Não podemos reduzir Deus,
e tudo que nos leve a Ele, a talismãs...
Uma reflexão à luz da passagem do Primeiro Livro de Samuel (1 Sm 4,1-11), façamos.
Uma trágica derrota do Povo de Deus para os históricos inimigos filisteus, um povo proveniente, provavelmente, de Creta, no tempo da grande migração (Séc. XII a.C.), quando os conflitos eram constantes com Israel devido às questões de território.
A batalha e a derrota do Povo de Deus para os filisteus parecia ser a derrota de Deus. Mas como é possível que Deus único e verdadeiro seja vencido?
Samuel interpretará esta derrota não como a derrota de Deus, mas como consequência do pecado do povo, e o maior de todos eles: a idolatria.
Ter a Arca, que é o sinal da Aliança entre Deus e Israel, não basta. É necessário antes que seja fiel à Aliança para ter vida e vitória.
Israel reduziu a Arca a um talismã, pronto para proteger o exército num momento de perigo. Deste modo, a manipulação da vontade divina em vantagem própria se transformou em derrota militar:
“Deus suporta muito bem a derrota, desde que sirva para ensinar a Israel que Ele não é um ídolo que se pode utilizar como talismã. Pede então ao povo fidelidade à Aliança” (1)
Numa rápida consulta ao dicionário, encontramos uma simples definição para a palavra “talismã”: objetos dotados de poder que dão sorte; poderes mágicos com efeitos repentinos e fantásticos.
Não podemos reduzir Deus, e tudo que nos leve a Ele, a talismãs que nos deem sorte, êxito em qualquer coisa que façamos.
Não adianta termos um belo crucifixo de ouro no pescoço, será tão apenas ornamento.
Se imagem de algum Santo tivermos em nossas casas, procuremos antes de tudo imitar as sagradas virtudes e ensinamentos que nos deixaram na fidelidade ao Senhor, pois nisto consiste a verdadeira devoção, a imitação de suas virtudes e exemplos, e assim podemos contar também com sua valiosa ajuda diante de Deus, porque na glória se encontram.
Não adianta a Bíblia na bolsa, na estante ou mesmo debaixo do braço, antes ela deve estar impressa em nossa alma, em nosso coração, de modo que toda a nossa vida seja a expressão de suas linhas e conteúdo.
De nada adiantou a Arca sem a Fidelidade do Povo de Deus à Sua Vontade, aos Seus desígnios. A idolatria consistiu no abandono do verdadeiro Deus e de Seu Projeto de vida e paz para Seu Povo.
Portanto, que os objetos palpáveis e visíveis do Sagrado nos ajudem a ver que a vida do outro é sagrada, que a fidelidade a Deus e à Sua Palavra não pode ser esquecida, empobrecida.
Providenciais, para que não fiquem quaisquer resquícios de dúvidas ou controvérsias, são os esclarecimentos que nos oferece o Catecismo da Igreja Católica:
“Com base no Mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio Ecumênico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos Anjos e de todos os Santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens.
O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro Mandamento, que proíbe os ídolos. Com efeito, «a honra prestada a uma imagem remonta ao modelo original» e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada». A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve:
«O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem».” (Catecismo da Igreja Católica, 2131-2132.)
Diante do Sacrário, diante do Santíssimo nos prostremos, e tenhamos a coragem de abrir o nosso coração e de ouvir o que Deus pede e espera de nós. Lá não está um símbolo, um talismã ou algo qualquer; no Sacrário está o próprio Deus nos convidando ao diálogo, à confiança, à sinceridade, à coragem, à disponibilidade, ao ardor na missão, como discípulos missionários Seus.
Em Deus confiando e a Ele nos abrindo, vitórias teremos, de talismã não precisaremos, porque neles não confiamos, pois tão somente em Deus e em Sua Palavra a necessária confiança depositamos.
Fé autêntica dispensa talismãs.
(1) Lecionário Comentado - Volume Tempo Comum - Editora Paulus - Lisboa - pág. 48.
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