segunda-feira, 1 de abril de 2024

Perseverar com a presença do Espírito Santo

                                                         

Perseverar com a presença do Espírito Santo

“Eles mostravam-se assíduos ao Ensinamento dos Apóstolos,
à Comunhão Fraterna, à Fração do Pão e às Orações” (At 2,42).

Contemplemos a presença e a manifestação do Ressuscitado no meio da comunidade reunida, ainda com as portas fechadas, com medo dos judeus. Mas a presença do Ressuscitado foi a comunicação do “shalom”, plenitude de paz; de todos os bens necessários para que seguissem com coragem a missão.

Acompanhada da saudação, a comunidade recebe do Ressuscitado o sopro do Espírito e é enviada em missão: “Assim como o Pai me enviou, também vos envio...” (Jo 20, 22-23). A partir deste momento, os apóstolos saíram para anunciar a Boa-Nova do Evangelho, e maravilhas o Senhor realizava por meio deles, ainda que homens rudes, simples, mas enriquecidos com a sabedoria e a força do Espírito.

Deste modo, edificava-se uma comunidade perseverante na Doutrina dos ApóstolosComunhão Fraterna, Fração do Pão e na Oração (At 2,42-45).

Ontem, hoje e sempre, Jesus é o mesmo, e precisamos continuar a missão que Ele confiou à Sua Igreja, e não estamos sós, mas com a ação e presença do Espírito Santo, que nos foi comunicado, desde aquele dia.

É preciso que perseveremos na Doutrina dos Apóstolos, sendo uma Igreja discípula e missionária e profética, aprendizes do que o Espírito nos diz. Para tal, é providencial o subsídio “Conversando sobre a Bíblia”, já disponibilizado para as nossas comunidades.

Um passo a mais, daremos ao conhecer e aprofundar a Doutrina Social da Igreja à luz da Misericórdia Divina, que será tema da Semana Diocesana de Formação, em julho próximo, nas Foranias.

Importante também que acolhamos a Exortação Apostólica “Amoris Laetitia” (a “Alegria do Amor”), do Papa Francisco, sobre o amor na família. Do mesmo modo, acolhamos o Documento final sobre a missão dos cristãos leigos e leigas, aprovado na 54ª Assembleia dos Bispos, em Aparecida (2016).

É preciso que perseveremos na Comunhão Fraterna, fazendo de nossas comunidades “ilhas de misericórdia, no mar da indiferença” (mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2015). 

Viver a misericórdia, para que sejamos uma Igreja samaritana, servidora dos que mais sofrem. A acolhida fraterna, o fortalecimento dos vínculos entre os membros da comunidade, e a presença solidária onde a vida é ameaçada, também são marcas expressivas desta comunhão a ser vivida.

É preciso que perseveremos na Fração do Pão, como comunidades Eucarísticas, que se nutrem do Pão da Imortalidade. Lembramos o grande teólogo, Pesbítero e Doutor da Igreja, Santo Tomás de Aquino, que nos disse não haver outro Sacramento mais salutar do que este, pois nele, os nossos pecados são destruídos (nos renovamos e reconciliamos com a Trindade Santa); nossas virtudes crescem, bem como nossa alma é plenamente saciada e enriquecida de todos os dons espirituais. Precisamos nos revigorar nas Mesas inseparáveis, da Palavra e da Eucaristia, que nos remetem à mesa do quotidiano, crendo que “a Eucaristia edifica a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia” (Papa São João Paulo II).

É preciso que perseveremos na Oração, de modo especial, através da Leitura Orante, cujas orientações nos são oferecidas no encarte deste jornal. Procuremos valorizar todos os espaços e momentos de oração que a Igreja nos propõe (de âmbito diocesano, paroquial e comunitário), e de modo especial, fortalecendo o Ministério da Visitação, a fim de que novos grupos de reflexão e oração se formem, e os que já existem se solidifiquem.

É preciso que sejamos evangelizadores, anunciadores e testemunhas da Boa-Nova do Ressuscitado, com a presença do Espírito, participando da construção do Reino de Deus, empenhados por um mundo mais justo, fraterno e solidário. Motivações não nos faltam: o amor que recebemos de Jesus, a consciência e alegria de sermos Povo de Deus, a ação misteriosa do Ressuscitado e do Seu Espírito, a força missionária da intercessão e a presença de Maria, a Mãe da Evangelização (cf. “Evangelii Gaudium)”.

A Política é uma expressão exigente do amor


A Política é uma expressão exigente do amor

Estreita é a Porta que nos conduz à Salvação, com a inevitável cruz a ser carregada quotidianamente, com as renúncias necessárias.

E o carregar da cruz implica em compromissos irrevogáveis que brotam da fé, entre eles, a atuação política, o compromisso de fazer dela a promoção do bem comum.

Em 1971, O Papa Paulo VI, na “Octogesima Adveniens”, quando celebrávamos o 80 º Aniversário  da Encíclica “Rerum Novarum”, nos enriqueceu com esta afirmação: 

 “A política é uma maneira exigente - se bem que não seja a única - de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros.” (n.46).

E, no Lecionário Comentado encontramos: “... o compromisso político e social dos cristãos é a forma mais elevada da caridade: a atuação dos cristãos no mundo, sempre marcada pela lógica da Cruz, anuncia e faz amadurecer aqueles germens de paz e justiça que serão totais e perfeitos somente no Reino de Deus.”

O amor cristão é chamado a ser vivido por toda vocação e em todos os âmbitos. É imprescindível que não nos furtemos desta prática, para que nossa fé seja, de fato, irradiação de luz na construção de um mundo mais justo e fraterno.

Da mesma forma, é impossível cultivar a virtude da esperança, sem a multiplicação de atos solidários que garantem que a vida tenha mais esplendor, beleza e dignidade; sem qualquer sinal de exclusão, fome, miséria, aviltamento da condição humana e do planeta em que habitamos.

Somente assim, vivendo esta maneira exigente e não exclusiva, mas de sublime expressão do compromisso cristão, consolidaremos a caridade, como Mandamento Maior do Senhor, do Amor a Deus que não se separa do segundo que é semelhante a este: o amor ao próximo.

Providencial, e ninguém pode ficar indiferente à preocupação de formar ou fortalecer um grupo de Fé e Política em cada Paróquia, como motivadores, animadores, mas não exclusivos, para que a nossa Fé, Esperança e Caridade assim também o sejam.

Política: uma sublime vocação


Política: uma sublime vocação

Esta súplica do Papa Francisco é sempre iluminadora:

Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum.

Temos de nos convencer que a caridade ‘é o princípio não só das micro-relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro-relações como relacionamentos sociais, econômicos, políticos’.  Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (1).

Acolhendo a súplica, multipliquemos espaços de reflexão, aprofundamento e discernimentos necessários, sobretudo neste momento em que estamos definindo nossas escolhas, vereadores e Prefeito que dirigirão nossas cidades.

É preciso que a política seja de fato uma “sublime vocação”; “uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”, sobretudo quando a realidade nos apresenta uma face maculada pela corrupção em todos os âmbitos, de modo especial na política, pelo descaso com o bem público, absurda indiferença na promoção do bem comum, com a objetivação de interesses pessoais mesquinhos, que fazem multiplicar a dor e o sofrimento de milhões de empobrecidos, privados do pão, da moradia, da educação, da saúde, lazer e muito mais que lhes seria pleno direito como cidadãos.

Urge que sejamos criteriosos em nossas escolhas, não vendendo nosso voto, nem trocando por favores, de modo que nossas escolhas sejam expressão consciente, pois ainda que não pareça nosso voto tem um “preço” altíssimo que incide decididamente em toda a nossa vida, positiva ou negativamente.

Abertos à ação do Espírito, que nos fortalece na vocação profética, dom divino e resposta humana, empenhemo-nos na construção de uma nova realidade de vida plena e feliz para toda a humanidade, tendo a política, precioso e indispensável instrumento.

Ontem e hoje, o mundo precisa de Profetas, pessoas que não cedam à idolatria e injustiças, e se coloquem como vozes de Deus na defesa dos pequenos, dos pobres, dos excluídos, porque gozam de especial amor e predileção por Deus, como nos revela a Sagrada Escritura.


(1) cf. Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” n. 205 - Papa Francisco.

Vivamos segundo o Espírito

                                                                                             
                                     Vivamos segundo o Espírito

A Liturgia da 2ª segunda-feira da Páscoa nos apresenta a passagem do Evangelho que retrata a conversa de Jesus com o fariseu chamado Nicodemos, o príncipe dos judeus (Jo 3,1-8).

Vemos a preocupação do Evangelista em apresentar uma nova oposição entre o velho e o novo, sobre a condição do homem diante de Deus.

O homem velho é o homem do Antigo Testamento, o homem que vive segundo a lei, escravo do pecado e da morte e, portanto, vive segundo a carne.

O homem velho que se deixa guiar pelos sentimentos inferiores, como o egoísmo, individualismo, buscando apenas os seus interesses, com sentimentos de insensibilidade diante do sofrimento do outro, de modo que gestos de solidariedade não são concebíveis.

Com facilidade transforma o outro em objeto para a satisfação de seus instintos e de sua maldade.

O homem novo, entretanto, é o homem que participa da Nova Aliança, tornando-se um cidadão do Reino de Deus, e tem a vida movida segundo o Espírito.

E assim, não é mais movido segundo a lei, mas segundo a luz do Novo Mandamento do Amor.

Deste modo, não é mais escravo do pecado e, como filho de Deus, é livre e vive segundo a graça e não é mais prisioneiro da morte, porque tem a Vida Nova em Cristo, lembrando o que Paulo também afirmará: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).

Tendo a vida marcada pelo amor, estabelece vínculos de comunhão e de fraternidade, firma os passos num caminho de humanização, abrindo o coração e a mente para que Deus possa agir.

Na participação da construção do Reino Deus inaugurado por Jesus é necessário que se renasça do Espírito, fazendo renascer uma nova humanidade.

Nascendo de novo e vivendo segundo o Espírito, nos enriquecemos com os frutos da Ressurreição, e testemunhamos no mundo uma fé verdadeiramente Pascal, onde o medo cede lugar à coragem, a tristeza à alegria, o desânimo à esperança, a imobilidade e letargia ao dinamismo e prontidão da missão, a escuridão à luz, as gélidas relações entre as pessoas em relações mais humanas e fraternas, a  noite escura da alma cede lugar ao esplendor da madrugada da Ressurreição. 

Enfim, 
a morte cede lugar à vida. 
É Páscoa! 
Aleluia!

Submersos nos Mistérios Divinos

Submersos nos Mistérios Divinos

Um livro é como uma garrafa jogada ao mar, que será levada pelo movimento das ondas, com uma mensagem por alguém deixada, há algum tempo, comunicando segredos de felicidade tão desejados.

Um livro é como lançar uma garrafa ao mar, e dentro desta colocar conteúdos que vêm da alma do autor com o desejo de que cheguem ao destinatário de múltiplos nomes, em diversas situações por que possam passar: agradáveis ou não, sombrias ou luminosas, alegres ou angustiantes, confortáveis ou não, momentos de ápice e auge ou declínio e abismo.

A vida não é uma linha reta, sem entornos e contornos. Oscilações são possíveis, mas que não sejam de tal modo que tudo possa ruir. Portanto, é necessário que coloquemos sólidos fundamentos em nossa vida, para que possa resistir aos ventos e tempestades que teimam contra a nossa vida, em todos os âmbitos (família, Igreja, etc.)

De um livro, com diferentes temas, como uma garrafa lançada ao mar, espera-se o encontro de sólidos fundamentos para manter de pé projetos e sonhos, sem a perda da esperança, no revigoramento da fé, para dar cor e conteúdo à virtude maior de todas: a caridade.

Sendo o conteúdo sobre a fé, à luz da Palavra de Deus, o mais sólido fundamento da vida, certo que estas mensagens chegarão a mãos e corações, como nos disse o Senhor - "Portanto, quem ouve estas minhas Palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha.”  (Mt 7, 24)

É de se desejar que a mensagem sacie, abundantemente, a sede e a fome de quantos a tenham; sede de alegria, amor e paz. Sede de ver um mundo mais justo e fraterno, como o mais belo rebento a surgir num horizonte não tão distante; famintos de uma palavra que se faça pão, saciando a fome de acolhida, carinho e compreensão, amor, alegria. E tudo isto celebrado na Mesa da Palavra e da Eucaristia, na qual o Senhor Se dá em verdadeira Comida e verdadeira Bebida.

Seja a mensagem desta “garrafa”, isto é, do livro, uma luz acesa no momento mais escuro que se possa passar, crendo que no auge da escuridão se dá o início de um novo dia, cumprindo o que nos disse o Senhor: Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).

Encontrar a garrafa, abrir, saciar a sede, matar a fome, reencontrar o vigor necessário para da luta não sucumbir, se preciso for, do luto à luta, sem fuga, omissão, medo e covardia.

Um livro nas mãos é como uma garrafa naufragada e encontrada; uma âncora para que não naufragues nas dificuldades possíveis ao atravessar o mar da vida, que teima em nos submergir.

Se há uma submersão desejada é a que fazemos nos Mistérios de Deus, e uma boa leitura possibilita esta submersão, e então, teremos a certeza de que chegaremos à outra margem. 

A exata medida da pretensão...

A exata medida da pretensão...

“O homem sofre muito, porque tem pretensões imensas.” Como contestar esta afirmação?

Ouvi uma atriz dizer no meio de uma entrevista, enquanto fazia um “zapping”  na TV, pois quem consegue ficar muito tempo diante de um canal apenas?

Depois de ouvir esta afirmação, ao encerrar a entrevista, nada mais quis ver, pois não era preciso. Quis apenas mergulhar no mais profundo do meu pensamento, contra todos os “ruídos” que teimavam em me impedir. É preciso ter coragem para mergulhar, ao menos de vez em quando, no mais profundo de nós.

Coragem sim, pois lá dentro de nós podemos enxergar e ouvir nossos próprios temores, que nos assaltam consciente ou inconscientemente.

Coragem para deixar velado o que nos esforçamos por vezes tornar oculto, inacessível, intocável.

Coragem para ver as feridas mais doloridas, que não são as que estão na exterioridade da carne, mas aquelas que teimam não sarar porque lá nas entranhas de nossas redes, sentimentos e emoções.

Mas voltemos à afirmação que me inquieta e da qual não consigo me desvencilhar, ainda que o queira. Por que ela incomoda, sobretudo, a nós homens?

Mas há nela verdade incontestável, diante da qual nem o repórter conseguiu arguir com contestações ou relativizações.

Quantos sofrimentos nós homens poderíamos evitar se nossas pretensões não fossem tão imensas?

Como não lembrar aqui de uma belíssima afirmação de Edgar Morin (antropólogo francês): é preciso ver o homem e a mulher como seres inacabados, mais ainda, como em processo de inacabamento final.

Há que se concordar que quão mais imensas forem nossas pretensões, maiores serão nossos sofrimentos, pois nem sempre a correspondência se alcança e a cobrança intermitente cansa, exaure todas as forças, que se canalizadas para outros objetivos nos fariam mais felizes.

É sempre necessário que tracemos objetivos, deixemos gravadas em nossa memória, no recôndito mais secreto de nossa alma, nossas pretensões (homens ou mulheres), nossas metas a serem alcançadas.

Que elas não sejam tão imensas, para que não nos façam sofrer inutilmente, mas que também não sejam tão limitadas, pequenas, que não nos impulsionem, não nos motivem a lutar por nossos sonhos.

Que nossas pretensões sejam na exata medida de quem já é feliz pelo que é e tem, e pelo poder que possui (afastado de toda possibilidade de dominação sobre o outro).

Em diversas passagens do Evangelho, o Senhor nos garante que a felicidade não reside no muito acumulado, no poder e no domínio, no prestígio máximo que se possa alcançar.

Voltemo-nos para aqueles inesquecíveis dias que Ele passou no deserto, enfrentando as ciladas do antigo inimigo e vencendo as tentações fundantes de tantas quantas possam gerar: ter, poder e ser.

Renovemos sempre a santa pretensão, o salutar compromisso de ver o Reino acontecer materializado e visibilizado em relações de amor, verdade, justiça, ternura, bondade, liberdade e paz...

Há pretensões imensas que nos fazem pequenos, há pretensões autênticas, ainda que aparentemente utópicas e intangíveis, que nos alcançam a verdadeira alegria e menos sofrimento. E, se sofrimento houver que não seja por consequência de pretensões mesquinhas, individualistas, inúteis, impostas que não nos dão as melhores respostas.

Tenhamos a pretensão de sermos felizes sem fugir das Bem-Aventuranças que o Senhor nos propõe (Mt 5, 1-12).

Cada um de nós, homens e mulheres, felizes seremos quando nossas pretensões não se contrapuserem, não nos autodestruírem, e tão pouco o planeta comum em que habitamos.

As pretensões imensas não apenas destroem os homens, mas com eles mulheres, crianças, jovens, animais, natureza, planeta... Mas aqui já é o começo de outra reflexão... 

Ética, por onde andas?

Ética, por onde andas?

De tanto ouvir falar da “ética”, um homem saiu pela cidade a procurá-la. Andou por palácios, casas nobres e outras mais simples; vagueou por ruas e becos, praças e avenidas; visitou igrejas, escolas, universidades, inúmeras ONGs, entidades, enfim, em todos os lugares possíveis.

Inquieto, procurava a tal “ética”. Em alguns lugares a viu mais explicitamente, em outros como que jazendo no leito de morte, em cinzas. Teve ainda lugares que lhe disseram que há muito ela não estava mais ali, porque atrapalhava negociações ilícitas, impedindo os conchavos que possibilitariam lucros ainda maiores.

Em sua procura, um dia foi questionado: - “Não sabemos o que é esta tal de ‘ética’, falam tanto dela, mas nunca a vimos por aqui. Ela existe de fato ou é apenas algo entre tantas coisas que dizem existir, mas não fazem parte do enredo da história da humanidade?”

Instigado, revisitou seus escritos e encontrou uma definição preliminar: “ética é o conjunto de princípios que norteiam, orientam o agir das pessoas, tendo em conta a prática da liberdade, da vontade e responsabilidade.”

Num dicionário, encontrou a seguinte definição: “Ética – grego ethike, de ethikós – que diz respeito aos costumes... Diferentemente da moral, a ética está mais preocupada em detectar os princípios de uma vida conforme a sabedoria filosófica, em elaborar uma reflexão sobre as razões de se desejar a justiça e a harmonia e sobre o meio de alcançá-las” (Japiassú – Ed. Zahar).

Continuou a refletir sobre o conceito de ética e sua presença nas relações entre as pessoas, e concluiu que, sem ética, sem princípios convincentes e autênticos, a justiça e a harmonia jamais poderão ser alcançadas, pois ficam comprometidas a liberdade, as vontades e as responsabilidades, e que, portanto, é preciso uma ética corresponsável, depurada de interesses mesquinhos, do contrário teremos o perigo da desvalorizarão e banalização da vida, e, consequentemente, a promoção da cultura da morte.

Concluiu ainda que é preciso repensar a ética, o conjunto de seus princípios, para que se construa uma civilização do amor, promovendo a cultura da vida e da paz, num permanente aprendizado para humanar as relações entre nós.

Mas como ressuscitar a ética? Como tirar da pauta das discussões e  fundar novas e frutuosas relações? Ele encontrou algumas respostas.

Primeiro, é preciso palmilhar por veredas edificantes da vida, as veredas da esperança, do bem e da solidariedade, impondo silêncio às paixões avassaladoras, normalmente norteadas pelos pecados capitais (soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça).

Segundo, é preciso ter coragem de rever quais os valores que orientam nossas decisões, escolhas, caminhos, passos; rever se estes tornam a vida mais bela, humana, se nos tornam mais fraternos, solidários, promotores da defesa da vida, desde a sua concepção até o seu declínio natural.

Terceiro, professando uma fé ou não, que a ética seja a expressão do pensar, sentir e agir de pessoas de boa vontade, que promovem a paz, sem a violação da vida e o sacrifício de inocentes, sem fundamentalismos e radicalismos.

E depois de refletir as conclusões daquele homem, também nós podemos fazer a nossa própria avaliação, percebendo que assim como o sangue nada pelas veias para que a vida aconteça; assim como a linfa vital é imprescindível para o vigor e êxito da planta com suas flores e frutos; também a ética deve se fazer presente em todas as instâncias (espaços de decisões, campos diversos dos saberes e poderes), para que a vida não seja vilipendiada, mas promovida, amada, dignificada e, deste modo, possamos redescobrir e construir o Paraíso perdido, sem fúnebre saudade, mas com renovado compromisso e esperança.

Aquele homem visitou sim lugares sem conta, mas, por fim, viu que antes de tudo era preciso ter coragem de visitar a si mesmo, e ver de que modo a ética se fazia presente em sua vida, em suas decisões (família, trabalho, comunidade...).

E como cristãos, temos que ter a coragem de nos revisitar, e reconhecer, como morada do Espírito que somos, quais são os princípios éticos que norteiam nossa vida.

Como sal da terra e luz do mundo, há um princípio que não podemos jamais olvidar ou negligenciar: o Mandamento do amor a Deus, que se expressa concretamente no amor ao próximo. E tão somente assim, irradiaremos no mundo, por vezes obscuro e sombrio, um pouco mais de vida e luz, que emanam da fé que professamos e testemunhamos.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG