Mensagem para o 52º Dia Mundial da Paz – Papa Francisco
“A boa política está ao serviço da paz” –
“A paz esteja nesta casa”
Ofereço uma síntese da Mensagem
do Papa Francisco para o 52º Dia Mundial da Paz, celebrado no
dia 1º de janeiro de 2019.
A mensagem tem como titulo: “A
boa política está ao serviço da paz”, e como inspiração bíblica, a
passagem do Evangelho de Lucas: “Em qualquer casa em que entrardes,
dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa! ’ E, se lá houver um homem de paz,
sobre ele repousará a Vossa paz; se não, voltará para Vós” (Lc 10,
5-6).
“Casa” refere-se a cada família, cada
comunidade, cada país, cada continente, na sua singularidade e história; antes
de tudo, é cada pessoa, sem distinção nem discriminação alguma. E é também a
nossa «casa comum»: o planeta onde Deus nos colocou a morar e do qual somos
chamados a cuidar com solicitude.
A paz parecida com a esperança, como
uma flor frágil, que procura desabrochar entre as pedras da violência (citando
o poeta Carlos Péguy) é compromisso de todos.
Neste sentido, somos
desafiados a exercer a boa política, uma vez que a busca do poder a todo custo
leva a abusos e injustiças.
A boa política é um meio fundamental
para construir a cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem
não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de
opressão, marginalização e até destruição.
O Santo Padre retoma as palavras do
Papa São Paulo VI, na Octogésima Adveniens (1971) – “tomar a sério a
política, nos seus diversos níveis – local, regional, nacional e mundial – é
afirmar o dever do homem, de todos os homens, de reconhecerem a realidade
concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para
procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade”.
Se a política for implementada no
respeito fundamental pela vida, à liberdade e à dignidade das pessoas, ela pode
se tornar verdadeiramente uma forma eminente de caridade.
No terceiro parágrafo, acentua sobre a
importância da caridade e as virtudes humanas, para uma política ao serviço dos
direitos humanos e da paz.
Recorda-nos as “bem-aventuranças
do político”, que nos foram propostas por uma testemunha fiel do
Evangelho, o Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002:
“Bem-aventurado o político que tem uma
alta noção e uma profunda consciência do seu papel.
Bem-aventurado o político de cuja
pessoa irradia a credibilidade.
Bem-aventurado o político que trabalha
para o bem comum e não para os próprios interesses.
Bem-aventurado o político que permanece
fielmente coerente.
Bem-aventurado o político que realiza a
unidade.
Bem-aventurado o político que está
comprometido na realização duma mudança radical.
Bem-aventurado o político que sabe
escutar.
Bem-aventurado o político que não tem
medo”.
Cada renovação nos cargos eletivos,
cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade
para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito, de
modo que a boa política está ao serviço da paz; respeita e promove
os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para
que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e
as futuras, afirmou o Papa.
No quarto parágrafo, apresenta-nos os vícios
da política que enfraquecem o ideal duma vida democrática autêntica,
são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: “a
corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos
ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de
respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do
poder pela força ou com o pretexto arbitrário da «razão de Estado», a tendência
a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a
exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o
desprezo daqueles que foram forçados ao exílio”.
No parágrafo seguinte, fala da boa
política que promove a participação dos jovens e a confiança no outro, tornando-nos
“Artesãos da paz” – “Uma tal confiança nunca é fácil de viver, porque as
relações humanas são complexas. Nestes tempos, em particular, vivemos num clima
de desconfiança que está enraizada no medo do outro ou do forasteiro, na
ansiedade pela perda das próprias vantagens, e manifesta-se também,
infelizmente, a nível político mediante atitudes de fechamento ou nacionalismos
que colocam em questão aquela fraternidade de que o nosso mundo globalizado
tanto precisa. Hoje, mais do que nunca, as nossas sociedades necessitam de
‘artesãos da paz’ que possam ser autênticos mensageiros e testemunhas de Deus
Pai, que quer o bem e a felicidade da família humana.
No sexto parágrafo, exorta-nos a dizer
não à guerra e à estratégia do medo – “O terror exercido sobre as pessoas
mais vulneráveis contribui para o exílio de populações inteiras à procura duma
terra de paz. Não são sustentáveis os discursos políticos que tendem a acusar
os migrantes de todos os males e a privar os pobres da esperança...
O nosso pensamento detém-se, ainda e de
modo particular, nas crianças que vivem nas zonas atuais de conflito e em todos
aqueles que se esforçam por que a sua vida e os seus direitos sejam protegidos.
No mundo, uma em cada seis crianças sofre com a violência da guerra ou pelas
suas consequências, quando não é requisitada para se tornar, ela própria,
soldado ou refém dos grupos armados.
O testemunho daqueles que trabalham
para defender a dignidade e o respeito das crianças é extremamente precioso
para o futuro da humanidade”.
No parágrafo seguinte, fala-nos da
necessidade de um grande projeto de paz–“Com efeito, a paz é fruto dum
grande projeto político, que se baseia na responsabilidade mútua e na
interdependência dos seres humanos. Mas é também um desafio que requer ser abraçado
dia após dia”
A tríplice dimensão da paz pressupõe a
conversão do coração e da alma:
– “a paz consigo mesmo, rejeitando
a intransigência, a ira e a impaciência e – como aconselhava São Francisco de
Sales – cultivando «um pouco de doçura para consigo mesmo», a fim de oferecer
«um pouco de doçura aos outros»;
– a paz com o outro: o
familiar, o amigo, o estrangeiro, o pobre, o atribulado…, tendo a ousadia do
encontro, para ouvir a mensagem que traz consigo;
– a paz com a criação,
descobrindo a grandeza do dom de Deus e a parte de responsabilidade que compete
a cada um de nós, como habitante deste mundo, cidadão e ator do futuro”.
Finaliza convidando-nos a promover a
política da paz, tendo como inspiração o espírito do Magnificat que
Maria, Mãe de Cristo Salvador e Rainha da Paz, canta em nome de todos os
homens:
A
«misericórdia [do Todo-Poderoso] estende-se de geração em geração sobre aqueles
que O temem. Manifestou o poder do Seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou
os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes (…), lembrado da Sua
misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua
descendência, para sempre» (Lc 1, 50-55).
Se
desejar, confira a mensagem na íntegra: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-12/papa-francisco-dia-mundial-paz-2019-mensagem.html
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