Não percamos a hora de misericórdia do Salvador
Acolhamos um trecho do Sermão do Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. V), sobre a conversão necessária, de modo especial, neste Tempo do Advento, na preparação da celebração do Natal do Senhor.
“Que cada um receba com prudência as advertências do preceptor (João Batista), se não quer perder a hora de misericórdia do Salvador, misericórdia que concede no contexto atual, em que ao gênero humano se oferece o perdão.
Precisamente ao homem se presenteia o perdão para que se converta e não exista a quem condenar. Isso mesmo Deus decidirá quando chegar o fim do mundo; mas de momento nos encontramos no tempo da fé.
Se no fim do mundo encontrará ou não aqui alguns de nós, eu o ignoro; possivelmente não encontre a nenhum. O certo é que o tempo de cada um de nós está próximo, porque somos mortais. Andamos no meio de perigos. Assustam-nos mais as quedas do que se fôssemos de vidro.
E existe algo mais frágil do que um vaso de cristal? Mas, contudo, conserva-se e dura séculos. E mesmo que se possa temer a queda de um vaso de cristal, não existe medo de que a velhice ou a febre o afete.
Somos, portanto, mais frágeis do que o cristal, porque devido, sem dúvida, a nossa própria fragilidade, cada dia nos espreita o temor dos números e constantes acidentes inerentes à condição humana; e ainda que estes temores não cheguem a se concretizar, o tempo corre: e o homem que pode evitar um golpe, poderá também evitar a morte? E se consegue escapar dos perigos exteriores, conseguirá evitar também os que vêm de dentro?
Algumas vezes são os vírus que se multiplicam no interior do homem, outras é a enfermidade que se abate subitamente sobre nós; e mesmo que o homem consiga ver-se livre dessas taras, a velhice acabará finalmente por chegar a ele, sem moratória possível.” (1)
De fato, não queremos perder a hora de misericórdia do Salvador, que vem sempre ao encontro da humanidade, oferecendo a possibilidade de experimentar as carícias da misericórdia divina, como tão bem expressou o Papa Francisco em sua Carta Apostólica:
“As nossas comunidades abram-se para alcançar a todas as pessoas que vivem nos eu território, para que chegue a todas as carícias de Deus através do testemunho dos crentes” (Carta Apostólica “Misericordia et misera” - n. 21).
Não percamos a hora de misericórdia do Salvador...
E quando não a perdemos?
Quando vivemos o Advento como tempo de conversão, de preparação do caminho do Senhor, ouvindo e se deixando questionar pela voz profética de João Batista, não mais no deserto, mas em nosso recolhimento na intimidade com o Senhor.
Quando participamos de grupos de reflexão, novenas, aprofundando a espiritualidade do Natal, preparando o coração, para que seja a verdadeira e querida manjedoura para o nascimento do Salvador.
Quando nos empenhamos na participação da construção de uma sociedade justa e fraterna, sobretudo quando vemos decisões que nos entristecem no cenário político, dificultando a transparência administrativa dos recursos que são absurdamente desviados, tornando a vida do povo cada vez mais penosa, totalmente contrária aos planos sagrados.
Quando não permitimos que a nossa fé se fragilize diante das dificuldades, provações por que possamos passar.
Quando reavivamos a esperança, de Eucaristia em Eucaristia, de que a mesa do cotidiano de todas as pessoas serão mais fartas, e nunca haverá de faltar pão, e assim banida a fome do mundo será; não somente a fome do pão material, mas a fome de tudo quanto seja essencial para uma vida plena e feliz.
Quando não permitimos que o Fogo do Espírito, o Fogo abrasador do Senhor seja apagado em nosso coração, pois inflamados por Ele, seremos sinais e instrumentos do amor divino, construindo relações mais fraternas, ternas e eternas.
Quando...
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes 2014 - p.28
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