quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Evangelização e acolhida do sopro do Espírito

             
Evangelização e acolhida do sopro do Espírito

“Ai de mim se seu não evangelizar” (1 Cor 9,16).

A Evangelização na cidade tem inúmeros e grandes desafios, de modo que, tão somente abertos à acolhida do sopro do Espírito, se é capaz de dar respostas sólidas, enfrentando-os na planície do quotidiano, atentos à voz do Filho Amado que precisa ser escutado.

Abertos a este sopro, a Igreja precisa multiplicar ações diante da violação da dignidade da pessoa humana e na profética defesa da vida, desde a concepção até o seu declínio natural.

Seremos assim uma Igreja mais viva, participativa, dinâmica, renovada e com fortalecimento dos ministérios e o surgimento de novos, edificando uma Igreja verdadeiramente sinodal.

Permanece forte o apelo da Conferência de Aparecida (2007), para a conversão das estruturas paroquiais e serviços, bem como de todos que se encontram inseridos e comprometidos com a evangelização.

Abertos ao Sopro do Espírito, é mais do que emergente a multiplicação do trabalho e iniciativas diversas para a santificação e solidificação da família, que passa por sérios momentos de desestruturação por diversos motivos (inúmeros são os ventos e tempestades enfrentados pela mesma).

O Espírito Santo também conduz no fortalecimento da dimensão missionária da Igreja – urge ir ao encontro dos católicos afastados, mas sem se esquecer de enraizar e solidificar os que nela já estão participando, fortalecendo laços sinceros de amizade, comunhão e solidariedade, superando toda e qualquer forma de anonimato numa bela e alegre atitude de acolhida mútua, que vai muito além de um seja bem-vindo!

Este Sopro nos pede mais ousadia nos meios de comunicação social, para que possamos comunicar a todos a Boa-Nova do Evangelho em novos areópagos, chegando às escolas, às universidades, ao mundo do trabalho, às instâncias de decisões que afetam substancialmente a vida do Povo de Deus. A Comunicação não pode ficar restrita ao espaço de nossas salas e Igrejas.

O sopro do Espírito também nos inquieta e nos desinstala para que nos empenhemos na transformação da sociedade, com a superação da apatia e indiferença diante da política, não perdendo a esperança, não permitindo apagar a chama profética que todo batizado recebe no dia de seu Batismo, para ser sal da terra e luz do mundo.

Deste modo, não ficaremos indiferentes diante da necessária inclusão social em todas as suas formas e dimensões, como expressão da evangélica opção preferencial pelos pobres, que jamais pode ser esquecida pela Igreja, na fidelidade à prática de Jesus Cristo na realização do Reino de Deus.

E, assim, sempre atentos a estes sopros, edificaremos uma Igreja do anúncio, testemunho, serviço e diálogo, fortalecendo os pilares da Palavra, da Eucaristia, da Caridade e da Ação Missionária.

Com a abertura e acolhida do sopro do Espírito, cresçamos na  fidelidade à Palavra do Senhor, com aquela inquietante preocupação do Apóstolo Paulo, que deve ser de todos nós: “Ai de mim se seu não evangelizar” (1 Cor 9,16).

Comunidade de comunidades: uma nova Paróquia

Comunidade de comunidades: uma nova Paróquia

“Ide pelo mundo,
pregai a Boa-Nova do Evangelho”

Deve nos interpelar o que nos disse o Papa Francisco, em sua Exortação “Evangelium Gaudium” – A alegria do Evangelho –, e também os Bispos do Brasil, como vemos no Documento nº100 – “Comunidade de comunidades: uma nova Paróquia – A conversão pastoral da Paróquia”.

Urge a construção de uma Paróquia como Comunidade de comunidades, como presença eclesial no território, muito mais que a presença de um prédio edificado por mãos humanas.

Deste modo, elas serão um espaço privilegiado da escuta da Palavra de Deus, (diálogo, anúncio, adoração e celebração), ou seja: a casa do Pão da Palavra, do Pão da Eucaristia e do Pão da caridade.

Através das inúmeras atividades, é preciso incentivar e formar os agentes para a evangelização, tendo como protagonista indispensável o Espírito Santo.

Ela se tornará uma célula viva, uma “comunidade de comunidades”, um santuário onde os sedentos vão beber água cristalina para a continuidade da comunidade, mas ao mesmo tempo centro de constante envio missionário.

Precisamos dar à Paróquia um rosto novo, tornando-a mais dinâmica, acolhedora e missionária. Para tanto, é preciso uma profunda e sincera conversão pastoral, com novo espírito, novo ardor (cf. Documento de Aparecida - n. 365-372).

Como ser uma Igreja missionária na cidade em que vivemos, ampliando e formando pequenas comunidades de discípulos convertidos pela Palavra de Deus, conscientes de viver em constante estado de missão, superando toda e qualquer forma de desânimo e acomodação?

Reflitamos:

- como ser uma Igreja Missionária na cidade, procurando ir ao encontro das pessoas e a elas comunicar a Boa-Nova do Evangelho?

Não podemos mais ficar no “vinde”, é o tempo do “ide”, como assim o foi desde o início da missão confiada por Jesus aos Seus discípulos|: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28, 19-20).

É preciso coragem para que nos desinstalemos, sobretudo na acolhida e solidariedade para com os mais empobrecidos. Ressoando as palavras do Papa Francisco: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos” (Evangelii Gaudium - n. 40).

Muito já fizemos, mas há ainda um longo caminho a ser percorrido, para que vivamos a vocação como dom de Deus, como um chamado que Ele nos fez e espera nossa resposta, para que trabalhemos como alegres discípulos missionários de Sua vinha.

Temos que consumir nosso tempo e forças para que a Boa-Nova seja anunciada, a fim de que o Reino de Deus aconteça, como pequeno grão de mostarda, que germina, torna-se uma grande árvore, e os pássaros vêm nela fazer seus ninhos.  

Eis a nossa missão: fecundar o mundo novo, no testemunho corajoso de nossa fé, dando razão de nossa esperança, em ativa e frutuosa caridade.

De Natã para Davi

                                                        

De Natã para Davi

Ó Davi que fizeste?
Tu que a Deus serviste,
Tu que a Deus desapontaste,
Reencontra o teu caminho,
Reorienta os teus passos.

Liberta-te dos laços que te afastam
Do laço eterno e indispensável;
Dos laços da ternura divina te reenvolva,
De Deus, goze inesgotável carinho.

Ó Davi que fizeste?
Tu que por Deus foste escolhido,
Desobedeceste a quem deve ser temido!
Tua humana fragilidade existencial
te afastou do bem, te inclinou ao mal.

Abra teus lábios e a Deus cante,
A Ele que nos perdoa a cada instante,
Reconheça com humildade teu pecado.

O Salmo por ti rezado não é apenas teu:
“Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!
Na imensidão de Vosso Amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado
E apagai completamente a minha culpa!” (Sl 50, 3-4)

A tua confissão também não é apenas tua:
“Pequei contra o Senhor!” (2Sm 12,13)


PS: Inspirado na 1ª Leitura (2Sm 12, 1-7a.10-17) da Liturgia da Palavra do 3º Sábado do Tempo Comum - ano par.

Com o Senhor, não nos perdemos no labirinto das ideias

Com o Senhor, não nos perdemos no labirinto das ideias

É preciso que saibamos parar e rever como escrevemos nossa história, em todos os âmbitos; entrar no labirinto das ideias, tanto pessoais como coletivas, e ver por onde se escreveu as linhas da história.

Reler os fatos, ser capaz de fazer retrospectivas, relembrar os acontecimentos vivenciados, alegres ou tristes, angustiantes ou esperançosos.

Fatos que expressaram a beleza da vida ou a sua violação; sonhos esperados e realizados ou em pesadelos transformados, e dos quais não se poderá jamais acordar.

Assim é a história, um misto de fatos memoráveis pela beleza neles contidas, ou fatos que não nos causam alegria alguma em recordá-los, porque deixaram marcas, cicatrizes para sempre.

Procuramos saídas das trevas por que possamos viver, ou que momentaneamente nos encontrarmos, em busca da luz para iluminar caminhos, decisões, escolhas, reconciliações, realizações.

Procuramos saídas para nos libertarmos de mentiras que se multiplicam, em busca da verdade que nos fazem verdadeiramente livres, e de modo especial a Verdade do Evangelho, que é o próprio Jesus – “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32)

No labirinto das ideias, procuramos saídas para a morte de múltiplas expressões, que duela ceifando a vida por vezes tão frágil, tão indefesa, como vemos em atentados suicidas, guerras prolongadas, destruições abomináveis de crianças e suas famílias.

Procuramos saídas para não nos perdermos no emaranhado do sentimento devorador do ódio, com seus frutos amargos que roubam a beleza e sacralidade da vida, e maculam o olhar para o outro como templo de Deus, porque d’Ele feitos imagem e semelhança.

Procuramos a saída para o amor, e esta somente a encontraremos quando fizermos o mergulho mais profundo, que ultrapassa a mente e os limites da racionalidade, porque se mergulha no coração, onde descobrimos a presença d’Aquele que em nós fez Sua morada.

No labirinto das ideias, podemos nos perder no caminho da escuridão, mentira, morte, ódio ou, incansavelmente, sermos guiados pelo Espírito, caminhando com Aquele que Se fez Deus conosco, para nos revelar a face de Seu Pai Eterno de Amor, Jesus.

Assim encontraremos não somente a saída, mas o melhor caminho para relações mais humanas e fraternas, marcadas pela luz, verdade, vida e amor, e cremos que somente Jesus, Nosso Senhor, é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Trilhando com Ele, o Caminho, pautando nossa vida pela Verdade do Evangelho, teremos vida plena e seremos verdadeiramente livres e não nos perderemos no labirinto das ideias.


PS: Fonte inspiradora (1 Jo 2,3-11)

Três palavras para reflexão: Perseverança, esperança e compromisso

 


Três palavras para reflexão: 

Perseverança, esperança e compromisso

1 – Suplico: “Dai-me, Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço” .(1)

2 – Renovai, Senhor, nossa esperança de um  novo céu e uma nova terra, e enxugai nossos olhos toda lágrima; e que não haja mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. (2)   

3 – Tudo está interligado, a Casa Comum, nós que nela habitamos, e toda ação que fazemos tem consequências. Façamos nossa parte no "lockdown" (onda roxa).

 

(1)Poetisa Gabriela Mistral

(2)cf. Ap 21,1-7).

 

Deus quer tão apenas nossa resposta de amor

                                                 

Deus quer tão apenas nossa resposta de amor

Voltemo-nos para a passagem do Livro de Gênesis (Gn 22,1-19), em que retrata o sacrifício de Abraão oferecendo seu filho único, Isaac, e sejamos enriquecidos pela Homilia do Presbítero Orígenes (séc. III).

Abraão tomou a lenha do sacrifício e colocou-a sobre os ombros de seu filho Isaac. Tomou na mão o fogo e o cutelo, e foram ambos juntos.

Ora, Isaac, carregando a lenha para o próprio holocausto, é uma figura de Cristo carregando Sua Cruz. No entanto levar a lenha para o holocausto é ofício de sacerdote.

Torna-se então ele mesmo a vítima e o sacerdote. O que se segue: e foram ambos juntos refere-se a essa realidade, porque Abraão, como sacrificador, leva o fogo e o cutelo; mas Isaac não vai atrás e sim a seu lado, para que se veja que, juntamente com ele, exerce igual sacerdócio.

E depois? Disse Isaac a seu pai Abraão: Pai! Neste momento, uma palavra assim parece uma tentação. Como terá abalado o coração paterno esta palavra do filho que ia ser imolado!

Mesmo endurecido pela fé, Abraão responde com voz branda: Que queres, filho? E ele: Vejo o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o holocausto? Abraão respondeu: Deus providenciará uma ovelha para o holocausto, meu filho.

Impressiona-me a resposta cuidadosa e prudente de Abraão. Não sei o que via em espírito, pois responde olhando para o futuro e não para o presente: Deus mesmo providenciará uma ovelha. Assim fala do futuro ao filho que indaga pelo presente. O Senhor providenciava para Si um cordeiro em Cristo.

Abraão estendeu a mão para pegar a faca e imolar o filho. O Anjo do Senhor chamou-o do céu, dizendo: Abraão, Abraão. Respondeu ele: Eis-me aqui. Tornou o Anjo: Não toques no menino nem lhe faças nenhum mal. Agora sei que temes a Deus.

Comparemos estas palavras com as do Apóstolo a respeito de Deus: Ele não poupou Seu Filho, mas entregou-O por todos nós. Vede Deus rivalizando com os homens em magnífica generosidade. Abraão, mortal, ofereceu a Deus o filho mortal, que não morreria então. Deus entregou à morte por todos o Filho imortal.

Olhando Abraão para trás, viu um carneiro preso pelos chifres entre os espinhos. Dissemos acima, creio, que Isaac figurava Cristo e, no entanto, também o carneiro parece figurar Cristo.

É muito importante ver como ambos se relacionam a Cristo: Isaac que não foi morto e o carneiro que o foi. Cristo é o Verbo de Deus, mas o Verbo Se fez carne.

Padece, portanto, Cristo, mas, na carne; morre enquanto homem do qual o carneiro é figura; já dizia João: Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.

O Verbo, porém, permanece incorrupto, isto é, Cristo segundo o espírito; a imagem deste é Isaac. Por isto Ele é vítima e também pontífice segundo o Espírito. Pois aquele que oferece a vítima ao Pai, segundo a carne, este mesmo é oferecido no altar da Cruz.”

Roguemos a Deus que tenhamos a mesma coragem de Abraão, e também ofereçamos a Deus o melhor de nós para que o Seu Reino aconteça.

Somente assim daremos sentido à nossa vida, nosso sal não perderá o seu sabor, e a nossa luz resplandecerá nas sombras; nos momentos obscuros que tenhamos que enfrentar, e a luz de Deus comunicar.

Cremos que Deus está sempre pronto a dar o Seu Filho em Alimento na Eucaristia, para nos fortalecer no carregar de nossa cruz.

Ontem como hoje, Deus não cessa de nos amar, pois é próprio de Seu amor a eternidade: Deus nos amou ontem, hoje e sempre. Que o mesmo o façamos, com toda nossa força, alma, coração e entendimento.

O Amor de Deus pede de nós tão apenas amor e não sacrifícios: “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9, 13), confirmou-nos o Seu Filho Amado. 

A Voz Divina como o fragor de muitas águas!



A Voz Divina como o fragor de muitas águas!

Que Deus nos fale pela voz do Bispo Santo Irineu (séc. II), através de seu Tratado contra as heresias de ontem e de todo tempo:

“... Eis por que João diz no Apocalipse: “Sua voz era como o fragor de muitas águas” (Ap 1,15).

Na verdade, são muitas as águas do Espírito de Deus, porque é muita a riqueza e a grandeza do Pai.

E, passando através de todas elas, o Verbo concedia generosamente o Seu auxílio a quantos lhe estavam submetidos, prescrevendo uma lei adaptada e adequada a cada criatura.

Deste modo, dava ao povo as leis relativas à construção do tabernáculo, à edificação do templo, à escolha dos levitas, aos sacrifícios e oblações, às purificações e a todo o restante do serviço do Altar.

Deus não precisava de nada disso, pois é desde sempre rico de todos os bens, e contém em Si mesmo a suavidade de todos os aromas e de todos os perfumes, mesmo antes de Moisés existir. Mas educava um povo sempre inclinado a voltar aos ídolos, dispondo-os através de muitas etapas, a perseverar no serviço de Deus.

Por meio das coisas secundárias chamava-o às principais, isto, pelas figuras à realidade, pelas temporais, às eternas, pelas carnais, às espirituais, pelas terrenas, às celestes, tal como foi dito a Moisés: Farás tudo segundo o modelo das coisas que viste na montanha (Êxodo 25,40)...

Por meio dessas figuras, portanto, eles aprendiam a temer a Deus e a perseverar em seu serviço.

E assim a Lei era para eles, ao mesmo tempo, norma de vida e profecia das realidades futuras”.

Quanto bem faz à alma acolher a voz divina como o fragor de muitas águas! 

Deus nos fala, às vezes, através de figuras, para que possamos “apreender e aprender” o essencial, escutar e vivenciar o que há de imprescindível para uma vida mais santa e frutuosa.

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