segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Natal: A Misericórdia veio ao nosso encontro de nossa miséria

Natal: A Misericórdia veio ao nosso encontro de nossa miséria

Na Festa do Natal do Senhor, sejamos iluminados pelo Sermão de São Teódoto de Ancira (séc V), sobre a Natividade do Senhor.

“Veio o Senhor de todos sob a forma de servo, revestido de pobreza, de modo a não afugentar os que buscava. Em terra incerta, escolhendo um lugar desconhecido para nascer, foi dado à luz por uma Virgem pobre, na pobreza total, para que pelo silêncio cativasse os homens que vinha salvar.

Pois se tivesse nascido na glória, rodeado de muitas riquezas, diriam, sem dúvida, os infiéis, que a transformação da terra fora obra do dinheiro. Se tivesse escolhido Roma, a maior cidade, atribuiriam ao poder dos seus cidadãos a mudança do mundo.

Se fosse filho do imperador, atribuiriam ao poder tal benefício. Se fosse filho de um legislador, atribuiriam-no às leis. Mas que fez Ele? Escolheu tudo o que é pobre e vil, tudo que há de mais medíocre e obscuro, para sabermos que só a divindade transformou a terra. Por isto, escolheu uma mãe pobre, uma pátria ainda mais pobre, fazendo-Se pobre de bens terrenos.

Isto te é mostrado pelo presépio. Como não havia um berço para reclinar o Senhor, foi colocado numa manjedoura, e Sua indigência das coisas mais necessárias tornou-se uma ótima profecia. Foi assim posto na manjedoura para anunciar que Se fazia Alimento até mesmo dos irracionais. Pois o Verbo, Filho de Deus, nascendo pobre e jazendo num presépio, atrai a Si os ricos e os pobres, os eloquentes e os incultos.

Vede, portanto, como a indigência se tornou profecia, e a pobreza mostrou ser acessível a todos Aquele que por nós Se fez pobre. Ninguém se deteve por medo das esplêndidas riquezas do Cristo, nem a imponência do poder impediu alguém de se aproximar d’Ele; mas apareceu pobre e comum, oferecendo-se a Si mesmo para salvar a todos.

No presépio, o Verbo de Deus Se manifesta corporalmente, a fim de que tanto os seres racionais como os irracionais possam participar do alimento da salvação. Penso ser isto que o Profeta proclamava, quando falava do mistério do presépio: O boi conhece o seu dono, e o jumento, a manjedoura de seu senhor; mas Israel é incapaz de conhecer, o meu povo não pode entender (Is 1,3). Fez-Se pobre por nós aquele que é rico, tornando facilmente perceptível a todos a salvação do Verbo de Deus. Também Paulo o indica, ao escrever: Por causa de vós Se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a Sua pobreza (2Cor 8,9).

Mas quem era esse que enriquecia? E de que enriquecia? Como Ele Se fez pobre por nós? Quem é, dizei-me, que, sendo rico, Se fez pobre por minha pobreza? Pensas que foi o homem que apareceu? Mas este nunca Se tornou rico, nascido que foi pobre e de pais pobres. Quem era, pois, e de que enriquecia esse rico que por causa de nós Se fez pobre? A resposta é: Deus enriquece a criatura. Foi Deus mesmo quem Se fez pobre, fazendo Sua a pobreza daquele que se podia ver. Pois ele é rico pela divindade, e por causa de nós se fez pobre”.

Silenciemo-nos diante de um presépio. Ainda que seja um  imaginário e meditar na fragilidade, pobreza do local onde a Misericórdia Se fez Carne e veio conosco habitar.

Verdadeiramente o Natal do Senhor é o Deus de Misericórdia encarnando-Se na Pessoa do Filho, na comunhão com o Espírito, para socorrer e resgatar nossa miséria.

Não fomos salvos pelo poder, riqueza, influência, grandiosidade aos olhos dos homens. Fomos salvos pela encarnação de Deus na fragilidade de uma criança, que cresceu em tamanho, sabedoria e graça, e consumou Sua missão em amor incondicional por nós; na Cruz morrendo e por Deus Ressuscitado, confirmando assim Sua missão Redentora da humanidade.

Salvos por Ele, tão igual a nós, exceto no pecado, para nos redimir e nos introduzir no Reino Eterno e Universal da alegria, paz, amor, verdade, luz, bondade, justiça, fraternidade...

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