sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

A sagrada missão da família (Sagrada Família - Ano C) (Homilia)

                                                     


A sagrada missão da família
 
Celebrar a Festa da Sagrada Família (ano C) é ocasião favorável, para refletirmos sobre o papel fundamental que tem a família no Plano de Salvação que Deus nos propõe.
 
A família é uma pequena Igreja e deve ter algumas características já encontradas nas famílias descritas em trechos do Antigo Testamento: paz, abundância de bens materiais, concórdia e a descendência numerosa, como sinais da bênção do Senhor.
 
Assim vemos na passagem da primeira Leitura (Eclo 3,3-7.14-17a): a obediência e o amor eram imprescindíveis no cumprimento da Lei; sinal e garantia de bênção e prosperidade para os filhos, mas também um modo de honrar a Deus nos pais, como encontramos no Livro do Êxodo (Ex 20,12) – “Honra teu pai e tua mãe”.
 
Os pais são instrumentos de Deus e fonte de vida, e como recompensa da prática deste Mandamento, os filhos obtêm o perdão dos pecados, a alegria, a vida longa e a atenção de Deus:
 
"Com razão se diz hoje que a família é o primeiro lugar da evangelização, provavelmente o mais decisivo.
 
Com efeito, é na família que a criança, mesmo muito pequenina, respira ao vivo a fé ou a indiferença.
 
Por aquilo que vê e vive, ela adverte se em sua casa - e na vida - há lugar para Deus ou não. Nota se a vida se projeta pensando só em si mesmos, ou também nos outros. Tudo isto para dizer que normalmente o modo de viver encontra as suas raízes na família.”  (1)
 
Na passagem da Carta de Paulo aos Colossenses (Cl 3,12-21), o Apóstolo, depois de apresentar Jesus Cristo como Aquele que nos faz homens e mulheres renovados, porque ocupa lugar proeminente na criação e redenção da humanidade, exorta sobre o novo modo de relacionamento na família, onde os esposos e os filhos cristãos vivem a vida familiar como se já vivessem na família do Pai Celeste.
 
Revestidos do “Homem novo”, as relações são marcadas pela misericórdia, bondade, humildade, doação, serviço, compreensão, respeito pelo outro, partilha, mansidão, paciência e perdão.
 
Com a passagem do Evangelho (Lc 2,41-52), refletimos sobre a Sagrada Família, a fim de que sejamos fortalecidos na multiplicação de esforços pela santificação de nossas famílias.
 
A fim de aprofundarmos sobre a missão da família retomemos a Exortação – “A Missão da família cristã no mundo de hoje” - Papa São João Paulo II:
 
“... Os esposos são, portanto, para a Igreja o chamamento permanente daquilo que aconteceu sobre a Cruz; são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação da qual o Sacramento os faz participar.
 
Deste acontecimento de salvação, o matrimônio como cada Sacramento, é memorial, atualização e profecia:
 
«Enquanto memorial, o Sacramento dá-lhes a graça e o dever de recordar as grandes obras de Deus e de as testemunhar aos filhos;
 
enquanto atualização, dá-lhes a graça e o dever de realizar no presente, um para com o outro e para com os filhos, as exigências de um amor que perdoa e que redime;
 
enquanto profecia, dá-lhes a graça e o dever de viver e de testemunhar a esperança do futuro encontro com Cristo...»” .(2)
 
Enquanto memorial, o Sacramento do Matrimônio dá a graça e o dever aos pais de transmitirem a fé aos filhos, como primeiros catequistas que são.
 
Iniciá-los na caminhada de fé, buscando na Igreja os Sacramentos próprios. Tornar viva a memória da História da Salvação no coração dos filhos, de modo que seja perpetuada pelos filhos dos filhos, numa Catequese Permanente, da qual os pais também se inserem.
 
A família precisa ter no seu centro a Sagrada Escritura, e para ajudar a vivê-la, é preciso que tenha, conheça, aprofunde o Catecismo da Igreja Católica.
 
Enquanto atualização, tem a graça e o dever de ensinar e viver:

- O Mandamento do Amor a Deus e ao próximo;
 
- A supremacia da Eucaristia na mais bela comunhão das Mesas (da Palavra, da Eucaristia e do cotidiano);
 
- Os mesmos sentimentos de Cristo Jesus, numa configuração total ao Senhor;
 
- As virtudes da Sagrada Família: acolhida, relacionamento, amor, doação, perdão, solidariedade, obediência e fidelidade ao Projeto Divino.
 
Enquanto profecia, a graça e o dever de serem testemunhas vivas de um mundo novo possível, que se consuma na eternidade, fazendo da família uma espécie de Igreja doméstica, em grande comunhão com a Igreja do Senhor.
 
Também empenhar-se para que a família seja uma experiência antecipada do céu, não obstante todas as dificuldades que possa viver. 

Bem se sabe que não há família perfeita ou sem problemas, porém vencendo as dificuldades e construindo relações sólidas de amor mútuo, é uma sinalização do céu que começa no tempo presente.
 
Reflitamos:
 
- De que modo nossa família vive o Sacramento do Matrimônio, enquanto memorial, atualização e profecia?
- Como santificamos e solidificamos nossas famílias em sua sagrada missão?
 
Oremos:  
 
“Ó Deus, que nos deixastes um modelo perfeito de vida familiar, vivida na fé e na obediência à Vossa vontade na Sagrada Família, damo-vos graças pela nossa família.

Concedei-nos a força para permanecermos unidos no amor, na generosidade e na alegria de vivermos juntos.
 
Ajudai-nos na nossa missão de transmitir a fé que recebemos de nossos pais.
 
Abri o coração dos nossos filhos para que cresça neles a semente da fé que receberam no Batismo.
 
Fortalecei a fé dos nossos jovens, para que cresçam no conhecimento de Jesus.
 
Aumentai o amor e a fidelidade em todos os casais, especialmente naqueles que atravessam sofrimentos ou dificuldades.
 
Derramai a Vossa graça e a Vossa Bênção sobre todas as famílias do mundo.
 
Unidos a José e a Maria, nós Vo-lo pedimos por Jesus Cristo Vosso Filho, Nosso Senhor. Amém” (3)
 
 
 
Fontes de pesquisa:
Missal Dominical, pp.100-101 e  www.dehonianos.org/portal
 
(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa - Volume Advento Natal – 2011 - p.255
(2) Exortação a Missão da família cristã no mundo de hoje – Papa São João Paulo II – 1981 -  parágrafo n.13
(3) Oração do V Encontro Internacional das Famílias, Valência, julho de 2006 – citada no Leccionário Comentado – pág. 262 – Advento/Natal.

Adoremos a Luz das Nações

 


Adoremos a Luz das Nações

Ao celebrarmos a Festa da Sagrada Família, sejamos enriquecidos pelos escritos de São Cirilo de Alexandria (séc. V).

“Acabamos de ver ao Emanuel recostado em um presépio como um menino recém-nascido, envolto em panos conforme o costume humano, porém divinamente celebrado pelo santo exército dos anjos.

Serão eles os encarregados de anunciar aos pastores o Seu nascimento, pois Deus Pai concedeu aos espíritos celestes este altíssimo privilégio: serem os primeiros em anunciar a Cristo.

Também acabamos de ver hoje como Cristo Se submete às leis mosaicas; ainda mais, temos visto como Deus, o legislador, se submetia como um homem comum a suas próprias leis. Esta é a razão pela qual o sapientíssimo Paulo nos dá esta lição: Quando éramos menores estávamos escravizados pelo rudimentar do mundo. Porém, quando se cumpriu o tempo, enviou Deus a seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, para resgatar aos que estavam sob a lei.

Assim, Cristo resgatou da maldição da lei aos que estavam debaixo dela, porém não aos que eram observantes da lei. E como os resgatou? Cumprindo-a, ou, dito de outra forma, mostrando-Se e obediente em tudo a Deus Pai, a fim de reparar os pecados de prevaricação cometidos em Adão. Pois está escrito que assim como pela desobediência de um só homem todos foram estabelecidos como pecadores, assim também pela obediência de um só todos serão constituídos justos. Portanto, submeteu como nós a cerviz ao jugo da lei, e o fez por razões de justiça.

Convinha, na realidade, que Ele cumprisse toda a justiça. Pois ao assumir realmente a condição de servo, ficava, por Sua humanidade, inscrito no número dos súditos: pagou, como muitos, aos que cobravam o imposto das duas dracmas, e mesmo quando por Sua qualidade de Filho era naturalmente livre e isento do tributo.

Contudo, ao ver-lhe observar a lei, cuidado, não te escandalizes nem o classifique entre os servos, a Ele que é livre; esforça-te mais em penetrar a profundidade do plano divino. Ao cumprir-se, pois, os oito dias, em cuja data e por prescrição da lei era costume praticar a circuncisão da carne, impuseram-lhe um nome, e precisamente o nome de Jesus, que significa salvação do povo.

Tal foi, de fato, o nome que Deus Pai escolheu para Seu Filho, nascido de mulher segundo a carne. Pois foi certamente nesse momento, quando de maneira muito singular se levou a bom termo a salvação do povo: e não só de um povo, mas de muitos, ou melhor, de todas as nações e da universalidade da terra. Ao mesmo tempo foi circuncidado e lhe impuseram o nome, convertendo-Se Cristo realmente em luz que ilumina as nações e, ao mesmo tempo, em glória de Israel.

E embora existissem em Israel alguns injustos, obstinados e insensatos, apesar disso houve um resto que foi salvo e glorificado por Cristo. As primícias foram os discípulos do Senhor, cuja glória resplandece em todo o mundo. Outra glória de Israel é que Cristo, segundo a carne, procede de sua raça, se bem que, enquanto Deus, está acima de todos e é bendito pelos séculos. Amém.

Presta-nos, pois, um bom serviço o sábio Evangelista ao relatar-nos tudo o que por nós e para nós suportou o Filho feito carne, sem fazer pouco caso em assumir a nossa pobreza, a fim de que o glorifiquemos como Redentor, como Senhor, como Salvador e como Deus, porque a Ele, e, com Ele a Deus Pai, lhe é devida a glória e o poder, juntamente com o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Contemplemos o indizível Mistério da Encarnação do Verbo, que veio para iluminar a humanidade que jazia nas trevas.

Veio, vem e virá sempre para iluminar nossos caminhos, porque Ele é a luz das nações que os profetas anunciaram, e o que era promessa, com a Encarnação do Verbo, torna-se realidade.

Mais tarde Aquele que se fez Menino numa manjedoura e no templo apresentado, dirá - “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, nas terá a luz da vida” (Jo 8,12).

Que a Luz das Nações ilumine nossas famílias, para que cada vez mais sejam reflexo da Sagrada Família, na qual Ele, o menino Jesus, cresceu em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52).

  

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 292-293


Em poucas palavras...

                                          


 

A família cristã é evangelizadora e missionária.

“A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai e do Filho, no Espírito Santo. A sua atividade procriadora e educativa é o reflexo da obra criadora do Pai.

 É chamada a partilhar da oração e do sacrifício de Cristo. A oração quotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortalecem nela a caridade. A família cristã é evangelizadora e missionária.”

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo  n. 2205

Em poucas palavras...

 


Testemunhas da fé

“É então que nos devemos voltar para as testemunhas da fé: Abraão, que acreditou, «esperando contra toda a esperança» (Rm 4, 18); a Virgem Maria que, na «peregrinação da fé» (Lumen Gentium n. 58), foi até à «noite da fé» (Papa São João Paulo II), comungando no sofrimento do seu Filho e na noite do seu sepulcro (São João Paulo II); e tantas outras testemunhas da fé: «envoltos em tamanha nuvem de testemunhas, devemos desembaraçar-nos de todo o fardo e do pecado que nos cerca, e correr com constância o risco que nos é proposto, fixando os olhos no guia da nossa fé, o qual a leva à perfeição» (Hb 12, 1-2).”

 

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 165

“Família, Santuário da Vida”

 


“Família, Santuário da Vida”

A Semana Nacional da Vida e do Nascituro celebrada este ano, de 1º a 08 de outubro, tem como inspiração a Carta Encíclica Evangelium Vitae, de São João Paulo II, e como tema: “Família Santuário da Vida”.

Muito enriquecedor é o subsídio Hora da Vida, preparado pela Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, por meio da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF), que nos fala sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana.

Nos diversos encontros, vários temas são abordados: o valor incomparável da pessoa humana; a raiz da violência contra a vida; os sinais de esperança e convite ao compromisso com a vida; a vida é sempre um bem; veneração e amor pela vida dos outros; a vida humana é sagrada e inviolável; anunciar o Evangelho da Vida, e finaliza com a reflexão sobre o Dia do Nascituro, em que nos apresenta os filhos como bênçãos do Senhor.

Mais uma vez, as dioceses, paróquias e comunidade são convidadas a realizar ações públicas que possam acontecer em todo o Brasil, no dia 1º (sinal da alegria) e no dia 8 de outubro (sinal da esperança), dando a força de mobilização em prol da vida, desde a concepção até seu fim natural.

Urge que as famílias sejam, verdadeiramente, um Santuário, no qual se promova, defenda e cuide da vida, como uma verdadeira escola, em que se ama e respeita a vida, sua dignidade e sacralidade, sendo a Palavra de Deus a luz que ilumina e orienta todos os pensamentos, palavras e ações.

 

 PS: ano 2021

Anunciemos Aquele que foi apresentado! (Sagrada Família - Ano B)

                                                   


Anunciemos Aquele que foi apresentado!
 
Na Festa da Sagrada Família (ano B) é proclamada a passagem do Evangelho (Lc 2, 22-40).
 
Maria e José levam o menino Jesus, depois de quarenta dias do Seu nascimento, para apresentá-Lo no templo, no pleno cumprimento da Lei de Moisés.
 
Normalmente, contemplamos este acontecimento quando rezamos os Mistérios gozosos, que trazem em si o germe dos mistérios dolorosos, assim como os gloriosos e luminosos, quando, justo e piedoso.
 
Simeão, lá no templo, anuncia a Maria que uma espada lhe transpassaria a alma. Referindo-se à missão d’Aquela criança, luz das nações, salvador de todos os povos, causa de queda e reerguimento de muitos.
 
Os Santos Padres da Igreja dizem que, nesta apresentação, Maria oferecia seu Filho para a obra da redenção com a qual Ele estava comprometido desde o princípio.
 
É iluminador o Sermão do bispo São Sofrônio (séc. VII) em alusão a este acontecimento:
 
“Todos nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o Mistério do encontro do Senhor, corramos para Ele cheios de entusiasmo.
 
Ninguém deixe de participar deste encontro, ninguém recuse levar Sua luz.
 
Acrescentamos também algo ao brilho das velas, para significar o esplendor divino daquele que Se aproxima e ilumina todas as coisas; Ele dissipa as trevas do mal com a Sua luz eterna, e, também, manifesta o esplendor da alma, com o qual devemos correr ao encontro com Cristo.
 
Do mesmo modo que a Mãe de Deus Virgem imaculada trouxe nos braços a verdadeira luz e a comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós: iluminados pelo Seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, corramos prontamente ao encontro d’Aquele que é a verdadeira luz.
 
Realmente, a luz veio ao mundo (Jo 1,9) e dispersou as sombras que o cobriam; o sol que nasce do alto nos visitou (Lc 1,78) e iluminou os que jaziam nas trevas.
 
É este o significado do Mistério que hoje celebramos. Por isso caminhamos com lâmpadas nas mãos, por isso acorremos trazendo as luzes, não apenas simbolizando que a luz já brilhou para nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos virá no futuro.
 
Por este motivo, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus. Chegou a verdadeira luz, que vindo ao mundo ilumina todo ser humano (Jo 1, 9).
 
Portanto, irmãos, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós. Que ninguém fique excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar mergulhado na noite. Mas avancemos todos resplandecentes.
 
Iluminados, por este fulgor, vamos todos ao Seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara e eterna.
 
Associemo-nos a sua alegria e cantemos com ele um hino de ação de graças ao Criador e Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do Seu esplendor.
 
A Salvação de Deus, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos pertence, a nós que somos o novo Israel.
 
Também fez com que víssemos, graças a Ele, essa Salvação e fôssemos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa.
 
Assim aconteceu com Simeão que, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da vida presente.
 
Também nós abraçando, pela fé, a Cristo Jesus que nasce em Belém, de pagãos que éramos, nos tornamos povo de Deus – Jesus é, com efeito, a Salvação de Deus Pai – e vemos com nossos próprios olhos o Deus feito homem.
 
E porque vimos a presença de Deus, e a recebemos, por assim dizer, nos braços do nosso espírito, somos chamados de novo Israel.
 
Todos os anos celebramos novamente esta festa, para nunca esquecermos d’Aquele que um dia há de voltar.” (1)
 
Como disse o bispo:
 
“... Ninguém insista em continuar mergulhado na noite.” Recebamos nos braços do nosso espírito o Salvador, a Luz das nações.
 
Com o feliz Simeão, digamos:
 
“Agora, Senhor, deixai o Vosso servo ir em paz, segundo a Vossa Palavra. Porque os meus olhos viram a Vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de Vosso povo de Israel (Lc 2,29-32).”
 
Concluindo, com as palavras do Salmista:
 
“O Senhor é a minha luz e a minha salvação, de quem eu terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha vida: frente a quem eu temerei? (Sl 27). Amém.


(1) Liturgia das Horas Vol. III pp.1236/7.

 


quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Vendaval de fé, esperança e caridade

                                                                                 

Vendaval de fé, esperança e caridade

Lágrimas que se misturam e se escondem nas gotas da chuva.

Desilusão e desencanto por vezes querem fincar raízes, teimosamente, no mais profundo de nós.

Pesadelo prolongado de uma pandemia que persiste e nos rouba forças, projetos, sonhos e a vida de tantos que amamos e para sempre amaremos.

Arautos mentem e fazem adeptos e fiéis discípulos ao lado e virtualmente.

Lágrimas que se misturam e se escondem nas gotas da chuva.

Dói a alma tantas páginas de histórias desterradas, em migração para sobrevivência e em busca de sonhos e liberdade.

Corrói a alma, os que “moram sem morar” nas ruas e praças, ao relento e frutos de uma sociedade, em números dia a dia em aumento.

Cenário de desmatamento, queimadas, frutos de práticas sem escrúpulos, onde se objetiva apenas o lucro, capital, pois isto tão apenas interessa.

Rios e matas e vales gemem em dores de parto, na espera da reconciliação, a fim de que sejam preservados como obra divina da Criação.

Lágrimas que se misturam e se escondem nas gotas da chuva.

É tempo de secar as lágrimas e deixar que as gotas da chuva venham fecundar nossa fé na Palavra do Senhor, que assim falou à viúva de Naim diante da morte de seu único filho:

“O Senhor ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe: ‘Não chores!’. Depois aproximando-se, tocou o esquife, e os que o carregavam pararam. Disse Ele então: ‘Jovem, Eu te ordeno, levanta-te” (Lc 7,13-14).

É tempo de ouvir o assobio do sopro da fé nos vãos de nossas janelas,

Que aos poucos vai se tornando um vendaval incontrolável de vigorosa fé.

Fé que, ainda pequena, como um grão de mostarda, move montanhas, que em Deus confia e se entrega, em resposta fiel e com o Reino comprometido.

Fé que ilumina os passos para que não tropecemos e nem os pés firamos, se a escuridão, teimosamente, se fizer no caminho.

Fé na promessa divina de que novo céu e nova terra, teremos e veremos, sem choro, dor, pranto, luto e lamento.

É tempo de secar as lágrimas, e deixar as gotas da chuva regar o chão fecundo do coração da humanidade.

É tempo de ouvir o assobio do sopro da esperança nos vãos de nossas janelas,

Que aos poucos vai se tornando um vendaval incontrolável de virtuosa esperança.

Esperança de ver a humanidade fortalecendo laços de fraternidade universal, em luminosa amizade social.

É tempo de secar as lágrimas com os raios do Sol Nascente;

É tempo de ouvir o assobio do sopro da caridade nos vãos de nossas janelas, que aos poucos vai se tornando um vendaval envolvente de caridade, abundante como chuva derramada em nós, porque assim é o amor de Deus.

É tempo incessante de ouvir o Apóstolo que nos diz:

“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como bronze que soa ou como címbalo que tine. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, nada seria” (1 Cor 13,1-2)

Venha, Senhor, o tão esperado vendaval de fé, esperança e caridade.

Tão somente assim, promotores da beleza e sacralidade da vida, seremos.

Vossa luz faremos, pelas obras, resplandecer, porque assim é a fé que opera através da caridade (Gl 5,6), em renovada esperança contra toda falta de esperança. Amém.


PS: escrito em novembro de 2020


Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG