terça-feira, 15 de abril de 2025

“Fica conosco, Senhor, suplicamos...”

 


“Fica conosco, Senhor, suplicamos...”
 
 
“Ficai conosco, Senhor Jesus, porque a tarde cai e, sendo nosso companheiro na estrada, aquecei-nos os corações e reanimai nossa esperança, para Vos reconhecermos com os irmãos nas Escrituras e no partir do Pão. Vós, que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Amém.”.  (1)
 
Oremos:
 
Fica conosco, Senhor, e ao participarmos da Tua Mesa,  e na partilha do Pão da Eucaristia, reconheçamos Tua real presença, como os discípulos que Te reconheceram ao partir o Pão, e os olhos foram abertos.
 
Fica conosco, Senhor, e jamais nosso coração será endurecido e tardio para entender o Mistério de Tua Paixão, Morte e Ressurreição; e que a Tua Palavra nos ilumine e faça arder nosso coração.
 
Fica conosco, Senhor, sobretudo para que solidifiquemos nossa amizade e intimidade contigo, de modo especialíssimo ao participarmos da Ceia da Eucaristia.
 
Fica conosco, Senhor, em todos os momentos, favoráveis ou adversos, obscuros ou luminosos, opacos ou radiantes de luz, alegres ou tristes, angustiados ou cheios de esperança.
 
Fica conosco, Senhor, fortaleça nossa fé, reanima nossa esperança e inflama nossos corações, na mais pura e desejável caridade para com o nosso próximo.
 
Fica conosco, Senhor, pois és nosso “companheiro na estrada”, companheiro de viagem, sobretudo quando passarmos por vales tenebrosos e montanhas de dificuldades.
 
Fica conosco, Senhor, na travessia de desertos áridos da existência, a fim de que vençamos as tentações (ter, poder e ser), porque, contigo, mais que vencedores o somos.
 
Fica conosco, Senhor, a Ti nos dirigimos confiantes, pois Tu vives e Reinas com o Teu Pai, na comunhão com o Espírito Santo, na mais perfeita comunhão de amor.  Amém. 


 
(1)   Oração das Vésperas- Liturgia das Horas (cf Lc 24,13-35)
 

“Nunc Dimittis”

 


“Nunc Dimittis”

A Igreja reza à noite, todos os dias, a Oração das Completas, e nela está contido o “Nunc Dimittis” - "agora deixe partir",  rezado por Simeão, homem justo e piedoso, quando da apresentação do Senhor no Templo (Lc 2,29-32).

Cristo, Luz das nações e glória de Seu povo, é um cântico evangélico que pode também ser rezado por quantos puderem nas orações da noite, ao terminar um dia de intensas atividades, preocupações e eventual cansaço, para um bom descanso e um novo dia bem iniciado:

“Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

“–29 Deixai, agora, Vosso servo ir em paz,
conforme prometestes, ó Senhor.

30 Pois meus olhos viram Vossa salvação
31 que preparastes ante a face das nações:

32 uma Luz que brilhará para os gentios
e para a glória de Israel, o Vosso povo.”

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. 
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

 

 

Olhos fixos no Senhor

                                                             

Olhos fixos no Senhor

Olhos fixos no Senhor, é sempre uma graça que eleva nossos pensamentos e revigora nossas forças.

Olhos fixos no Senhor, meditando as palavras do Apóstolo Paulo aos Coríntios (cf. 1Cor 1,27b-30):

“Deus escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é forte; Deus escolheu o que para o mundo é sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para assim mostrar a inutilidade do que é considerado importante, para que ninguém possa gloriar-se diante dele. É graças a ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós, da parte de Deus: sabedoria, justiça, santificação e libertação”. 

Mais uma vez lembramos as palavras do Papa São Leão Magno (séc V):

“Através d’Ele (Jesus Cristo morto na Cruz) é dado aos crentes a força na fraqueza, a glória na humilhação, a vida na morte”.

Olhos fixos no Senhor e vemos que em Sua “fraqueza”, deixou-se atraiçoar e crucificar, revelando e confiando no Seu amor oblativo e o amor do Pai que não O abandonará, mas O Ressuscitará.

