quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

“É feliz quem a Deus se confia”

 


“É feliz quem a Deus se confia”
 
Na passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 17,5-10), o Profeta nos alerta que viver prescindindo de Deus é percorrer um caminho de morte, renunciando à felicidade e à vida plena.
 
É preciso vencer toda atitude de autossuficiência e egoísmo, tendo em Deus total confiança e esperança, pois “Prescindir de Deus e não contar com Ele significa construir uma existência limitada, efêmera, raquítica, a que falta o essencial, como um arbusto plantado no deserto, condenado precocemente à morte” (1).
 
Reflitamos:
 
- Quais são as referências fundamentais para a construção de nossa vida?
- Onde estão a nossa segurança e esperança? 
- De que modo vivemos nossa fidelidade a Deus?
 
Oremos:
 
“Ó Deus, que amais e restaurais a inocência, orientai para Vós os corações dos Vossos filhos e filhas, para que renovados pelo Vosso Espírito, sejamos firmes na fé e eficientes nas obras. Por N.S.J.C. Amém.”
 
 
(1) www.dehonianos.org

Quem são os “Lázaros” de nosso tempo?

Quem são os “Lázaros” de nosso tempo?

A Liturgia da 2ª Quinta-feira da Quaresma nos convida a refletir sobre nossa relação com os bens: bens que passam e que devem ser usados, e os bens eternos, que devem ser abraçados, à luz da Parábola do rico e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31).

No Antigo Testamento, o Profeta Amós, o “Profeta da justiça social”, denuncia a exploração dos ricos sobre os pobres, um luxo vivido à custa da exploração dos pobres (Am 6, 1a.4-7).

Sua voz é um grito profético sobre esta situação, e Deus não Se faz indiferente, e não compactua esta, porque não é o Seu Projeto pensado e querido para a humanidade.

O grito de Amós ultrapassa seu tempo e chega até nós, pois também vivemos situações de desigualdade, exploração e miséria que precisam ser superadas: gastos com supérfluos, contrastando com realidades abomináveis de fome, desnutrição, sede e muito mais a ser mencionado.

Na fidelidade a Deus, vivendo a vocação profética, não podemos nos furtar de sagrados compromissos para que todos tenhamos uma vida plena e feliz.

Voltando à Parábola, ela é uma catequese sobre como devemos possuir os bens e não sermos possuídos por eles, vivendo o amor, a partilha e a solidariedade, sobretudo com os mais pobres, com os “Lázaros” de cada tempo.

A Parábola nos ensina que enquanto a Palavra de Deus não for acolhida no mais profundo do coração, a ponto de determinar nossos pensamentos, escolhas e ações, permaneceremos mergulhados na escuridão, encalacrados no egoísmo, no orgulho, na autossuficiência, sem jamais entender e viver a graça do amor e da partilha.

Não podemos perpetuar situações em que um quarto da humanidade fica com oitenta por cento dos recursos disponíveis do planeta, enquanto três quartos ficam com o restante (vinte por cento).

Muito bem nos ensina a Igreja, perita em humanidade: “Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos...” (Gaudium et Spes n. 69).

O rico da Parábola não tem nome, pois pode ser cada um de nós; representa a humanidade, mas o pobre tem nome, chama-se “Lázaro”, que tem apenas os cães para lhe lamberem a ferida, amenizando a dor, servindo-lhe de companhia na dor da solidão, da marginalização e do abandono.

Que nossos olhos, ouvidos, coração sejam abertos para contemplar a face de Deus e escutar Sua Palavra, para que vivamos o amor, a solidariedade e a partilha com os “Lázaros” de cada tempo.

Os “cães” e os “ais” do Profeta Amós devem ser interpelação constante para todos nós, no amor de compaixão, para a superação de relações pecaminosas de miséria e opressão.

Reflitamos:
- Como usamos os bens que nos são confiados?
- Sabemos partilhar com os outros os bens que possuímos?

- Quais são nossas riquezas que precisamos colocar em comum em alegre sinal de amor, comunhão, partilha e solidariedade?

- Quem são os “Lázaros” que se encontram em nossas portas?

- O que fazemos concretamente em seu favor?

Continuemos nosso itinerário quaresmal, num profundo compromisso de conversão, para que nos empenhemos na superação desta brutal e pecaminosa realidade, que se manifesta em inúmeras formas de desigualdade e injustiça social.

No bom combate da fé vivido, comprometamo-nos com um novo céu e uma nova terra, pois cremos que somente na vivência das Obras de Misericórdia (Obras de Misericórdia Corporais: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. Obras de Misericórdia Espirituais: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as fraquezas do próximo, rezar a Deus pelos vivos e defuntos), muito poderemos contribuir na transformação das estruturas sociais injustas. 


Fonte inspiradora: www.Dehonianos.org/portal 

Quaresma: amor expresso na compaixão com os “Lázaros”

                                                  

Quaresma: amor expresso na compaixão com os “Lázaros”

Na quinta-feira da 2ª Semana do Tempo da Quaresma, ouvimos a  passagem do Evangelho de Lucas (Lc 16,19-31), que nos apresenta o banquete oferecido por um rico, e o pobre Lázaro, à porta, mendicante.

Reflitamos sobre o escândalo da riqueza construída à custa do sofrimento dos pobres, dos tantos “Lázaros”, à luz das palavras do Bispo São João Crisóstomo (séc. V), a fim de que cresçamos no amor e na fidelidade ao Senhor, com gestos de amor, partilha e solidariedade.

“O indigente está atormentado pela falta do necessário e se lamenta e levanta muitos acusadores e não deixa nenhuma rua sem percorrer, perseguido por sua miséria, sem ter onde passar a noite. 

Como conseguirá o infeliz dormir, atormentado pelo estômago, cercado pela fome, desprotegido quando vem o frio ou quando cai o aguaceiro?

Você sai limpo do seu banho, vestindo roupas claras, cheio de satisfação e euforia e se dirige a esplêndida mesa que lhe foi posta.

O outro, porém transtornado de frio e morto de fome, dá voltas e mais voltas pela praça pública, com a cabeça baixa e estendendo as mãos.

O infeliz já nem tem ânimo para se dirigir ao bem alimentado e bem descansado, pedindo-lhe o sustento necessário e muitas vezes se retira coberto de insultos”.

Muito antes, os "ais” do Profeta Amós foram dirigidos aos ricos, que viviam luxuosamente à custa do empobrecimento e sofrimento dos pobres.

A denúncia do Profeta Amós e a advertência do Sublime Mestre Jesus, ultrapassam o tempo, para que reconstruamos um novo tempo, sem miséria, dor, luto, fome e sofrimento...

Os nossos olhos, ouvidos e também o coração devem se abrir sempre na acolhida e fidelidade à Palavra, no amor, solidariedade e partilha com os “Lázaros” de cada tempo.

Os cães da Parábola e os “ais” do profeta devem ser interpelações mais que audíveis para todos nós, no amor de compaixão para a superação de relações de miséria e opressão.

As lições que aprendemos com esta Parábola:

- a eternidade somente será alcançada no amor que se traduza em partilha, solidariedade e sensibilidade com os clamores dos que mais precisam;

- a justiça deve ser compreendida como retidão em relação às pessoas, em relação ao nosso próximo;

- a piedade é a expressão da nossa relação de retidão para com Deus em estreita intimidade e fidelidade ao Bem Maior;

- nossa fé e a adesão a Jesus Cristo deve ser plena e incondicional;

- o amor vivido é a concretização de nossa fé e norma de comportamento em tudo e em todos os momentos;

- é preciso a perseverança e a capacidade de superação de conflitos internos e externos;

a mansidão é uma virtude que nos identifica como cristãos, e esta nos foi apresentada por Jesus no Sermão da Montanha.

Reflitamos:

- O que podemos fazer para superar brutal e pecaminosa situação de miséria e injustiça social que questiona nossa fé, esperança e caridade?
- O que fazer para superar a pecaminosa distância entre os ricos e os pobres de nosso tempo?

- Como reconstruir relações justas e fraternas em que a riqueza não será consequência do processo de empobrecimento do outro?
- Quais são nossas atitudes que clamam por conversão a fim de acolhermos Cristo nos “Lázaros” de hoje?

Deste modo, menos palavras diante de Deus, mas muita solidariedade e compromisso com os pobres, é o suprassumo da Liturgia nem celebrada e vivida.

Lembremos as palavras de Santo Antônio:

Cessem as palavras, falem as obras”, já nos disse Santo Antônio.

- Lázaro clama, qual a nossa resposta?
- Lázaro grita, qual a nossa escuta?
- Lázaro chora, como enxugamos seu pranto?
- Lázaro geme de dor, qual nosso bálsamo a oferecer?
- Lázaro tem pesadelos, como torná-los sonhos?
- Lázaro já “não é”, como ajudá-lo a ser?
- Lázaro não existe! Como não existe?!

“Lázaro" existe, e com ele: o apelo de nossa conversão e amor que se expressa em compaixão.

Quaresma é tempo favorável de crescermos na solidariedade e compromisso com os pobres.

Vejamos em cada “Lázaro”, não uma fonte de enriquecimento ou indiferença, mas como apelo de solidariedade, para que nossa fé seja mais  verdadeira, nossa esperança mais comunitária, a caridade visibilizada em ação solidária.

Que "Lázaro" não se decepcione conosco!

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente

                                                                 

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente

O Concílio Vaticano II nos agraciou com a Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, e nos apresenta um parágrafo que nos convida a contemplar a presença de Jesus Cristo Ressuscitado em diversos momentos (n.7).

Oremos:

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente em Sua Igreja, principalmente nas Ações Litúrgicas.

Contemplo-Vos, ó Cristo, presente na Sagrada Liturgia como o Vosso exercício do múnus sacerdotal, onde os sinais sensíveis significam e, do modo específico a cada um, o que realizam na santificação do homem.

Contemplo-Vos, ó Cristo, presente na Celebração Litúrgica, por ser ato Vosso, do Cristo Sacerdote e de Seu Corpo, a Igreja, que é a ação sagrada por excelência, cuja eficácia nenhuma outra obra da Igreja iguala no mesmo título e grau.

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente no Sacrifício da Missa, tanto na pessoa do Ministro, pois quem o oferece agora, através do Ministério dos Sacerdotes, é Aquele mesmo que Se ofereceu na Cruz, como, mais intensamente ainda, sob as Espécies Eucarísticas.

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente pela Vossa virtude nos Sacramentos, pois quando alguém batiza é Cristo quem batiza.

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente por Vossa Palavra, pois sois Vós quem fala, quando se lê a Sagrada Escritura na Igreja.

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente, enfim, na Oração e Salmodia da Igreja, pois Vós prometestes: “Onde dois ou três se reúnem em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt 18,20).

Contemplo-Vos, ó Cristo, unindo estreitamente a Vós, a Vossa esposa diletíssima, a Igreja, que invoca seu Senhor e, por Ele, presta culto ao eterno Pai. Amém. Aleluia!

“A caridade perfeita expulsa o temor”

“A caridade perfeita expulsa o temor”

Vivendo intensamente o Tempo da Quaresma, reflitamos sobre o verdadeiro temor do Senhor, à luz dos Tratados sobre os Salmos, escritos pelo Bispo Santo Hilário (Séc. IV).

Feliz és tu se temes o Senhor e trilhas seus caminhos (Sl 127,1). Todas as vezes que na Escritura se fala do temor do Senhor, nunca se fala isoladamente, como se ele bastasse para a perfeição da nossa fé; mas vem sempre acompanhado de muitas outras virtudes que nos ajudam a compreender sua natureza e perfeição.

Assim aprendemos desta palavra que disse Salomão no livro dos Provérbios: Se suplicares a inteligência e pedires em voz alta a prudência; se andares à sua procura como ao dinheiro, e te lançares no seu encalço como a um tesouro, então compreenderás o temor do Senhor (Pr 2,3-5).

Vemos assim quantos degraus é necessário subir para chegar ao temor do Senhor.

Em primeiro lugar, devemos suplicar a inteligência, pedir a prudência, procurá-la como ao dinheiro e nos lançarmos ao seu encalço como a um tesouro. Então chegaremos a compreender o temor do Senhor.

Porque o temor, na opinião comum dos homens, tem outro sentido. É a perturbação que experimenta a fraqueza humana quando receia sofrer o que não quer que lhe aconteça. Este gênero de temor manifesta-se em nós pelo remorso do pecado, pela autoridade do mais poderoso ou a violência do mais forte, por alguma doença, pelo encontro com um animal feroz e pela ameaça de qualquer mal.

Esse temor, por conseguinte, não precisa ser ensinado, porque deriva espontaneamente de nossa fraqueza natural. Não aprendemos o que se deve temer, mas são as próprias coisas temíveis que nos incutem o terror.

Pelo contrário, sobre o temor de Deus, assim está escrito: Meus filhos, vinde agora e escutai-me: vou ensinar-vos o temor do Senhor Deus (Sl 33,12). Portanto, se o temor do Senhor é ensinado, deve-se aprender. Não nasce do nosso receio natural, mas do cumprimento dos mandamentos, das obras de uma vida pura e do conhecimento da verdade.

Para nós, todo o temor do Senhor está contido no amor, e a caridade perfeita expulsa o temor. O nosso amor a Deus leva-nos a seguir os seus conselhos, a cumprir os Seus Mandamentos e a confiar em suas promessas.

Ouçamos o que diz a Escritura: E agora, Israel, o que é que o Senhor teu Deus te pede? Apenas que o temas e andes em Seus caminhos; que ames e guardes os mandamentos do Senhor teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, para que sejas feliz (Dt 10,12-13).

Ora, os caminhos do Senhor são muitos, embora ele próprio seja o Caminho. Pois, Ele chama-Se a Si mesmo caminho, e mostra a razão porque fala assim: Ninguém vai ao Pai senão por mim (Jo 14,6).

Devemos, portanto, examinar e avaliar muitos caminhos, para encontrarmos, por entre os ensinamentos de muitos, o único caminho certo, o único que nos conduz à vida eterna. Há caminhos na Lei, caminhos nos Profetas, caminhos nos evangelhos e nos apóstolos, caminhos nas diversas obras dos mestres. Felizes os que andam por eles, movidos pelo temor do Senhor”.

Seja para nós o Tempo da Quaresma o tempo favorável para:

- suplicarmos a Deus inteligência e a prudência. Incansáveis, procuremos, pois se trata de um “tesouro”, como nos disse o Bispo, para chegarmos a compreensão do temor do Senhor;

- fazermos progressos maiores no cumprimento do Mandamento do Amor a Deus e ao próximo, pois somente a caridade vivida expulsará todo temor;

- descobrirmos a face misericordiosa e amorosa de Deus, que nos ama com amor sem medida, que encontrou a sua máxima expressão no Mistério da Paixão e Morte de Seu Filho Jesus, para que nos fosse enviado o Paráclito, o Advogado, o Espírito Santo, para nos inflamar com Seu Amor, cumulando-nos de todos os bens e de todas as graças.

Lázaro é o próprio Cristo Crucificado nos crucificados de cada tempo!


Lázaro é o próprio Cristo Crucificado nos crucificados de cada tempo!

A Liturgia da quinta-feira da 2ª semana da Quaresma nos apresenta a Parábola do rico e do pobre Lázaro (Lc 16, 19-31).

O Papa Bento XVI, em seu Livro “Jesus de Nazaré”, muito nos enriquece com sua reflexão, em que destaco alguns pontos essenciais, sobre a passagem da Parábola:

Inicialmente,  o Papa nos fala sobre a essência da mensagem da Parábola do Lázaro (que quer dizer Deus é nosso auxílio); o apelo para o amor e a responsabilidade para com nossos irmãos empobrecidos, tanto no nível menor de nossas ações cotidianas, como em nível mundial:

“Também nesta história se encontram diante de nós duas figuras contrastantes entrei si: o rico, que se regala no seu bem-estar, e o pobre, que nem sequer pode apanhar as migalhas que os ricos dissipados atiram da mesa – segundo os costumes de então, pedaços de pão com os quais purificavam as mãos e que depois atiravam para fora. Os Padres da Igreja classificaram em parte também esta Parábola segundo o esquema dos dois irmãos e aplicaram-na à relação de Israel (o rico) e da Igreja (o pobre Lázaro)...

Na realidade, o Senhor quer com esta história justamente nos introduzir no processo do ‘despertar’, que está sedimentado nos Salmos. Não se trata aqui de uma condenação barata da riqueza ou dos ricos nascida da inveja...

E assim devemos, mesmo isso não estando no texto, dizer, a partir dos Salmos, que o libertino rico era já neste mundo um homem de coração vazio, que queria na sua devassidão apenas abafar o vazio, que já constava no aquém.

Naturalmente esta Parábola, à medida que nos desperta, é ao mesmo tempo um apelo para o amor e para a responsabilidade que precisamos ter para com os nossos irmãos pobres, quer no plano da sociedade mundial, quer na pequenez do nosso cotidiano".

Outro ponto culminante é a exigência de sinais:

“A resposta de Abraão, bem como a resposta de Jesus, à exigência de sinais dos seus contemporâneos fora do mistério é clara: quem não acredita na Palavra da Escritura também não acreditará em alguém que venha do além...

Uma coisa é clara: o sinal de Deus para os homens é o Filho do Homem, é Jesus. E Ele o é profundamente no Seu Mistério Pascal, no Mistério da Morte e da Ressurreição. Ele mesmo é o ‘sinal de Jonas’. Ele, o Crucificado e o Ressuscitado, é o verdadeiro Lázaro: a Parábola, que é mais do que uma Parábola, convida-nos a acreditarmos e a seguirmos este grande sinal de Deus. Ele fala da realidade, da realidade mais decisiva da história em absoluto” . (P. 187-191)".

Esta Parábola nos convida a refletir e fortalecer nossos passos num caminho contínuo de conversão, para que nosso amor a Deus se expresse em real amor e compromisso com os Lázaros de cada tempo.

A solidariedade com os “Lázaros” deve ser a mais bela expressão de misericórdia entre nós vivida, para que misericordiosos como o Pai sejamos.

Em plena Quaresma, que esta Parábola acolhida, refletida nos ajude neste itinerário quaresmal de penitência e conversão, para que nosso amor a Deus se expresse em real amor e compromisso com os Lázaros de cada tempo.

As ações solidárias para com Lázaro haverão de ser frutos do esforço que fizermos, numa sincera abertura à graça divina, que nos é derramada abundantemente neste tempo, para que vivamos intensamente as três práticas que nos foram propostas na Quarta-feira de Cinzas: jejum, Oração e esmola.

Comunidade: lugar do encontro com Deus (IIITQB)

Comunidade: lugar do encontro com Deus

Na passagem do Evangelho (Jo 2, 13-25), ao realizar a purificação do templo, Jesus anuncia que Ele mesmo é o lugar do verdadeiro encontro com Deus.

Jesus é a verdadeira presença de Deus no meio da humanidade, o Verbo que Se fez Carne.

E, ao afirmar que pode destruir o templo e o edificar em três dias, preanuncia a Sua morte e Ressurreição, que será esta, por sua vez a garantia de que Jesus veio de Deus, e que Sua atuação tem o selo de garantia de Deus.

O evangelista João situa o fato de a purificação acontecer nos dias que antecedem à Festa da Páscoa, momento em que grande multidão afluía para Jerusalém. Note-se que Jerusalém teria aproximadamente 55.000 habitantes, e nestes dias chegava a receber 125.000 peregrinos, com o sacrifício de 18.000 cordeiros na celebração pascal.

Evidentemente, o templo era lugar de grande comércio e muitos viviam dele; e aqui o sinal profético da sua purificação feita por Jesus.

O gesto de Jesus deve ser entendido neste contexto, como a comunicação de novos tempos messiânicos.

Jesus não propõe a reforma do templo, mas a abolição do culto porque era algo nefasto, ou seja, em nome de Deus o culto criava exploração, miséria, injustiça, em vez de favorecer uma sincera e frutuosa relação com Deus.

Jesus é, de fato, o novo Templo, isto é fundamental como mensagem. Ele Se faz companheiro de caminhada e aponta os caminhos de salvação.

A salvação não fica restrita às mãos dos sacerdotes do templo. Ele é Aquele que vem ao mundo comunicar a Salvação à humanidade, em sinal de total e incondicional Amor a Deus, dando Sua vida em sacrifício para a nossa redenção.

Não há mais necessidade daquele templo e seus sacrifícios. Com Ele, Jesus, a humanidade pode alcançar vida, alegria, paz, salvação sem submeter à lógica sacrificial do templo, que havia se tornado casa de comércio, covil de ladrões.

Os cristãos, tendo aderido ao Senhor e a Sua Mensagem, tendo comido a Sua Carne, bebido do Seu Sangue, precisam se identificar com Ele.

Os cristãos são, portanto, pedras vivas desse novo Templo no qual Deus Se manifesta ao mundo e vem ao encontro da humanidade oferecendo vida e Salvação.

Cabe aos cristãos revelar ao mundo o rosto bondoso, misericordioso e terno de Deus, pelo que creem e pelo que vivem, sem dissociação, sem distanciamentos e incoerência, pois todo aquele que vive e crê no Senhor, terá a vida eterna, e já experimenta no tempo presente felicidade plena. 

Urge que nossos cultos sejam agradáveis a Deus, com implicações em nossa vida, sobretudo a Eucaristia que celebramos.

Da mesma forma, precisamos viver a Palavra que proclamamos e ouvimos, a fim de que nossos cultos não sejam apenas solenes, mas ricos de conteúdos vivenciais, com maiores compromissos com a vida, ou seja, com o Reino de Deus.

Sendo assim, quando acorremos ao Templo para celebrar, haveremos de fazê-lo de modo ativo, consciente e piedoso de modo que molda o nosso viver.

Reflitamos:

- Sentimos a presença de Deus em nossas comunidades, verdadeiros Templos de Deus?

- Sentimos a presença de Deus em cada homem e mulher, como templos de Deus?

- Há o Templo e os templos, nos quais Deus também fez Sua morada. Como cuidamos do Templo do Senhor, e também como cuidamos dos templos do Senhor?

- O que fazemos para que cada pessoa, lugar da presença de Deus, também tenha vida plena e feliz?

Que o Tempo da quaresma renove em nós a alegria de ser Igreja, amando e nos colocando a serviço dela, no compromisso com a vida e com o Reino, não esgotando nossa fé na prática de cultos e ritos, mas em sinceros e multiplicados gestos de amor, comunhão, fraternidade e solidariedade, e tão somente assim, nossos cultos serão agradáveis a Deus.

Nunca é demais dizer: há sempre um longo a caminho de conversão a percorrer, para que nossas comunidades correspondam à missão que lhes foi confiada. Vivamos, portanto, este Tempo, como tempo de graça e reconciliação e maior fidelidade aos desígnios de Deus.
  

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Quaresma: “Tempo de combate e suores”

                                                  

Quaresma: “Tempo de combate e suores”

Na quarta-feira da 2ª Semana do Tempo da Quaresma, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 20,17-28), na qual a mãe dos filhos de Zebedeu, João e Tiago, pede a Jesus para que seus filhos se assentem em Seu Reino, um à direita e outro à esquerda.

Uma das Homilias do Bispo São João Crisóstomo (Séc. IV), muito nos enriquece nesta reflexão.

“Os filhos de Zebedeu pedem a Cristo: Deixa-nos sentar um à Tua direita e outro, à Tua esquerda (Mc 10,37). Que resposta lhes dá o Senhor? Para mostrar que no seu pedido nada havia de espiritual, e se soubessem o que pediam não teriam ousado fazê-lo, diz: Não sabeis o que estais pedindo (Mt 20,22), isto é, não sabeis como é grande, admirável e superior aos próprios poderes celestes aquilo que pedis.

Depois acrescenta: Por acaso podeis beber o Cálice que Eu vou beber? (Mt 20,22). É como se lhes dissesse: ‘Vós me falais de honras e de coroas; Eu, porém, de combates e de suores. Não é este o tempo das recompensas, nem é agora que minha glória há de se manifestar. Mas a vida presente é de morte violenta, de guerra e de perigos’.

Reparai como o Senhor os atrai e exorta, pelo modo de interrogar. Não perguntou: ‘Podeis suportar os suplícios? Podeis derramar vosso sangue? Mas indagou: Por acaso podeis beber o Cálice? E para os estimular, ainda acrescentou: que Eu vou beber?

Assim falava para que, em união com Ele, se tornassem mais decididos. Chama Sua Paixão de Batismo, para dar a entender que os sofrimentos haviam de trazer uma grande purificação para o mundo inteiro. Então os dois discípulos lhe disseram: Podemos (Mt 20,22). Prometem imediatamente, cheios de fervor, sem perceber o alcance do que dizem, mas com a esperança de obter o que pediam.

Que afirma o Senhor? De fato, vós bebereis do meu Cálice (Mt 20,23), e sereis batizados com o Batismo com que Eu devo ser batizado (Mc 10,39). Grandes são os bens que lhes anuncia, a saber: ‘Sereis dignos de receber o martírio e sofrereis comigo; terminareis a vida com morte violenta e assim participareis da minha paixão’. Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles para os quais Ele os preparou (Mt 20,23). Somente depois de lhes ter levantado os ânimos e de tê-los tornado capazes de superar a tristeza é que corrigiu o pedido que fizeram.

Então os outros dez discípulos ficaram irritados contra os dois irmãos (Mt 20,24). Vedes como todos eles eram imperfeitos, tanto os que tentavam ficar acima dos outros, como os dez que tinham inveja dos dois?

Mas, como já tive ocasião de dizer, observai-os mais tarde e vereis como estão livres de todos esses sentimentos. Prestai atenção como o mesmo apóstolo João, que se adianta agora por este motivo, cederá sempre o primeiro lugar a Pedro, quer para usar da palavra, quer para fazer milagres, conforme se lê nos Atos dos Apóstolos.

Tiago, porém, não viveu muito mais tempo. Desde o princípio, pondo de parte toda a aspiração humana, elevou-se a tão grande santidade que bem depressa recebeu a coroa do martírio”.

Como discípulos de Jesus, não devemos procurar as “honras e coroas”, como nos falou o Bispo, mas estarmos sempre prontos para “os combates e os suores”.

São Tiago, que nasceu em Betsaida, e seu irmão, João, filhos de Zebedeu, estiveram presentes nos principais milagres realizados por Jesus Cristo.

Foi morto no ano 42, por Herodes, e é venerado com grande devoção em Compostela (Espanha), onde se construiu uma célebre basílica dedicada ao seu nome.

Roguemos a Deus para que nos dê a coragem e o ardor deste Apóstolo, assim como do Apóstolo São João, na fidelidade ao Senhor, sem procurar um pseudocristianismo de honras e coroas”, glória sem cruz

Supliquemos, também, que tenhamos  maturidade para as renúncias necessárias e o carregar da cruz quotidiana, com a força e a sabedoria do Espírito Santo, que vem sempre em socorro de nossa fraqueza para os “combates e os suores”, iluminados pela Palavra do Senhor e alimentados pelo Seu Corpo e Sangue recebidos na Eucaristia.

“Parênteses de luz”

 


“Parênteses de luz”

 

É sempre tempo favorável de conversão e, também, de oração, em que nos abrimos e mergulhamos nos insondáveis Mistérios Divinos.

 

“O abandono das certezas, das seguranças jamais é total. Permanece sempre, no fundo, a lembrança e a saudade da terra em que se habitava.

 

Nos apóstolos chamados a seguir a Cristo permanece a interrogação de quem seria realmente Aquele a quem ouviram e por quem abandonaram sua terra. Sua vida oculta, Seu messianismo tão diferente do que esperavam deixam algo de duvidoso.

 

Jesus toma a iniciativa e Se manifesta sob outra forma que revela Seu verdadeiro ser, Sua majestade divina: concede aos apóstolos contemplar o fim que O espera. Assim, os discípulos podem ver que o Servo repelido e incompreendido é o Filho do homem descrito por Daniel.

 

A condição humana, frágil e oculta, é apenas um tempo de passagem, um parênteses. Com essa antecipação da glória de que se revestirá no momento da Ressurreição, a fé dos discípulos deveria sair reanimada, confirmada (Evangelho).”

 

Retomemos duas afirmações: “(Jesus) concede aos apóstolos contemplar o fim que O espera...” e “A condição humana, frágil e oculta, é apenas um tempo de passagem, um parêntesis.”

 

Há um fim glorioso, por nós, esperado, a glória dos céus que Jesus lhes dá a possibilidade contemplar. Alguém muito bem assim expressou: “é como uma gota de mel em meio às amarguras.”

 

Se não tivessem estes parênteses de luz como suportariam as dificuldades, provações, perseguições um pouco mais tarde, como de fato elas se multiplicaram avassaladora e crudelissimamente...

 

Não tivessem esta experiência, com certeza esmoreceriam, desanimariam, recuariam e a missão de anúncio do Reino, da construção de um novo céu e uma nova terra consistiria num terrível fracasso.

 

A fé na Ressurreição, a espera da glória futura, a coroa da justiça reservada aos justos é sempre uma boa nova que nos impulsiona.

 

Quanto à segunda, somos um “parênteses”, um momento, uma história a ser escrita com coragem e ousadia, para ser prolongada na eternidade.

 

Nossa história, se escrita com confiança no Absoluto, terá sua continuidade desabrochando em páginas infinitas na eternidade.

 

Mas como somos frágeis, limitados, por vezes temerosos, incrédulos, precisávamos e precisamos de “momentos de luz” para que se renove em nós a certeza de que as trevas não prevalecerão para sempre. Afinal, Ele mesmo disse: “quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (João 8,12).

 

A Celebração Eucarística é o ápice deste momento de luz, quando ao topo do Monte Sagrado subimos para escutarmos o Filho amado e o que Ele tem para nos dizer.

 

Escutando não podemos fixar tendas nas “Montanhas”, mas descermos corajosamente à Planície de nosso quotidiano, também nos encontrando com Ele que Se apresenta com múltiplas feições.

 

Muitas vezes desfigurado, faminto, sedento, preso, nu, carente do essencial para viver clamando por transfiguração.

 

Parênteses de luz para iluminar as trevas do quotidiano quem dele não precisa?

 

Que momentos de luz sejam multiplicados na vida de cada de um de nós, para que o parênteses que somos possa ser invadido pelo brilho do esplendor divino.

 

Que as trevas cedam lugar à luz, o pecado à graça, a morte à vida.

 

Que passemos verdadeiramente do parênteses provisório que somos ao parêntese eterno que seremos... 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG