quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Peregrinemos na penumbra da fé

                                                           

Peregrinemos na penumbra da fé

Próximos do final de mais um ano, voltemo-nos para um tema muito presente na vida da Igreja e de sua longa Tradição: o peregrinar na penumbra da fé.

O Bispo Santo Agostinho (séc. V), no seu Sermão, assim afirmou: “Agora, porém, caminhemos pela fé; enquanto estamos no corpo, peregrinamos longe do Senhor (2 Cor 5,7.6). Pela fé, não pela visão. Quando, pela visão? Quando se realizar o que diz o mesmo João: diletíssimos, somos filhos de Deus; mas ainda não se fez visível o que seremos. Sabemos que, quando aparecer, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal qual é (1 Jo 3,2)”.

No século XIII, o Bispo São Boaventura nos enriqueceu com esta reflexão: “Enquanto estamos peregrinando longe do Senhor, a fé é o fundamento que sustenta, a lâmpada que orienta, a porta que introduz a todas as iluminações espirituais... é necessário que nos aproximemos do Pai das luzes com fé pura, dobrando os joelhos do coração, para que, por Seu Filho, no Espírito Santo, nos conceda o verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo e, com o conhecimento, também o Seu Amor”.

Nisto consiste a vida cristã: um permanente e incansável peregrinar, iluminados pela Palavra e nutridos pela Sagrada Eucaristia, comprometidos pelas virtudes divinas, testemunhando a fé, dando razão da esperança contra toda a esperança (Rm 4,18), vivendo a virtude da caridade, a maior de todas e que jamais passará (1 Cor 13, 8).

Caminhamos na penumbra da fé, cheios de esperança de ver acontecer um novo céu e uma nova terra (Ap 21,1), comprometidos com a construção da cidade do céu, a Jerusalém do alto, a nossa mãe, onde nossos irmãos, os santos, cercam a Deus e cantam eternamente os louvores divinos. Há muito que se aprender com aqueles que nos antecederam neste bom combate da fé, e que agora contemplam a face de Deus. 

Aprendamos também com os profetas bíblicos, que por um longo período, guardando a fé, peregrinando, anunciaram a vinda do Messias. Fiéis ao Deus da Aliança, e ao Seu Projeto de Vida, mantiveram viva a fidelidade, e a viva esperança da vinda do Salvador, cujo Natal em breve celebraremos.

Aprendamos com Maria que, também peregrina divina, pela fé, ao lado de José, possibilitou a ação do Espírito Santo, gerando nela a Encarnação do Verbo. Maria, Mãe e peregrina do Senhor, quanto tem a nos ensinar. Quem mais peregrinou do que ela, no temor e na fidelidade a Deus, gerando e cuidando até o fim da Divina Fonte da Vida, da Encarnação deste até a Sua Glorificação?

Aprendamos com a Igreja, Povo de Deus, que por milênios, pôs-se a caminho, com a presença do Ressuscitado. Peregrinando longe do Senhor, mas já certos de Sua proximidade e presença, com a força e presença do Espírito Santo.

Portanto, concluindo mais um ano de caminhada pastoral, vivemos um tempo fecundo de avaliação e planejamento. Coragem tenhamos para rever os erros e acertos que tivemos no peregrinar da fé. Sabedoria e ousadia sempre, para trilhar novos caminhos e assumir novos desafios, e continuar a evangelizar com amor, zelo e alegria.

Vivamos intensamente o Tempo do Advento, para celebrar com júbilo o Natal do Verbo, com o Seu nascimento em nosso coração, a manjedoura querida e preferida de Deus.

Intensifiquemos nossa preparação para a chegada do Deus que Se fez Menino, e assumiu a nossa humanidade, igual a nós, exceto no pecado, para renová-la, reconciliá-la, e nos inserir em relações mais humanas e fraternas, no pleno cumprimento dos Mandamentos inseparáveis do amor a Deus e ao próximo. 

Finalizando, continuemos peregrinando, contemplando a ação de Deus, que agiu em nosso favor neste ano que termina, e pedindo a Sua bênção e proteção para mais um ano, contando com a presença e a ternura de Maria, mãe de Deus e nossa, em todos os momentos. 

Que o verdadeiro Natal do Senhor aconteça entre nós, sempre comprometidos com a vida plena e feliz para todos. Amém.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG