Presbítero: Homem da Palavra e de palavra
A pós-modernidade apresenta para a humanidade inúmeros
desafios, dentre eles, podemos destacar a crise da credibilidade da palavra. Se
há algo que entrelaça as pessoas, e cria elos de confiança, solidariedade e comunhão,
é a palavra.
Quando tudo parece efêmero, passageiro e fugaz, emerge a
necessidade de algo que dê segurança na grande travessia e aventura da história
humana: a força da palavra.
Missão fundamental, neste contexto, desempenham os presbíteros, que foram
constituídos ministros do Verbo que Se fez Carne e habitou no meio de nós (Jo
1), a própria Palavra viva e eficaz, mais penetrante que qualquer espada (Hb
4,12).
Pregam não a si mesmos, tão pouco ideias próprias e filosofias que
passam, mas a Palavra Eterna – “Toda a Escritura é inspirada por Deus,
para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda obra” (2Tm 3,16-17).
Já no século VI, o papa São Gregório Magno dizia-nos “Seja
o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar,
nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada
arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia
instruir...”, e ainda dizia com tristeza -“... embora haja
quem escute as boas palavras, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de
Sacerdotes. Todavia na messe de Deus é muito raro encontrar-se um operário.
Recebemos, é certo, o ofício sacerdotal, mas não o pomos em prática...”.
O sopro do Concílio Vaticano II nos desafiou a assumir as alegrias e
tristezas, angústias e esperanças da humanidade, como Igreja de Cristo. Tudo o
que há de humano, toca a vida da Igreja, consequentemente, o Ministério
Presbiteral.
Deste modo, as comunidades esperam do presbítero uma
palavra, não uma palavra qualquer, paliativa, provisória, mas uma palavra
divina, inspiradora e fonte para a busca de novos horizontes, no embate
quotidiano.
A cada instante, as mais diversas situações vividas pelo Povo
de Deus pedem uma palavra. Diante de um nascimento, a gratidão a Deus pelo dom
da vida; no processo educativo das crianças, compartilhamos a missão dos pais;
na ausência da saúde, a palavra de bênção e encorajamento; na hora da agonia,
uma palavra de carinho e esperança; quando tudo parece escuridão, uma palavra
que se faz uma centelha de luz; na insegurança que nos acompanha, uma palavra
de confiança d’Aquele que jamais nos decepciona: “provai e vede como o
Senhor é bom, feliz quem n’Ele encontra o seu refúgio” (Sl 34,9); nas questões
emergentes uma palavra ética, que assegure a sacralidade da vida; na hora
derradeira, na hora da morte, a palavra que aponta à eternidade; à glória da
Ressurreição.
Os presbíteros são por excelência ministros de um Deus vivo
e Ressuscitado, que quer vida plena para todos, desde o tempo presente,
culminando na luz da eternidade, manifestação da plenitude do Amor de Deus. O
presbítero é testemunha de que o céu é possível, e começa agora, aqui, e
completa-se na Jerusalém Celeste.
Lembremos sempre as palavras pronunciadas pelo bispo, no dia
da Ordenação Diaconal, quando entrega ao candidato o Livro dos Santos
Evangelhos e diz: “Recebe o Evangelho de Cristo do qual foste
constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que
creres e procura realizar o que ensinares”.
Desde então, e para sempre, o presbítero se torna o homem
da Palavra e há de ser sempre um homem de palavra!
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