terça-feira, 31 de dezembro de 2024

“O Verbo Se fez Carne”

                                                   


“O Verbo Se fez Carne”

Na Missa do Dia de Natal, celebramos o Mistério da Encarnação numa atitude de serena alegria e de ação de graças por tão maravilhoso acontecimento:

- O Filho eterno do Pai fez-Se homem;
- O Verbo que tudo criou fez-Se carne da nossa carne;

- Aquele que habitava nos Céus pôs a Sua morada no meio de nós;
- A “verdadeira luz” que veio ao mundo, deu a conhecer a Deus “a quem nunca O tinha visto”.

Na passagem da primeira Leitura, proclamamos o oráculo do Profeta Isaías (Is 52, 7-10). Um oráculo em forma de poema, com um lirismo surpreendente:

“Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a Boa Nova, que proclama a Salvação...” (Is 52.7).

Somos convidados a contemplar a Pessoa do recém-nascido reclinado numa manjedoura, e assim contemplamos a imensurável humildade de um Deus, cuja força se manifesta na fraqueza.

Na passagem da segunda Leitura, ouvimos o início da Epístola aos Hebreus (Hb 1,1-6). Deus, ao contrário dos ídolos mudos, falou conosco e por muito tempo, de modo especial pelos Profetas.

“Nestes tempos, que são os últimos”, enviou a Sua própria Palavra, “imagem do Seu ser divino”, do Seu desígnio, da Sua vontade. Ele mesmo Se faz Palavra e vem ao nosso encontro. Ele, Palavra viva e eficaz (Hb 4,12)."

Na proclamação do Evangelho de São João, ouvimos os primeiros versículos (Jo 1,1-18). Com extrema beleza e estilo próprio, o Evangelista, ao mesmo tempo, sóbrio e solene, nos apresenta a Encarnação de Jesus através de um grande hino litúrgico, como que a abertura de uma “Sinfonia do Novo Mundo”.

Enuncia os temas que, logo a seguir, se desenvolverão em múltiplas variações com contrapontos sutis, de modo que o realismo da Encarnação do Filho de Deus constitui o centro desta vigorosa introdução do Evangelho.

A Palavra feita Carne é a revelação do Pai, do Seu amor. Receber, acolher e crer nesta Palavra é ter a vida eterna, como afirma nos capítulos posteriores.

Verdadeiramente assim cremos: Deus, movido por amor, desce misericordiosamente ao nosso encontro, porque havíamos caído miseravelmente, conforme nos falou o Bispo Santo Agostinho.

Agora que celebramos o Mistério desta Presença em nosso meio, urge que sejamos alegres mensageiros do Verbo, num mundo marcado por vezes por realidades sombrias, tristes e de morte.

A Encarnação do Verbo é, ao mesmo tempo, a nossa elevação, porque Ele Se faz hóspede de nossa alma e nos envia para sermos, no mundo, sinal de Sua presença, como alegres discípulos da misericórdia divina, dando razão de nossa esperança, no corajoso testemunho de nossa fé, inflamados pelo fogo do Seu indizível Amor.

Enfim, contemplar a Encarnação e ver a glória de Deus, é viver de modo a favorecer que vejam e sintam a presença de Deus em nós e em todas as pessoas.


PS: Missal Quotidiano, Dominical e Ferial – Ed Paulus – Lisboa - pp.178-180
Apropriado para dia 31 de  dezembro - Jo 1,1-18

Em poucas palavras...

 


Jesus Cristo: perfeito na divindade e humanidade

«Na sequência dos santos Padres, ensinamos unanimemente que se confesse um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, igualmente perfeito na divindade e perfeito na humanidade, sendo o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto duma alma racional e dum corpo, consubstancial ao Pai pela sua divindade, consubstancial a nós pela sua humanidade, «semelhante a nós em tudo, menos no pecado» (Hb 4,15): gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nestes últimos dias, por nós e pela nossa salvação, nascido da Virgem Mãe de Deus segundo a humanidade.

Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é abolida pela sua união; antes, as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas numa só pessoa e numa só hipóstase»”

(1)        Concílio Ecumênico de Calcedônia (451d.C.) – Catecismo da Igreja Católica – parágrafo 467

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

O amor de Deus nos livra do abismo da morte

                                                                

O amor de Deus nos livra do abismo da morte

No dia 30 de dezembro, a Liturgia nos oferece as seguintes proclamações: Leitura (1 Jo 2,12-17); Salmo 95, 7-10, e a passagem do Evangelho (Lc 2, 36-40), em que a viúva Ana fala acerca do Menino apresentado no templo a todos os que esperavam a libertação de Israel.

Vejamos o que nos diz Lecionário Comentado:"

O amor a Deus liberta-nos da transitoriedade que nos arrasta para o abismo da morte. E proclamar em voz alta este caminho de vida é obra profética, sobretudo pela profecia que vem de Cristo”. (1)

De fato, somente com a presença de Deus e Sua misericórdia que vem sempre ao encontro de nossa miséria, podemos firmemente dar passos na busca das coisas do alto, onde Ele habita, fazendo da própria vida um serviço a Ele, porque vivemos da alegria e do amor vivenciado e marcante deste inesquecível e decisivo encontro um dia realizado.

Com a profetisa Ana não foi diferente, uma vez que, depois de oitenta e quatro anos vividos na busca da realização da vontade de Deus, ela tem a alegria do encontro pessoal com Jesus, o Menino Deus.

Aprendamos com esta viúva que não fica com a alegria só para si, retendo-a e guardando como um tesouro, ao contrário, sai anunciando a todos que Aquele Menino, Aquela frágil criança, que oculta a divindade somente percebida pelos corações que creem, é a resposta do próprio Deus a todos os que esperam a verdadeira libertação.

Com Ana, como discípulos missionários do Verbo que Se encarnou e habitou entre nós, façamos nosso anúncio, acompanhado do reconhecimento do amor de Deus, que é fiel às Suas promessas, através do louvor, pois Ele é digno de toda honra, glória, poder e louvor.

Somente quem fez este encontro com Jesus sente a alegria transbordar no coração que palpita mais fortemente, e torna mais inflamada a chama do primeiro amor vivenciado, e envolvido por este amor está livre de todo e qualquer abismo de morte.

Finalizemos o ano vislumbrando novos dias, renovando diante do altar e no altar do Senhor a alegria de sermos seus discípulos.

Concluamos com as palavras do Profeta Isaías:

“Pois nasceu para nós um pequenino, um filho nos foi dado. O principado está sobre seus ombros e seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz” (Is 9,5).

E ainda:

“Como são formosos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, que anuncia coisas boas e proclama a salvação, dizendo a Sião: ‘Teu Deus começou a reinar’” (Is 52,7).


 

(1) Lecionário Comentado - Editora  Paulus - p.284 – Vol. Advento/ Natal.

As aves do céu e os lírios do campo

 

                       
 As aves do céu e os lírios do campo

“Olhem os pássaros do céu: eles não semeiam, não colhem, nem ajuntam em armazéns. No entanto, o Pai que está no céu os alimenta. Será que vocês não valem mais do que os pássaros

 Quem de vocês pode crescer um só centímetro, à custa de se preocupar com isto? E por que vocês ficam preocupados com a roupa? Olhem como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam” (cf. Mt 6,26-28)


Fixar o olhar nas aves do céu e nos lírios do campo,
Em meio a sinais de mortes, devastação é possível?
Não é esta a questão essencial a ser respondida,
Mas o que podem nos ensinar neste contexto?
 
Que nossa ânsia enferma por voos mais altos tem preço;
Voos sinônimos de arrogância, acúmulo, consumo voraz,
Devastação desmedida, colocando em colapso a ecologia integral,
Multiplicando sinais de sofrimento, luto, dor e morte.
 
Aprendemos com o crescimento silencioso dos lírios dos campos,
Que crescem sem impedir que outros lírios também cresçam.
Com pureza e beleza, encantam os olhos dos passantes,
Como que dizendo: ainda resta um quê de esperança!
 
Voar e crescer.
Aprendamos com as aves dos céus e os lírios dos campos.
Voar nas asas do Espírito, buscando as coisas do alto,
Fazer crescer e florir os mais belos lírios no Jardim do Senhor. 


Feliz Ano Novo!

Nasceu para nós um Menino!

 


Nasceu para nós um Menino!

“Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho;
ele traz aos ombros: a marca da realeza;
o nome que foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros,  Príncipe da Paz.” Is  9,5) 

Natal do Senhor: nasceu para nós o Menino Esperança, a fim de que aprendamos a amar na esperança de que a família, o mundo e toda a humanidade podem ser melhores, que a Casa Comum em que habitamos será melhor cuidada por todos nós, assegurando vida no presente e para os que virão depois de nós.

Deste modo Natal é recomeçar a cada dia a nossa missão, nossa atividade pastoral e profissional, com entusiasmo, participando ativamente da obra do Criador.

Recomeçar sempre com Ele, que veio não porque éramos perfeitos, mas para nos aperfeiçoar, para nos recriar, para dizer que um novo tempo, um novo modo de viver é preciso recomeçar com renovado ardor, com alegria, com dedicação a missão que o Senhor nos confiou, para na eternidade consumar: Ele que desceu misericordiosamente, e nós que por vezes caímos miseravelmente (cf. Santo Agostinho).

A passagem do Livro do Profeta Isaías (Is 9,1-6) é sempre uma mensagem de alegria no meio das trevas de um povo deportado: o Nascimento de um Menino com títulos ilustres; promessa de um futuro de paz, de justiça e direito para todos.

As maravilhas realizadas pelo Senhor do Universo com todas as virtudes dos heróis de Israel, mais sábio que Salomão; mais corajoso e forte do que Davi; mais piedoso que Moisés e dos Patriarcas. Ele é o verdadeiro Emanuel, o portador da Verdade Paz, o Shalon, que nos garante a plenitude de bens, plenitude de vida.

Contemplemos e adoremos o Menino Jesus, um Deus conselheiro admirável, maravilhoso; Deus Forte; Pai da Eternidade; Príncipe da Paz.

Seja, portanto, o Natal celebrado, a renovação do sagrado compromisso de comunicar a Divina Luz a quantos precisarem, uma vez que por Ele naquela Memorável Noite Santa para sempre fomos iluminados.

Pássaro solitário

                               

Pássaro solitário

“Espere no Senhor. Seja forte! Coragem!
Espere no Senhor.”
(Sl 27,14)

Como que sem vontade de voar,
Olhar fixo no horizonte do nada,
Por algum tempo, um pássaro ali parado.
E meu olhar fixo nele, à distância

Não queria que ele voasse.
Não por mais um instante.
Aquela solidão, um céu cinza de fundo,
Reportam à solidão de muitos
Que também fixam o olhar
No horizonte do nada,
Sem mais esperança alguma:
Por que resistir? Melhor se entregar...

A solidão e o pássaro imóvel,
Um breve instante que soou como uma eternidade.
Assim, por vezes, alguém pode se sentir.
Mas é preciso bater asas,
Crer que o céu para sempre cinza, não ficará.
Mais cedo ou mais tarde, voltará o azul,
E também os voos em busca do melhor.
Forças revigoradas, asas bater, voar...

O pássaro e o cinza do céu,
Cenário do cotidiano que me fez pensar:
Se preciso, pousar e silenciar,
Ainda que por um instante.

Se dos olhos tristes lágrimas verterem,
Que não seja expressão de esforços em vão;
De ações multiplicadas inúteis e desgastantes.

O cinza do céu, apenas uma passagem,
Que na vida de todos presente pode estar,
Mas não para sempre, assim cremos.

Viver sem perder a fé e a esperança,
virtudes que se cultivam no coração,
de mãos dadas com a virtude maior:
O amor necessariamente renovado,
Novos céus há que se esperar e buscar...

A solidão e a aparente tristeza do pássaro,
O cinza do céu, o silêncio
O recolhimento, a oração...

Voemos nas asas do Espírito,
Que renova nossas forças,
Comunica graça e paz,
Derrama, copiosamente, o amor divino;
Voos mais altos e para o eterno,
Haveremos de incansavelmente buscar.

Natal: o melhor de Deus renasceu em nossos corações

 


                Natal: o melhor de Deus renasceu em nossos corações

Celebrar o Natal do Menino Jesus é celebrar o renascimento do melhor de Deus em nossos corações:

Da alegria daquela Noite Santa comunicada pelos anjos, e multidão celestial, com as humildes testemunhas dos pastores. Renasça sempre a alegria de sermos também testemunhas do Mistério da Encarnação do Verbo; d’Aquele que desceu ao nosso encontro, misericordiosamente, quando caímos miseravelmente pelo pecado e pela desobediência (cf. Santo Agostinho).

Da esperança de ver sinais de morte transformados em sinais de vida, porque a Vida veio ao nosso Encontro; contemplar os sinais de escuridão iluminados pelo Esplendor da Luz Divina que veio nos iluminar.

Da esperança que nos move e nos faz comprometidos na construção de novos céus e nova terra, jamais nos curvando diante da banalização e mediocrização da vida, com a consciência de que temos que passar pelo mundo deixando melhor para os que haverão de vir depois de nós. Celebrar o Natal é se tornar sagrado instrumento de esperança, sobretudo para os que mais precisarem.

Da esperança de ver o amor triunfando sobre o ódio, afinal o amor de Deus haverá de falar mais alto no coração de toda a humanidade, e em sua expressão máxima, quando Aquela Criança Se doar, no consumar de Sua Divina Missão,  no Mistério da Paixão, Morte na Cruz, Vida Nova, Páscoa, Ressurreição.

Da necessária consciência da ética do cuidado da vida, seja ela pessoal, familiar, eclesial, social, planetária. É próprio do amor de Deus cuidar de todos nós, criados à Sua imagem e semelhança. Cuidados pela Trindade Santa de amor, para também sermos zelosos cuidadores da vida em sua totalidade. Cuidado expresso na acolhida, comunhão, solidariedade, respeito à sacralidade do outro.

Da consciência de que somos mensageiros da paz, na superação de toda discórdia, destruindo muros que fragilizam e distanciam pessoas, famílias, comunidades. Somos Mensageiros da paz, do Príncipe da Paz que veio nos comunicar o Shalom, a plenitude de todos os bens. Mensageiros de paz edificam pontes que criam proximidade, comunhão, fraternidade, amizade, solidariedade; jamais muros da inimizade.

Da confiança e a certeza de que a graça que foi derramada em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5,5), comunicada por Aquele que Se Encarnou, por nós viveu e morreu, e do alto no-la comunicou, a fim de que vivamos com equilíbrio, justiça e piedade (Tt 2,12).

Renascido o melhor de Deus em nosso coração, é tempo de irradiar no mundo tudo que faça a vida melhor, e de modo especialíssimo, o amor, a alegria e a luz do Menino Deus. Do Deus que Se fez carne igual a nós, exceto no pecado, e que armou sua tenda entre nós.

Um Deus Menino, que chora, sorri, tem sede e fome, e que cresceu em tamanho, Sabedoria e Graça diante de Deus.

Um Deus que veio enxugar nossas lágrimas, acalentar nossos prantos.

Uma luz brilhou para nós na escuridão da noite.

Feliz Natal do Senhor! Amém. Aleluia!

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG