domingo, 14 de janeiro de 2024

A chama do Amor Divino

A chama do Amor Divino

No 2º Domingo do Tempo Comum (ano B), em que a Palavra proclamada na Liturgia nos convida a refletir sobre o chamado de Deus feito a Samuel (1ª Leitura – 1 Sm 3,3b-10.19), a André  e os primeiros discípulos (Evangelho – Jo 1,35-42), sejamos enriquecidos por dois doutores da Igreja, ambos do século IV. 

Do primeiro, Santo Ambrósio (bispo e doutor), que nos fala da "boa tribulação inerente" à vida daquele que se põe a seguir o Senhor; "boa tribulação" porque não ficará nunca sem a resposta e a proteção divinas:

“Quem busca a Cristo, acorra não com passos corporais, mas com a disposição da alma; que O veja não com os olhos da face, mas com os interiores do coração; porque ao eterno não se vê com os olhos da face, visto que ‘aquilo que se enxerga é temporal; o que não se vê é eterno...

Portanto, aquele que busca a Cristo, busca igualmente sua tribulação e não evita a paixão. ‘No perigo clamei ao Senhor, e Ele me escutou colocando-me a salvo’.

É boa, pois, a tribulação que nos faz dignos de que o Senhor nos escute colocando-nos a salvo. Ser escutado pelo Senhor já é uma graça. Por isso, quem busca a Cristo, não recusa a tribulação; quem não a evita é encontrado pelo Senhor. E não a evita quem medita os Mandamentos do Senhor com a adesão cordial e com as obras”  (1)

Quanto ao segundo, Santo Atanásio de Alexandria, nos fala do itinerário do chamado de André e dos primeiros que aceitaram ao chamado do Senhor e se deixaram seduzir pelo Seu olhar de Amor, que mudou suas vidas para sempre.

“André foi em busca de seu irmão Simão e partilhou com ele o tesouro de sua contemplação. Conduziu Pedro ao Senhor.

Coisa surpreendente. André ainda não é discípulo e já é condutor dos homens. Ensinando começa a aprender e adquire a dignidade de Apóstolo. ‘Encontramos o Messias’. Após tantas noites de insônia à margem do Jordão, agora encontramos o objeto de nossos desejos.

Pedro foi rápido ao atender este chamado. Era o irmão de André e adiantou-se cheio de fervor com o ouvido atento.

Tomando a Pedro consigo, André leva ao Senhor seu irmão segundo a natureza e o sangue, para que se beneficie de Seu ensinamento.

É a primeira façanha de André. Fez crescer o número de discípulos, apresentou Pedro, em quem Cristo encontrará o chefe de Seus discípulos.

Isto é tão verdade que, quando, mais tarde, Pedro tenha uma conduta admirável, a deverá ao que André havia semeado. Porém, o louvor dirigido a um recai igualmente no outro. Porque os bens de um pertencem ao outro, e cada um deles se glorifica com os bens do outro.

Que alegria Pedro buscou para todos quando respondeu rapidamente a pergunta do Senhor, rompendo o silêncio embaraçoso dos discípulos! ‘Segundo o povo’, disse Jesus, ‘quem é o Filho do Homem?’. Então, como se fosse a língua dos que tinham sido interrogados, e como se todos respondessem por ele, disse sozinho em nome de todos: ‘Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo’.

Em uma frase proclamou ao Mestre o seu desígnio de salvação. Admirável harmonia das palavras. Aquelas que André utilizou para levar a Pedro, as subscreve o Pai desde o céu ao inspirar semelhantes a Pedro.

André tinha dito: ‘Encontramos o Messias’. O Pai disse a Pedro: ‘Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo’” (2)

Ontem eles foram chamados por Deus, cada um na sua experiência própria e determinante, hoje Deus continua chamando a cada um de nós para trabalhar como operários na Sua vinha.

É sempre tempo de revermos aquele momento em que nos sentimos chamados, e jamais deixar morrer a chama do primeiro amor, reavivando a vocação, o chamado que um dia o Senhor nos fez.

Ontem, hoje e sempre, o Senhor continua voltando para cada um de nós o Seu terno olhar de Amor para nos fazer Seus discípulos missionários.

Que a chama do Amor divino, ao darmos os primeiros passos do ano novo, esteja bem acesa em nossa alma e em nosso coração, para perseverarmos com docilidade e abertura ao Espírito, que nos assiste em todos os instantes.

“A nós descei divina luz, em nossas almas acendei...”


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes – pp.367-368
(2) Idem - pp. 370-371

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