Olhos fixos no Senhor, para ficar com Ele até o fim, no indizível amor que testemunha em nosso favor, ainda que imerecidamente.

Mantenhamos os olhos da alma fixos no Senhor e o coração em plena sintonia com o Seu Sagrado Coração trespassado e dilatado para que nele coubéssemos, como tão bem expressou São Pedro Crisólogo (séc. V), na contemplação  da humanidade/divindade de Jesus:

“Talvez vos perturbe a enormidade de Meus sofrimentos por vós. Não tenhais medo. Estes cravos não Me provocam dor, mas cravam mais profundamente em Mim o amor por vós.

Estas Chagas não Me fazem soltar gemidos, mas vos introduzem ainda mais intimamente em Meu coração. O Meu corpo, ao ser estirado na Cruz, não aumenta o Meu sofrimento, mas dilata espaços do coração para vos acolher. Meu Sangue não é uma perda para Mim, mas é o preço do vosso resgate”.

No silêncio e no recolhimento permaneçamos com os olhos e o coração fixos no Senhor, pois quem nos amou tanto assim?

Senhor, tende piedade de nós, nós Vos imploramos

                                             



Senhor, tende piedade de nós, nós Vos imploramos


Senhor Jesus Cristo, Salvador da humanidade,
A Vós que nos remistes por Vossa Morte e Ressureição,
Trilhando o itinerário quaresmal,
Tempo favorável de conversão e salvação, imploramos:


Vós, que subistes a Jerusalém para sofrer a Paixão, e assim entrar na glória,
fortalecei e conduzi Vossa Igreja à Páscoa da eternidade,
fortalecei nossos vínculos fraternos de comunhão,
E como Igreja sinodal, sempre sigamos Vossos passos.


Vós, que elevado na cruz, deixastes a lança do soldado Vos traspassar,
curai as nossas feridas, que fragilizam nossa comunhão.
E revigorados na participação com diferentes ministérios e serviços,
Vivamos com alegria, zelo, amor e ardor a missão que nos confiastes.
 
Vós, que transformastes o madeiro da Cruz em árvore da vida,
concedei os frutos dessa árvore aos que renasceram pelo batismo,
A fim de edificarmos uma Igreja essencialmente evangelizadora
Firmados nos pilares da Palavra, Eucaristia, Caridade e Missão.


Vós, que pregado na Cruz, perdoastes o ladrão arrependido,
perdoai-nos também a nós, pecadores,
Para que vivamos relações marcadas pela misericórdia,
Em gestos de acolhida, reconciliação, ternura e perdão. Amém.
 
 

PS: Inspirado nas preces das Laudes da terça-feira da Semana Santa

O Senhor é fonte inesgotável de Amor e Perdão

                                                                    

O Senhor é fonte inesgotável de Amor e Perdão

Retomo as Preces das “Laudes” da Semana Santa, que muito nos ajuda a viver mais intensamente esses dias, em recolhimento e Oração, contemplando a Paixão do Senhor, para celebrarmos com piedade a Sua Morte, assim como Sua gloriosa Ressurreição.

Na Oração se implora a Cristo Salvador, que nos remiu por Sua Morte e Ressurreição; e suplica-se para que Ele tenha piedade de nós!

Urge que nos dirijamos a Ele, que subiu a Jerusalém para sofrer a Paixão, e assim entrar na glória, para conduzir a Sua Igreja à Páscoa da eternidade. 

E a Ele elevado na Cruz, que deixou a lança do soldado Vos traspassar o Seu coração, do qual verteu Água e Sangue, suplicamos a cura de nossas feridas de tantos nomes.

Contemplamos e cremos que Ele transformou o madeiro da Cruz em Árvore da Vida, e por isto a Ele suplicamos que nos conceda os frutos saborosos e abundantes para todos os que renasceram pelo Batismo.

Também, agora, vitorioso, suportando ter sido pregado na Cruz inocentemente, e morto crudelissamamente, ainda encontrou forças para comunicar o perdão ao ladrão arrependido, e a tantos quantos continuam a condená-Lo e crucificá-Lo em todo tempo, e também a nós se pecadores nos reconhecermos.

Contemplemos o Mistério do Amor infinito de Deus por nós e procuremos corresponder cada vez mais com palavras e gestos concretos.

Oremos:

“Ó Deus, que fizestes Vosso Filho padecer o suplício da Cruz para arrancar-nos à escravidão do pecado, concedei aos Vossos servos e servas, a graça da Ressurreição. Por N. S. J. C. Amém!”

Voltai para nós Vosso olhar de amor e perdão

                                          


Voltai para nós Vosso olhar de amor e perdão

Na Semana Santa e em todo o tempo, imploremos a Cristo Salvador, que nos remiu por Vossa morte e ressurreição, que Ele tenha piedade de nós e do mundo inteiro.

Oremos:

Senhor Jesus, Vós, que subistes a Jerusalém para sofrer a Paixão, e assim entrar na glória, conduzi Vossa Igreja à Páscoa da eternidade.

Concedei Seus frutos aos que renasceram pelo batismo, Vós que transformastes o madeiro da cruz em árvore da vida plena e eterna.

A Vós que fostes elevado na cruz, deixastes a lança do soldado Vos traspassar, curai as nossas feridas da infidelidade e incredulidade para que creiamos e correspondamos ao vosso indizível amor por nós.

Assim como pregado na cruz, perdoastes o ladrão arrependido, nós Vos suplicamos para que nos perdoeis, também a nós, pecadores, assim como nos perdoamos a quem nos tem ofendido.

Ajudai-nos, para que crendo na Vossa vitória sobre a morte, porque pelo Pai Ressuscitado fostes, como discípulos missionários Vossos, sejamos revigorados nas virtudes divinas que nos impelem: fé, esperança e caridade. Amém.

 

 

PS: Fonte - Preces das Laudes da Semana Santa

Semana Santa e Poesia

                                                                      

Semana Santa e Poesia

Celebraremos e vivenciaremos uma rica e abençoada Semana Santa,
Tomemos emprestado o olhar diferenciado dos poetas.
Mas que tem a ver Semana Santa e poesia?

Se considerarmos o olhar de ternura do Senhor,
Ao qual nada escapava, e fluía abundantemente em Suas pregações,
Com exemplos e comparações simples e tocantes;

Se considerarmos o Coração de Jesus,
No qual transbordava o Amor pela vida de cada pessoa,
E a cada um dirigia uma Palavra iluminadora;

Se considerarmos as Palavras ardentes
Que saíram de Seus lábios, como fogo devorador,
Expressão da misericórdia para com o pecador...

Então, não tenho dúvida de que aprenderemos com o Senhor
A mais bela relação entre Semana Santa e poesia,
E, assim, nos tornaremos mais fraternos nesta travessia.

Seguindo atrás de Jesus, com a Cruz às costas,
Com os ramos empunhados nas mãos,
Misericórdia e esperança no coração.

Configurados a Jesus, 
No Mistério de Sua Paixão e Morte na Cruz,
Cruz, que é força na fraqueza, glória na humilhação
E vida na morte.

Com o olhar dos poetas que creem no Mistério da Ressurreição,
Saberemos contemplar a morte do grão de trigo, Jesus Cristo,
Que suportou a morte, para florir e nos saciar com frutos pascais.                    

Com o olhar do poeta e com um coração que em Deus crê
A presença do Ressuscitado, que conosco caminha, sentiremos,
E nosso coração ardente pelo fogo do Espírito ficará, 
e então exultaremos de alegria. Amém. 

Em poucas palavras...

                                        


Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística

“A liturgia eucarística processa-se em conformidade com uma estrutura fundamental, que se tem conservado através dos séculos até aos nossos dias.

Desdobra-se em dois grandes momentos, que formam basicamente uma unidade:

– a reunião, a liturgia da Palavra, com as leituras, a homilia e a oração universal;

– a liturgia eucarística, com a apresentação do Pão e do Vinho, a ação de graças consecratória e a comunhão.

Liturgia da Palavra e liturgia eucarística constituem juntas ‘um  só e mesmo ato de culto’. Com efeito, a mesa posta para nós na Eucaristia é, ao mesmo tempo, a da Palavra de Deus e a do Corpo do Senhor”. (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica n. 1346

Feridas de amor...

 


Feridas de amor...
 
Um versículo do Evangelho:
Olharão para aquele que trespassaram” (Jo 19,37).
 
A intuição de São Boa Ventura:
“Através da ferida visível vemos a ferida do amor invisível”.
 
Uma breve reflexão sobre o versículo:
“Olhar o coração trespassado liberta, ao mesmo tempo, o olhar para o amor encarnado de Deus, que se manifesta no próprio Jesus” (1)
 
Um diálogo, contemplando o amor de Deus por nós por meio do Seu Filho:
 
Senhor, quem mais poderia nos ter amado assim?
 
Ainda que nada mereçamos, nos amais imensuravelmente, porque sois a Divina Fonte de Misericórdia, que nos ama não pelos méritos que possuímos, ao contrário, porque pecadores e miseráveis o somos.
 
Contemplo a ferida aberta, da qual jorrou a Água, que nos fez renascer pelo Batismo; e o Sangue que Redentor que é, ao mesmo tempo, a Verdadeira Bebida, oferecida em cada Banquete da Eucaristia.
 
Além da ferida visível, como que num mergulho, sinto-me envolvido e submerso no mar de Vossa caridade para com os pobres; misericórdia para com os pecadores que somos; e amor, porque quisestes ser de nós o Amigo de todas as horas, incondicionalmente.
 
Oremos:
 
Senhor, que não apenas contemplemos esta ferida visível que nos remete à ferida invisível e crível do Vosso amor por nós, mas que vivamos o mesmo amor, para com todos aqueles pelos quais Vos tornastes grão caído por terra, para morrer e gerar eterna e plena vida.
 
Senhor, que também nosso coração, frágil, pequeno, por vezes duro, frio e egoísta, também seja ferido, cotidianamente, pela Vossa Palavra, que esta penetre as entranhas de nossa alma, e nos capacite para sermos, misericordiosos como o Pai (cf. Lc 6,36), com a força do Vosso Espírito. Amém.
 
 
(1) Cardeal Walter Kasper – Edições Loyola – p.144
 

Fixemos nosso olhar na Cruz de Nosso Senhor

                                                            

Fixemos nosso olhar na Cruz de Nosso Senhor

Celebremos a Semana Santa, a semana do indizível e imenso amor de Deus por nós, e o poder radiante da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, como rezamos no Prefácio da Missa da Paixão do Senhor (I):

“O universo inteiro, salvo pela Paixão de Vosso Filho, pode proclamar a Vossa misericórdia.  Pelo poder radiante da Cruz, vemos com  clareza o julgamento do mundo e a vitória de Jesus crucificado”.(1)

Fixemos nossos olhos no Senhor, que é sempre uma graça que eleva nossos pensamentos e revigora nossas forças, e meditemos as palavras do Apóstolo Paulo aos Coríntios (1Cor 1,27b-30):

“Deus escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é forte; Deus escolheu o que para o mundo é sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para assim mostrar a inutilidade do que é considerado importante, para que ninguém possa gloriar-se diante dele. É graças a Ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual Se tornou para nós, da parte de Deus: sabedoria, justiça, santificação e libertação”. 

Oportunas as palavras do Papa São Leão Magno (séc V):

“Através d’Ele (Jesus Cristo morto na Cruz) é dado aos crentes a força na fraqueza, a glória na humilhação, a vida na morte”.

Olhos fixos no Senhor e vemos que em Sua “fraqueza”, deixou-se atraiçoar e crucificar, revelando e confiando no Seu amor oblativo e o amor do Pai que não O abandonará, mas O Ressuscitará.

Olhos fixos no Senhor, para ficar com Ele até o fim, no indizível amor que testemunha em nosso favor, ainda que imerecidamente.

Mantenhamos os olhos da alma fixos no Senhor e o coração em plena sintonia com o Seu Sagrado Coração trespassado e dilatado para que nele coubéssemos, como tão bem expressou São Pedro Crisólogo (séc V), na contemplação  da humanidade/divindade de Jesus:

“Talvez vos perturbe a enormidade de meus sofrimentos por vós. Não tenhais medo. Estes cravos não Me provocam dor, mas cravam mais profundamente em mim o amor por vós.

Estas Chagas não Me fazem soltar gemidos, mas vos introduzem ainda mais intimamente em Meu coração. O Meu corpo, ao ser estirado na Cruz, não aumenta o Meu sofrimento, mas dilata espaços do coração para vos acolher. Meu Sangue não é uma perda para mim, mas é o preço do vosso resgate”.

No silêncio e no recolhimento permaneçamos. Com os olhos e o coração fixos no Senhor, pois quem nos amou tanto assim?

Concluo com as palavras do Papa Francisco:

“Há tanto barulho no mundo. Aprendamos a estar em silêncio dentro de nós mesmos e diante de Deus”.

(1) Missal Romano - Edição antiga

Que incrível troca, oh, Maria!

                                                             

Que incrível troca, oh, Maria!

Sejamos enriquecidos pelo Sermão do Abade São Bernardo (séc. XII), acerca do mistério da paixão vivida por Maria junto de seu Filho em todos os momentos.

“O martírio da Virgem é mencionado tanto na profecia de Simeão quanto no relato da Paixão do Senhor.

Este foi posto, diz o santo ancião sobre o menino, como um sinal de contradição, e a Maria: e uma espada transpassará tua alma (cf. Lc 2,34-35).

Verdadeiramente, ó santa Mãe, uma espada transpassou tua alma. Aliás, somente transpassando-a, penetraria na carne do Filho.

De fato, visto que o teu Jesus – de todos certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-Lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a alma d’Ele, mas ela transpassou a tua alma.

A alma d’Ele já ali não estava, a tua, porém, não podia ser arrancada dali. Por isso a violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mais do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal.

E pior que a espada, transpassando a alma, não foi aquela palavra que atingiu até a divisão entre alma e o espírito: Mulher, eis aí teu filho? (Jo 19,26). Oh! Que troca incrível!

João, Mãe, te é entregue em vez de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo pelo Mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem, em vez do Deus verdadeiro.

Como ouvir isso deixaria de transpassar tua alma tão afetuosa, se até a sua lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro?

Não vos admireis, irmãos, que se diga ter Maria sido mártir na alma. Poderia espantar-se quem não se recordasse do que Paulo afirmou que entre os maiores crimes dos gentios estava o de serem sem afeição. Muito longe do coração de Maria tudo isto; esteja também longe de seus servos.

Talvez haja quem pergunte: “Mas não sabia ela de antemão que iria Ele morrer?” Sem dúvida alguma. “E não esperava que logo ressuscitaria?” Com toda a confiança. “E mesmo assim sofreu com o Crucificado?” Com toda a veemência.

Aliás, tu quem és ou donde tua sabedoria, para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do Filho de Maria a padecer?

Ele pôde morrer no corpo; não podia ela morrer juntamente no coração?

É obra da caridade: Ninguém a teve maior! Obra de caridade também isto: Depois dela nunca houve igual”.

Elevemos nossa alma até Deus, assumindo com Maria e Seu Filho, o mistério da Paixão dos que hoje padecem a dor, a fome, a miséria, a injustiça com ânsias eternas de libertação e redenção!

Maria, Mãe das Dores, depois dela nunca houve igual, e a nós cabe a mesma fidelidade e compromisso com os crucificados da história, em frutuosa devoção a Nossa Senhora das Dores e a Seu Filho, Redentor de todas as dores, que não nos permite sequer sombra de omissão frente aos incontáveis clamores de todos os tempos.

“Salve Rainha, Mãe de misericórdia...   



PS: Oportuno para a Missa do dia 15 de setembro, quando se celebra a Memória de Nossa Senhora das Dores.   

Riquezas infinitas do Tríduo Pascal

                                    


Riquezas infinitas do Tríduo Pascal

O Tríduo Pascal nos envolve completamente, e se vivido intensamente algo muda substancialmente na vida de quem o celebra ativa, consciente, piedosamente, para que seja abundante em frutos de alegria, vida e paz!

Com a Missa do Crisma, agradecemos a Deus a graça da Instituição do Sacerdócio, e somos enriquecidos com a bênção dos Santos Óleos dos Catecúmenos para o Sacramento do Batismo, o Óleo dos Enfermos e a Consagração do Óleo do Santo Crisma para também ser usado nas Ordenações Presbiterais, Episcopais, dedicação de altar e igrejas.

Na noite de quinta-feira, iniciando o Tríduo Pascal, celebrando a Missa da Ceia do Senhor, agradecemos a Deus de infinita bondade, a Instituição da Eucaristia, como memorial da Sua Nova e Eterna presença; recebemos o Mandamento Novo do Amor e aprendemos com Jesus, numa lição de humildade, a nos colocarmos sempre a serviço, quando lavou os pés dos discípulos.

Nessa Missa, a Palavra de Deus nos convida a refletir sobre a Eucaristia, ponto alto e fonte da vida cristã. Eucaristia celebrada no altar para no cotidiano ser vivida.

A Missa não tem fim em si mesma, continua em todo o nosso existir. Somos a presença d’Aquele que recebemos no mundo. Transformamo-nos n’Aquele que recebemos, vivendo o Novo Mandamento que Ele nos deu, criando laços mais humanos, belos e fraternos em atitude de servidores do Reino da Vida.

Em resumo, há um estreito vínculo indissolúvel entre a Eucaristia, a fraternidade universal, o amor e o serviço. Eucarísticos que somos, testemunhas críveis do amor também o seremos quando nossa vida for marcada por compromissos solidários em favor da vida, sobretudo dos mais empobrecidos – “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que Eu fiz...” (Jo 13,15).

Após a Missa, a Igreja fica em Vigília, em intensa adoração, recolhidos diante do Amor visível e tangível no Santíssimo Sacramento, a ser transladado para lugar oportuno.

As portas dos Sacrários ficam abertas e vazias, assim como Ele aniquilou-Se, despojou-Se de tudo para nos enriquecer de todos os bens e de toda graça, nos devolvendo a condição filial perdida, fazendo resplandecer a face sem brilho pelo pecado de nossos primeiros pais.

Quando a tarde de Sexta-Feira anunciar quinze horas, num silêncio profundamente tocante, sensíveis diante do incrível Mistério do Amor de Deus que nos amou até o fim, celebraremos a Paixão e Morte do Senhor.

A Palavra anunciada nos leva a refletir sobre o incrível Amor de Deus, que não sabe fazer outra coisa senão nos amar e nos amar até o fim, dando Sua vida em nosso favor.

Aprenderemos com o Servo Sofredor no que consiste o verdadeiro Amor que se concretiza na obediência filial, fidelidade incondicional e na sinceridade e transparência vivida contra todo abandono, traição, negação, ultraje, humilhação, aniquilamento, desfiguração “... – tão desfigurado Ele estava que nem parecia ser um homem ou ter aspecto humano...” (Is 52,14).

Contemplaremos Seu Coração trespassado: “... mas um soldado abriu-lhe o lado com uma lança e logo saiu Sangue e Água.” (Jo 19,34) – Água e Sangue jorram simbolizando o nascimento e o alimento, o Batismo e a Eucaristia. De onde nascemos jorra também o nosso Alimento. Deus não somente quis nos fazer renascer, mas quis Se fazer e Se dar em Alimento no Seu Corpo e Sangue: a Santa Eucaristia!

A Via Sacra completará nossa configuração com Jesus. Se com Ele vivemos, caminhamos, padecemos as múltiplas faces da Paixão, da dor, do sofrimento, do pranto, do luto, com Ele também Ressuscitaremos.

A Via Sacra, com sua extrema profundidade, nos traz à mente e ao coração os momentos máximos do Amor. Jesus leva-nos inevitavelmente a um clima de intensa oração, ao mergulho nas profundidades da Misericórdia Divina, às lágrimas, ao recolhimento, e silêncio orante.

Cada momento nos leva a pensar e rezar por tantos outros rostos que vivem verdadeiras “vias sacras”, não como algo do passado, mas memória da Verdadeira Paixão e Morte do Senhor.

Sábado Santo! Parece que as horas não passam... Estaremos aguardando a grande Vigília Pascal – a mãe de todas as vigílias, por ser a mais antiquíssima delas.

A grande Vigília tem sua beleza própria: a fogueira, o fogo novo, o Círio pascal, a proclamação da passagem, a nossa Páscoa, a riqueza da Palavra de Deus, a bênção da água e a renovação batismal de todos os fiéis, a Santa Eucaristia.

Que chegue a noite escura tão esperada! O Fogo novo do Círio Pascal, Palavra Proclamada, Água santificada e aspergida, batismo renovado, Eucaristia comungada – Será a Páscoa tão desejada, após um rico e longo Itinerário Quaresmal, e o culminar de um Santo Tríduo Pascal.

Que chegue a noite escura tão esperada!
Pois quando o sol se puser e a luz da lua vier iluminar a noite,  
celebraremos a Verdade que ilumina todas as noites escuras de nossa existência. Pouco a pouco, a alegria da Boa-Nova da Ressurreição
 vai aparecendo em nossos corações,  olhos e lábios, 
porque, de fato, Ele Ressuscitou! 
Então cantaremos o Aleluia!

Rezando com os Salmos - Salmo 31 (32)

 


O perdão divino é fonte de felicidade

“–1 Feliz o homem que foi perdoado
e cuja falta já foi encoberta!
=2 Feliz o homem a quem o Senhor
não olha mais como sendo culpado,
e em cuja alma não há falsidade!

=3 Enquanto eu silenciei meu pecado,
dentro de mim definhavam meus ossos
e eu gemia por dias inteiros,

–4 porque sentia pesar sobre mim
a vossa mão, ó Senhor, noite e dia;
– e minhas forças estavam fugindo,
tal como a seiva da planta no estio.

–5 Eu confessei, afinal, meu pecado,
e minha falta vos fiz conhecer.
– Disse: 'Eu irei confessar meu pecado!'
E perdoastes, Senhor, minha falta.

–6 Todo fiel pode, assim, invocar-Vos,
durante o tempo da angústia e aflição,
– porque, ainda que irrompam as águas,
não poderão atingi-lo jamais.

–7 Sois para mim proteção e refúgio;
na minha angústia me haveis de salvar,
– e envolvereis a minha alma no gozo
da salvação que me vem só de Vós.

=8 'Vou instruir-te e te dar um conselho;
vou te dar um conselho a seguir,
e sobre ti pousarei os meus olhos:

=9 Não queiras ser semelhante ao cavalo,
ou ao jumento, animais sem razão;
eles precisam de freio e cabresto
– para domar e amansar seus impulsos,
pois de outro modo não chegam a ti'.

=10 Muito sofrer é a parte dos ímpios;
mas quem confia em Deus, o Senhor,
é envolvido por graça e perdão.

=11 Regozijai-vos, ó justos, em Deus,
e no Senhor exultai de alegria!
Corações retos, cantai jubilosos!”

Com o Salmo 31(32) de coração contrito e humilhado elevemos a Deus nossa súplica de perdão, e alcançados pela misericórdia divina, acolhamos o perdão que nos renova, refaz nossas forças, alarga os horizontes de um novo dia, e finalmente nossos pés são firmados.

De fato “Feliz o homem que foi perdoado!” E Davi  declara feliz o homem a quem Deus credita a justiça independentemente das obras (Rm 4,6):

“O pecador não encontra a felicidade enquanto não reconhece o próprio erro e entra num processo de conversão. Mas se o fizer, abre as portas ao perdão divino, que vem acompanhado de uma alegria profunda.” (1)

Como peregrinos da esperança, é sempre oportuno e necessário, que reconheçamos nossos pecados e os confessemos diante de Deus, sobretudo no Sacramento da Penitência, seja no Tempo da Quaresma, Tempo do Advento, ou em qualquer outro tempo.


(1) Comentário da Bíblia Sagrada - Edições CNBB - pág. 751

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