quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Avaliar e Planejar com a Luz do Espírito

                                                          

       

Avaliar e planejar com a luz do Espírito
 
Vivendo um tempo fecundo de avaliação e planejamento pastoral para o próximo ano, recorramos à imagem do retrovisor, que nos permite um olhar retrospectivo e crítico, para avaliarmos sobre o que avançamos ou não, o que ainda nos desafia, clamando por respostas, para que a evangelização aconteça, lembrando Santo Ambrósio: – “A graça do Espírito ignora a lentidão”.
 
Tenhamos em nossas mãos, mente e coração, alguns instrumentos indispensáveis: a Sagrada Escritura, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora do Brasil CNBB (Doc. 109), com o Objetivo Geral: 

EVANGELIZAR no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude”.
 
Deste modo, o planejamento pastoral não será resultado de desejos humanos tão apenas, mas a expressão da escuta atenta de Deus e de sua vontade para todos nós, sob a ação do Seu Espírito na fidelidade a Jesus, como discípulos missionários que devemos ser; seduzidos, enraizados em Seu amor; um amor incondicional que se renova em cada Banquete Eucarístico.
 
Certamente, muito foi feito, mas ainda há muito por fazer. Há que se reconhecer fragilidades e forças, erros e acertos, avanços e recuos, luzes e sombras.
 
Embora sejamos poucos no oásis da cidade, “pois a messe é grande e poucos são os operários” (cf. Lc 10,1-9), assim falou o Senhor Jesus, empenhemo-nos na procura de respostas efetivas e corajosas, saciando nossa sede na Divina Fonte, que a todo instante nos sacia e se renova ininterruptamente, para que não sucumbamos na graça da missão por Deus a nós confiada.
 
Avaliar e planejar é mais do que necessário, sempre sob a ação do Espírito, coberto por Sua sombra, contando com Sua força.
 
“Vinde Espírito Santo, enchei o coração dos Vossos fiéis. E acendei neles o fogo do Vosso amor...” 

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Mansidão e doçura (Cristãos Leigos e Leigas)

                                               


Mansidão e doçura (Cristãos Leigos e Leigas)

Ajudai-me, Senhor, a fim de que mantenha a mansidão e doçura, virtudes tipicamente cristãs, para com todos (cf. Mt 11,29), como assim fizestes para conosco, cansados e abatidos, como ovelhas sem pastor que estávamos.

Concedei-me a graça de ser inclinado à mansidão; acompanhado da contínua luta contra mim mesmo, domínio de mim, afastando toda e qualquer forma de egoísmo.

 Conceda-me progredir na paciência, constância e coragem, renúncia e sacrifício, desenvolvendo sentimentos de bondade inaugurando e fortalecendo relações fraternas de comunhão e solidariedade, sem jamais fomentar a discórdia, violência, e propagação do ódio e rancor, como assim fizeram os santos no bom combate da fé.

Conceda-me a doçura que educa para a compreensão, à clemência, à humildade, à plena e contínua comunhão com Deus; assim como a  mansidão que é a sua mais alta e delicada expressão, porque, esquecendo-se de si mesmo, alguém vive e trabalha para os outros. Amém.

 

Fonte: Missal Cotidiano - Editora Paulus, 1997 - pág. 1483 – passagem bíblica: Tt 3,1-7

Em poucas palavras...

 

 


       “....Quando Eu coloquei os meus pobrezinhos na terra...”

“Todo o mal que os maus fazem é registrado – e eles não o sabem. No dia em que ‘Deus virá e não se calará’ (Sl 50, 3) [...]. Então, Ele Se voltará para os da Sua esquerda: ‘Na terra, dir-lhes-á, Eu tinha posto para vós os meus pobrezinhos, Eu, Cabeça deles, estava no céu sentado à direita do Pai – mas na terra os meus membros tinham fome: o que vós tivésseis dado aos meus membros, teria chegado à Cabeça.

Quando Eu coloquei os meus pobrezinhos na terra, constituí-os vossos portadores para trazerem as vossas boas obras ao meu tesouro. Vós nada depositastes nas mãos deles: por isso nada encontrais em Mim’” (1).

(1)         Sermão de Santo Agostinho (séc V)– cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1039

 

Entre o transitório e o eterno

                                                 


Entre o transitório e o eterno

“Pois a figura deste mundo passa” (1 Cor 7,31)

O Apóstolo Paulo, na passagem da Primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 7,25-31),  insiste sobre a brevidade e caducidade do tempo e nos propõe um discernimento evangélico dos valores que norteiam a nossa vida.

Somente a relação com o Senhor Vivo e Ressuscitado confere o verdadeiro valor e o significado de todas as opções de nossa vida. 

Aprendemos a relativizar o tempo presente, assim como as estruturas que resultam da intervenção humana.

Crendo no Senhor vivo e Ressuscitado, a profissão de fé em Sua Ressurreição, é ser convicto de que foi inaugurado um novo tempo e aprender a fazer as devidas relativizações das coisas que passam, para que não se perca o desejo e o encontro das coisas que não passam.

Como cristãos, cremos que tudo se encaminha para o mundo novo, e o Apóstolo aponta para algumas realidades que são transitórias, sem desmerecimento de sua importância: o matrimônio, o riso, o pranto, a posse de bens e sua venda.

Elas não são em si realidades últimas, de modo que o cristão precisa de sabedoria para saber usar das coisas do mundo, viver as relações conjugais, familiares, sociais, mas não devem estar completamente absorvidos por elas.

A sabedoria cristã requer que usemos as coisas que passam e abracemos as que não passam, as eternas, e, de modo especialíssimo, o amor de Deus e dos irmãos.

Sendo assim, o cristão casa-se ou não, chora ou ri, alegra-se ou se entristece, compra e vende, mas ciente de que estas dimensões não são um fim em si mesmas.

O Apóstolo, com toda propriedade, exorta-nos para que evitemos toda forma de apego e posse, uma vez que vivemos numa situação que se tornou provisória. E, mais uma vez, lembramos que somos peregrinos longe do Senhor, com Ele tão próximo, até que um dia possamos com Ele na glória entrar.

Na fidelidade ao Senhor, aprendamos a pautar nossa vida pelos valores eternos que dão beleza e sentido a nossa vida, e somente abertos à Sabedoria do Espírito estabeleceremos uma relação filial para com Deus, estabelecendo relações sinceras, livres, edificantes, mutuamente, enquanto criaturas d’Ele que somos.

Somente a intimidade com Jesus Cristo se torna uma verdadeira comunhão e alimenta uma fé que é capaz de transportar montanhas, para que o horizonte da esperança seja possível, porque fundando e edificado sobre o fundamento da caridade que jamais passará. 

Sirvamos ao Senhor com humildade e confiança

                                                     

 
Sirvamos ao Senhor com humildade e confiança

“Creio, Senhor, mas aumentai minha fé” 

Na Liturgia, da Terça-feira da 32ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 17,7-10), e somos convidados a reconhecer com humildade, a nossa pequenez e finitude diante de Deus, renovando nosso compromisso com o Reino, na gratuidade plena, sem cálculos, exigências, acolhendo com alegria os dons de Deus, confiando e nos entregando totalmente em Suas mãos.

A passagem nos é apresentada no contexto em que Jesus caminha, decididamente, para Jerusalém, a fim de consumar a missão redentora da humanidade, passando pelo Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição.

É a terceira parte do Evangelho de Lucas, que nos ensina mais duas lições: fé e humildade no difícil caminho do Reino.

A fé não consiste em crer em verdades abstratas, que não ressoem em nosso cotidiano, mas ancorar-se em Deus, entregar-se a Ele, em confiante, generoso e frutuoso serviço, multiplicando nossas obras. 

Portanto, urge aprofundar a nossa fé, com adesão incondicional à Pessoa de Jesus Cristo e Sua proposta de Salvação; vivendo a obediência e comunhão com Ele, na certeza da vitória sobre a solidão. 


Mas o que é a fé? 

“a fé não é primordialmente, a adesão a Dogmas ou a um conjunto de verdades abstratas sobre Deus; mas é a adesão a Jesus, à Sua proposta, ao Seu Projeto – ou seja, ao Projeto do Reino...  

Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-Lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo Reino e pela exigência que o Reino comporta; significa pedir que lhes dê a decisão para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes veio apresentar (1)
          
A fé levará os discípulos a transformar a morte em vida, o desespero em esperança e a escravidão em liberdade, acolhendo a Salvação como dom de Deus, e não como mérito pelo que se faz. 

Somos simples servidores do Senhor. A adesão total à Sua pessoa, o serviço acompanhado da humildade e da confiança, serão nossa identidade e identificação com o Senhor.

Sendo a Salvação um dom divino, o discípulo, com humildade e gratidão, tudo fará para corresponder a esta graça recebida. 

Coragem e empenho serão suas marcas, e estas farão a luz de Deus brilhar mais forte no meio das trevas:

Quem me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”, nos disse o Senhor (Jo 8,12).

Finalizando, a fé somente poderá ser vivida numa relação de Amor com o Senhor, que nos faz ver para além das aparências, ver como Deus vê, com o coração. 

Quanto maior e mais verdadeira a nossa fé, mais profunda e intensa também será e haverá de ser nossa relação com Deus e com a Sua imagem e semelhança, a criatura humana.
                                                                                                                                      

Fé autêntica: adesão incondicional ao Senhor

                                                       


Fé autêntica: adesão incondicional ao Senhor

Ouvimos, na Liturgia da Terça-feira da 32ª Semana do Tempo Comum, a passagem do Evangelho de São Lucas (17,7-10), e temos como mensagem que não há autêntico cristianismo sem a fé!

Os patriarcas (AT) são protagonistas das primeiras páginas bíblicas da fé como confiança absoluta em Deus e em Suas promessas, na superação de aparentes contradições, em entrega incondicional a Ele e à Sua Palavra.

Os Profetas, por sua vez, arautos da fé ao convidar a superar as seguranças e confianças em alianças humanas, no apego e confiança a Palavra dada por Deus: Antiga Aliança.

Crer é dar-se a Deus, ainda que Ele pareça ausente, como nos diz o Profeta Habacuc (1,2-3; 2-2-4). 

A fé torna-se, portanto, o único caminho para compreensão do mistério da história. Vivê-la é permanecer firmemente ancorado somente em Deus, ainda que aos nossos olhos pareça ausente.

Assim diz o Missal Dominical: 

No Novo Testamento, o objeto da fé atinge a plenitude: O Filho de Deus Se manifesta e Seu Reino é constituído. 

Mas a atitude pessoal continua a mesma; uma decisão da vontade que ama, move a inteligência a superar os cálculos humanos, para entregar-se a Deus com toda fidelidade. 

A fé não consiste, pois, tanto numa adesão intelectual a uma série de verdades abstratas, mas é a adesão incondicional a uma pessoa, a Deus que nos propõe Seu amor em Cristo morto e Ressuscitado. 

A fé é, portanto, obediência a Deus, comunhão com Ele, vitória sobre a solidão. É dom de Deus, mas dom que espera nossa livre resposta, que quer tornar-se a alma da nossa vida cotidiana e da comunidade cristã”.

Diante de Deus, absolutamente soberano, nossa postura deve ser de permanente humildade, abertura e fé. Adesão de fé implica necessariamente em lealdade e fidelidade.

Jamais nos envergonharmos ou nos intimidarmos do testemunho de nosso Senhor, como tão bem nos admoesta Paulo na Carta a Timóteo (2Tm 1,6-8.13-14). 

A concretização da fé jamais se dará sem a Oração, a escuta da Palavra Divina, a comunhão com Deus e a celebração ativa, piedosa e consciente dos Sacramentos.

A fé verdadeira é vista quando percebem em nós o entusiasmo para viver o que somos, fazer o que nos propomos, amar para que façamos e vivamos melhor do que vivemos e somos, e assim na fidelidade ao Pai, em voos mais altos nas Asas do Espírito ou atravessando serenamente o mar da vida com nosso pequeno barco, tendo ao nosso lado a imprescindível presença do Senhor.

Não podemos fazer pelo outro o que lhe é próprio, mas não podemos nos tornar indiferentes diante da fé de nosso irmão. O cultivo da própria fé nos faz responsáveis pela fé de nosso próximo.

Trabalhar pelo Reino na concretização de nossa fé é a maior graça que de Deus recebemos, de modo que Ele nada nos deve. Nós é que precisamos viver maior gratuidade no trabalho. 

Deus nada nos deve, pelo contrário. De que modo poderíamos quitar nossa dívida para com Ele? 

A realização de Seu amor supera qualquer recompensa que ousássemos pensar ou cobrar! 

Na Oração do Dia, rezamos que Deus nos dá mais do que ousamos pedir! Dá-nos gratuitamente e incomparavelmente muito mais do que mereçamos ou possamos conceber!

Diante de Deus, devemos nos colocar como simples servos: com alegria, gratuidade, serviço, prontidão, confiança, testemunhando a fé, que é dom, d’Ele recebida.

Nossa fé é necessária para nós mesmos, para ficarmos firmes na adesão a Deus, em Jesus Cristo, na força do Espírito. 

Quem vive a fé no espírito de comunhão jamais achará que está fazendo demais para os outros, ao contrário, quanto mais serve por amor, mais desejará fazê-lo, com alegria e sem cansaço que extenue, esvazie. 

A fé é o novo conhecimento, o modo pelo qual lemos a realidade com o olhar de Cristo.

A fé é virtude, atitude habitual da alma, inclinação permanente a julgar e agir segundo o pensamento de Cristo, com espontaneidade e vigor, diz a Igreja sempre.

Voltando ao Missal Dominical:

“Com sua fé, tem o cristão neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos sua grande esperança. 

A fé cristã é posta diante de um desafio: tornar-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador eletrônico podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem e do mundo".

O Bispo e mártir São Policarpo (séc. II) já nos dizia em sua Carta aos filipenses: 

“... se a lerdes com atenção, sereis edificados na fé que vos foi dada. Ela é a mãe de todos nós (Gl 4,26), seguida pela esperança, precedida pela caridade em Deus, em Cristo e no próximo...”

Vivendo a fé na comunhão com Deus e com o outro, a vida tem outra cor, com novas e iluminadoras linhas de fidelidade e ardor no discipulado, com fidelidade incondicional ao Senhor.

“Creio, Senhor, mas aumentai minha fé.”

Em poucas palavras...

                                               


“Aumenta a nossa fé” (Lc 17,5)

“Por fé entende-se a capacidade de aceitar, com a nossa vida, o mistério de Deus que Se revela em Jesus Cristo, traduzindo-o num modo de conduta coerente (no perdão, no amor aos pequenos, na esperança). Esta petição dos apóstolos situa-nos no centro de toda a oração.” (1) 

(1)       Comentários à Bíblia Litúrgica – Gráfica Coimbra 2 – Palheira – pág.1170

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