais que um olhar...
Olhar que não consigo esquecer
Olhar de todos os olhares, tão angelical.

Olhar de pureza, singeleza, meiguice e súplica:
“Olho, existo, quero ser amada”
Todos nós existimos e queremos ser amados.

Ah, o olhar de Lara...
Olhar que me fez pensar em tantos outros olhares:

Olhares puros que reluzem.
Olhares singelos que nos purificam.
Olhares vazios que nada dizem.
Olhares opacos que por pouco ofuscam.
Olhares iluminados que nos revigoram.
Olhares gélidos que nos incomodam.
Olhares artísticos que embelezam.
Olhares arquitetônicos que edificam.
Olhares clínicos que nos desnudam.
Olhares repreensivos que nos dilaceram.
Olhares de ternura que nos reintegram.

Ah, o olhar de Lara!
Olhar que me fez pensar em tantos outros olhares:

Olhares sonhadores que refazem a utopia.
Olhares de lince que em tudo penetram.
Olhares dilatados que horizontes ampliam.
Olhares simples que nos descomplicam.
Olhares indiferentes que nos matam.
Olhares de inveja que não permitem o crescimento.
Olhares mórbidos que por nada padecem.
Olhares destrutivos que nada nos acrescentam.

Ah, o olhar de Lara!
Olhar que me fez pensar em tantos outros olhares:

Olhares de paz que a alma encantam.
Olhares de ódio que a guerra propagam.
Olhares de cobiça que promovem a injustiça.
Olhares singelos, puros e despidos, fomentam a justiça.
Olhares históricos que nos possibilitam menores erros.
Olhares antropológicos para percebermos as diferenças.
Olhares psicológicos para percebermos, às vezes, nossa demência.

Ah, o olhar de Lara!
Olhar que me fez pensar em tantos outros olhares:

Olhares jurídicos que enxergam direitos, através da Justiça que é cega.
Olhares dos teólogos para contemplarmos a presença divina.
Olhares dos filósofos para darmos conta de um pouco do tudo.
Olhares dos geógrafos para darmos conta de nossa finitude.
Olhares dos ambientalistas para darmos conta de nossa prepotência.
Olhares dos Santos para contemplarmos o horizonte da Eternidade.

Ah, o olhar de Lara!
Olhar que me fez pensar em tantos outros olhares:

Olhar dos místicos para acreditar no horizonte inédito e utópico.
Olhar de professor que aguça o desejo insaciável do saber.
Olhar maternal/paternal que assegura aconchego e segurança.
O olhar do poeta que reencanta a vida e a alma.
Olhar do Profeta que denuncia e anuncia com coragem e ousadia.

Ah, o olhar de Lara!
Olhar que me fez pensar em tantos outros olhares:

Olhar Paulino e de todos os Santos e Santas: olhar ao Ressuscitado Apaixonado!
Olhares dos que creem na Vida do Ressuscitado, para não crermos que o mal tem a última palavra.

O olhar de Lara...
O meu olhar...
O teu olhar...
Qual olhar que ainda nos falta?
Qual o olhar a ser extinto para que o nosso olhar não se perca num espaço vazio?


PS: O tempo passou, mas não a lembrança do olhar puro daquela criança. São as tantas “Laras” de nossa vida que nos fazem acreditar na pureza e na beleza do olhar que somente Deus pode nos conceder.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG